As crianças de hoje serão os adultos de amanhã.
E o problema é que as crianças de hoje estão tendo o seu desenvolvimento mental prejudicado, amplamente prejudicado, pelo uso excessivo das telas digitais.
Quem diz isso é o Michel Desmurget, no excelente livro (o qual não canso de recomendar), A Fábrica dos Cretinos Digitais – que, aliás, deveria ser livro de cabeceira de todos os pais com crianças de 1 a 12 anos de idade.
Confiram (p. 192-193):
“As telas minam os três pilares mais essenciais do desenvolvimento infantil.
O primeiro diz respeito às interações humanas. Quanto mais tempo a criança passa com seu smartphone, sua televisão, seu computador, seu tablet ou seu console de videogame, mais as trocas intrafamiliares enfraquecem em quantidade e em qualidade.
Da mesma forma, quanto mais o pai e a mãe mergulham nos meandros digitais, menos eles ficam disponíveis. Este duplo movimento seria irrelevante se as telas fornecessem à criança uma “nutrição” cerebral adequada, ou seja, possuindo um valor nutritivo igual ou superior àquele das relações vivas e personificadas. Mas este não é o caso. Para o desenvolvimento, a tela é uma fornalha quando o ser humano é uma forja.
O segundo é a linguagem. Neste campo, a ação das telas opera segundo dois eixos complementares.
De início, alterando o volume e a qualidade das primeiras trocas verbais. Em seguida, impedindo a entrada no mundo da escrita. É claro, a partir da idade de 3 anos, certos conteúdos audiovisuais chamados “educativos” podem ensinar alguns elementos lexicais à criança. Os ganhos então registrados são, porém, infinitamente mais demorados, fragmentados e superficiais que aqueles oferecidos pela “vida real”.
Em outras palavras, em termos de desenvolvimento da linguagem, não é por que é preferível colocar a criança diante de uma tela em vez de trancá-la sozinha num quarto escuro que se pode, sem danos, na falta de um quarto, substituir o ser humano pela tela. Pois, mais uma vez, para desenvolver sua capacidade verbal, a criança não precisa de vídeos ou de aplicativos digitais; ela precisa que falem com ela, que suas palavras sejam solicitadas, que ela seja encorajada a dar nome aos objetos, seja estimulada a organizar suas respostas, que lhe contem histórias e a convidem a ler.
O terceiro ponto refere-se à concentração. Sem ela, não há meios de mobilizar o pensamento para um objetivo.
No entanto, as jovens gerações estão imersas num ambiente digital perigosamente distrativo. A influência dos videogames, portanto, não é menos nociva que a da TV, ou de outras ferramentas digitais.
Aliás, pouco importa o suporte e o conteúdo; a realidade é que o cérebro humano simplesmente não foi concebido para uma tal densidade de demandas externas.
Submetido a um fluxo sensorial constante, ele “sofre” e se constrói mal. Dentro de algumas dezenas ou centenas de milhares de anos, as coisas terão talvez mudado, se nossa espécie não tiver, até lá, desaparecido do planeta.
Enquanto isso, estamos assistindo a uma verdadeira devastação cognitiva”.
Conclusão
Quando li o livro e cheguei nessa altura, uma passagem em particular me chamou a atenção:
“Para o desenvolvimento, a tela é uma fornalha quando o ser humano é uma forja”.
Impossível ficar inerte a essa devastação cognitiva.
Aja enquanto for tempo, antes de ser consumido por aquilo que te consome.
Quando estávamos nos planejando pra engravidar li alguns textos sobre isso, e principalmente as redes sociais são terríveis, não só para crianças, mas para todos, tem até documentário sobre “O dilema das redes”, o maior problema é o tempo, a mãe/pai chega em casa e tem que fazer comida, lavar roupa, limpar a casa ou mesmo quer ler o seu livro/assistir seu jogo etc, e a criança precisa de algo pra se ocupar, pra liberar os pais, e hoje a coisa que mais atrai as crianças pra dar um descanso para os pais são justamente as telas. Você dá seu celular pro seu filho ficar vendo alguma besteira no youtube pra você poder fazer o que precisa/quer. Acho muito difícil e admiro muito os pais que chegam em casa e podem/conseguem passar um longo tempo de qualidade com seus filhos. Abraços
Sem dúvida, BZ.
No próprio livro, o Desmurget dá algumas dicas para superar o problema de “ocupação” das crianças sem telas digitais.
É um desafio e tanto nos dias atuais essa questão.
Grato pela dica do documentário.