Há alguns meses, fizemos a primeira resenha de um livro estrangeiro, The power of less, de Leo Babauta, autor do aclamado blog Zen Habits, um dos mais influentes sites sobre produtividade pessoal do planeta. Diante das repercussões positivas da referida resenha, e já conhecendo a qualidade do trabalho do autor, resolvi trazer para o seleto público do blog Valores Reais mais um review de um trabalho do Leo.
Trata-se de Focus, que, para a agradável surpresa dos leitores em geral, vem embalado numa versão grátis :D, além de uma versão paga, com alguns recursos adicionais. Resolvi escolher resenhar a versão 0800. Vamos destrinchá-la? 🙂
Informações técnicas
Título: Focus
Autor: Leo Babauta
Páginas: 121
Preço: Grátis – baixe seu exemplar em arquivo .pdf clicando aqui.
i. | step back
Nós vivemos numa era da informação, mas ao mesmo tempo tem sido também a era da distração. Temos emails para conferir, tweets para retuitar, feeds RSS para ler, conversas online via chat, instant messengers para teclar, perfis a conhecer nas denominadas redes sociais… e isso só para ficar nos exemplos da Internet. Pois as distrações também se estendem para o mundo real: programas fúteis de TV, revistas sem valor informativo, filmes de qualidade duvidosa, jogos que monopolizam nosso tempo livre, enfim, uma vasta gama de opções que fazem nos afastar daquilo que é importante.
Perdemos o foco, e, consequentemente, perdemos nossa capacidade de sermos criativos. Não relaxamos, não simplificamos, e só vivemos para acumular coisas e mais coisas. Estar conectado a todo tempo é uma expectativa que a sociedade gera em nós. A boa notícia: não precisamos seguir as expectativas dos outros. Podemos traçar nossos próprios caminhos, e, assim fazendo, conseguimos ter foco para aquilo que de fato é importante. Ter foco é essencial para as atividades criativas, e, para isso, devemos isolar o processo de criação, dos processos de consumo e de comunicação.
Babauta defende que a tecnologia, em si, não é boa nem ruim, mas sim o uso que fazemos dela é que a faz se tornar ruim, pois não temos consciência da necessidade de nos desconectarmos de vez em quando, para recarregarmos as baterias e focar em nosso trabalho criativo. O autor fornece uma série de interessantes dicas práticas de como conseguir realizar esse processo de desconexão. Por exemplo, estabelecendo rotinas matinais em que não se ligue o computador, encontrar-se com pessoas sem ligar o celular etc.
ii. | clear distractions
Para ter foco, uma das primeiras tarefas que você deve fazer é limitar o fluxo de informações que recebe diariamente. Trata-se de fazer uma verdadeira faxina digital, limitando seu fluxo apenas para as informações e comunicações mais essenciais. Isso lhe permitirá ganhar horas livres para criar e realizar “coisas incríveis” (na expressão do autor). Dentre as dicas que o autor dá estão: não ficar checando a cada hora se tem um novo email, não ficar acessando a todo momento o Facebook e outras redes sociais, não assistir TV, limitar o uso de telefones celulares etc.
Além disso, você não tem necessidade de responder a todos os emails e mensagens que recebe, deve abrir mão da preocupação de ficar constantemente atualizado com as últimas notícias, e aprender a gerenciar a caixa de entrada de seu email, a fim de que sua vida não seja comandada a partir dela – afinal, quantas são as pessoas que deixam uma janela aberta no webmail enquanto realizam os demais tipos de atividade, não é mesmo?
Babauta não defende a destruição total das distrações. Elas têm o seu valor: nos permitem relaxar, produzem um estado de ânimo que pode inspirar novas idéias, às vezes são divertidas etc. A questão que se põe é encontrar o ponto de equilíbrio entre distração e trabalho, ou seja, entre relaxamento e foco.
No final dessa seção, o autor sugere diversos softwares que podem ser úteis para o melhor gerenciamento de suas atividades produtivas. Um deles, inclusive, que eu gosto e recomendo, e que, por coincidência, o Leo também citou, é o freeware Launchy, que é ótimo para deixar a área de trabalho do computador limpa e, ao mesmo tempo, ganhar agilidade nas tarefas de computador.
iii. | simplify
O segundo passo importante para conseguir ter foco, uma vez eliminadas as distrações desnecessárias, é simplificar. E isso começa com criar um ambiente livre de bagunças, um ambiente em que você possa se sentir bem consigo mesmo. Como nada muda da noite para o dia, o autor sugere que o trabalho seja feito em pequenos pedaços: dedique-se de 10 a 15 minutos por dia arrumando suas tralhas: limpando sua mesa de trabalho, desligando as notificações de computador, limpando o chão, as paredes, encontrando uma música relaxante e um bom par de fones de ouvido…
O passo seguinte é desacelerar. Não entrar no ritmo alucinado que a sociedade exige só porque os outros agem dessa forma. Mudar a mentalidade é igualmente importante, pois permite que você possa aproveitar melhor cada momento de sua vida. Fazer menos, ter menos reuniões, praticar a arte de se desconectar, dar-se um tempo para você mesmo, ficar tranquilo se não tiver nada para ler/falar/escutar enquanto estiver numa fila de supermercado, são atitudes que farão você apreciar melhor a vida. Fazê-la girar em ritmo desacelerado.
É importante ter consciência também de que determinadas coisas não podem ser mudadas. Não podemos mudar as pessoas, às vezes é impossível mesmo mudar certas situações. Você não pode controlar tudo. Ok, sem problema. A vida segue. Você deve aceitar os fatos como eles são, e não como você gostaria que fossem. Parece simples de dizer, mas quantas pessoas ficam inconformadas diante da impossibilidade de mudarem outras pessoas. Isso faz parte do jogo da vida. Bola pra frente. Mude o que pode ser mudado, não resista às mudanças que irão acontecer, quer você queira, quer não, e aproveite a vida.
Uma das coisas mais difíceis nos dias de hoje é aprender a lidar com as diversas tarefas com as quais nos deparamos. Quando temos muitas tarefas, devemos, inicialmente, simplificá-las, ou seja, reduzir a nossa lista de tarefas, eliminando as desnecessárias. Depois, devemos praticar uma tarefa de cada vez, em vez de adotar a multi-tarefa.
Babauta também é contra fixação de metas, dizendo, entre outras coisas, que elas são artificiais, colocam pressão em cima da gente, e nunca nos fazem ficar satisfeitos, mesmo quando as atingimos. Os argumentos dele até que são interessantes, mas devo dizer que discordo completamente. Metas são uma maneira eficiente de racionalizarmos nossos objetivos em diferentes intervalos de tempo, e nos induzem a manter a motivação quando factíveis e desafiadoras.
No final dessa parte, Babauta defende a idéia de simplificarmos nossas vidas, eliminando distrações desnecessárias, e, com isso, liberando espaços para aquilo que mais importa para nós.
iv. | focus
Se David Allen criou o método Getting Things Done (GTD), Babauta propõe o método Getting Amazing Things Done (GATD), baseado em 3 simples passos: 1º) escolha alguma coisa incrível para trabalhar; 2º) jogue fora todas as distrações; 3º) foque naquilo que é incrível, naquela tarefa que você decidiu realizar, e que mudará sua vida em algum pequeno aspecto.
O foco, segundo o autor, deve ser trabalhado em apenas uma tarefa de cada vez (single-tasking), e, além disso, deve ser concentrado em pequenos aspectos da atividade. Melhor explicando: o foco não pode ser muito amplo, e esse tem sido um dos grandes problemas das pessoas. Elas tentam trabalhar em múltiplos projetos, quando na verdade deveriam focar em um só de cada vez; elas deveriam focar em um cliente de cada vez, mas no final das contas querem agradar todos ao mesmo tempo agora, e assim por diante.
Babauta faz uma interessante relação entre foco, caminhadas e desconexão do mundo online, sugerindo que caminhadas logo pela manhã teriam o poder de aumentar o grau de foco na realização de suas atividades pessoais, e que se desconectar da Internet também contribui para que o trabalho possa ser melhor realizado.
v. | others
Parte final complementar, com dicas gerais de como obter o foco em três distintas áreas: criação de filhos (e Leo tem autoridade para falar sobre o assunto, já que tem 6 pimpolhos em sua casa 😀 😀 😀 😀 😀 :D), como transformar a cultura de escritório com o uso apropriado do foco, e como lidar com os outros, principalmente colegas de trabalho, para melhor gerenciar o foco nos projetos importantes.
Conclusão
Faço uma recapitulação do que eu disse por ocasião da resenha do outro livro do Leo Babauta, The power of less:
“Como o livro contém um resumo dos pensamentos do autor no blog Zen Habits, minha sugestão é que você vá até lá, leia os artigos que o autor escreve regularmente no blog, e veja se eles te apetecem. Se você gostar deles, então o livro é uma ótima pedida para se aprofundar nos temas lá tratados, bem como ter uma noção mais abrangente de sua metodologia.
Caso você prefira a complexidade das coisas, prefere trabalhar melhor com um fluxo maior de informações, defende o modo multi-tarefa no desempenho das atividades diárias, então nem o livro nem o blog poderão te auxiliar”.
A impressão que tenho é que esse livro é uma continuação natural do The Power of less, só que com especial ênfase, por óbvio, na questão do foco. O que é deveras importante, pois quantas vezes não nos distraímos diante do enorme repertório de entretenimento e toda sorte de distrações que nos é oferecido na Internet e o fora dela?
Viver com simplicidade é uma ideia que o autor defende, porém, nem todos são adeptos desse estilo de vida. Nesse caso, de pouca utilidade terá o livro em sua vida. No entanto, é forçoso reconhecer que Focus contém ideias muito práticas sobre como gerenciar melhor a montanha de informações que nos vem de todas as mídias, tudo embalado numa linguagem acessível e fácil de compreender, mesmo em se tratando de um livro em inglês. E como esse livro é curto e é grátis, trata-se, então, de uma ferramenta que vale a pena ser lida, ainda que para fins de curiosidade sobre a metodologia de vida do autor.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Boa opção de leitura. Vou baixar para dar uma lida.
http://www.investidorindependente.com.br
abraços
Desculpe digitei meu blog errado.
http://www.investidorindependente.blogspot.com
abraços
Excelente resenha Guilherme,
Também gosto das metas. Nos ajuda a não perdemos o foco no que realmente é importante.
A chamada geração Y é multitarefa, para eles trabalhar em vários projetos de forma simultânea é algo normal (publico amanhã no Efetividade Blog texto falando sobre a geração Y).
Gostei de alguns pontos e discordo de outros. Gosto muito de leituras que vão contra o que penso, me ajuda a crescer. Baixei o PDF do livro.
Abraço!
Por isso que quero distância de celular com internet. Gosto de me sentir desconectado algumas horas por dia.
Guilherme, descobri seu blog há pouco tempo. Grata surpresa. Li todos os posts e venho acompanhando regularmente. Agradeço a generosidade com que você expõe suas idéias e reparte conosco suas descobertas e reflexões.
Simplicidade e humildade nunca é demais. Gosto desse estilo de vida. Sobre os avanços tecnológicos que deixam as pessoas 24h “plugadas” por dia não é a minha praia rs..
Abcs
Jônatas, concordo. Metas são boas. Single-tasking produz mais resultados. Mas é bom ler “o outro lado da história”. Estarei aguardando seu artigo!
Fabio, grato pelos comentários!
F.I., também não é muito minha praia.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Muito bom Guilherme!
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Tenho muito interesse neste assunto produtividade/gerenciamento de tempo. Recentemente assisti a uma entrevista do Christian Barbosa sobre produtividade onde ele cita alguns livros relacionados ao assunto.
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O video tem duração de 40 min e eu acho que pode complementar o assunto abordado neste seu artigo e ser útil aos leitores do blog Valores Reais. o link é o seguinte:
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http://blog.maistempo.com.br/2010/08/16/man-in-the-arena-entrevista-inteligente-sobre-produtividade/?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed:+blogspot/OeBI+(Mais+Tempo+-+by+Christian+Barbosa)
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Abcs
Legal o link, Willy!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
“Babauta também é contra fixação de metas, dizendo, entre outras coisas, que elas são artificiais, colocam pressão em cima da gente, e nunca nos fazem ficar satisfeitos, mesmo quando as atingimos.”
Apesar de ainda não ter lido o livro, intuitivamente me identifiquei um pouco com esse trecho.
Já baixei o livro, deve ser uma boa leitura.
Abraços!
Olá Rosana, então, o Leo às vezes tem umas opiniões bem diferentes, e que vale a pena refletir a respeito, pois todas elas vêm embasadas em algum fundamento que funcionou na vida dele.
Abç!
realmente me decepcionei com o livro de Daniel Goleman… “foco”mais ao conhecer esse fiquei feliz muito enriquecedor!