Há uma “tríade do bem” que é normalmente receitada pela maioria dos médicos ou especialistas em saúde para ter a tão almejada qualidade de vida e longevidade saudável.
Essa tríade é representada pela combinação de 3 ingredientes fundamentais:
Alimentação equilibrada + Exercícios físicos + Sono
Desses 3 itens, de longe o último é o mais negligenciado.
A importância da alimentação saudável, a mais natural possível, longe de vilões como açúcares, gorduras trans, farinha branca e carboidratos de má qualidade, é tanta e tão destacada nos dias atuais que nem é preciso discorrer muito a respeito.
Da mesma forma os exercícios físicos, que o digam as milhares de academias que abriram nos últimos 20 anos, e a legião de aficionados pela prática de esportes ao redor do mundo.
Mas o sono…… aaaahhhh…. o sono… como ele tem sido negligenciado pela nossa sociedade.
É verdade que o modo como funcionam as engrenagens da nossa sociedade nos dias atuais nos impelem naturalmente (isso é o que é mais assustador, naturalmente) a dormir um pouco menos (ou bem menos). Afinal de contas, lá estarão a cafeína, o café, os refrigerantes, as bebidas energéticas e tantos outros estimulantes a nos fazerem ficar mais tempo acordados de modo totalmente artificial, a fim de que sejamos… os mais produtivos possíveis (!?).
Porém, esse estilo de vida, que implica em fazer a maior quantidade possível de coisas e tarefas na maior quantidade de tempo possível acordado, estilo de vida esse expresso, dentre outros, em lemas como “tempo é dinheiro”, nos afastam, cada vez mais, daquilo que é um de nossos bens mais preciosos: o sono.
Sim, justamente ele, que é considerado “perda de tempo” para muitas pessoas, pode vir a ser justamente o remédio que muitas pessoas precisam desesperadamente para recuperar…. a própria saúde.
A importância do sono nunca passou despercebida aqui no blog, como provam alguns dos artigos que escrevemos ao longo desses últimos 12 anos:
- Essa é uma sociedade que não valoriza o sono (escrito em junho de 2015);
- 5 razões para dormir melhor… e 5 dicas de como fazê-lo! (escrito em agosto de 2010);
- Dormir bem faz bem ao seu bolso (escrito em junho de 2009);
Além disso, a importância do sono para a recuperação física e o ganho em saúde em níveis emocionais, físicos e mentais sempre foi ressaltada por especialistas, em livros que tivemos a oportunidade de resenhar:
- Resenha: A semente da vitória, de Nuno Cobra;
- Resenha: Envolvimento total: gerenciando energia e não o tempo, de Jim Loehr e Tony Schwartz
Logo que fiquei sabendo da publicação de um novo livro sobre o sono, ou melhor, sobre a ciência do sono, escrita por Mattew Walker (que talvez seja a maior autoridade mundial na matéria), não hesitei em fazer a compra.
Apesar de o livro ter sido lançado (na versão em português) em setembro de 2018, ou seja, há quase 3 anos, ele continua sendo, ainda agora em junho de 2021, o livro mais vendido na Amazon brasileira na categoria saúde pessoal, saúde e família, com nota 4,8 e mais de 900 avaliações só na loja brasileira.
É um livro denso, de exatas 400 páginas, mas que faz jus ao fato de ser o livro número 1 justo na categoria de saúde pessoal, pois, de fato, dormir talvez seja o fator número 1 em importância para o desenvolvimento, manutenção e prolongamento da saúde dos seres humanos.
A sinopse do livro já nos oferece um belo panorama do que vem a ser o conteúdo do livro:
“Como o sono pode melhorar nossa saúde, ajudar nos relacionamentos e nos fazer produzir e aprender mais?
Até pouco tempo atrás, a ciência não tinha resposta para a questão ‘por que nós dormimos’. Não se sabia qual era o benefício do sono ou por que sofremos consequências devastadoras na saúde quando privados de horas dormidas.
Em ‘Por que nós dormimos’, o renomado neurocientista e especialista em sono Matthew Walker oferece um estudo revolucionário sobre como o sono afeta cada aspecto do nosso bem-estar físico e mental.
Utilizando-se de recentes avanços científicos e décadas de pesquisa e prática clínica, Walker explica como podemos aproveitar o sono para melhorar o aprendizado, o humor e os níveis de energia, regular hormônios, prevenir câncer, Alzheimer e diabetes, retardar os efeitos do envelhecimento e aumentar a longevidade.
Fascinante e acessível, Por que nós dormimos tem prefácio do neurocientista Sidarta Ribeiro, maior especialista em sono no Brasil, professor titular do Instituto do Cérebro, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Uma excelente análise da importância do sono e dos sonhos, a obra examina transtornos como a insônia e os malefícios do uso de remédios para dormir, além de oferecer alternativas não medicamentosas para a falta de sono e valiosas dicas práticas para dormirmos bem todas as noites”.
O livro oferece insights muito interessantes e até revolucionários do ponto de vista científico, que nos fazem pensar profundamente sobre o quão natural é o hábito de dormir, e da importância evolucionária dele para a própria sobrevivência do ser humano enquanto espécie animal.
Por exemplo, ele cogita a hipótese de ter sido o sono o modo “default”, ou seja, padrão, para a evolução das espécies. Ou seja, ele cogita da hipótese de, há centenas de milhões de anos atrás, as formas mais primitivas de vida terem se desenvolvido “dormindo”, para só depois acordarem e praticarem atos sob o efeito do despertar.
Outra constatação muito interessante: não existe espécie animal alguma que não durma. Até mesmo peixes e aves dormem. Logo, o sono, o ato de dormir, carrega um papel primordial para a evolução de todos os seres vivos, e não é possível que a Mãe Natureza tenha criado um status de desligamento periódico de todos os seres vivos sem o oferecimento de benefícios específicos em contrapartida.
A partir daí, Matthew Walker se debruça sobre os benefícios de uma boa noite de sono, bem como sobre os perigos para a saúde causados pela privação de sono, apoiado em uma extensa rede de pesquisas científicas.
Conclusão
Os dados são surpreendentes, pois se trata de pesquisa científica traduzida para o público leigo, e o estilo de escrita foi desenvolvido de forma que você fique cada vez mais atraído não só em mergulhar cada vez mais aprofundadamente no tema, mas também para colocá-lo imediatamente em prática.
Ou seja, é impossível não querer dormir mais e melhor depois de ler algumas páginas do livro, a cada dia.
Como eu já disse antes aqui no blog, vários estudos científicos demonstram que o sono é o pilar fundamental para o ganho de saúde, bem-estar e qualidade de vida. Tony Schwartz, no excelente livro “Não trabalhe muito: trabalhe certo!”, cita um estudo de Charles Leadbeater, publicado no livro “Dream On: Sleep in the 24/7 Society”:
“A falta de sono nos torna ineficientes no trabalho e mais perigosos ao volante de um carro. Deteriora a qualidade de nossa vida e nos deixa mais vulneráveis à doença. Além de ser responsável por nos tornar menos capazes de responder criativamente a problemas e oportunidades, e com o pensamento menos original, flexível e divergente e, com isso, com menos probabilidade de produzir novas ideias” (p. 57).
Alguns dos piores desastres naturais e acidentes da História recente ocorreram durante a madrugada, ou tiverem na falta de sono uma das causas desses desastres. O vazamento radioativo de Chernobyl, de 1986, ocorreu à 1 da manhã. A explosão da espaçonave Challenger, também em 1986, ocorreu depois de os funcionários da NASA terem trabalhado durante 24 horas consecutivas. No acidente aéreo do voo AF447, da Air France, ocorrido em 2009, descobriu-se que o piloto havia dormido apenas 1 hora antes da tragédia.
Dentre os temas abordados por Walker ao longo do livro, destacam-se os seguintes:
- É verdade que os adolescentes e jovens têm seu padrão de sono alterado, indo para cama mais tarde e acordando mais tarde também;
- Por outro lado, é um mito que os mais velhos necessitem de menos horas de sono;
- A cafeína e o álcool têm efeitos deletérios e podem sim prejudicar uma noite de sono com qualidade;
- Os sonhos têm um papel essencial para manter nossas funções cerebrais ativas e vigilantes durante o dia.
Não podemos agir em desacordo com nossa própria natureza genética. Nosso relógio biológico foi programado para ficar alerta e acordado durante o dia, e dormir durante à noite. É durante o sono que ocorrem a consolidação da memória e da aprendizagem que obtivemos durante o dia. É durante o sono que o organismo metaboliza todos os processos fisiológicos necessários para restaurar a nossa energia física e mental, e nos deixar “prontos” para o ciclo de atenção e vigília do dia seguinte.
Você já conseguiu se recuperar de dores de cabeça e problemas de saúde depois de uma boa noite de sono? É provável que sim.
Então não deixe se privar disso. Faça com que uma boa noite de sono não seja um acontecimento episódico e eventual em sua vida, que ocorre apenas nos finais de semana, mas sim um acontecimento rotineiro e perfeitamente integrado ao seu dia a dia. Incorpore-o como um verdadeiro hábito em sua vida.
Durma bem e bastante não apenas de sexta para sábado, ou de sábado para domingo. Durma bem e bastante todos os dias. E logo ganhará benefícios para todas as áreas de sua vida, em todos os dias. 😉
Guilherme,
Aprendemos que dormir é perda de tempo. E muitos de nós ainda tem essa crença como uma premissa verdadeira. Porém, sem o sono, o corpo simplesmente não funciona de maneira adequada.
Assim como você disse no início, pensamos mais na alimentação e nos exercícios físicos.
E o sono, tão básico, geralmente é esquecido. Talvez por ser, dos 3, o mais simples de ser colocado em prática.
Tenho um post que fala sobre isso. Vou deixar o link aqui para quem quiser ler:
A importância do sono – Simplicidade e Harmonia
Parabéns pelo post. Esse é um tema sempre muito apropriado e bom de ser lembrado.
Boa semana!
É verdade esse bilhete!
Durante muitos anos, dos 14 aos 24 mais ou menos, eu praticamente não dormia de forma suficiente, eram noites e madrugadas estudando ou trabalhando, eu acabei fazendo muita coisa concomitante nesse período e o resultado foi que um dia eu bati o carro de frente ao dar uma “piscada” no volante, poderia ter sido fatal, mas dei sorte e não tive danos físicos, apenas materiais.
Poderia dizer que o culpado foram meus pais e professores, mas acho que no final o culpado somos nós mesmos, nós que não sabemos dizer não, queremos sempre fazer tudo a agradar a todos, isso acaba com seu tempo.
Depois disso eu aprendi a lição, mudei de emprego para um que me possibilitasse dormir um pouco mais, e comecei a ir mais devagar nos projetos e ambições pessoais, parei de fazer tantos trabalhos extras. Hoje estou conseguindo dormir 8 horas quase todos os dias, eventualmente alguma coisa ainda me tira o sono, mas no geral estou muito mais saudável.
Atualmente posso dizer que do tripé mencionado, eu preciso melhor a alimentação e fazer mais exercícios, do sono eu aprendi.
Abraços
Excelente testemunho, Bilionário!
Você tocou num ponto muito importante: aprender a dizer não.
Temos que aprender, nem que seja na marra, que temos um ciclo limitado de 16 horas diárias de vigília. É nesse período restrito de horas que a “vida tem que acontecer”. Se há mais obrigações do que você é capaz de suportar, a saída é realmente dizer não.
Abraços!
Excelente comentário, Rosana!
E é bem isso o que você escreveu: ele é o mais simples de ser colocado em prática.
O seu artigo complementa de forma esplêndida o que tratei nessa resenha.
Boa semana também!
> É verdade que o modo como funcionam as engrenagens da nossa sociedade nos dias atuais nos impelem naturalmente (isso é o que é mais assustador, naturalmente) a dormir um pouco menos (ou bem menos).
Pois é. Eu entendo quando a pessoa dorme pouco por necessidade, afinal é o que milhões de brasileiros fazem: madrugam pra pegar um ônibus que as vezes demora mais de hora pra chegar no serviço. Mas não entendo de jeito nenhum o que alguns influencers fazem de estimular as pessoas a dormirem menos. Em alguns casos há até o incentivo besta de dormir menos, acordando às 4:30 ou 5:00 só pra acordar mesmo. Pra que? As vezes até justificam que é pra ter mais tempo pra aprender mais, mas esquecem que um dos (muitos) benefícios do sono é justamente ativar o modo difuso do cérebro onde ele consolida informações durante seu aprendizado focado [1].
[1] https://www.coursera.org/learn/learning-how-to-learn
Excelente, MJC.
Pro sujeito acordar às 5 da manhã, com disposição, saúde e bem-estar, ele precisa no mínimo começar a dormir às 9 da noite do dia anterior.
A longo prazo, as horas de sono a menos, acumuladas ao longo de toda uma vida, vão cobrar o seu preço. E a conta costuma ser irreversível.
Abraços
Boa noite!!!! Sou dentista, estudo e trato pacientes com dor e distúrbios de sono. Cada dia mais apaixonada pelo tema e cada dia mais indignada pela maneira como negligenciamos essa atividade tão vital. Não é à toa, que deveríamos passar 1/3 de nossas vidas dormindo. Sono é fundamental pra nossa vida. Hoje, como profissional da saúde, é quase impossível tratar um paciente de dor crônica e não investigar o sono desse paciente. A apneia obstrutiva do sono e o ronco, são doenças crônicas, progressivas, e com um impacto importantíssimo na qualidade de vida do paciente que devem ser tratadas. Obrigada, Guilherme! Cada dia mais, sua fã. Obrigada por abordar temas tão distintos e importantes!!!!!
Excelente, Mônica, muito interessante que esse tema caia exatamente dentro de sua área de atuação.
Seus conselhos só reforçam a importância desse remédio gratuito e poderoso.
Obrigado pelas palavras!!!!
Guilherme,
Em busca de saúde e me preparando para envelhecer com qualidade de vida (os 40 batendo à porta), tenho refletido muito sobre o quanto uma ideia de produtividade nos afeta perigosamente. O sono – ou a privação dele – é um exemplo, mas quando olhamos pra saúde da mulher, é mais assustador. A maneira como somos ensinadas a reprimir e “resolver ” os incômodos do ciclo menstrual, por exemplo, me parece uma forma de imprimir um padrão de produtividade artificial, muito parecido com a privação do sono. Tomar pílula para não ovular e menstruar, por exemplo, tem consequências muito sérias, e somente qdo a gente se permite observar os ciclos, conseguimos perceber o que nossa saúde tem a nos dizer – são sinais vitais, que nos apontam os caminhos para a saúde muito antes de termos sintomas de doenças. Enfim, isso para contribuir com a reflexão, pois a sociedade da produção tem nos afastado dos reais valores, como diz seu blog, que deveriam orientar nossa jornada pelo planeta. Um abraço!
Excelente, Fernanda.
Também já li sobre os malefícios dos anticoncepcionais.
A busca insana por produtividade acaba colocando as pessoas no último lugar das prioridades. Essa busca insana prejudica e causa muitos distúrbios às pessoas.
Grato pelo alerta, nesse comentário super bem escrito.
Abraços!
Meu sono tem alterações desde que sou criança. Durmo muito tarde e acordo muito tarde. Não sou um ser matutino.
Certa vez fui a um neurologista especialista em sono e ele disse que eu sofria da síndrome do atraso das fases do sono que também é chamada de transtorno da fase adiantada. Ela é exatamente isso que falei.
Já os idosos, com a chegada da velhice, vão sofrendo do transtorno da fase atrasada (não sei o nome correto) que faz com que seu horário de sono seja atrasado, ou seja, ele começa mais cedo que o normal. Por isso um coroa tá com sono às 21h00, enquanto o jovem quer dormir às 1h00.