Você já parou para pensar que precisa pagar duas vezes por cada coisa que você compra?
O primeiro pagamento, todos sabemos, é feito com dinheiro. Com seu dinheiro. Um livro custa, digamos, R$ 30.
Mas, uma vez comprado o bem, é preciso realizar um segundo pagamento, realizado com seu esforço, sua iniciativa, seu empenho e sua atenção, em tirar proveito de seu bem. Por exemplo, no caso do livro, o segundo pagamento se traduz em hipotéticas 10 horas para lê-lo.
A maioria das pessoas se preocupa apenas com o primeiro pagamento, mas negligenciam o segundo, cujo preço pode ser tão caro quanto o primeiro, pois ele lida, em essência, com o tempo que você gasta para consumi-lo.
O site Raptitude escreveu um ótimo artigo (em inglês) a respeito desse custo oculto embutido nos bens e serviços que compramos, mas para os quais damos pouco ou nenhum valor:
There’s the first price, usually paid in dollars, just to gain possession of the desired thing, whatever it is: a book, a budgeting app, a unicycle, a bundle of kale.
But then, in order to make use of the thing, you must also pay a second price. This is the effort and initiative required to gain its benefits, and it can be much higher than the first price.
O problema da sociedade atual: a cultura do consumo a qualquer custo
É claro que a sociedade atual pouco se importa com o segundo preço: e, por causa disso, cria inúmeras facilidades para que nos concentremos apenas no primeiro preço, fazendo de tudo para torná-lo acessível: pagamento em 18 prestações, empréstimo para pagar, pagamento facilitado dando seu usado como entrada etc. etc. etc.
E nós, como consumidores amadores, normalmente tendemos a cair na armadilha desse consumo desenfreado, e compramos milhares de coisas… para as quais simplesmente não pagamos o devido segundo preço.
O resultado?
Desperdício.
Livros não lidos. Comidas sub-aproveitadas. Roupas pouco utilizadas. Carros que não precisariam ser trocados em intervalos de tempo tão curtos. E a lista só aumenta…
A solução: consumo auto-consciente
Como bem diz David, do blog acima citado, a única solução possível passa necessariamente sobre uma acurada reflexão sobre os impulsos de consumo que nos levam a comprar itens pelos quais pagamos somente o primeiro preço.
Na visão do autor:
“The only solution I can think of is to consciously throw the switch the other way: avoid paying any more needless first prices, and set your lifestyle around paying certain second prices, so you can finally enjoy the long-promised prizes waiting in your bookshelf, storage room, and hard drive”.
Em outras palavras: valorize aquilo que você já tem. Não faça gastos com coisas: faça as coisas gastarem.
Aproveite os livros que já estão em sua estante e ainda não foram lidos. Agora é hora de pagar o segundo preço por eles, antes de fazer gastos comprando novos livros.
Pegue suas roupas ainda não usadas e… passe a usá-las com mais frequência. Pague o segundo preço por elas. Evite comprar novas roupas.
Evite novas primeiras compras. Ao invés disso, faça o segundo pagamento pelas coisas que já foram pagas com o dinheiro.
Conclusão
Comprar apenas por comprar, sem gastar o devido tempo aproveitando aquilo que você compra, é desperdício puro.
Muitas pessoas passam a vida inteira só acumulando coisas e, quando olham para trás, veem que não gastaram os necessários esforços tirando o máximo proveito dos benefícios potenciais que elas poderiam trazer.
Passe a tomar atitudes de consumo consciente, valorizando ao máximo aquilo que você já tem.
Tudo isso tornará ainda mais significativo cada compra que você fizer, evitando o desperdício.
Pagando um bom segundo preço, você verá que não precisará pagar tantas coisas assim com o primeiro preço. 😉
Minha mente explodiu aqui kkkkk, li algo que eu percebia mas não conseguia expressar, era só uma sensação de que algo estava errado, quando comecei a ler o texto tudo fez sentido, obrigado!
As vezes pagamos muito barato na primeira e muito caro na segunda e não percebemos, inteligência financeira em outro nível agora kkkk.
Devemo-nos esforça para obter o máximo daquilo que pagamos, consumir tirando o maior proveito.
Muito obrigado pelas palavras, Lucas!
Fico feliz que tenha gostado do texto!
Realmente, é isso mesmo: é valorizar cada coisa que compramos, com o máximo de tempo e energia que pudermos, para fazer valer cada centavo que sai de nosso bolso.
Abraços!
As roupas que iria usar foram se perderam por ter engordado. Então só paguei o primeiro preço.
Verdade, Raf.
Guilherme,
Muito interessante essa visão do segundo preço. Realmente faz muito sentido. É algo que vou colocar em prática em minha vida.
Em uma cultura de consumo tão forte, nada melhor do que ir na contramão da tendência e aproveitar bem o que já foi comprado,
No final das contas, não precisamos de tantas coisas para alcançarmos uma vida significativa e leve. E a ideia do segundo preço parece amenizar bastante a ideia de insatisfação com o que já se tem e também acalmar a ânsia de querer sempre mais e mais.
É uma grande mudança de mindset, porém uma mudança que vale muito a pena!
Boa semana,
Excelentes reflexões, Rosana!
Você tem razão: mudando o mindset, os comportamentos se modificam no mundo real.
Boa semana!
Uma boa sacada, essa de pensar no segundo preço.
Refletindo aqui:. Não vou comprar aquela maquina de fazer pão, pque há segundos preços que não estou disposta a pagar:: o espaço que vai ocupar num armário que não tem espaço sobrando, o excesso de carboidratos que vou acabar consumindo. Ou talvez não vou me inscrever naquele curso de música pque o segundo preço são horas de dedicação e estudo, horas que não tenho disponiveis, teria que eliminar alguma outra coisa antes.
Realmente uma boa sacada!
Excelentes exemplos práticos, Vania!!!!
Realmente, toda compra embute um custo de oportunidade, em termos de tempo, energia e esforços, que devem ser objeto de reflexão acurada.
Em casa tentamos fazer o consumo consciente. Mesmo assim, dá para perceber que o consumismo é tão grande que sempre tem coisas desperdiçadas. O que fazemos é doar para instituições de caridade para que sirvam para outras pessoas.
Um outro aspecto terrível do consumismo é o dano ambiental. Tudo o que se gastou de recursos naturais para produzir, transportar e vender uma coisa que mal foi usada. O planeta Terra não aguenta mais isso.
Ótimas ponderações, Marcelo, principalmente essa questão ambiental!
De fato, as questão ambiental deveria ter grande peso em nossas escolhas.
Excelente artigo! Sempre considerei o segundo preço o tempo empregado pra conseguir juntar o dinheiro pra aquisição do produto, mas realmente pensar dessa nova forma ajuda ainda mais consumir de forma consciente e a ser feliz e grato pelo que já temos.
Obrigado, Raphaela!