Na teoria, os seres humanos são tratados como agentes econômicos racionais. No mundo real, sabemos que a coisa não funciona bem assim. Aliás, é curioso dar notícias de fatos incomuns que têm um efeito devastador – nesse caso, um fato até meio bizarro. E, se esses fatos ocorrem no coração do sistema capitalista mundial, o efeito multiplicador pode ser mais devastador ainda. Num mundo interconectado, cujas informações são transmitidas em tempo real, uma coisa que é feita lá pode impactar de forma decisiva outros países do mundo. E sabemos que um dos exemplos mais práticos do que isso pode ocorrer é justamente no ambiente da Bolsa de Valores.
Pois ontem, 6 de maio de 2010, foi um desses dias. Não bastasse o nervosismo provocado pela crise da Grécia, que ameaça se alastrar para países como Portugal, Espanha e companhia, o Dow Jones teve um movimento assustador no meio da tarde, provavelmente provocado por trades mal executados. O índice mergulhou em queda livre superior a 1.000 pontos, indo de 10.800 para algo em torno de 9.800 pontos, a maior queda intraday da história do Dow Jones. De acordo com o InfoMoney:
“A informação que vem de “múltiplas fontes”, de acordo com a agência de notícias CNBC, é que um trader deu uma ordem bilionária ao contrário de milionária em uma operação de venda envolvendo as ações da Procter & Gamble”.
Agora eu pergunto: como é que um trader consegue a façanha de colocar alguns zeros a mais na ordem, e ela ainda assim ser executada? Não deveria haver um sistema de travamento ou coisa parecida? Num mercado em que são feitas milhares de negociações diárias, milhões em poucas horas, é surpreendente que um caso totalmente bizarro como esse tenha se tornado concreto.
Bom, o próprio Dow Jones, que chegou a desabar 9% no pior momento do dia, fechou com queda de 3,2%, a 10.500 pontos. E, é claro, arrastou as Bolsas dos demais países do mundo, incluindo a nossa Bovespa, que experimentou um mergulhão no mesmo horário – oscilante nos 64 mil pontos, de repente o negócio virou e bateu nos 60 mil pontos. Eu, que não estava acompanhando o pregão, fiquei assustado quando vi, por volta das 16:40, uma “fenda” no gráfico, e, claro, fui procurar saber do que se tratava.
O fato é que a Bovespa também acabou se recuperando no final do pregão, fechando em 63.414 pontos, baixa de “apenas” 2,31%. No pior momento do dia, chegou a cravar 6% negativos. Será que teremos uma nova onda de circuit breakers? O que deve fazer o investidor pessoa física?
Bom, como eu já disse em outros tópicos, momentos de queda do mercado são momentos de promoções. São esses eventos que fazem o preço das ações despencarem, tornando-se mais baratas. Com a mesma quantidade de dinheiro, você pode comprar mais ações, isto é, mais “pés de dinheiro”. Para quem adota a estratégia do “preço médio”, como eu, é uma oportunidade e tanto. Mas, como diz o Mauro Halfeld, a compra deve ser feita, de preferência, de forma lenta e gradual.
É nessas horas também que a gente pode se utilizar daquela boa reserva em renda fixa, tirando parte do dinheiro que está lá, para comprar mais ações.
Vamos ver se essa liquidação continua, e a Bolsa derrete mais um pouco, caindo para a faixa dos 50 mil pontos. Diferentemente do que ocorreu com algumas ações na crise de 2008, dessa vez eu vou comprar e manter (segurar). A história tem mostrado que vale a pena demais aproveitar os momentos de depressão do Sr. Mercado.
Em tempo: as autoridades americanas estão investigando o que ocorreu.
EDITADO: trago aqui no artigo o excelente comentário que Henrique Carvalho, postou na caixa de comentários, para que vocês tenham uma melhor visão dos fatos de ontem, sobretudo quando analisados sob a perspectiva de uma estratégia de alocação de ativos (asset allocation), que contempla também posições em outros ativos (FIIs, ouro etc.):
“Guiherme,
Gostaria de compartilhar minha experiência com relação ao fato de ontem.
Também não acompanhei o intraday do pregão e só vi o resultado no final do pregão.
Dos tantos riscos que o investidor busca minimizar (mercado, liquidez, crédito, etc) ainda temos que contar com o risco operacional de um trader fora de nosso país! rsrs
Para quem pratica asset allocation (alocação de ativos), ontem foi apenas um dia “normal”.
Ao atualizar minha planilha fiquei até um pouco surpreso com a rentabilidade positiva no dia.
Posições em Dólar, Ouro e até mesmo alguns FII (FFCI11) compensaram toda a perda do Ibov e ainda deram margem para lucro.
Nada como dormir sabendo que uma carteira bem diversificada lhe traz paz e serenidade.
Agora é esperar uma boa dispersão entre os ativos para realizar uma realocação da carteira.
Grande Abraço!”
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Guiherme,
Gostaria de compartilhar minha experiência com relação ao fato de ontem.
Também não acompanhei o intraday do pregão e só vi o resultado no final do pregão.
Dos tantos riscos que o investidor busca minimizar (mercado, liquidez, crédito, etc) ainda temos que contar com o risco operacional de um trader fora de nosso país! rsrs
Para quem pratica asset allocation (alocação de ativos), ontem foi apenas um dia “normal”.
Ao atualizar minha planilha fiquei até um pouco surpreso com a rentabilidade positiva no dia.
Posições em Dólar, Ouro e até mesmo alguns FII (FFCI11) compensaram toda a perda do Ibov e ainda deram margem para lucro.
Nada como dormir sabendo que uma carteira bem diversificada lhe traz paz e serenidade.
Agora é esperar uma boa dispersão entre os ativos para realizar uma realocação da carteira.
Grande Abraço!
Henrique, você tem toda a razão. Um investidor que adota uma eficiente estratégia de alocação de ativos conclui que, de fato, ontem, foi apenas mais um dia “normal”.
Seu comentário maduro foi tão bom que resolvi incluí-lo no corpo do artigo, para que todos os leitores tenham mais acesso. 😉
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
“um trader deu uma ordem bilionária ao contrário de milionária…”
Bem difícil de engolir. Quem está comprado, muito cuidado!
Acho muito dificil de engolir que isto foi um trade errado. A diferença de valores foi muito grande. O mercado já vem em queda há algum tempo e continua em queda. Vamos aguardar os fatos.
Concordo com vocês, Elvis e Investimentos. Esse caso ainda vai dar “muito pano pra manga”….aguardemos o desenrolar dos próximos capítulos.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Guilherme, concordo inteiramente com o seu comentário. Desde a crise de 2008, podemos verificar que o mercado de capitais Norte-Americano (até então visto como exemplo) não possui controles adequados sobre os agentes econômicos. Primeiro foi a falta de controle sobre criação de instrumentos exóticos de crédito que alimentaram uma bolha imobiliária, segundo foi o estouro de um esquema Ponzi, via fundo de investimento, de cerca de US$ 40 bilhões pelo Madoff, agora nós temos essa operação mal explicada que não passou por nenhum filtro. Pois bem, nenhum desses eventos aconteceriam por aqui. Os jornais dizem que as operações fechadas com a ordem irregular serão estornadas; e aí eu pergunto, e as operações que foram realizadas aqui no Brasil com o IBOVESPA em queda livre? Quem vai pagar o prejuízo?
Por isso, quem tem uma reserva financeira deve aproveitar de forma moderada os preços baixos dos ativos em renda variável. Infelizmente, vários investidores que não tinham aversão a risco irão abandonar seu plano de investimento pelo sentimento de aversão a perda. Os consumidores adoram aproveitar uma promoção em uma loja de roupas, mas hesitam em aproveitar uma promoção no mercado de ativos…
@Guilherme
Muito obrigado pela citação no artigo!
Grande Abraço!
Flávio, faço minhas suas palavras. Temos que ter atenção aos fatos que ocorrem no Brasil e no mundo, e aproveitar, de forma moderada, as oportunidades que o mercado nos oferece.
Henrique, é sempre uma satisfação ler suas sábias palavras sobre asset allocation!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!