O resumão de notícias dessa semana trará comentários sobre os acontecimentos envolvendo a famigerada reforma tributária, bem como comentários sobre o dólar e a Bolsa de Valores.
Confiram!
Reforma tributária: hora de evitar decisões precipitadas
Muito se tem discutido acerca dos impactos da reforma tributária nos investimentos.
Contudo, vale destacar que tudo o que está se discutindo não é sobre uma realidade vigente, ou seja, sobre uma lei nova e já em vigor, mas sim sobre um projeto de lei, que está em tramitação no Congresso Nacional e que é passível, portanto, de alterações até finalmente virar lei.
Entretanto, apesar de ser um projeto de lei, é de bom grado que os investidores já fiquem cientes sobre os possíveis impactos dessa reforma em seus investimentos, os quais, como de costume, são em geral negativos.
Não vou apontar aqui tudo o que essa reforma se propõe a fazer – para quem ainda não está familiarizado com as mudanças que podem ocorrer, esse resumo da XP dá conta do recado.
De qualquer forma, os principais pontos, no que tange aos investimentos, que estão sendo propostos são, em apertada síntese:
- Fim da isenção nos dividendos de ações;
- Fim dos juros sobre capital próprio;
- Fim da isenção nos rendimentos de fundos imobiliários;
- Unificação da alíquota de fundos de investimentos e títulos de renda fixa, incluindo Tesouro Direto, CDBs etc., em 15%, independentemente do prazo de investimento, acabando com a tabela regressiva de tributação;
- Unificação das alíquotas de ações e FIIs em 15%;
- Fim da isenção de R$ 35.000 nas vendas de ações no exterior;
- Fim do come-cotas em maio, restando apenas o de novembro, para os investimentos aplicáveis (como os fundos multimercados);
- Possibilidade de atualização do valor dos imóveis pelo valor de mercado atual na Declaração de Ajuste Anual do Imposto de Renda;
No balanço geral, as impressões são muito negativas, pois pioram as regras para quem investe em renda variável, tais como a tributação sobre os dividendos e aluguéis de fundos imobiliários – e trazem poucos pequenos benefícios para quem investe em renda fixa – como a alíquota única de 15%.
Ou seja, trocam-se os pés pelas mãos, pois se incentiva o investimento em renda fixa e se desincentiva o investimento em renda variável, e tudo isso num País que carece de mais investidores no mercado de ações. Não poderia haver notícia pior.
Se a reforma tributária passar nesses termos, a curto e médio prazos alguns investimentos sofrerão um baque em suas cotações, principalmente as cotações dos fundos imobiliários e as ações que costumam ser boas pagadoras de dividendos, como as empresas de energia elétrica, bancos e saneamento básico. Então é bom ficar atento quanto a esse ponto e preparado para suportar oscilações nas cotações de mercado.
O mais importante é, acima de tudo, manter a calma e evitar tomar decisões precipitadas.
Mesmo que os fundos imobiliários e as ações sofram no curto prazo, os bons ativos, ou seja, aqueles que apresentam sólidos fundamentos, boa geração de caixa, histórico constante de lucros etc., conseguirão se sobressair e superar as dificuldades momentâneas causadas pela queda nas cotações.
Por outro lado, quem investe em renda fixa tenderá a obter vantagens com a tributação em alíquota única e o fim do come-cotas em maio, mas, como sempre ocorre em reformas tributárias, as perdas, em geral, costumam sobrepujar os ganhos.
Dólar em alta
Depois de iniciar um movimento de baixa, rompendo a barreira dos R$ 5, o dólar nessa semana voltou a ganhar força, fechando a R$ 5,06, com valorização na semana de +2,32%, tendo a maior alta semanal desde março, tendo em vista o noticiário político doméstico pouco animador.
Embora não se saiba qual será a tendência da cotação da moeda norte-americana para o restante do ano – a rigor ninguém sabe – as quedas expressivas da cotação da moeda norte-americana no final de junho sinalizaram algo importante para quem pretende fazer compras em moeda estrangeira – ou mesmo iniciar investimentos no mercado externo.
Trata-se da possibilidade de fazer uma reserva em dólares com uma cotação menos desfavorável.
Com efeito, a cotação registrada em 22 de junho de 2021 – R$ 4,966 – tinha sido a menor desde 10 de junho de 2020, ou seja, em mais de 1 ano.
Movimentos como esse, que têm ocorrido de forma tão rara nos últimos tempos, não podem passar despercebidos por quem tem pretende fazer uma reserva em dólares, seja para uma futura viagem ao exterior, seja para quem pretende iniciar ou reforçar posições em investimentos no exterior, uma vez que, a longo prazo, a tendência é a moeda norte-americana cada vez mais se valorizar frente ao real brasileiro.
Logicamente que a compra não deve ser feita toda de uma só vez, mas sim parceladamente, em função da própria imprevisibilidade da cotação do câmbio no curto prazo.
IBovespa
Finalmente, quanto à Bolsa de Valores, registramos que o IBovespa fechou a semana aos 127.621 pontos e continua sendo um dos melhores investimentos (até agora) do ano de 2021, com ganhos acumulados de 7,22%.
Embora haja quem preveja o IBovespa a 152 mil pontos no final do ano (fonte), é sempre bom ficar com as barbas de molho quanto a esse tipo de previsão, não dar muita bola para esse tipo de opinião, e se concentrar em distribuir bem os investimentos a fim de não ficar excessivamente concentrado em uma única classe de ativos, principalmente para evitar a demasiada exposição a risco.
Isso porque alguns outros especialistas, como Ray Dalio, afirmam ver a existência de sinais de bolha, e bolha na economia norte-americana, tanto a bolha imobiliária (link) quanto a bolha no mercado de ações (link).
Eventual crise acionária no mercado americano deflagraria eventos em efeito dominó no mundo inteiro, os quais já sabemos quais são, pela experiência de outras crises vividas no passado: dólar sobe, Bolsa cai etc.
Portanto, todo cuidado é pouco em se tratando de mercado de ações.
Continue mantendo seus aportes periódicos, mas sempre equilibre bem seus ativos, com uma porção sempre generosa na renda fixa, a fim de aproveitar as oportunidades que de tempos em tempos o mercado oferece.
Vamos ser sinceros: isenção nos dividendos de ações é uma aberração que só existe no Brasil e um outro país pequeno no mundo! Isso tem que acabar mesmo! É uma indecência!
Quando o governo taxa cigarros, é porque ele quer menos gente fumando.
Quando o governo taxa refrigerantes, é porque quer menos gente bebendo refrigerantes cheio de açúcar.
Quando o governo taxa investimentos, …
Esse é um dos motivos mas não é o único. Vc está sendo simplista, se esforce mais…
Conte-me mais, por favor. Tem algum contraargumento de verdade ou só passes de mágica? O meu argumento já está dado.
Vc deve estar brincando, não? Isso é taxação dupla. A quantidade de impostos que nós pagamos nesse país e vc ainda acha justo essa outra taxação? Isso é aumento de imposto disfarçado.
Ah, coitado dos rentistas desse país né? Que vida sofrida! Pare de pensar no seu próprio bolso e pense no país em que vive…
Porção generosa em renda fixa = reserva de oportunidade para aproveitar momentos. Como vocês definem?
É isso mesmo, Leonardo.
A renda fixa tem duas finalidades essenciais:
1. Servir como a clássica reserva de emergências;
2. Servir como reserva de oportunidades.
O dinheiro alocado em renda fixa para essas duas finalidades pode estar num investimento só, ou em dois investimentos distintos.
Mas essa reserva tem que estar presente, principalmente nos tempos atuais, onde já existem sinais de fim de festa no ar….
Eu não aprecio muito a ideia de reserva de oportunidades pois na maioria das vezes é furada.
Veja bem, a ideia de finanças é montar um porftólio adequado e isso muito provavelmente vai ter renda fixa e renda variável. E de tempos em tempos a pessoa vai readequando isso, o que muitas vezes significa também rebalancear a carteira (por exemplo, migrando de renda fixa pra variável quando a renda variável cai muito e vice-versa).
Quando a pessoa considera ainda uma parcela extra pra “reserva de oportunidade”, na verdade isso significa que ela está diminuindo a exposição que ela poderia ter em renda variável pra ter uma maior exposição em renda fixa. E ela vai ficar com uma parcela maior fora do mercado aguardando um crash ou qualquer outro evento que ela julgue uma oportunidade. E aqui entra o principal ponto que é o custo de oportunidade de deixar essa parcela fora do mercado.
Então temos 2 possibilidades:
1) A gente tem uma carteira com uma porcentagem meta de X% definida pra renda fixa e aí a gente na verdade separa essa parcela em X = X1 + X2 e aí passamos a chamar X1 do nosso percentual ótimo em renda fixa e X2 de reserva de oportunidade. Nesse caso, na verdade é tudo a mesma coisa e o que vamos fazer é simplesmente o bom e velho rebalanceamento.
2) A gente tem um carteira com uma porcentagem meta de renda fixa (X%) e aí a gente adicionar um X2% que chamaremos de reserva de oportunidade. Dessa forma, o que estamos fazendo na verdade é elevando nossa porcentagem meta para (X + X2)%. Nesse caso estamos nos enganando, pois perdemos o custo de oportunidade de deixar esses X2 no lugar correto e, na prática, o que estamos fazendo é simplesmente aumentar a parcela de renda fixa pra rebalancear.
Por isso, no final das contas, independente do nome que a pessoa dá, é tudo rebalanceamento, seja ele automático ou manual. Mas dizer “reserva de oportunidade” parece ser algo que tem mais apelo, algo mais instagramável rs
Excelente, MJC!
Não tinha pensado a reserva de oportunidade sob essa ótica, principalmente sob o viés do custo de oportunidade.
De fato, isso pode fazer a pessoa carregar mais renda fixa do que o esperado. O ideal é concentrar tudo na reserva de emergências mesmo.
Abraços!
Aberração para mim é a carga de impostos que pagamos recebendo quase nada em contrapartida.
Exato!
O nosso problema não é a cobrança de impostos, é o mau uso dos impostos.
De forma geral, vou naquela linha de que, onde todos pagam, todos pagam menos. Somos o país das isenções, dos beneficios, dos grupos que se movem eficientemente para não entrar com seu quinhão para a arrecadação.
Claro que todos nós preferiríamos não pagar nada, mas os lucros e dividendos precisam ser taxados, como outra renda qualquer.
O mau uso do dinheiro arrecadado é um problema crônico no Brasil.
Enquanto em alguns outros países, principalmente os nórdicos, a alta tributação reverte-se em benefícios para os cidadãos, no Brasil ainda estamos bem longe desse tipo de situação.
Eu tenho uma noção meio realista sobre os comentários sobre a validade dos impostos sendo aumentados no Brasil. Eu sempre acho que isso vai no nosso bolso. O governo está aumentando arrecadação e vamos dizer, para quê? Eles vão agora, com esse dinheiro, usar melhor o nosso dinheiro?
Eu tenho cá minhas dúvidas. Eu entendo que o país precisa de investimento, precisa realmente de uma reforma tributária, mas não uma que AUMENTE o imposto, mas uma que não taxe a produtividade. Taxar o lucro, que já tem a CSLL, é sobretaxa.
E eu também entendo que se uma pessoa consegue ganhar dinheiro honestamente, sem nenhum tipo de facilidade a mais que as outras, tem o direito de pagar tanto imposto quanto. Acho muito inválida a ideia de taxar quem tem mais.
Quando vc aumenta demais o imposto vc prejudica a produção e o desenvolvimento do país, não trás benefícios. Daqui a um tempo ninguém mais vai querer produzir nada por aqui.
Um exemplo bem exagerado, mas que acho que mostra escancaradamente como é um erro de avaliação esse tipo de pensamento está no livro da Ayn Rand, A Revolta de Atlas. Sugiro a leitura.
Por último, vc usar mal o dinheiro que vc arrecada não faz o aumento de impostos ser justo. Isso vai onerar toda a cadeia produtiva. E vai doer no nosso bolso, como sempre.
Enfim, mais imposto não significa um país melhor. Nossos políticos não estão fazendo o que deveriam pela gente, só estão cada vez tirando mais.
Que nosso país se torne melhor em termos tributários um dia, mas MELHOR, não MAIOR!
Boa semana a todos.
Verdade, Robson.
Essa reforma tributária é, na verdade, uma reforma de aumento de carga tributária.
Abraços!