Você certamente já ouviu falar da expressão “dinheiro na mão é vendaval”, que se popularizou com a música Pecado Capital, de Paulinho da Viola.
Essa expressão é a representação da atitude que muitas pessoas, não educadas financeiramente, têm quando se deparam com uma grande quantia de dinheiro “dando sopa” na conta bancária.
Ou seja, dinheiro na mão é vendaval significa, muitas vezes, torrar essa grana toda.
Há desperdício.
Não há uso dos recursos financeiros de forma apropriada.
E veja que interessante: o problema não é ter dinheiro na conta, o problema é o mau uso que se faz dele.
O problema não é, portanto, o objeto, mas sim o comportamento humano em relação ao objeto.
Num país como o Brasil, onde a grande maioria da população não tem educação financeira, esse problema se agrava, e é preciso, pois, pensar em maneiras eficientes de evitar que dinheiro na mão se torne vendaval mas, ao mesmo tempo, garantir que as pessoas possam construir patrimônio de maneira sólida e eficaz a longo prazo.
No artigo Adicione o bem pela raiz: duas formas comprovadamente eficientes de fazer sobrar dinheiro no começo do mês, comentamos sobre duas estratégias de acumulação de patrimônio a longo prazo envolvendo aportes mensais.
Nesse artigo, trouxemos à tona a ideia de barreiras passivas, que impõem determinado comportamento às pessoas, como sair de casa sem cartão de crédito, como forma de evitar as tentações de consumo.
E, como eu disse na conclusão do artigo:
Na zona intermediária entre esses dois métodos, há diversas outras formas criativas que você pode utilizar para se forçar a investir de forma disciplinada e constante.
Na caixa de comentários, a leitora Vânia comentou sobre o uso dos investimentos em imóveis como uma espécie de barreira passiva ao mau uso do dinheiro.
O comentário foi escrito de forma tão completa e brilhante, que resolvi transformá-lo em post, já que pode ajudar muitas pessoas na construção de patrimônio, principalmente aquelas que ainda lutam contra forças psicológicas negativas no trato do dinheiro.
Confiram!
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“Sei que isso é polêmico, mas quero citar uma outra maneira de criar barreiras ao uso desnecessário do dinheiro que em algum momento foi arduamente poupado: ter imóveis.
Não é por acaso que tantas pessoas deixam imóveis para a geração seguinte, e tão poucas deixam somas expressivas de dinheiro.
Por ter baixíssima liquidez, o investimento imobiliário protege o investidor de gastos por impulso e de aquisições mal planejadas. Mesmo pessoas moderadas e previdentes podem perder o controle financeiro em algum momento: na pós no exterior que o filho inteligente e dedicado quer fazer, num desemprego prolongado, naquele ano sabático tão sonhado, abrindo negócios aparentemente promissores.
São coisas que podem facilmente consumir grandes somas de recursos, e são sempre mais fáceis se esse dinheiro estiver numa aplicação financeira.
Se o dinheiro está imobilizado numa casa, a própria dificuldade em torna-lo líquido já obriga à reflexão.
Nunca vi ninguém vender um imóvel para trocar de carro, mas é bastante comum que se saque um naco dos recursos da aposentadoria para essa finalidade.
Um naco aqui, um naco lá, e no fim a pessoa acaba com muito menos renda passiva do que pretendia.
Conclusão
Para pessoas que não tem lá muito autocontrole, comprar um ou mais imóveis é a melhor coisa que poderão fazer pelo seu futuro. Ficarão protegidas de si mesmas.
Para essas pessoas, é menos importante a rentabilidade, do que a garantia de que seus ativos permanecerão “imexíveis”.
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E você, também investe em imóveis – ou conhece alguém que faz esse tipo de investimento – visando a esse tipo de proteção de si mesmo(a)?
Agradeço à assídua leitora Vânia por mais esse excelente comentário que virou post!
Guilherme,
Excelente post
Em algum momento, o dinheiro disponível será gasto com algo que nem sempre é tão importante.
Carros também são um bom exemplo: a pessoa troca o antigo por um novo. Mais caro. Que ocasionará mais gastos.
E logo acaba o dinheiro que poderia ser usado de forma mais consciente, que resulte em mais ativos – e não passivos.
Culturalmente, parece que os investimentos são bem menos capazes de bloquear a dilapidação do patrimônio do que os imóveis para as gerações atuais. Mas isso também está mudando, seja com fundos imobiliários, ações ou criptoativos.
Para quem hoje tem 40 ou 50 anos ou mais, a opção herdada dos pais como um bom e seguro investimento é a compra de imóveis. Porém, as novas gerações começam a pensar diferente.
Gostaria de destacar a frase final do texto:
“E você, também investe em imóveis – ou conhece alguém que faz esse tipo de investimento – visando a esse tipo de proteção de si mesmo(a)?”
Em caso de uma grande emergência, como doenças, penso que é válido que o dinheiro acumulado seja utilizado. Porém muitas vezes, o imóvel acaba sendo mesmo uma proteção de si mesmo.
Parece até estranho, pois dá até a impressão de falta de autocontrole. Porém, em um mundo que nos induz tanto ao consumo, é preciso aprender a questionar-se desde cedo na vida se tudo o que queremos é realmente necessário ou se são apenas ilusões da sociedade de consumo.
Boa semana!
Excelentes comentários, Rosana!
De fato, a existência desse tipo de investimento com menor liquidez pode ser muito útil para determinadas situações.
Porém, para tantas outras, ter algum grau de liquidez nos investimentos também será de grande valia, como o caso das doenças citadas por você.
No cerne disso tudo está, como você bem destacou, a questão psicológica, do autocontrole.
Bom final de semana!
Particularmente considero que os imóveis estão muito caros, e como todo investimento, você deve comprar quando estão baratos. O problema é que faz mais de 10 anos que acho isso e não vejo sinais de melhora, então talvez esse seja o “novo normal”. Só sugiro que quem for investir se informe realisticamente sobre o aluguel esperado. Dadas as incertezas (proporção de tempo que o imóvel permanece no mercado esperando alugar, inadimplência do locatário, possibilidade do locatário causar estragos e não pagar, reparos no imóvel, etc.), as taxas (1 aluguel por ano para a imobiliária, condomínio se for um apartamento e não estiver alugado, e no mínimo o fundo de reserva do condomínio, e talvez outras), impostos (IRPF sobre o aluguel, IPTU), eu nem começaria a pensar se não fosse para receber um valor bruto de pelo menos 1% do valor de venda do imóvel por mês em aluguel. Por exemplo: um imóvel que custa R$ 300.000 teria que ser colocado no mercado de aluguel por R$ 3.000.
Não sei como é na região de vocês, mas na minha isso está muito, muito longe de acontecer. Por exemplo: por anos morei num prédio onde, quando cheguei, havia apartamentos anunciados por até R$ 450 mil. Entretanto, paguei até o final do contrato (fiquei lá por 8 anos) apenas R$ 1.360 de aluguel — e o proprietário arcava com o IPTU. Dá 0,3%. Francamente, o proprietário estava quase me pagando para ficar lá. Se ele vendesse e aplicasse na SELIC, mesmo em época de 2% a.a., provavelmente teria mais lucro, e livre de risco.
Entendo que o investimento em imóveis vai além do recebimento da renda mensal, e considera a própria valorização do imóvel. Porém, continuo achando que os preços estão completamente fora da realidade brasileira, e só estão sendo alimentados por juros irrealmente baixos para o contexto do país, aliados a financiamentos a perder de vista.
Acho que a principal lição não é o investimento em imóveis por si só, mas sim em investimentos de baixa liquidez. Isso de fato parece ajudar. No meu caso, e seguindo as ideias de um artigo que escrevi há alguns anos, o qual o Guilherme fez a gentileza de publicar aqui no blog, eu invisto em PGBL. Psicologicamente, as vantagens para mim são duas:
1. Eu sei que preciso investir um certo valor todo ano, ou abro mão de uma significativa restituição do meu IRPF. Como tenho horror a deixar dinheiro na mão de político para roubar, isso me compele fortemente a investir pelo menos o mínimo necessário para maximizar minha restituição.
2. Embora o investimento tenha liquidez no sentido que possa ser rapidamente liquidado, os impostos na tabela regressiva são absolutamente proibitivos, pelo menos nos primeiros anos. Para o dinheiro que estiver parado lá há menos de 2 anos, são 35% SOBRE O SALDO (não é sobre o rendimento não). Só cai para 10% após 10 anos, e ainda sobre o saldo, então precisa deixar o dinheiro render bem antes de começar a sacar, ou o imposto come todo o rendimento. Inclusive, é interessante que, quanto mais o dinheiro rende, proporcionalmente a alíquota sobre o rendimento diminui (já que a alíquota é sobre o saldo: principal mais juros), então é mais um motivo para deixar o dinheiro lá o máximo possível de tempo.
Juntos, esses dois fatores são suficientes para garantir que 1. eu invista um dado valor todo ano e 2. eu não saque de jeito nenhum esse valor.
Mas claro, entendo que o que motiva cada pessoa pode ser diferente. Se você não sentiu que os fatores acima te ajudariam a evitar de gastar o dinheiro, talvez seja melhor investir em imóveis, mesmo com rendimentos mais baixos.
> O problema é que faz mais de 10 anos que acho isso e não vejo sinais de melhora, então talvez esse seja o “novo normal”.
Acompanho o preço de imóvel desde pouco antes de 2010 em umas 3 cidades que viajo muito. Nas 3 o preço ficou relativamente estacionado entre 2013 e 2019/2020. Considero que, nessas cidades, até que houve uma melhora no preço real (por conta do efeito da inflação).
> eu nem começaria a pensar se não fosse para receber um valor bruto de pelo menos 1% do valor de venda do imóvel por mês em aluguel
Particularmente nunca vi um imóvel residencial ser locado a 1% do valor de venda. Nos melhores anos e nas poucas regiões/cidades que eu acompanhei isso chegou a no máximo cerca de 0,5%.
> PGBL
Invisto em PGBL também e nunca tinha pensado por esse fator incentivador por conta da baixa liquidez. Bem interessante!
Boa estratégia essa sua!
Excelentes argumentos, Swine e MJC!
De fato, o mercado imobiliário anda com os preços nas alturas. Já se fala inclusive em nova bolha imobiliária nos Estados Unidos, no Canadá e em algumas outras partes do mundo.
Vamos ver o que acontecerá no Brasil quando os juros começarem a tornar mais inviável as operações de crédito imobiliário.
Abraços!
“barreira passiva para impedir o mau uso do dinheiro” não acredito nisso.
a burrice supera qualquer barreira.
moro no subúrbio do RJ e aqui tá cheios de imóveis velhos e vazios.
não vejo um imóvel como uma garantia além do óbvio: garantia de um teto, só isso
” tantas pessoas deixam imóveis para a geração seguinte, e tão poucas deixam somas expressivas de dinheiro.” isso só acontece pq a maioria não tem educação financeira, mas todo mundo precisa de teto. fora o fetiche do brasileiro pela casa própria financiada por 15-30 anos
abs!
Ótimo depoimento, scant!
O post poderia ter como título ” Imóveis: Como proteger seus investimentos de você mesmo”, os imóveis por sua menor liquidez relativa apesar de uma gaiola para o nosso dinheiro não voar fácil também são perigosos para os curiosos, pois sem visão, o investidor pode adquirir um imóvel em uma área que está em uma escalada de crimes ou até mesmo com problemas de fornecimento de água ou coisa parecida. Antes de qualquer ação é sempre bom estudar bastante.
Perfeito, Felipe.
O estudo consistente e consciente é o primeiro passo para ter sucesso nessa empreitada.
Abraços!
Fala, VR!!!
Até concordo com a estratégia, mas pra mim é meio que tiro de bazuca para matar formiga. Acho que dá pra comprar umas RF longas ou mesmo abrir uma conta em outro banco/corretora e deixar lá esquecido.
Além disso, imóvel precisa de manutenção. 🙁
Mas, se for casos extremos q a pessoa não se controla mesmo, talvez seja uma saida mesmo.
Bora lá.
NFVB
E aí, Neto!?
Verdade, hoje em dia há muitas opções e estratégias no mercado para conseguir lidar psicologicamente com essa questão da falta de controle emocional sobre os investimentos.
Fiquei muito feliz em ver meu comentário virar post! Um orgulho! 🙂
Seja dessa ou daquela forma, neste ou naquele investimento, o que acho de fato importante são aquelas regras que o VR tantas vezes nos recorda: gastar menos do que ganha, manter-se um degrau abaixo, constancia nos aportes, manter o rumo.
Merecido, Vânia! Você escreve muito bem e sempre dá valiosas contribuições no blog! E acho inclusive que esse não é o primeiro comentário seu que vira post! 🙂
Quanto à observância das regras, é tudo isso mesmo!
Uma vida baseada em princípios financeiros tem tudo para dar certo!
Seu texto ficou muito bom.
Acredito que investir em imóveis é uma das formas mais seguras de investir o dinheiro. Para quem tem dificuldade em poupar o dinheiro essa é uma excelente solução.
Obrigada por compartilhar conosco essas dicas!