Fazer o orçamento mensal familiar não significa apenas realizar o mero registro contábil das receitas e despesas, computando os gastos por distintas áreas, e apurando no final do mês o saldo líquido positivo ou negativo.
Como eu já disse em outro artigo do blog, escrito em julho de 2017, você não é máquina. Seu objetivo não é dar lucro. Dinheiro é meio.
Fazer o orçamento doméstico apenas “por fazer”, apenas com o objetivo de ter receitas maiores que as despesas, não é suficiente.
E não é suficiente porque o dinheiro não pode ser visto apenas como um fim em si mesmo, mas sim como um meio para a realização de sonhos – e isto apenas nas áreas em que ele é importante.
Enquadrando tudo isso no orçamento doméstico, o que quero dizer é que existe uma necessidade inexorável de você incluir os gastos com sonhos dentro de sua planilha financeira mensal.
Os sonhos não se resumem à aposentadoria financeira mais tranquila
E por “inclusão dos sonhos” entenda-se que não se trata apenas de fazer uma provisão para investimentos visando a aposentadoria. Não. E é aqui que mora o problema.
Muitas pessoas, quando começam suas jornadas de educação financeira, acham que o único, ou pelo menos principal, sonho a ser alcançado quando se equilibram as contas domésticas é formar uma reserva para a aposentadoria.
Não se nega que esse de fato seja uma importante meta na vida de qualquer pessoa minimamente preocupada com seu futuro financeiro, ainda mais considerando o lastimável estado do sistema previdenciário estatal, cujas regras ainda piorarão muito nos próximos 30 anos.
Porém, quando você faz seu planejamento de gastos, é de extrema importância que você alinhe todos os seus demais sonhos também dentro de sua rotina de gastos.
Por exemplo, muita gente sonha em estudar mais, de avançar nos estudos, ou bancar os estudos dos filhos. Nesse caso, isso é um sonho que não dá pra ser deixado pra depois, pois as mensalidades correm mês a mês.
Portanto, definido para você que uma graduação, uma especialização, um mestrado, um curso de idiomas, um curso EAD, uma escola melhor, uma faculdade melhor, são sonhos que você quer realizar um dia, é muito importante que eles estejam inseridos dentro de seu planejamento mensal, mas – observe bem isso – não apenas como simples itens reservados à área de gastos com educação, mas sim como gastos realizados na construção de sonhos. Isso é importante, isso é prioridade. A prioridade são seus sonhos.
Assim, como você reserva uma parcela do dinheiro do salário ou de qualquer outra fonte de renda para investimentos destinados à sua aposentadoria, você também deve ter uma espécie de rubrica em seu orçamento doméstico para a realização de outros sonhos igualmente importantes.
E olha, sonho é algo estritamente individual, que varia de pessoa para pessoa. No seu caso específico, ele deve estar em harmonia, em sintonia, com seus valores mais caros e com aquilo que te preenche como propósito de vida.
Por exemplo, já falamos inúmeras vezes aqui no blog que ter um carro é, hoje em dia, mais uma fonte de dor de cabeça do que um sonho propriamente dito.
Acontece que para muitas outras tantas pessoas, ter um carro pode funcionar como um sonho, ou seja, como um motivo, um combustível para economizar, poupar e investir visando a aquisição desse veículo.
Então, se esse for o seu caso, vá atrás e se organize financeiramente para que a realização desse sonho seja feito em bases seguras – por exemplo, reservando todo mês um dinheiro para um investimento conservador visando a comprá-lo daqui a tantos meses -, mas não de modo a comprometer sua vida nas demais áreas em que o dinheiro é importante.
Do mesmo modo, o sonho de ter um imóvel residencial próprio é um objetivo almejado de milhões de outras famílias brasileiras – e esse pode ser também o seu caso. Nessa situação, então, nada melhor do que reservar um pedaço do dinheiro que você ganha todo mês visando a formar uma poupança para a compra desse imóvel, ou para o pagamento das prestações do financiamento.
O lugar ocupado pelos sonhos dentro de seu orçamento doméstico
A lógica da pergunta do título desse artigo é que ela orienta a construção de seu orçamento doméstico de cima para baixo, de modo a definir quais serão as suas prioridades efetivas com o gasto do dinheiro.
Os sonhos devem ocupar o topo de suas prioridades financeiras, não podem estar abaixo ou virem depois de outras categorias de gastos, uma vez que são eles o combustível pelo qual você está, afinal de contas, trabalhando.
Eles devem vir até mesmo antes dos gastos com as necessidades, como as contas de energia elétrica, água, telefone, e as compras em supermercados, padarias, lojas online.
Lembra-se daquela ideia, que já se tornou clássica no mundo das finanças pessoais e da educação financeira de que você, assim que receber seu salário, deve se pagar primeiro, antes de fazer qualquer coisa?
E o que é se pagar primeiro?
É, assim, que o dinheiro do salário ou da sua renda mensal cair em sua conta-corrente, você imediatamente transferi-la para a corretora, a fim de realizar os investimentos destinados à sua aposentadoria.
Isso nada mais é do que, no final das contas, estabelecer uma ordem de prioridades no seu gasto com dinheiro, colocando no topo de seus sonhos o de alcançar uma aposentadoria financeira cada vez menos dependente do INSS.
Ora, esse é um sonho perfeitamente válido e factível (que às vezes até se confunde com uma obrigação), e, já que você consegue fazer isso (reserva de dinheiro) para realizar esse sonho específico, que tal realizá-lo também com outras espécies de gastos que têm o carimbo de sonhos?
É verdade que, na atual configuração do orçamento doméstico de muitas famílias brasileiras, certos gastos com sonhos se confundem com gastos com “obrigações”, como mensalidades de faculdade, de estudos em geral, reservas de dinheiro para viagens, prestações de financiamento imobiliário etc.
Mas isso não desnatura o fato de que é preciso colocar os sonhos na sua lista de prioridades financeiras, pois são elas que dão sentido à sua vida.
Conclusão
Em seu orçamento doméstico, a hierarquia de gastos pode ser definida, de modo bem simplificado, no seguinte esquema:
- Em primeiro lugar, os gastos com os sonhos (ainda que esses gastos venham na forma de investimentos);
- Em segundo lugar, as despesas recorrentes fixas (condomínio, contas em geral, mensalidades etc.);
- Em terceiro lugar, as despesas recorrentes variáveis (combustível, supermercado, farmácias etc.);
- Em último lugar, supérfluos.
O problema é que muita gente só olha as categorias de seu orçamento doméstico do segundo lugar pra baixo. Não “encaixam” dentro de seus orçamentos os gastos com sonhos, ou deixam pra fazer reservas financeiras para os sonhos “se sobrar” dinheiro no final do mês.
Pior: às vezes nem tem sonhos! E é por isso que muitas pessoas e famílias ficam desmotivadas para poupar, ou acabam gastando mais do que consomem: porque suas vidas financeiras não têm um norte, não têm uma orientação, não têm uma motivação.
Como eu já disse em diversos outros momentos aqui no blog, dinheiro é meio, e não um fim em si mesmo, e só tem utilidade se for empregado para propósitos e fins certos e específicos das pessoas.
O dinheiro é inútil em muitas áreas da vida, mas em tantas outras ele é importante, útil e tem serventia para a consecução de sonhos, e, quando você conecta os sonhos com a necessidade de reservar uma parte de seu orçamento para construí-los, entendeu no final das contas a mensagem do artigo do dia de hoje: seu orçamento precisa ser um motor para a realização de sonhos.
Gaste sim seu dinheiro em despesas do dia a dia, em outros gastos que surgem de imprevistos etc., mas sempre, sempre, deixe uma parte do orçamento provisionada para a construção, realização ou auxílio na edificação dos sonhos, sejam eles de curto prazo, sejam eles de médio prazo, sejam esses sonhos ainda de longo prazo.
Isso será fundamental para que sua vida financeira ganhe sentido, e seu orçamento financeiro adquira afinal significado e propósito.
Se o dinheiro que você gasta não serviu para a realização de sonhos, provavelmente você está deixando de viver uma vida com muito mais sentido e engajamento. Não perca a oportunidade, e começa a praticar essa conexão entre sonhos e seu orçamento doméstico o quanto antes. 😉
Guilherme,
Excelente post!
O que seria da vida sem os sonhos e sem o sentido e o colorido que dão à vida?
Só precisamos refletir se os sonhos são realmente nossos ou se são apenas frutos das diversas influências do cotidiano. Por isso, o autoconhecimento é tão importante.
Boa semana!
Obrigado, Rosana!
Você tem razão. O autoconhecimento é peça fundamental para a realização dos sonhos importantes e alinhados com a vida da pessoa, em seu modo mais autêntico.
Boa semana também!
Muito bom!
Quando os ajustes no orçamento são para possibilitar a realização daquilo que realmente importa para nós, poupar se torna muito mais fácil!
Sem dúvida, IP!
Guilherme, excelente post!!!! Deixo aqui o meu relato: venho de uma família de classe média onde ter o imóvel próprio era fundamental. Achei que isso não me influenciaria, mas de uns anos pra cá, tornou-se um sonho. Idealizei o local, o tamanho, e assim foi! rs! O Guilherme me ajudou DEMAIS nesse processo!! Fui disciplinada, mas não deixei de viver. Uma das minhas maiores alegrias, foi quando dei a notícia pra ele que havia comprado o apartamento, e ele disse que estava ORGULHOSO DEMAIS de mim!! rs (guardo esse email até hoje)
Sonhos são para serem realizados!!! E é isso que nos move!!
Obrigada por tudo, Guilherme!!
Nossa, Mônica, fico muito lisonjeado e ultra mega feliz com seu depoimento!
É isso mesmo, são os sonhos que nos movem.
Parabéns pela sua realização pessoal, e fico muito grato por ter te ajudado nesse processo todo!!!!!
Obrigado!!!
Excelente post. Aprendi com uma professora de contábeis que a primeira conta que devemos pagar é a nossa “poupança” para realizar os sonhos futuramente.
Obrigado, Nadiege, e gostei desse conceito da sua professora.
Abraços!
Fundamental ter sonhos a realizar! Parte do dinheiro que separamos todos os meses tem que ser pra isso. Ter uma aposentadoria tranquila é necessário, é fundamental, mas não pode ser tudo.
Acho que o pulo do gato é manter as despesas obrigatorias baixas. Condominio, supermercado, plano de saude, transporte, impostos, manutenções, luz/celular/internet, tudo isso que é obrigatorio o ideal é que fique num patamar de 50% da renda. Assim conseguimos separar um percentual para uma boa vida hoje (lazer, cuidados pessoais, uma festa, um presente), conseguimos separar um percentual para aquele sonho longamente estudado, e um percentual que garanta a tranquilidade na aposentadoria.
Excelentes estratégias, Vânia!
Como você bem pontuou, racionalizar o orçamento doméstico de modo a contemplar todas as necessidades e sonhos é fundamental para que a vida flua e o dinheiro sirva para o que ele realmente é: uma ponte para a realização de sonhos!
Excelentes colocações, como costumeiro! Não se pode nem ser frugal a ponto de poupar ao máximo e não celebrar vitórias, nem deixar de investir e se iludir que os projetos e problemas futuros se resolverão de algum jeito.
Abraço
Obrigado, AC!
É isso mesmo: um meio termo justo entre as pontas é tudo o que se precisa.
Abraços!
Infelizmente, os únicos sonhos que consigo são os de padaria ultimamente.