O Brasil definitivamente não consegue viver com baixas taxas de juros por um período muito longo.
Depois de a taxa Selic descer, em seu último ciclo de baixa, a um patamar de inéditos 2% a.a. – e pior, ficando nesse patamar de forma completamente artificial durante um período de tempo maior do que o necessário – agora, por conta da pressão inflacionária crescente, além de seus próprios erros, o Banco Central teve que aumentar a Selic a níveis cada vez maiores, chegando, no momento em que este artigo está sendo escrito (março de 2022), ao patamar de 11,75% a.a.
Esse aumento gradativo da Selic já está dificultando a tão acalentada retomada do crescimento econômico, já que, por óbvio, o crédito e o financiamento acabam ficando muito mais caros, desestimulando o investimento produtivo das empresas, bem como o consumo das famílias brasileiras.
Basta lembrar, por exemplo, que quem tem financiamento imobiliário certamente terá – e verá – aumentos mensais em seu saldo devedor, uma vez que a TR – Taxa Referencial, que estava zerada até 2017, voltou a ser cobrada com o consequente aumento da taxa Selic.
Por outro lado, com o aumento da taxa Selic, os investimentos em renda fixa voltaram a ficar atrativos, uma vez que a quase totalidade deles usa a Selic como referencial de cálculo.
Contudo, é preciso lembrar que essa atratividade é relativa, uma vez que os ganhos reais líquidos dependem de outros fatores que influenciam no cálculo, como o peso das taxas de administração, dos tributos – principalmente imposto de renda e IOF – além, é claro, do maior dos impostos, que é o imposto inflacionário, ou seja, a inflação.
Por exemplo, com uma inflação de 7% a.a. e um investimento em renda fixa que pague 10% a.a. já descontados tributos e taxas, o rendimento real líquido passa a ser de apenas 3% a.a. Isso pode e deve ser sopesado pelo investidor, a fim de evitar a ilusão do falso ganho obtido somente com a rentabilidade puramente nominal de seus investimentos.
Tesouro Direto voltou a ficar atrativo
Ponderadas as limitações acima mencionadas, atinentes ao impacto dos custos em seus investimentos em renda fixa, vale destacar que os títulos de renda fixa do Tesouro Direto voltaram a ficar atrativos – ao menos do ponto de vista nominal.
Por exemplo, no dia imediatamente seguinte ao da notícia da elevação da Selic para 11,75% a.a., os títulos do Tesouro estavam sendo vendidos nos valores informados na tabela abaixo:
Observe que todos os títulos prefixados já estão pagando mais do que 12% a.a., o que significa que praticamente voltamos ao cenário do sonhado rendimento de 1% ao mês garantido – valendo lembrar, novamente, que esse 1% ao mês é o rendimento bruto, devendo ser descontadas, ainda, as taxas e os tributos.
Os títulos atrelados à inflação também estão ganhando cada vez mais terreno; aliás, estão bem perto de voltarem a pagar o também “sonhado” rendimento de inflação + 6% ao ano.
Como a taxa SELIC influencia no valor do CDI, é bom voltar ficar de olho também nos CDBs – que não pagam taxa de administração – e principalmente nas LCIs e LCAs, que, além de não pagarem a taxa de administração, também são isentas de imposto de renda.
Alerta-se, contudo, para a necessidade de escolherem bem o emissor dessas Letras, bem como se atentarem ao limite do FGC e da diversificação, preferencialmente, entre diversos emissores, usando diferentes bancos e corretoras, a fim de mitigar os riscos e evitar cair em calotes.
Conclusão
Infelizmente, a renda fixa voltou a ficar bastante atrativa no Brasil.
Digo “infelizmente” porque tal fato desestimula o investidor pessoa física a investir em ativos de maior risco, como ações e fundos imobiliários. A segurança da renda fixa acaba, psicologicamente, sendo um fator decisivo de investimento para muitos investidores, que, avessos ao risco, preferem concentrar suas apostas em deixar o dinheiro render de forma mais tranquila, o que ainda é mais potencializado em anos como o atual, no qual as eleições se avizinham e podem causar ainda mais volatilidade aos investimentos de risco.
Porém, é preciso ser inteligente e analisar as opções com calma, uma vez que são justamente nos momentos de volatilidade que costumam surgir boas oportunidades de compras de ativos a preços melhores, para quem tem paciência e uma estratégia compatível com as dos ciclos econômicos enfrentados pelo mercado.
Mesmo na renda fixa podem surgir oportunidades em se travar ótimos preços para os títulos prefixados e os atrelados à inflação, uma vez que o mercado aposta em mais uma alta da Selic (chegando ao redor de 12% a.a.), para daí recomeçar um ciclo de baixa.
Tenha paciência, evite agir com base em impulsos, e aja com prudência e cautela. Com todos esses ingredientes reunidos, fica mais fácil tirar proveito dessa nova onda de alta da Selic.
Ótimas observações
O marketing agora será pesado para dizerem onde devemos aplicar nossa reserva de tempo/dinheiro
Sem dúvida, Marcos.
Concordo parcialmente.
Deixo minha reserva de emergência e caixa para oportunidades na renda fixa…
A selic subindo tende a fazer com que a manada saia da renda variável e procure pela fixa.
Neste cenário pode gerar grandes oportunidades em ações / ativos dolarizados.
Compre ao sons dos canhões! rs.
Isso mesmo, Flávio.
São esses momentos de distorções que podem e devem ser capturados pelos investidores mais atentos.
Abraços
A repetição é a mãe do estudo, então:
“Tenha paciência, evite agir com base em impulsos, e aja com prudência e cautela. ”
Bons investimentos a todos.
Provérbio bem lembrado, Sherpa!