Dando continuidade aos destaques referentes ao excelente livro A fábrica de cretinos digitais, a abordagem de hoje diz respeito ao aspecto absolutamente indispensável dos professores na formação e educação das crianças e jovens.
A grande mídia, obviamente dominada (e muitas vezes manipulada) pelos poderosos lobistas da gigantesca indústria das telas digitais (telefones, TVs, cinema, videogames, tablets etc.), não se cansa de alardear que, um dia, os computadores irão substituir definitivamente os professores na missão de educar e formar as crianças e jovens. Será mesmo?
Michel Desmurget, autor do livro acima mencionado, aponta, baseado em uma série de evidências científicas, que não. Impossível.
Diz ele (p. 134-135):
“O movimento atual de digitalização do sistema escolar se baseia numa lógica mais econômica do que pedagógica. Na verdade, contrariando o juízo oficial, o ‘digital’ não é um simples recurso educativo posto à disposição de professores qualificados […].
Na verdade, o digital é, antes de tudo, um meio de reduzir as despesas educativas, substituindo, de modo mais ou menos parcial, o homem pela máquina. Essa transferência lança o professor qualificado para a longa lista de espécies ameaçadas. De fato, esse professor custa caro, muito caro, caro demais (?). Além disso, sua formação é difícil e, por conta da concorrência de setores econômicos mais favorecidos, é bem mais complicado recrutá-los.
[…]
Em resumo, para que essa solução seja aceita, é preciso eclipsar seriamente a realidade. Mas, apesar de tudo, não obstante esses pequenos ajustes reconfortantes, o mal-estar permanece.
[…]
Um computador não pode pensar, tampouco pode sorrir, acompanhar, guiar, consolar, encorajar, estimular, tranquilizar, emocionar ou dar provas de empatia. Ora, estes são elementos essenciais da transmissão e da vontade de aprender.”
Conclusão
Esse capítulo do livro termina com uma passagem simplesmente sensacional, que prova por A + B, a absoluta indispensabilidade da figura do professor para a própria evolução da Humanidade.
Impossível fechar o artigo de hoje sem citá-lo (p. 136):
“Sem você”, assim escrevia Albert Camus a seu antigo professor, após ter recebido o Prêmio Nobel de Literatura, “sem sua mão afetuosa estendida para a criança pobre que eu fui, sem seus ensinamentos, seu exemplo, nada disso teria me acontecido. Eu não faço alarde desta honraria, mas agora tenho pelo menos a oportunidade de dizer o que você foi, e ainda é para mim, e de assegurar que seus esforços, seu trabalho e o sentimento generoso que o acompanharam ainda estão vivos num de seus pequenos alunos que, apesar da idade, não deixou de ser seu aluno agradecido”. Diante dessas palavras, talvez seja mais fácil se dar conta do custo exorbitante dessa pretensa “revolução digital”.
Comprei o livro (sou psicanalista e professor). De fato o neoliberalismo só pensa em destruir tudo em nome do lucro.
Acrescentaria à discussão a ideia de valorizar professores que ensinam, não os que doutrinam e manipulam os mais jovens com ideias passadas e que nunca deram certo. Demonizar o lucro é demonizar o valor de evoluir a si mesmo e nosso patrimônio.
O bom professor, aquele comprometido
Com a aprendizagem do aluno, é cada vez mais raro. Sou marido de uma e tenho um respeito absurdo. Por conhecer esse meio posso te dizer que ainda há professores comprometidos, mas esses são raros. E vale. Muito.
Certamente, Robson.
Ótimo comentário.