Carlos já tinha ouvido falar sobre investimento em ações no home broker. Ocorre que, durante seus mais de 20 anos como trabalhador, sempre manteve os investimentos em produtos do banco no qual é correntista. Ele até investe em ações, mas por meio de fundos de ações. Ele tem receio de não conseguir negociar ações no tal de home broker, ainda mais depois do susto que houve no mercado acionário no final de 2008. Afinal, será que valeria a pena abrir conta numa corretora?
Carla é uma passageira freqüente de viagens aéreas. Sempre gostou de viajar, para conhecer novos destinos, novas culturas, novas pessoas. Ocorre que, desde que começou a viajar, sempre viajou utilizando os serviços da cia. aérea “A”. Inclusive, foi por meio de viagens freqüentes com essa empresa que conseguiu um upgrade no seu status de viajante. Contudo, recentemente, os preços da cia. aérea “B” começaram a cair drasticamente, por conta de sucessivas promoções. Carla procura se informar com amigos que viajam pela “B” para ver se vale a pena, mas ainda lhe falta coragem, mesmo ouvindo relatos acerca do serviço de bordo que parece ser superior, além do programa de milhagem ter associação com várias empresas aéreas estrangeiras, permitindo resgate de pontos em troca de mais destinos no exterior, particularmente para a Ásia e Oceania, dois lugares que ela ainda não visitou. Arrisca ou não arrisca viajar por uma cia. aérea diferente?
Henrique trabalha no setor de gerência executiva de um grande banco comercial brasileiro. Por conta de suas sucessivas e destacadas atuações, vem conseguindo, ano após ano, uma promoção atrás da outra. Além de salários e benefícios maiores, essa ascensão na hierarquia do banco lhe vem proporcionando ótimos contatos com clientes. Eis que, numa sexta-feira véspera de feriado, ele recebe o convite para trabalhar numa corretora de valores independente, que lhe oferece, além de vantagens tão boas quanto as que tinha no banco, possibilidades de explorar novos e empolgantes desafios que poderão, inclusive, lhe render a aposentadoria antecipada. Mas ele nunca saiu do banco em que está empregado, na verdade, começou lá como estagiário. E agora, com uma oportunidade tão boa pela frente, valeria a pena enfrentar esse novo desafio?
———————-
As histórias, tão diferentes na roupagem, trazem a mesma lição na essência: experimentar faz parte do processo. Como é que você vai saber se a melancia é mais doce que o melão se nunca em sua vida você comeu melancia? Experimentar elimina dúvidas, aclara idéias, promove o crescimento pessoal por meio do aprimoramento na escolha das coisas. Se você está em dúvida sobre se vale a pena ou não cultiva um novo hábito, trocar sua refeição, abrir uma empresa, trocar de emprego ou mudar para outra cidade, dê o benefício da dúvida.
É evidente que isso não pode ser uma desculpa para fazer qualquer coisa que lhe apareça pela frente. Não! É preciso ter prudência, paciência e uma certa dose de reflexão antes de sair por aí aceitando qualquer oportunidade que lhe bater à porta. Trabalhar bem o conhecimento que você tiver, e ser ponderado na próxima ação a tomar, são alguns dos ingredientes fundamentais para que o processo de experimentação obtenha êxito, mesmo que a escolha final não seja a mais acertada.
Pressupostos para experimentar
– Mais de uma opção disponível. Normalmente experimentar envolve uma multiplicidade de escolhas que podem ser selecionadas. É fundamental que, para o alcance do objetivo, você tenha em mãos a possibilidade de escolher entre “A” ou “B”, no mínimo. Até por uma questão de lógica só lhe é dada a possibilidade de seleção a partir do momento em que uma das hipóteses possa ser descartada. Portanto, procure ter às mãos o maior leque de opções disponíveis.
– Objetivo específico. A finalidade do processo deve preencher e guiar suas ações. Você deve ter em vista a melhoria da qualidade de algum aspecto de sua vida. Por exemplo: para viajar, você pode escolher outra cia. aérea diferente da que está usando, porque pode valer a pena usá-la. Quem nunca experimentou algo diverso, quando tinha as alternativas disponíveis, pode estar perdendo uma grande oportunidade de aperfeiçoar os rumos de sua própria vida.
– Coragem e iniciativa. A motivação para perseguir uma rota diferente, mas que leve ao mesmo caminho, exige fazer nascer dentro de você a vontade de melhorar. A mudança tem que partir de dentro para fora. E normalmente isso exige sair de sua zona de conforto. Afinal, se você já está acostumado a repetir determinado hábito, faz sentido mudá-lo? Só se for para melhorar, para dar um salto de qualidade. Vá em frente e faça valer aquilo que está dentro de você. Todos tem a ganhar: por mais incrível que pareça, a coragem de tomar a iniciativa beneficia não só a você, mas também a sua família, a seus amigos, até sua comunidade.
– Relação custo/benefício atraente. Esse é um ponto-chave: a perspectiva de obtenção do benefício tem que ser superior ao custo envolvido. Não estou falando que o resultado do empreendedorismo vá ser superior: basta que as projeções estimadas indiquem, com razoável grau de percepção do senso da realidade, que é possível ganhar mais. Por isso alargar seu repertório de conhecimento e dedicar algumas horas à reflexão sobre a nova atividade são mecanismos que atuam a favor das probabilidades de seu sucesso.
Benefícios do processo de experimentação
– 50/50 = 100. De duas uma: ou você ganha, ou você perde. O curioso é que a experiência será positiva de qualquer jeito. Duvida? Pois vamos aos fatos. Você pode ganhar ao realizar nova atividade: nesse caso, essa nova tarefa será incorporada ao seu repertório de opções, e você enriquecerá sua vida com mais uma opção sadia à disposição. Mas o perder – ou seja, descobrir que a escolha experimentada não deu resultado – também lhe proporcionará benefícios reais, já que você contabilizará uma nova forma de não fazer determinada atividade. E, ao não fazer, você será bem mais seletivo em suas próximas escolhas, já que seu cérebro pré-excluirá, pela lembrança dos acontecimentos passados, aquilo que não servirá para você.
– Novas habilidades desenvolvidas. Isso é fato, já que é inerente ao processo de experimentação a necessidade de aprendizagem. O desconhecido exige que você se prepare, e a preparação traz consigo a interessante possibilidade de desenvolver novos talentos, aperfeiçoar os já existentes e capacitar a melhor tomada de decisões.
– Torna seus sonhos mais próximos de serem conquistados. Essa é a beleza do processo de experimentação: você de fato encurtará a distância que o separa de atingir suas metas. Você quer adicionar alguns anos à sua aposentadoria financeira? Pois se prepare para experimentar um novo mundo de investimentos melhores e mais baratos, e uma nova vida de hábitos mais condizentes com suas paixões, e de hábitos frugais. Quem sabe até esse não é combustível que faltava para você se dedicar mais à conquista de um emprego melhor, de uma promoção em sua empresa, de conquistar mais clientes para suas vendas? É preciso testar hipóteses, ver se aquilo que tanto falam proporciona reais vantagens. Mas tudo isso só será possível se você desbravar o desconhecido, encarar e topar o desafio.
– Aumento de sua auto-confiança. Na medida em que você passa por vários processos de experimentação, acerta as escolhas e apaga as ruins, você desenvolve uma espécie de intuição que o fará aumentar as apostas em sua própria capacidade de lidar com problemas e de resolvê-los. Não se trata de excesso de confiança: ela é diminuída porque você prova do benefício 50/50 (explicado acima), e também porque preenche os pressupostos para experimentar (notadamente o último comentado).
– Aumento de seu grau de realização em vida. O processo de experimentação é uma marcha para frente, de modo inexorável, e vai, por incrível que pareça, melhorando com o passar do tempo, à medida em que você vai ficando mais criterioso em suas escolhas e melhorando a habilidade em lidar com elas. Dessa forma, seu grau de satisfação tende a dar uma puxada pra cima, já que, à medida em que você vai ficando melhor no processo de experimentação (pela conjugação de habilidades + experiência + motivação), as probabilidades em seu favor aumentam, e não o contrário.
– Geração de ciclos virtuosos em espiral crescente. Vencer cada desafio proposto é um combustível e tanto para enfrentar o desafio que lhe aparece mais à frente, geralmente de maior complexidade. E isso por uma razão simples: quanto maiores as dificuldades, maiores as recompensas. O ganho de impulso proporcionado pela mais rica experiência positiva proporcionada pelos desafios do processo de experimentação fará com que você conquiste patamares cada vez mais elevados de realização pessoal.
Moral da história: que você reúna todas as condições necessárias para enfrentar os desafios que está à sua frente, que se capacite para enfrentá-los, que faça valer e desenvolver suas habilidades e que as recompensas que surgirem durante o caminho lhe motivem a continuar firme, bem como as eventuais dificuldades que aparecerem não o façam desistir tão cedo, pois, no final das contas, você concluirá que terá valido a pena se esforçar na conquista de seus sonhos! 😀
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Guilherme,
Primeiramente, fiquei muito feliz a ler este post porque ele tem muito a ver com a forma de eu pensar, e de como tenho procurado agir (e com sucesso) ao longo de minha vida (sair da zona de conforto).
Segundo…Certa vez andei a procura de uma frase na Internet que fosse congruente com o mote desse post e de uma de “minhas verdades”. E achei! 🙂 É uma citação do escritor Andre Gide e que segue abaixo:
“Man cannot discover new oceans unless he has the courage to lose sight of the shore”.
Obrigado por ter me ocasionado o prazer e felicidade ao ler este post! 🙂
Que bom que compartilhamos dos mesmos ideais e valores, Carlos!
E sabe, a citação do A. Gide complementa de forma fabulosa o post. Uma metáfora perfeita para o conteúdo do artigo! 😀
Abç!