A profusão de redes sociais trouxe à tona uma oportunidade muito grande de as pessoas exibirem seus modos de vida do jeito que elas bem entenderem.
E isso criou um problema: em muitos casos, um distanciamento cada vez maior entre o que a pessoa é e o que a pessoa aparenta ser.
Será que as pessoas que aparentam ser amigáveis nas telinhas, na vida real, são realmente amistosas? Como elas se tratariam na vida real, longe dos celulares e dos holofotes? Com respeito e admiração, ou com impaciência e falta de empatia?
Os casais que ficam se declarando nos posts e stories, na vida real, ficam 100% do tempo agindo assim? Ou rola treta nos bastidores em 99% do tempo, e eles só selecionam os 1% restantes em que vivem em paz?
Pessoas que exibem e ostentam objetos de luxo, casas, carros, “experiências” na sua timeline realmente estão com um patrimônio financeiro saudável? Ou só fazem isso para impressionar? Ou para vender produtos e serviços?
Cada dia mais há um distanciamento entre quem as pessoas são e o que elas aparentam ser.
E esse distanciamento ocorre, sobretudo, em como a pessoa age. Pessoas que aparentam ser amáveis, alegres e bem relacionadas, no mundo real pode ser muito bem insuportáveis, mal educadas e muitas vezes arrogantes. Eu conheço gente assim. Você certamente também conhece gente assim.
Muitas pessoas vivem vidas de disfarces.
Segue um interessante trecho do livro Quebrando o hábito de ser você mesmo, de Joe Dispenza, que trata desse tema sob a perspectiva da formação da identidade das pessoas através das emoções memorizadas (p. 176-177):
“Camada após camada, vestimos várias emoções que formam nossa identidade. A fim de lembrar quem pensamos que somos, temos de recriar as mesmas experiências para reafirmar nossa personalidade e as emoções correspondentes. Como identidade, ficamos apegados a nosso mundo externo, nos identificando com tudo e todos a fim de nos lembrarmos de como queremos nos projetar para o mundo.
Como parecemos torna-se a fachada da personalidade, que depende do mundo externo para lembrar quem é como um ‘alguém’. A identidade está completamente ligada ao ambiente. A personalidade faz tudo que pode para esconder como realmente se sente ou fazer o sentimento vazio ir embora.
[…]
Criamos um conjunto de programas automáticos memorizados que trabalham para encobrir nossas partes vulneráveis. Essencialmente mentimos sobre quem somos porque sabemos que os costumes sociais não têm espaço para aquela pessoa. Esse é o “ninguém”. É a pessoa que duvidamos que os demais vão gostar e aceitar.
Especialmente quando somos mais jovens e estamos formando nossa identidade, somos mais propensos a nos engajar nesse espécie de disfarce. Vemos jovens experimentando identidades como experimentam roupas. Na verdade, o que os adolescentes vestem muitas vezes é o reflexo do que querem ser, mais do que um reflexo do quem realmente são. Pergunte a qualquer profissional de saúde mental especializado em trabalhar com jovens, e ele dirá que uma única palavra define o que é ser um adolescente: insegurança. Como resultado, adolescentes e pré-adolescentes buscam conforto na conformidade e nos números.
Em vez de deixar o mundo conhecer o que você realmente é, adote e adapte-se (porque todo mundo sabe o que acontece com aqueles que são percebidos como diferentes). O mundo é complexo e assustador, mas deixe-o menos aterrorizante e muito mais simples amontoando todas as pessoas em grupos. Escolha seu grupo. Escolha seu veneno.
No final, essa identidade serve. Você cresceu nela. Ou pelo menos é o que diz para si mesmo. Junto com a insegurança surge uma grande dose de consciência de si. As perguntas são abundantes: ‘é esse quem realmente sou? É esse quem realmente quero ser?’. Mas é muito mais fácil ignorar essas questões do que as responder”.
Conclusão
O distanciamento entre o que as pessoas aparentam ser e o que as pessoas realmente são acabou provocando, como efeito colateral, a criação de vidas artificiais, relacionamentos artificiais, identidades artificiais, que muitas vezes não resistem, quebram e são desmascaradas quando você constata o abismo colossal existente entre uma e outra.
Seja vigilante e procure conhecer as pessoas como elas realmente são nos bastidores, quando não tem nenhuma rede social por perto, quando não tem nenhum celular por perto, quando não há nenhuma tela a fazer a mediação entre você e a pessoa.
E, se você é um usuário assíduo dessas mesmas redes sociais, reflita sobre se a imagem que você está construindo por meio das telas realmente reflete quem você realmente é fora e distante delas. 😉
Boa reflexão
Obrigado, Marcos!
Guilherme,
Um post essencial para essa época tão estranha em que um abismo está se formando na vida de muitas pessoas entre o que são e o que aparentam ser.
Fico pensando no futuro, pois a vida cobrará esse tipo de atitude tão artificial da atualidade.
Uma pena tudo isso… Ser quem somos deveria ser prioridade! Claro que, aparando algumas arestas através do autoconhecimento. Mas jamais deveríamos chegar a esses extremos perigosos que se tornaram tão comuns.
Abraços,
Verdade, Rosana, estamos vivendo uma era cujas consequências ainda não são totalmente claras.
A artificialidade de identidades está tomando conta de muitas pessoas, e os efeitos podem ser muito nocivos e além ainda da nossa previsão.
Sempre houve esse distânciamento da vida que as pessoas querem que os outros vejam, de suas vidas de fato, com suas dificuldades, dúvidas, inseguranças e meomento e fases difíceis.
A internet e as redes sociais amplificaram isso, mas o fenômeno em si sempre existiu.
É o ser humano em busca de aceitação e enquadramento nos padrões sociais vigentes e no cumprimento total o parcial do que dele é esperado.
Verdade, nos dias de hoje houve uma amplificação desse fenômeno.
Vejo isso em pessoas na religião. Na igreja ou no convívio com os simpatizantes são exemplos da pureza, e fora ou com família são o contrário .
Sim, é um campo em que há muito disso realmente.
boa reflexão.. gosto de saber a opinião de outros sobre isso.
Obrigado, Raf.
Ótimo artigo novamente, Guilherme. Obrigado!
Valeu, Carlos!
O contato do blog está errado! Excelente artigo, abraços!
Obrigado, Paulo!