Sob o título de Atenção Roubada, o professor César Tibúrcio publicou uma notícia muito interessante no blog dele, Finanças Comportamentais, acerca dos prejuízos das constante interrupções em nossa atenção.
Já lhe ocorreu de estar concentrado na leitura de um texto, ou na realização de um trabalho qualquer, e você ser subitamente interrompido por algo ou alguém?
Não precisa ser necessariamente uma notificação de celular: a simples interrupção causada por um interfone tocando, alguém te chamando ou um telefone fazendo barulho também causa o mesmo efeito: dificuldade de retomar a concentração quando a interrupção é concluída e você volta ao trabalho principal.
Eis o teor do post do professor César, o qual tomo a liberdade de citar na íntegra, dada a sua pertinência:
“Imagine, digamos, que você está fazendo sua declaração de imposto e recebe um texto e olha para ele – é apenas olhar, levando três segundos – e depois volta para sua declaração de renda. Nesse momento, seu cérebro precisa se reconfigurar, quando passa de uma tarefa para outra”, disse ele [Earl Miller, neurocientista do MIT]. Você precisa se lembrar do que estava fazendo antes e precisa se lembrar do que pensou sobre isso. Quando isso acontece, as evidências mostram que “seu desempenho cai. Você é mais lento. Tudo como resultado da troca.”
Isso é chamado de “efeito do custo de comutação”. Isso significa que, se você verificar seus textos enquanto tenta trabalhar, não estará apenas perdendo as pequenas rajadas de tempo que gasta olhando para seus próprios textos – também estará perdendo o tempo necessário para se concentrar novamente depois, o que acaba sendo uma quantidade enorme. Por exemplo, um estudo no laboratório de interação com computadores humanos da Universidade de Carnegie Mellon levou 136 alunos a fazer um teste. Alguns deles tiveram que desligar os telefones e outros estavam com os telefones ligados e receberam mensagens de textos intermitentes. Os alunos que receberam mensagens apresentaram, em média, 20% pior desempenho. (…)
Johann Hari, Your attention didn’t collapse. It was stolen. The Guardian.
O texto faz parte do livro Stolen Focus publicado recentemente.“
Como atenuar os efeitos do custo de comutação
Diante de tantas demandas que sobrecarregam nossa atenção, “clamando” que nos direcionemos às coisas classificadas como urgentes, que acabam, por sua vez, deteriorando a qualidade das coisas “importantes”, surge a dúvida: como atenuar os efeitos do custo de comutação?
A primeira providência parece óbvia, mas um tanto quanto difícil de implementar na prática: criar barreiras passivas.
Ou seja, desabilitar as notificações. No limite, desligar o celular. Ir estudar na biblioteca (para evitar ser chamado a toda hora por alguém em casa, se for o caso).
Se isso ainda não for suficiente, há outra maneira de, ao menos, tentar compatibilizar essas urgências da vida moderna com as coisas que realmente são prioridade em nossas vidas: fazer as coisas prioritárias no momento mais calmo do dia.
E esse momento mais calmo do dia tanto pode ser as primeiras horas da manhã, onde até o barulho do trânsito diminui, quanto as últimas horas da noite (para as pessoas que são “noturnas”).
O importante é você criar em torno de si um ambiente o menos propício possível para interrupções. Quando menor interrompido você for, de melhor qualidade será o trabalho que você irá executar.
Conclusão
Um trabalho profundo, para que possa gerar valor acima da média, necessita ser realizado com a menor quantidade possível de distrações.
Se você sofre constantemente com interrupções em seu fluxo de trabalho, isto pode estar lhe causando um ônus demasiado: trabalho mal feito, trabalho que tem que ser refeito, trabalho entregue atrasado, trabalho cujo resultado ficou aquém daquilo que você esperava.
Liberte-se das amarras dessa nossa sociedade que exige que você tenha que ficar conectado 24 horas por dia, 7 dias por semana. Você não precisa.
Eleja você como sua prioridade principal, e eleja suas demandas internas como alvo preferencial de sua atenção.
Agindo assim, certamente os efeitos do custo de comutação serão menores, e você conseguirá realizar um trabalho profundo de muito melhor qualidade – e em menos tempo, claro. 😉
Esse custo é bem documentado em alguns livros mesmo. E é interessante pois nós tendemos a achar que somos multitarefa. Entretanto basta um teste muito simples pra ver que a multitarefa tem um custo bem alto. Para ver isso, faça essas atividades, cronometrando o tempo entre elas (esse teste eu vi em um livro que não lembro o nome):
1) Primeiro, conte sequencialmente de 1 até 10 o mais rápido que conseguir. Depois, conte novamente de 1 até 10 em algarismos romanos (ou conte de 1 até 10 em inglês).
2) Agora vamos contar novamente de 1 até 10, mas intercalando as atividades. Ou seja, você conta 1, i, 2, ii etc até 10, x. Se contou em inglês, conte um, one, dois, two,…, dez, ten.
Compare a diferença de tempo ao fazer as duas atividades. Apesar desse exemplo ser extremamente simples, ele já mostra que existe um custo alto na hora que trocamos o contexto das atividades. Agora imagine o custo de troca de contexto quando você está imerso em uma atividade mais complexa. Por exemplo um programador está debugando um erro e recebe a notificação de um e-mail do chefe…
Excelente exemplo, MJC!
De fato, o custo é muito alto e, em termos cumulativos, acaba sendo o responsável por muitas das demoras na conclusão de atividades que, se realizadas com total foco e concentração, poderiam ser feitas não só em menos tempo, como também com mais qualidade.
Abraços!