Para estar presente “na atividade”, para produzir resultados específicos em função da tarefa para a qual você se propõe, você precisa alinhar a energia do corpo com a energia da mente. Quando uma coisa não está totalmente sincronizada com a outra, pode ter certeza: a coisa não flui.
Resolvi escrever esse post inspirado no artigo que a amiga Rosana, do blog Simplicidade & Harmonia, escreveu recentemente, sobre a questão de praticar atividade física, e sua relação com o não sedentarismo.
Se você, digamos, caminha 1 KM a pé, da casa para o trabalho, gastando nesse trajeto, digamos, algo em torno de 20 a 30 minutos por dia, e acha que está fazendo atividade física durante esse período, você está equivocado, pois a atividade física requer a concentração na tarefa, a intenção deliberada de praticar determinado exercício físico com o propósito específico de desenvolver suas funções cardiorrespiratórias e trabalhar seus músculos.
Como eu escrevi nos comentários daquele artigo:
Penso que o segredo para de fato praticar atividade física consiste não apenas no aspecto fisiológico do movimento do corpo, mas principalmente na atenção mental estar focada no fazer a atividade. Ou seja, sincronizar a energia do corpo com a energia da mente, que deve estar focada em melhorar a saúde por meio da atividade física.
Em outras palavras:
“Onde você coloca a sua atenção, é onde você coloca sua energia”.
Estudar fazendo outra coisa ao mesmo tempo funciona?
E toda essa questão nos coloca num outro ponto interessante: há tarefas em que é possível ter um desempenho mental satisfatório mesmo fazendo uma segunda atividade em paralelo, em “background”. Porém, essa mesma atividade intelectual pode ter seu desempenho reduzido se, na atividade em paralelo, houver uma necessidade de atenção dirigida muito grande.
Vamos colocar dois exemplos para facilitar o entendimento.
Estudar escutando aulas enquanto se lava a louça na cozinha pode resultar em uma grande absorção de conteúdo, uma vez que sua atenção mental “principal” está voltada para o aprendizado do áudio. A atividade doméstica não requer esforço mental ampliado, de modo que a atenção dirigida por ser absorvida totalmente para a escuta do áudio.
Por outro lado, estudar escutando aulas enquanto se está dirigindo no trânsito não tem o mesmo grau de eficácia, pois, ainda que você queira prestar atenção ao conteúdo do áudio, e efetivamente consiga reter alguma coisa tal conteúdo, parcela significativa de sua atenção dirigida precisa estar necessariamente canalizada para o movimento dos demais carros na rua (ou na estrada), o movimento dos pedestres na calçada, as placas de semáforo e sinalização, o que você está vendo os espelhos retrovisores do lado esquerdo e do lado direito etc. etc. etc.
Quando sua atenção mental se biparte para duas direções totalmente opostas que não “conversam” entre si, o resultado final acaba não sendo satisfatório… para nenhuma delas. Na verdade, a qualidade de sua atenção tende a degradar quanto mais tempo você fica nessa atividade “em dose dupla”, provocando um esgotamento da atenção também de modo mais acelerado.
O que acontece quando você caminha não como atividade principal?
Retomando o exemplo da caminhada para o trabalho, enquanto você o pratica, suas preocupações não estão inteiramente centradas nela, até porque o vestuário não é o mais apropriado, sua mente está mais preocupada em chegar no horário e não se atrasar, você (também!) tem que se preocupar com o movimento dos carros, o trânsito, desviar das bicicletas, fazer um checklist mental das coisas que você precisará cumprir naquele dia etc.
De outra perspectiva, quando você usa a caminhada como sua atividade física principal, toda a sua atenção dirigida pode finalmente estar focalizada nela: na prática do exercício físico como ingrediente para melhorar a qualidade de sua saúde corporal.
Como resultado desse efeito mental positivo, você pode cadenciar o ritmo das passadas (para mais ou para menos), prestar mais atenção no ritmo de sua respiração, “sentir” o movimento dos músculos, pernas, pés e braços etc.
Além de tudo isso, como você fez da caminhada não um meio para chegar ao trabalho, mas sim como um fim em si mesma, você estará com um vestuário apropriado, de modo que também evitará eventuais preocupações quanto ao suor e desconfortos térmicos causados por uma maior ou menor temperatura.
Conclusão
As caminhadas e os estudos foram apenas dois exemplos (e você pode ter inúmeros outros em sua vida) para demonstrar que, para que você tenha qualidade em suas ações, o seu cérebro precisa estar prestando atenção nas coisas certas.
Preferencialmente, aja com intenção deliberada ao optar por agir dessa ou daquela forma; e pense em meios e modos de fazer com que suas atividades sejam agradáveis, ou, se não forem tão agradáveis assim, que elas sejam feitas de modo a otimizar o uso do tempo disponível para realizá-las.
Por exemplo, se você for dirigir na estrada por uma hora, ou uma hora e meia, talvez valha mais a pena colocar uma playlist de suas músicas favoritas, do que ficar ouvindo áudios de estudo. O trajeto será feito de forma menos cansativa, e você pode “manipular” sua atenção de modo a cansar menos o cérebro, ao deixar a atenção voluntária para a condução, e a atenção involuntária para músicas que lhe tragam sensações e sentimentos de alegria, energia ou tranquilidade.
Se for fazer uma atividade física com o propósito de melhorar seu condicionamento físico, reserve um tempo específico para tal, e concentre-se nessa atividade. Pode parecer um conselho muito simples, até banal, mas muitas pessoas hoje em dia não fazem isso, e preferem dividir sua atenção mental entre os exercícios e as conversas no celular (e postagem diversas em redes sociais durante o exercício).
Esteja “inteiro” mentalmente para a sua atividade: é isso que garantirá maior probabilidade de que ela seja feita não “mais ou menos”, mas sim bem feita. 😉
Por coincidência, isso aconteceu hoje comigo, e cheguei à mesma conclusão… Estava escutando no carro um podcast de estudo de língua estrangeira (alemão…) e não obtive a concentração necessária, devido à necessidade de prestar atenção no trânsito. Escutei até o final, pois o podcast era curto (7 minutos), mas já tinha decidido que teria que ouvir de novo, para entender todo o conteúdo. Depois passei a escutar minha playlist de músicas favoritas.
Baita coincidência mesmo, Gustavo!
No carro realmente é melhor escutar áudios focados na atenção involuntária (músicas).
No Youtube tem uma palestra dum guitarrista em que ele fala justamente da necessidade do músico se concentrar totalmente no que ele está fazendo para poder atingir uma alta performance na carreira musical .
https://www.youtube.com/watch?v=3cljT1nCHBM
Bruno Mello é um guitarrista , porém sua palestra está alinhada com o assunto do texto de hoje e eu acredito que será um ótimo complemento para que quer evoluir em suas atividades .
https://blogderasratel.blogspot.com/
Excelentes links, Ras!
Boa reflexão.
A atenção faz diferença
Eu não estava a par da questão da caminhada, faço de manhã para ir a academia mas a questão de preparar a mente e atitudes no sentido de monitorar passadas e ritmo no trajeto ainda não tinha me conscientizado.
Como é uma caminhada de 28min em média vou estar mais atento.
Obrigado.
Valeu, Marcos!
Olá Guilherme,
Acompanho há alguns anos o blog e, pela primeira vez, registro uma pequena “discordância” com um post, referente ao trecho: “algo em torno de 20 a 30 minutos por dia, e acha que está fazendo atividade física durante esse período, você está equivocado, pois a atividade física requer a concentração na tarefa…”
Com toda certeza, fazer uma caminhada de 30 minutos MESMO que sendo em direção ao trabalho, é sim uma ótima opção principalmente para pessoas que “não tem tempo para isso”. Inclusive é uma recomendação médica para essas pessoas que “não tem tempo”, fazer essas pequenas mudanças de hábitos, tipo usar a escada no lugar do elevador, saltar um ponto antes para quem usa transporte público e caminhar o restante do trajeto, etc, etc…
Por fim, entendi perfeitamente tua colocação e peço que não me leve a mal, meu comentário tem a única preocupação de que alguém lendo esse trecho possa desanimar de sua única “atividade física”, ok? 😉
Abs!
Marco
Ótimas ponderações, Marco.
A pluralidade de ideias é importante para que tenhamos diferentes pontos de vista e, assim, olhar de modo mais abrangente determinado assunto.
Abraços e grato pela participação!
Guilherme,
Que bom saber que meu post te inspirou a escrever esse artigo! 🙂
Felizmente o conceito de multitarefa está caindo por terra, pois não dá para ter a eficiência esperada com o cérebro dividido entre duas atividades.
Além disso, é bem provável que as tarefas fiquem “mais ou menos” e raramente bem-feitas. E é exatamente aqui que é essencial discernirmos quais tarefas se encaixam no grupo que você falou (uma tarefa mental e outra manual), que podem ser feitas ao mesmo tempo e quais não.
Isso fará toda a diferença nos resultados e na sensação de bem-estar com o que foi feito.
Boa semana!
Sem dúvida, Rosana!
Aliás, não tinha me tocado que esse assunto está diretamente relacionado com a multitarefa.
Boa semana também!