Habilidades extraordinárias realizadas por pessoas comuns requerem um conjunto específico de atitudes e comportamentos, conjunto esse muito bem descrito no clássico livro de Anders Ericsson e Roberto Pool, denominado “Direto ao ponto: os segredos da nova ciência da expertise”.
Foi baseado no livro do Ericsson, inclusive, que Malcolm Gladwell se tornou mundialmente famoso ao escrever o livro Outliers, cuja ideia cerne era a “regra das dez mil horas”, ou seja, que seria preciso praticar deliberadamente durante 10 mil horas para ter um padrão de excelência em nível mundial, em qualquer área da atividade humana.
Porém, as ideias de Ericsson vão muito além dessa regra, uma vez que ele explica, em profundidade, o relevante papel da prática deliberada, ou seja, do treinamento regular, como força motriz a diferenciar os experts das pessoas amadoras, principalmente pelas vantagens neurológicas criadas a partir de um treinamento intensivo.
O trecho a seguir, extraído o mencionado livro (páginas 76 a 80), aborda especificamente a questão das representações mentais como sendo o fator-chave para ter desempenhos acima da média:
“Uma representação mental é uma estrutura mental que corresponde a um objeto, uma ideia, um conjunto de informações, ou qualquer outra coisa, concreta ou abstrata, sobre a qual o cérebro está pensando. Um simples exemplo é a imagem visual. Mencione a Mona Lisa, por exemplo, e muitas pessoas irão imediatamente “ver” uma imagem da pintura em suas mentes; aquela imagem é sua representação mental da Mona Lisa. As representações de algumas pessoas são mais detalhadas e precisas do que as de outras, e elas podem comunicar, por exemplo, detalhes sobre o pano de fundo, sobre onde a Mona Lisa está sentada, sobre o seu penteado e sobrancelhas.
Uma grande parte da prática deliberada envolve o desenvolvimento de representações mentais cada vez mais eficientes que você possa usar em qualquer atividade que esteja praticando. Quando os motoristas de táxi de Londres estão aprendendo a navegar eficientemente de qualquer ponto A para qualquer ponto B na cidade, eles desenvolvem mapas mentais da cidade cada vez mais sofisticados – ou seja, construindo representações mentais.
Um fator-chave sobre as representações mentais é que elas são essencialmente de “domínio específico”, isto é, aplicam-se somente à habilidade para a qual foram desenvolvidas. Isso explica um fato crucial sobre o desempenho do expert em geral: não existe essa coisa de desenvolvimento de uma habilidade geral. Você não treina sua memória; você treina sua memória para cadeias de dígitos, ou para coleções de palavras, ou para rostos de pessoas. Você não treina para se tornar um médico; você treina para se tornar um diagnosticador, ou um patologista, ou um neuro-cirurgião.
Como os detalhes das representações mentais podem diferir dramaticamente entre diferentes campos, é difícil oferecer uma definição abrangente que não seja muito vaga, mas, na essência, essas representações são padrões preexistentes de informação – fatos, imagens, regras, relacionamentos e assim por diante – que são mantidos na memória de longo prazo e que podem ser usados para responder rápida e efetivamente a certos tipos de situações.
O que todas essas representações mentais têm em comum é que tornam possível processar grandes quantidades de informação rapidamente, apesar das limitações da memória de curto prazo. Na verdade, pode-se definir uma representação mental como uma estrutura conceitual concebida para contornar as restrições habituais que a memória de curto prazo coloca no processamento mental.
A principal característica que coloca os experts num patamar diferente do resto de nós é que seus anos de prática mudaram o circuito neural de seus cérebros para produzir representações mentais altamente especializadas, as quais, por sua vez, possibilitam o desenvolvimento de uma memória incrível, o padrão de reconhecimento, a resolução de problemas e outros tipos de habilidades avançadas necessárias para que eles se sobressaiam em seus campos de atuação específicos.”
Conclusão
Use a prática deliberada visando a formar representações mentais cada vez mais eficientes.
Isso lhe poupará tempo, energia, e o tornará cada vez mais rápido e veloz para produzir resultados de qualidade, em quantidade, e conservando de forma ótima seus recursos de energia mental e física.
Não são todos os que conseguem fazer isso – na verdade, uma minoria da população (0,00001% ou menos) – exatamente porque construir representações mentais de qualidade requer sair da zona de conforto, e a maioria das pessoas quer na verdade ficar onde está, ou seja, ficar estagnada e nunca evoluir.
Pense nisso!
Boa semana!
Guilherme,
Muito interessante o artigo. Eu ainda não conhecia essa técnica como algo mais detalhado e sofisticado.
Em relação a zona de conforto, você tem toda razão. Mas com o tempo, o preço é alto, pois a zona de d conforto torna-se na realidade uma zona de muito desconforto.
Fiz o último post em forma de poesia. Se quiser ler:
Como foi o seu dia? – Simplicidade e Harmonia
Um bom final de semana!
Tem razão, Rosana: há um desafio permanente de bem transitarmos entre as zonas de conforto e desconforto.
Excelente seu post em forma de poesia, escrevi um comentário lá, mas por enquanto não está visível.
Abraços!
Muito obrigado Guilherme!
Valeu, Anônimo!