Toda criança sonhou um dia em ser cientista.
Com muito mais imaginação do que conhecimento, as crianças sonham tudo: viajar pelo espaço, construir carros voadores, descobrir curas, vacinas e fórmulas para viverem a eternidade.
A ambição de ser cientista não deixa de ser, em certa medida, a ambição de ser um herói, de ser famoso, de fazer o bem destruir o mal.
Não há, nunca houve e provavelmente nem haverá pessoa no mundo que simbolize melhor a ideia de ser cientista na imaginação das crianças (e adultos) do mundo inteiro do que Albert Einstein.
Aquele sujeito simpático, de olhos arregalados e profundos, cabelos arrepiados e desengonçados, mas profundamente sábio. A caricatura reforça o personagem, e o personagem, na vida real, reforçou a caricatura.
Einstein foi a mente científica mais brilhante da História da Humanidade que já habitou nesse planeta Terra. Foi uma espécie de raio de luz, que, no começo do século passado, provocou a maior revolução da história da ciência, deixando uma marca indelével que ficará para a eternidade da existência humana – e cujo acerto de suas teorias continuam a ser provados até os dias de hoje, como foi o caso da primeira foto de um buraco negro, revelada ano passado.
Apesar de o livro, escrito com maestria impecável por Walter Isaacson, ter sido lançado em 2007, somente despertou meu interesse por lê-lo agora em 2020 (mentira: já tinha passado por ele algumas vezes antes, mas por algum motivo, não fui pra frente).
E que livro!
Informações gerais
Título: Einstein – Sua Vida, Seu Universo
Autor: Walter Isaacson
Páginas: 675
Editora: Companhia das Letras
Preço médio: R$ 74
Lançamento: 2007
A singularidade do livro
Há um ponto central que vale a pena destacar. Considerando o contexto dos livros resenhados na órbita desse blog ao longo dos últimos dez anos – e cuja amostra você pode conferir aqui -, esse livro é absolutamente singular.
Normalmente, e como era de se esperar num blog sobre investimentos e finanças pessoais, a maioria dos livros aqui resenhados, recomendados ou destacados versavam sobre questões ligadas a temas como educação financeira, estratégias de investimentos, dicas de economia doméstica, investimento em ações etc.
Livros sobre investimentos dão, portanto, a tônica do blog. Esse foi o caso, por exemplo, do livro que indiquei do André, na semana passada.
Também cheguei a explorar livros sobre produtividade pessoal, gerenciamento de tempo, e psicologia positiva, que era o tema mais afastado das finanças pessoais.
Mas a biografia do Einstein teve o dom de quebrar esse liame. Não há, digamos assim, “ensinamentos práticos”, ao menos de forma direta, na leitura desse livro.
E é justamente nisso que reside o encanto e a beleza desse livro: ele rompe paradigmas. Faz você pensar de forma diferente (como, aliás, era de se esperar num livro sobre o maior pensador científico do século passado) sobre suas escolhas de vida, sobre o seu gasto de tempo, sobre a forma como você encara os acontecimentos do dia a dia.
É diferente, por exemplo, das biografias de Warren Buffett (resenhada aqui no blog) e Steve Jobs. A de Buffett contém ensinamentos práticos de forma bastante direta e inspiradores, tais como o incentivo ao estudo, à capacidade de concentração etc. A de Steve Jobs ensina a importância de manter a tenacidade, de você conectar os pontos quando olha pra trás etc.
Mas a biografia de Einstein é diferente porque estamos tratando da vida de um cientista (físico teórico) que, embora, sim, tenha muito a ensinar, atuou num campo do conhecimento totalmente distinto dos demais acima citados (Steve Jobs e Warren Buffett), muito vinculados a questões comerciais e de negócios.
Na verdade, a sensação que tive, ao mergulhar nas mais de quinhentas páginas da biografia de Einstein, é que fiz uma viagem aos primeiros 50 anos do século XX. Uma viagem absolutamente deliciosa que, ao ser realizada, provoca muitas reflexões sobre a própria viagem que estamos fazendo no curso do presente século.
A vida profissional
Isaacson procura utilizar a linguagem mais simples possível ao navegar pelos mares das intrincadas teorias da física teórica e das descobertas das leis da física por Albert Einstein.
Trata-se de um esforço quase sobre-humano, já que a Física costuma ser um dos assuntos mais difíceis para os leigos.
É interessante notar que Einstein formulou as teorias que lhe tornaram mundialmente famoso no ano de 1905 (o seu ano miraculoso), enquanto trabalhava como funcionário público num escritório de patentes na Suíça. Ou seja, ele não trabalhava como professor universitário ou dentro de uma universidade quando lhe ocorreram tais ideias revolucionárias.
Aliás, mesmo depois de ter descoberto as leis que iriam revolucionar para sempre a história da Ciência, ele só veio a conseguir um emprego de professor universitário muitos anos depois, já que a Física Clássica estava muito bem assentada, e só alguém jovem, inteligente e não conformista, como Einstein, seria capaz de conseguir tal feito.
A confirmação empírica das ideias de Einstein sobre a Teoria da Relatividade Geral só veio a se realizar em 1919, por ocasião de um eclipse solar (cujas observações, inclusive, tiveram uma participação especial do Brasil), e, a partir dos anos 20, Einstein passou a ter um debate nos meios acadêmicos contra o nascente ramo da Mecânica Quântica, que baseava seus pressupostos em ideias como incertezas e probabilidades, o que iria de encontro às ideias de Einstein, que acreditava na ideia de leis naturais deterministas baseadas na certeza da realidade subjacente.
Em suma: o grande período de produção científica de sua carreira ocorreu entre os anos 1900 até meados da década de 20. Dali pra frente, ele buscou, quase numa jornada solitária, a empreender esforços em busca de uma teoria de campo unificada, esforços esses que duraram até a sua morte, mas não obteve êxito.
Pode-se dizer, aliás, que a segunda metade de sua vida foi dedicada a questões humanitárias e políticas, já que Einstein defendia a liberdade de pensamento, era um pacifista, contra o nacionalismo, e era contra o uso de armas nucleares como instrumento de guerra. Nesse último ponto, aliás, apesar de a bomba atômica ser uma derivação prática da teoria da relatividade geral, ele não participou do Projeto Manhattan. Sua participação se limitou a alertar ao Presidente Roosevelt, na época, de que os alemães poderiam fabricar a bomba atômica antes.
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No próximo post abordaremos a vida pessoal de Einstein, curiosidades que cercam a sua vida, e faremos a conclusão final. Não percam!
Também li este livro faz mais ou menos um ano, muitos anos, portanto, após o seu lançamento. Não sei porque esperei tanto tempo. Um dos melhores livros que li na vida. Muitíssimo bem escrito por Walter Isaacson, que também é autor da biografia do Steven Jobs. Mas este livro é superior, até pelo esforço hercúleo que o autor faz para traduzir os conceitos da Física Teórica, e a interpretação da personalidade do biografado inserido em seu tempo. Uma obra-prima.
Que coincidência, Marcelo!
Realmente, concordo com tudo o que você disse. Um livro absolutamente inesquecível.
Oi Guilherme,
Sempre tive fascínio pela história do Einstein, mas também não comprei o livro logo no lançamento, não sei o porquê… Mas depois de assistir o filme Interestelar do Christopher Nolan, cheguei em casa e encomendei. Também achei um livro fantástico, toda a história de vida dele eh muita inspiradora. Você soube resenhar de forma primorosa, fiquei com vontade de reler.
Parabéns pela sua capacidade de síntese!
Obrigado pelas palavras, Jane!
Comprando já!
Obrigado pela dica 🙂