Uma das frases que mais me marcou na leitura do excelente livro Faça tudo acontecer, de David Allen, era de uma simplicidade estonteante, mas profunda ao mesmo tempo:
“Preste atenção naquilo que interfere em sua atenção”.
Ao realizar esse processo mental de esclarecimento sobre as coisas e atividades que influenciam e preenchem o nosso tempo, acabamos percebendo que, muitas vezes, há um gasto excessivo de energia mental e, portanto, foco, em coisas que não irão repercutir positivamente em área alguma de nossas vidas.
Pense, por exemplo, naquele seu sobrinho ou primo que fica jogando videogame o dia inteiro (e às vezes a noite também). Ou então, naquela tia que só quer saber de assistir novelas, reality shows e programas de fofocas sobre celebridades. Ou ainda, naquele seu amigo que não perde a oportunidade de conversar sobre futebol e seu time do coração. Pergunto: as coisas com as quais eles se importam importarão, de fato, para a vida deles?
Dizendo isso em outros termos: jogar videogame provoca mudança na vida do garoto? Saber que a fulana irá ficar com o beltrano na novela das oito irá trazer algum benefício concreto à vida da titia? O fato de o time de futebol “A” ganhar aquela partida mudará o rumo da vida do seu amigo? Transpondo isso para você: há alguma área de sua vida em que você está gastando um tempo e preocupação enormes, além da conta, em troca de benefício nenhum (ou mínimo)?
Não estou desconsiderando a relevante função que tais atividades exercem na vida das pessoas. Jogar videogame, assistir TV, torcer pelo time de futebol, têm sua importância, até para funções neurológicas do cérebro, como atestam recentes pesquisas da ciência – para tanto, recomendo esse excelente texto escrito para a Folha de S. Paulo, de Hélio Schwartsman.
O problema não é a existência de coisas que não importam, mas sim o fato de que muitas pessoas deixam suas vidas serem controladas por fatos que não influenciarão concretamente seus destinos. Trata-se, pois, de adequar as coisas que ocupam nossa atenção ao seu devido contexto, a fim de que não interfiram em nossa vida além do necessário e suficiente para cumprirem seu papel.
Assistir TV é bom e tem sua função, mas você não pode deixar que esse ato de total passividade e inércia dite o rumo de sua vida. Jogar videogame é um passatempo divertido, mas não provoca mudanças na sua vida, logo, deve ser praticado com moderação. Torcer pelo time de futebol é ótimo (o meu, inclusive, está na disputa do título do Brasileirão :D), mas se não ganhar os jogos, tudo bem, pois a vida segue.
Os exemplos são inúmeros, e podemos ver o impacto que eles causam sobretudo na área de relacionamentos. Há coisas que simplesmente não importam, e continuamos a nos importar com elas. Quer um exemplo? Nós nos preocupamos em saber se fulano vai conseguir o emprego, se a sicrana irá se casar com o sicrano, como o colega conseguiu ter “aquele” carro, e então concentramos nossa atenção, focamos nossa energia mental, criamos nossas preocupações, em torna da vida das outras pessoas. E daí? Isso vai ajudar a melhorar nossas próprias vidas? Trocando em miúdos: essas pequenas coisas do dia-a-dia em que concentramos a nossa atenção, e, portanto, com a qual nos importamos, importam, de fato, para nós? Que benefício haverá para nós saber que o fulano (não) conseguiu o emprego, que o outro nosso amigo não irá mais casar, que ele está com o carro…?
Recentemente, tivemos a eleição de alguns personagens bizarros para ocupar cadeiras nos parlamentos estaduais e federais. E as conversas de grande parte das pessoas girava em torno desse assunto. Ok, é até interessante para descontrair e tudo o mais, mas… pera lá: até que ponto ficar jogando “conversa fora” acaba não extrapolando a normalidade, e passa a ser um “guia” para nossas ações? Gastamos mais tempo além do necessário buscando ler notícias sobre isso na Internet, focamos nossa leitura de jornais e revistas em cima disso… acabamos nos importando, enfim, com coisas sem importância alguma em nossa vida.
Sim, eu sei, esse é um tipo de ponto-de-vista que acaba defendendo o valor “utilidade” nas conversas com amigos e demais tipos de ações em nossas vidas. Mas… espere um pouco, será que não é exatamente isso que está faltando para termos uma melhor visão dos fatos que circundam nossa vida? Será que não precisamos ter uma mentalidade mais pragmática para alcançarmos nossos objetivos, sejam eles quais forem? Será que essa mania do brasileiro de se acomodar em sua zona de conforto acaba não sendo uma das causas pelas quais as pessoas reclamam e murmuram tanto, e agem tão pouco?
Coisas que importam muito, coisas que importam pouco
Como consequência desse tipo de atitude, acabamos negligenciando justamente as áreas mais importantes de nossas vidas. Assim, nas finanças, só começamos a nos importam quando se instala algum problema financeiro. Nós só nos importamos com a saúde quando ela começa a nos debilitar: poucos são os que têm uma preocupação genuína em fazer uma manutenção preventiva. Da mesma forma, na família, nós não nos importamos com sua evolução e cuidados, achando que os relacionamentos dentro do núcleo familiar irão acontecer de modo natural, como se esforço não fosse necessário.
E, para completar, acabamos não nos importando com a espiritualidade, só nos socorrendo dela quando há problemas, problemas na área das finanças, problemas na família, problemas na saúde. E qual é a causa de tudo isso? Sim, você adivinhou… no decorrer de nossas vidas, as coisas que pouco importam recebem uma importância desproporcional, da mesma forma que as coisas, que verdadeiramente importam, pouco importaram para a gente durante esses longos anos…
Solução
A saída para sair desse estado mental que não ajuda ninguém a melhorar de vida é simples, e você já deve suspeitar qual seja: trata-se de concentrar nossa atenção e nossa energia mental em coisas que de fato farão a diferença positiva em nossas vidas. São essas coisas que verdadeiramente importam para nós, pois são essas que nos farão melhorar a qualidade de nossas vidas. Saiba ter foco apropriado nessa “era da distração”.
O que você pode fazer hoje, agora, para ter uma vida cujos atos realmente importam para você? É ler um livro? É cozinhar? É frequentar uma aula de idiomas? É fazer uma caminhada no parque para melhorar a saúde? É arrumar o guarda-roupas que há “séculos” está pedindo uma arrumação? É um telefonema para aquele amigo que você não vê há tempos? É estudar para aquele concurso? É fazer aquele investimento financeiro? Pois então faça.
Passe a levar uma vida em que as coisas com as quais você se preocupa possam repercutir de volta para você. Só há acréscimo no seu bem-estar a partir do momento em que você age, e só há ação a partir do momento em que seu foco se direciona a coisas que importem a você, e que importem para você. E aí, vamos começar? 😉
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Artigo “simplesmente” fenomenal.
Meus parabéns!
Interessante esse post porque para obter sucesso é preciso alcançar um ponto de coerência entre o objeto do querer, as ferramentas necessárias para a conquista e a ação em sí e isso só é possível através de intensa atenção ao processo, é preciso foco. É um estilo de vida que eu procuro seguir desde que lí há uns bons anos “A lei do triunfo” do Napoleon Hill. Lazer é essencial (adoro um seriado) mas é preciso compreender até que ponto isso é importante.
Parabéns, muito bom!
É sempre bom pararmos por um segundo e pensar no que realmente importa em meio a todos estes mil estímulos que nos bombardeiam.
Thiago, muito obrigado! Aproveito para dizer que estou gostando bastante do Platteon!
Gisely, perfeitas as suas colocações! Fazer a vida valer a pena ser vivida é o ponto chave da questão.
Lucas, obrigado! Reflexões são sempre importantes para nosso amadurecimento.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Qdo tudo, absolutamente tudo (pessoas, eventos, conversas e sobretudo a mídia), que nos cerca é feito pra roubar nossa atenção. Qdo a gente pára um minuto, levanta a cabeça e enxerga que é apenas mais um habitante de um pequeno planeta que está sendo rapidamente consumido por TODOS os seus pequenos habitantes que proliferam descontrolados.
Bom, bate um desânimo. Em mim, pelo menos. A gente sabe como é difícil fugir da manada dos mercados, né?
E fugir da manada que leva uma vida boçal, mesquinha e cotidiana como se fosse normal, é possível?
Ainda existem ilhas desertas? Todas elas já não têm resorts, wifi e aceitam VISA? 🙂
Belo texto para pensar.
Legal saber que alguém ainda se dá a esse trabalho! São tão raros…
abraços
Rodrigo, valeu!
Franco, ótimas reflexões! Você captou muito bem a essência da mensagem: vivemos na era da distração. Ter um papel ativo sobre as escolhas que interferem em nossa atenção nos faz viver uma vida com muito mais consciência e controle.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Guilherme, parabéns pelo texto!
Muito obrigado pelas palavras, Daniel!
Que texto incrível, Guilherme! Acho que desperdiçamos tanta energia com coisas que não agregam valor na nossa vida! Esse texto veio numa hora muito propícia da minha vida! Obrigada por compartilha-lo aqui!
Abraço!
Valeu, Bruna!
Abç!
Guilherme,
Mais um excelente post! 🙂
Eu acredito que termos consciência do que é realmente importante é uma das coisas mais significativas da nossa vida, é o que mudará para melhor e dará de fato mais sentido à nossa breve existência.
Abraços,
Obrigado Rosana!
É bem isso mesmo: achar o significado adequado para cada coisa/valor/fato que ocorre em nossas vidas é que acabará tornando-a mais significativa.
Abç!