Nas últimas semanas não tem se falado em outra coisa no mercado financeiro brasileiro a não ser na escandalosa fraude contábil revelada nas Lojas Americanas, cujos rombos chegam a inacreditáveis R$ 43 bilhões de reais (link).
Os problemas são vários, não só pela magnitude (tamanho) da fraude, mas também por ter atingido uma empresa conhecida de praticamente todos os brasileiros que vivem em médias e grandes cidades.
Afinal de contas, as Lojas Americanas são conhecidas não apenas por terem uma forte presença no comércio eletrônico, mas sobretudo por serem conhecidas pelas lojas físicas que eram bem famosas e concorridas em tempos de outrora.
Mais do que isso: para o mercado financeiro em especial, as Lojas Americanas simbolizavam a empresa que “deu certo”, sendo vista como um dos trunfos de gestão empresarial do trio de bilionários Leman, Sicupira e Telles.
E é justamente aqui que reside o problema (para eles).
Muito tempo atrás, há quase dez anos, em novembro de 2013, publicamos (link) a resenha do livro Sonho Grande, que conta justamente a história do trio.
O episódio sobre a reestruturação das Lojas Americanas não passou em branco:
“Após se estabelecerem no mercado de capitais, o trio resolveu embarcar na denominada ‘economia real’, comprando ações de empresas em que pudessem influenciar na administração. Um dos primeiros alvos foi a Lojas Americanas, que até então vinha apresentando péssimos resultados. E o que eles fizeram para reerguer a empresa? Reinventar a roda? Não: eles foram atrás de modelos bem-sucedidos de empresas do mesmo gênero no exterior. Foram aprender com quem sabia do riscado. No caso, com a Walmart.
Beto Sicupira foi o encarregado de reestruturar a empresa, e era feroz com o controle de despesas. Ele costumava dizer que ‘custo é como unha, tem que cortar sempre’. Não deu outra. A empresa foi colocada nos eixos e logo saiu de prejuízos milionários para lucros recordes e cada vez mais crescentes”.
Mas isso foi escrito… em 2013.
Nesses últimos 10 anos, muita coisa ocorreu nas Lojas Americanas, e o resultado está aí: uma fraude sem precedentes na história do capitalismo brasileiro.
Os fatos ainda estão sendo objeto de apuração, sendo que os indícios de fraude estão levando os bancos credores para cada vez mais perto do patrimônio do trio da 3G (link).
O mercado, como um todo, está desconfiado não só das Lojas Americanas, evidentemente, mas também do controlador, o trio 3G, o que está fazendo as ações de outras empresas controladas por eles, como a Ambev, caírem (link), até porque, como diz essa última reportagem citada, no passado já houve 3 episódios de “contabilidade criativa” em empresas controladas pelos mesmos gestores, envolvendo ALL, Cosan e Kraft Heinz.
Lições para nós, investidores… e não apenas com as ações!
Esse episódio serve, uma vez mais, para reforçar a necessidade do alerta de o investidor pessoa física, ou seja, você, não apostar todas as fichas numa única empresa.
Não é preciso nem dizer que as ações da Americanas caíram vertiginosamente, mais de 80%, e continuarão patinando por um bom tempo até haver uma definição sobre os rumos da empresa.
Mas a questão toda não se resume ao mercado de Bolsa de Valores.
Hoje em dia grandes empresas captam dinheiro dos investidores por meio de empréstimos: são os famosos títulos de renda fixa. Se você tem dinheiro investido num CDB, você tem um investimento lastreado num empréstimo: num empréstimo que você fez ao banco.
As empresas também pedem dinheiro emprestado aos investidores, através, por exemplo, de debêntures. E muitas instituições montam fundos de investimentos lastreados… justamente nessas debêntures!
As Lojas Americanas emitiram, também, as tais debêntures, e dificilmente o dinheiro que ela pediu emprestado será devolvido aos credores.
Logo, muitos fundos de investimentos estão reportando perdas (link),inclusive o NuBank, que tinha um fundo de renda fixa lastreado parcialmente, veja só, em debêntures das Lojas Americanas.
A regra aqui é muito clara: tenha muito cuidado com os investimentos em renda fixa que tragam em sua composição títulos de dívida privada. O episódio da Americanas é um claro exemplo de que há riscos reais de perda do patrimônio investido.
Conclusão
É muito lamentável o que ocorreu com as Lojas Americanas, e mais lamentável ainda que isso possa ter tido envolvimento do trio Lemann, Telles e Sicupira, que, de aclamados pelo mercado brasileiro, estão tendo sua credibilidade posta em cheque (link).
Espera-se uma atuação rigorosa (será!?) dos órgãos de fiscalização e controle – principalmente por parte da CVM, afinal de contas, se os responsáveis pela fraude não forem punidos de forma exemplar, o Brasil vai continuar com a má fama de ser uma terra propícia a esse tipo de descalabro.
E, para nós, investidores, um lembrete: fraudes contábeis como essa não serão a última. É preciso sempre fazer investimentos que tenham menos risco, apostando, no caso de ações, em fundos de índice passivo e, no caso de renda fixa, optar por investimentos que sejam mais conservadores e tenham alguma espécie de proteção adicional (como o FGC).
Boa reflexão sobre o assunto, eu ano passado estive pensando em investir mais em CDBs/LCIs/LCAs, mas por fim, acabei indo pro Tesouro Direto devido a segurança, apesar de muita gente desconfiar do governo, em teoria ainda é o investimento mais seguro que temos, sem contar que atualmente as taxas estão muito atrativas.
Uma coisa que me preocupa bastante é a impunidade no Brasil, que é um tanto seletiva diga-se de passagem, esses caras “grandes”, sejam políticos ou empresários, dificilmente ficam presos, então dá impressão que o crime compensa. Estou curioso como que tanta gente que olha, analisa e estuda esses balanços patrimoniais, DRE etc e ninguém nunca tinha desconfiado de algo. CVM, auditores, investidores etc, é suspeito demais.
Abs
Pois, é, BZ, impressionante como uma fraude dessa ficou tanto tempo passando “batido” pelas auditorias.
O capitalismo no fundo é um grande esquema Ponzi, de vez em quando isso fica explícito.
Guilherme, quanta decepção!
Este trio foi endeusado por muitos, como se fossem os novos heróis brasileiros. Eu tenho ficado muito desmotivado com o mercado financeiro. Existe muita falcatrua neste meio.
Estou preferindo investir em ativos cujo controlador sou eu por uma série de motivos.
PS: esta semana não recebi seu artigo por e-mail.
Oi Junior, consegui regularizar o envio dos emails recentemente.
Se tiver algum problema adicional, me avise, para eu verificar.