Nessa série “aprenda com meus erros de investimentos”, mostrarei a vocês os erros que cometi com diversos tipos de investimentos, bem como os caminhos para que você não incida nos mesmos erros, e tome decisões acertadas acerca de seus investimentos no mesmo tipo de produto narrado na história. O objetivo é evidenciar que o erro está menos no investimento e mais no comportamento do investidor.
A história
No auge da crise dos Estados Unidos, entre os meses de outubro e novembro de 2008, eu resolvi operar no curto prazo (!), fazendo swing trades, ou seja, comprando num dia e vendendo poucos dias depois, com o fim de obter algum tipo de lucro no ambiente de extrema volatilidade que acometia a Bovespa. Os ativos já haviam se depreciado de forma espantosa naqueles meses, e, diante de tantas incertezas quanto ao futuro, eu optei por fazer trades curtos (o que foi a estratégia errada, como vocês verão logo abaixo). Havia empresa boa e ao mesmo tempo barata sendo negociada no mercado. Aliás, muitas empresas boas E baratas, o que é difícil de encontrar.
Com efeito, o mais comum é encontrar empresas boas, mas caras. E empresas baratas, mas ruins. Naquele final de 2008, tudo estava barato, tanto as empresas boas, quanto as empresas ruins.
Diante desse cenário, fiz as seguintes compras: 16 cotas do fundo de índice PIBB, 100 ações da CPFL (empresa de energia elétrica), 100 ações da Petrobras e outras 100 ações da Usiminas. Os valores investidos estão discriminados na tabela abaixo:
Nessa atividade de caráter puramente especulativo, foram investidos cerca de R$ 7,5k. Valores altos, em se tratando de trades curtos.
Os resultados estão listados na tabela abaixo:
Para trades curtos, até que o resultado foi bastante razoável. Os percentuais de lucros variaram entre 10% a 23%. Na média, ficaram em 16,11%. Os R$ 7,4k iniciais viraram R$ 8,6k. Maaaaassssssssss…………….
Os erros
Em uma pesquisa acadêmica intitulada “Trading Is Hazardous to Your Wealth: The Common Stock Investment Performance of Individual Investors”, os professores norte-americanos Brad Barber e Terrance Odean, concluíram que os investidores que negociaram ações ativamente tiveram, em média, um retorno menor do que os que seguiram a estratégia de comprar e manter suas posições. Esse resultado foi obtido por meio da análise do desempenho de 66.465 contas de uma corretora no período de 1991 a 1996. O estudo pode ser lido aqui (em inglês).
Bom, não foi preciso checar esse estudo para confirmar a veracidade das conclusões do estudo acadêmico. E se eu tivesse mantido todas aquelas posições compradas entre outubro e novembro de 2008, e vendido somente ontem, 20 de maio de 2010, com a Bolsa tombando nos 58 mil pontos e desconsiderando, portanto, os picos do final de 2009/ começo de 2010?
Os resultados estão ilustrados na tabela abaixo:
Os ganhos teriam sido muito maiores, superiores a 60%, na média. E os ganhos ilustrados acima não incluem os eventuais dividendos acrescidos na conta, sendo que uma dessas empresas (CPFL), está no setor elétrico, que costuma pagar dividendos generosos aos seus acionistas.
O fato de as ações compradas em 2008 terem apresentado valorização expressiva até maio de 2010 não significa, necessariamente, que a estratégia de comprar e manter seja a melhor fórmula para investir em ações. O resultado seria pior se eu tivesse comprado ações de outras empresas, que não cresceram de 2008 para cá. Para minimizar os riscos, a dica fundamental é diversificar bem.
A tabela comprova a correção dessa assertiva. Se eu tivesse investido tudo em CPFL, os resultados teriam sido mais baixos. Por outro lado, o investimento concentrado em Usiminas teria trazido mais retornos – com um risco proporcionalmente maior. O segredo então é diversificar, para diminuir a exposição ao risco. A compra do pacote de empresas representado pelo PIBB, e a sua manutenção até ontem, teria proporcionado maiores retornos inclusive sobre a Petrobras – de acordo com a tabela, a rentabilidade acumulada teria beirado os 70% – e isso sem ter comprado no fundo e vendido no topo.
O erro consistiu, então, em avaliar mal a estratégia de operação, preferindo o trade especulativo, em prejuízo do plano buy and hold (comprar e manter). Mas isso especificamente em relação às ações escolhidas. Se eu tivesse escolhido um conjunto de empresas-mico, o resultado poderia ser inverso: melhor no curto prazo, e desastroso a longo prazo.
Naquela época, se eu tivesse avaliado melhor os múltiplos fundamentalistas das empresas compradas, a decisão seria no sentido de mantê-las, e quem sabe até, comprar mais durante os meses subsequentes. A Usiminas, por exemplo, estava sendo negociada por menos do que seu valor de caixa, e tinha uma taxa de dividendos (8,2%), que batia com folga a poupança e boa parte dos fundos de renda fixa.
Eu dou um desconto para mim mesmo porque aquela foi a primeira crise na Bolsa que enfrentei. Mas as lições ficaram.
Lições para o investidor
A principal lição que tirei dessa minha história de investimento é essa: se a empresa for boa e estiver barata, compre e, *por favor*, mantenha. Não há nada mais lamentável do que vender, embolsar um pequeno lucro, e, tempos depois, ver o preço da ação disparar, a empresa crescer, obter lucros e distribuir dividendos de forma crescente e consistente ao longo do tempo, para todos aqueles… que mantiveram a ação em sua posse.
Essa é uma lição que terá seu “batismo de fogo” nessa crise atual que estamos vivendo, oriunda da União Europeia, crise essa que parece ser tão ou mais perigosa que a crise dos EUA.
Algumas orientações podem ajudar quem pretende investir em Bolsa: a compra de ações deve ser feita de uma forma bem controlada, com pequenas fatias de seu patrimônio, de modo lento e gradual (como recomenda o Mauro Halfeld), com empresas bem diversificadas. Além disso, deve-se priorizar a montagem de uma carteira de acumulação, como apregoa o CHR Investor, dentro de uma estratégia de alocação de ativos que contempla uma boa parcela em renda fixa e em outras classes de ativos, e tendo em mente objetivos de longo prazo.
Especular não vale a pena?
Acredito que cada um deve encontrar o método operacional que mais de adapte ao seu perfil de investidor. A especulação tem o seu papel de prover liquidez ao mercado, e há muita gente que sobrevive dessa forma de investimento, como o nosso amigo Zé da Silva. Pelo menos para meu perfil, especular deixou de ser uma atividade atrativa.
O importante é você estudar o mercado, experimentar as diferentes possibilidades de investimentos, e utilizar o método que mais se adapte ao seu perfil de investimento. 😉
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
p.s.: nesses quase três anos de investimentos em Bolsa, só vi volatilidade parecida, com o atual momento, naquele outubro vermelho de 2008. Num só mês a Bolsa derreter quase 14%, como é o que está acontecendo agora, é sintoma da profunda depressão que tomou conta do Sr. Mercado. E olha que ainda temos um terço do mês para ser completado. Se continuar nesse ritmo…
Guilherme, muito oportuno seus comentários. Estamos em um momento em que os investidores são tomados pelo sentimento de perda. A fração de cada empresa representada pela ação continua intacta mas o valor dela cai influenciada por um movimento forte de realização e busca de liquidez. Os maiores erros são cometidos neste momento com vários investidores saindo em busca de “proteção”. Temos que analisar qual é o impacto do problema fiscal na Europa sobre as empresas brasileiras, ou seja qual é o impacto no fundamento da empresa. Na verdade, podemos estar em um excelente momento de aumentarmos de forma moderada nossa exposição em ativos de renda variável, para que tem a oportunidade de esperar no médio prazo. Concordo com você em indicar ETF (PIBB11 e BOVA11), uma vez que os preços de quase todos os ativos ficam afetados tornando difícil a escolha da melhor opção. Portanto, na dúvida, compre uma parte pequena de todas as ações. Uma questão importante pode ser observada; nosso País está cada vez mais preparado para crises como essa. Os indicadores de confiança da economia Brasileira (risco Brasil, curva longa de juros interna e externa) tiveram uma depreciação moderada.
Flávio, ótimos comentários! Psicologicamente, remar contra a maré – em momentos de queda na Bolsa – pode parecer mais difícil, mas é o que recompensa melhor o investidor, refletido no prêmio que se alcança quando o mercado se estabiliza e as ações voltam a subir.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Olá Guilherme,
Muito legal vc compartilhar sua experiência. Vivi algo parecido no mesmo período. Deveria ter mantido minha posição, mas… o legal é que realmente aprendemos com os erros.
Abraço
Olá, Jônatas, obrigado pelos comentários!
Realmente, acabamos nos identificando com histórias como as postadas acima. O bom é que ficam como lições, como vc bem afirmou.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
consegui comprar usiminas a 20 reais. Que maravilha. Essa vai ficar para minha aposentadoria…Casei com ela sem direito a separação. Pena que não tive cabeça para comprar outras pechinchas. Alias, tenho uma dúvida: Qual a sua opinião sobre comprar uma boa pagadora de dividendos (elpl6 p. ex) – que tende a não render tanto, mas que é menos instavel em relação às quedas do mercado – ou uma ação de uma blue chip – gerdau, csn, usiminas, bb – que tende a render mais no longo prazo, mas que não paga tantos dividendos? Será que investindo em uma ação com beta maior me fará comprar mais ações pagadoras de dividendos no futuro? Qual sua dica? Pode fazer um artigo sobre isso?
Gustavo, para o investidor em ações individuais, uma estratégia que considero oportuna é “casar” ambas as modalidades. Ou seja, investir tanto em ações de dividendos quanto em ações de crescimento. Isso porque as ações de dividendos gerarão fluxo de caixa presente, ao passo que as ações de crescimento permitirão fazer fluxo de caixa futuro.
Quem compra regularmente fazendo preço médio, mesmo em ações de crescimento, consegue, ao longo do tempo, dividend yields excepcionais, se a ação em questão aumentar também seus lucros ao longo do tempo. Vide o caso do Arnaldo, da Vale, cujo dy, em relação ao custo médio de compra, passava, salvo engano, facilmente dos 20%.
Posso, sim, fazer um artigo sobre o tema!
Ah, e parabéns pela compra da Usiminas nesse preço!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Tenho minhas dúvidas se swing trade disciplinado com ações de uma empresa como a PETR ou VALE não valeria a pena. Farei um programa para realizar algumas simulações de uma estratégia basicamente de swing e apresentarei os resultados.
Alan, aguardamos seus resultados. 🙂
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Especular também não é meu perfil, eu aprendi amargamente perdendo 20% do meu capital.
Parabéns, ótimo post.
Obrigado, Fabrício!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Eu tb já fiz besteiras assim… piores até!
Pois é, Fábio, vivendo e aprendendo! 😀
Em períodos mais longos, acho difícil (senao impossível) algum tipo de investimento bater o investimento em ações de primeira linha…
Mas se fizermos simulações parecidas, com ações mais arriscadas, o resultado pode ser desastroso… imaginem uma carteira com BTOW, PDGR, AGEN…
Rsrsrs….realmente, a relação risco/retorno está presente de forma indelével nos mercados….
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!