A corrida pela antecipação da independência financeira é um sonho acalentado por pessoas das mais diversas idades.
Alguns jovens, por exemplo, deslumbrados pela ideia de não precisar trabalhar o resto da vida, se apegam a certas celebridades financeiras que propagandeiam aos quatro cantos que conseguiram a independência financeira aos 30 e poucos anos, aos 40 e poucos anos, e concentram todos os esforços nessa luta.
Porém, já dissemos por aqui diversas vezes que isso pode ser um perigo e, na verdade, uma armadilha, pois o foco acaba sendo muito concentrado em “deixar de trabalhar para poder viajar e curtir a vida”, quando o foco na verdade deve ser “encontrar uma atividade produtiva que o faça feliz e motivado o resto de sua vida”.
A idade é uma barreira?
Outra grande parcela da população não pode sequer se dar ao luxo de fazer isso que foi dito acima, pela simples barreira da idade.
São pessoas que somente depois de uma certa idade, depois dos 30, depois dos 40, depois dos 50… é que começaram efetivamente seu processo de educação financeira. E aí, o que fazer? Ainda dá tempo?
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Dando um spoiler e começando pela resposta antes da fundamentação, é óbvio que sim, que dá tempo.
Aliás, em muitos casos a pessoa somente começará a poupar e investir dinheiro depois dos 40.
Pra falar bem a verdade, talvez essa seja, para muitas pessoas, a idade ideal para começar a investir.
As diferentes fases da vida
Da faixa dos “20 e poucos” (20, 21, 22…) até a idade dos “trinta e muitos” anos (35, 36, 37, 38…), os jovens e as jovens estão ocupados com outras prioridades: no começo, o foco na educação, no término dos estudos, em procurar um bom trabalho, enfim, em fazer dinheiro. Mais pro final, em complementação dos estudos (como especializações, pós-graduações), ou em promoções na carreira, até mesmo mudança de trabalho, para novas profissões etc.
Paralelamente às atividades profissionais, vêm as ditas “tarefas” pessoais, como casamentos, filhos etc., trazendo a reboque gastos na forma de compra de automóveis, compra de imóvel próprio, gastos na educação dos filhos, gastos em investimentos na própria carreira, abertura e manutenção de empresas ou negócios próprios etc.
Então veja que interessante: as primeiras duas décadas de trabalho ativo, dos 20 aos 39 anos de idade, são marcadas por acontecimentos que requerem muito gasto de dinheiro.
O que é crucial?
Ao mesmo tempo – e aqui vem o ponto mais interessante – muitas vezes você comete erros financeiros durante esse intervalo de idade – dos 20 aos 39 anos – que, olhando para trás, e se tivesse a oportunidade de refazer esses momentos, não cometeria.
Por exemplo: empolgado com os primeiros salários e muito jovem, certamente você gastou uma nota comprando um carro que, anos mais tarde, olhando em retrospectiva, te consumiu de dinheiro mais do que você realmente precisava gastar.
Ou então: empolgado com as possibilidades de moradia própria, você gastou com imóvel próprio, seja comprando, seja reformando, muito mais do que realmente valeria a pena gastar.
E isso sem contar outros gastos feitos em exagero nessa faixa de idade – 20 aos 39 anos de idade, refletidas em áreas como: muitas roupas (que acabam ficando no final do armário), excesso de refeições fora de casa, excesso de gastos com eletroeletrônicos (pra quê trocar de celular a cada ano?), viagens (nem se fala) etc.
Você, a partir dos 40 anos, tem uma coisa que o seu eu de 20 anos jamais teria e jamais terá: o ingrediente da maturidade. Da experiência acumulada. De saber discernir o que vale a pena comprar, daquilo que não vale a pena.
Você adquire, a partir do momento em que atinge uma certa idade, a sabedoria necessária para apreender quais são seus verdadeiros sonhos e objetivos de vida.
E essa sabedoria só vai se acumulando à medida que os anos passam.
E mais: essa inteligência aplicada é perfeitamente incidente sobre seu dinheiro. O processo de educação financeira fica muito mais fácil quando você já sabe o que quer, a partir das experiências passadas que só você passou, e do que acumulou em termos de fatos positivos e fatos negativos em sua vida. Caminhos errados que já foram experimentados – como compras pelas quais você se arrependeu, incluindo compras “grandes”, como carros e imóveis – ficam definitivamente para trás.
O processo de aprimoramento financeiro faz você ficar muito mais seletivo em suas escolhas. A qualidade de suas decisões aumenta e, por via de consequência, há muito mais chances de você fazer escolhas melhores.
Olhe daqui pra frente
Muitas pessoas, ao chegarem na faixa dos 40 ou 50 e poucos anos, ficam se lamentando pelos erros cometidos no passado.
Elas vivem amarguradas ou pelas escolhas que não fizeram: “deveria ter aproveitado o dólar a R$ 1,60 em 2010…”; “deveria ter comprado ações da Magalu em 2016…”, ou pelas escolhas que fizeram mas que não se mostraram boas: “não deveria ter gasto tanto dinheiro comprando aquele carro…”, “não deveria ter gasto tanto dinheiro comprando aquele imóvel…”.
Se o passado é totalmente imutável e cheio de custos irrecuperáveis, a boa notícia é que o futuro é uma folha totalmente em branco, lhe oferecendo uma nova chance de fazer diferente.
Por isso, não olhe tanto pelo retrovisor: o que importa é o que você fará nos próximos dias, semanas, meses, anos e décadas.
Esqueça a década de 2011 a 2020 se você só acumulou dívidas e não estudou nesse período. O que importa é o que você irá fazer nessa década de 2021 a 2030: há oportunidades para mais estudo, mais trabalho e, portanto, mais possibilidades de fazer dinheiro e, sobretudo, evitar cometer os mesmos erros cometidos em décadas anteriores pela falta de experiência e pela falta de maturidade.
Conclusão
Se você já chegou aos quarenta e poucos anos, você certamente não é mais um molecão deslumbrado com as possibilidades que o dinheiro e a vida lhe oferecem.
Você já torrou o dinheiro com coisas que, anos mais tarde, se mostraram pouco úteis, e pode até não ter acumulado (ainda) educação financeira suficiente para lidar melhor com a construção de seu patrimônio.
Mas certamente você acumulou muita experiência de vida, que lhe apontará, daqui pra frente, os nortes que você precisa seguir.
Por isso, nunca é tarde para começar.
Considerando que as pessoas tenderão a viver cada vez mais daqui pra frente, com os avanços das ciências e da tecnologia – com possibilidade de viver pelos próximos 50 a 70 anos – você estará apenas no começo de sua idade produtiva.
Em função disso tudo, arregace as mangas e comece a poupar, investir e fazer novos planos. A vida sempre é uma criança para quem está disposto a começar de novo. 😉
Excelente texto Guilherme!
Sabedoria é fundamental. Reconhecer os erros e excessos é sempre o início de uma nova vida, sem culpa, com a tranquilidade e serenidade de saber que o esforço está sendo feito e o desenvolvimento pessoal aprimorado.
Um abraço.
Obrigado, Fábio!
Verdade, é sempre possível melhorar, a partir de qual ponto esteja a pessoa.
Abraços!
Meu pai aos 55 diz que atualmente “tem mais passado do que futuro”. O que ele quer dizer com isso? Que jogou a toalha para vários assuntos da vida, como a saúde e a vida financeira, por exemplo. É triste porque sei que não é a toa esse pensamento dele. Ele reflete uma sociedade que foca totalmente no público jovem, que exalta a juventude e seus prazeres e “infinitas possibilidades”. Daí o resultado de um homem de meia idade já se achar um “velho”.
Dizem que a tendência é de que as gerações que estão chegando mudarão até 7 vezes de profissão ao longo da vida (infelizmente não lembro onde li isso). Pensa só uma pessoa de mentalidade fixa lendo isso (como é o caso do meu pai)! rs Como mentalidade fixa leia-se aquela pessoa que não está disposta a aprender coisas novas, a se reinventar, a tentar novos caminhos, a achar que as pessoas só conseguem coisas por “dom” ou porque as ganharam, e não por esforço.
Concordo com o que você disse, Guilherme, é pra frente que se olha. Apesar de não ser fácil. E quem disse que a vida seria, não é mesmo?
Excelente depoimento, Michelle.
Realmente, o depoimento do seu pai é a projeção, em nível individual, dos reflexos de uma sociedade que prioriza e foca totalmente no público jovem.
Sobre a questão da mentalidade fixa, lembrei-me do livro da Carol Dweck que aborda exatamente essa questão:
http://valoresreais.com/2010/04/18/resenha-por-que-algumas-pessoas-fazem-sucesso-e-outras-nao-de-carol-s-dweck/
Abraços!
Olha, Guilherme, seus posts são normalmente bons, mas este é especialmente bom!
Sim, é perfeitamente possivel mudar de rumo financeiro a partir dos 40 anos. Talvez seja até o mais comum de acontecer. E considerando que todos nós, fora algum acontecimento fora da curva, viveremos por baixo até os 85 anos, estabelecer regras saudáveis para a propria vida financeira já tendo percorrido metade desse percurso não é nada descabido.
Obrigado, Vânia!
De fato, considerando o estágio atual da ciência e das tecnologias de comunicação e informação, esse é um ponto perfeitamente factível para começar!
Abraços!