“No preço que você paga, está o valor que você procura” – Ralph Marston
No mercado de ações costuma-se com frequência fazer a distinção entre preço e valor, principalmente quando se trata de análise fundamentalista.
Diz-se, por exemplo, que o preço das ações deve guardar correspondência com o valor intrínseco delas, sob pena de o preço ou estar muito caro, ou estar muito barato.
Por exemplo, em épocas de pânico nos mercados financeiros, os preços de todas as ações desabam, e é aí que se encontra a oportunidade de encontrar barganhas, ou seja, comprar ótimas empresas, de extraordinário valor, a preços muito descontados ao que elas realmente valem.
Da mesma forma, em épocas de euforia na Bolsa de Valores, até empresas de baixo valor intrínseco, ou seja, inadimplentes, ou em processo de recuperação judicial ou falência, podem apresentar preços absurdamente altos, quando avaliadas por métricas tais como índice P/L, rentabilidade sobre o patrimônio líquido, dividend yield etc.
Podemos ainda visualizar a relação preço/valor no que tange aos produtos que consumimos. Todos eles são etiquetados: têm o seu preço. Um molho de tomates tem um preço, um carro tem um preço, uma consulta médica tem um preço, um imóvel residencial tem um preço, uma sessão de psicanálise tem um preço.
Já o valor é algo subjetivo, está relacionado à utilidade que dele se espera. Alguns valoram mais gastar R$ 300 em equipamentos esportivos; outros, preferem gastar esse valor em refeições fora de casa, valorando mais esse item de consumo do que outros itens de seu orçamento doméstico. Outros, ainda, preferem gastar R$ 300 que sobram em seu orçamento doméstico não em equipamentos esportivos ou restaurantes, mas sim em livros. A lista é infinita.
Em praticamente tudo o que fazemos – comprando, escolhendo ou investindo -, realizamos, ainda que de modo implícito ou automático, uma análise da relação preço/valor, procurando extrair o máximo de valor das coisas pelo menor preço possível.
O preço que você paga – mas não em dinheiro
Porém, o texto de hoje não vai tratar sobre a relação preço/valor dos investimentos, ou dos passivos que consumimos no nosso dia a dia.
Eu quero te provocar sobre algo mais imaterial, mas que tem tudo a ver com a frase que estampa o título do artigo de hoje.
É que existe outra maneira de medirmos o valor das coisas que obtemos, e, FELIZMENTE, para obtenção de tais utilidades, não precisamos gastar um centavo sequer. Que maravilha, não? Mas que coisa seria essa?
É o seu esforço pessoal.
Pense por um momento. Avalie a sua vida. Avalie sua vida profissional. Avalie sua vida pessoal. Você está feliz com aquilo que você já obteve até aqui? Você acha que poderia ter obtido mais, em termos de realização pessoal ou profissional?
Será que você não obteve tudo aquilo que deseja, a essa altura do campeonato, porque você não pagou o preço que precisava pagar, para obter o valor que você esperava obter?
Você não acha que não conseguiu aquilo que gostaria porque não fez (ainda) por merecer?
Reflita de novo sobre a frase do título desse artigo:
No preço que você paga, está o valor que você procura.
Se você alcançou sucesso em suas metas de vida, é porque você se esforçou muito. É porque você pagou o preço. É porque você fez por merecer. O merecimento não foi fruto de obra do acaso: ele foi feito. Foi construído. Não de graça ou caindo no seu colo. Foi construído por você.
Agora, do contrário, se você só conseguiu metade das coisas que você esperava obter, é porque você só pagou metade do preço. Simples assim.
Não há mistério.
Sem esforço, não há resultado. Sem preço pago, não há valor obtido. Sem plantação realizada à custa de muito suor, lágrimas e até dores físicas e mentais, não há colheita abundante.
Não espere produzir coisas boas a partir do nada, a partir da inércia. O nada nada produz.
Agora, se você estiver disposto a pagar as horas necessárias de dedicação, disciplina e obsessão pelas coisas que você almeja, certamente irá colher muitos valor e muitos resultados daquilo que você espera.
Pague o preço de meia hora por dia de exercícios físicos e pague o preço de ter uma dieta mais balanceada e nutritiva, e encontrará e colherá e obterá o valor de alguns (ou muitos) quilos a menos na balança, além de mais vigor físico e mental para as atividades do dia a dia. Que a saúde seja fruto do seu merecimento, do seu mérito pessoal.
Pague o preço de trabalhar com mais atenção, menos distração e mais foco que seus concorrentes, e encontrará o valor de conseguir uma promoção, uma ascensão ou um emprego ou trabalho melhor. Que um trabalho melhor seja fruto do seu mérito.
Pague o preço de cultivar relacionamentos melhores com seus amigos e familiares, pague o preço de consumir mais horas com eles, e encontrará o valor de ter uma rede social de relacionamentos mais forte e mais bem estruturada, que lhe amparará em todos os momentos de sua vida.
Pague o preço de estudar o dobro do que até então estudava, e então colherá o dobro de aprovações e o dobro das notas que até então obtinha.
Pague o preço de gastar mais horas lendo bons livros e pesquisando melhores meios de captar mais clientes, e encontrará o valor de ter mais pessoas em sua carteira de potenciais clientes, capazes de lhe gerar mais renda e mais destaque em seu meio social e profissional.
Agora… se você não pagar o preço que as pessoas estão dispostas a pagar para obter aquilo que almeja, ou se pagar apenas a metade de sua disposição, é exatamente isso que colherá: a justa metade dos resultados.
Conclusão – Faça por merecer
Costumamos olhar as coisas em nossas volta, e achar que só com dinheiro é que conseguimos comprar coisas de valor. Ledo engano.
Não basta pagar com o dinheiro: é preciso antes pagar o preço com o tempo. Pagar com o esforço. Pagar com o merecimento. E o esforço não se compra numa prateleira de supermercado. O esforço não vem de fora para dentro, mas de dentro para fora.
Logo, se você não tem dinheiro (ainda) para comprar a casa dos seus sonhos, o carro dos seus sonhos, o “trabalho” dos seus sonhos, calma! Você ainda tem tempo. Você ainda tem disposição. Você ainda tem inteligência. Você ainda tem capacidade (só que ela anda meio ociosa, sub-aproveitada). E pode começar desde já o trabalho para conquistar cada um dos seus sonhos, e cada um dos seus objetivos. Como? Começando pagando com o preço do tempo. Pagando com o preço do seu esforço. Pagando com o preço de sua dedicação.
Aliás, a bem da verdade, muitas coisas de valor não depende que paguemos com o preço do dinheiro para obter. Como eu disse acima, um alto valor extraído de relacionamentos, boas amizades, estudos, conhecimento, habilidades cognitivas etc., depende muito mais que paguemos o preço com o tempo do que pagar o preço com dinheiro.
Pense nisso e comece a visualizar suas horas de vida como bens precificáveis, que, se racionalmente utilizados, podem dar a você coisas de extraordinário valor – mas desde que você, adivinhe, pague o preço (do tempo, do esforço, da disciplina, do mérito etc.) necessário para obtê-las. 😉
Pague o preço. Faça por merecer.
“O merecimento não foi fruto de obra do acaso: ele foi feito. Foi construído.”
“Agora, do contrário, se você só conseguiu metade das coisas que você esperava obter, é porque você só pagou metade do preço. Simples assim.”
Eu gosto da ideia de que quanto mais se esforça, mais se consegue. Mas não dá pra ignorar o fator do acaso aí. A meritocracia explica parte das coisas, não tudo. Em determinadas situações, ela pode explicar a maior parte. Em outras, ela não explica muita coisa.
E aqui nem precisamos ir para exemplos extremos como ganhar na megasena. Um livro excelente só sobre esse assunto e que mostra diversos exemplos é “Outliers – Fora de série”. Ele trata de diversos casos conhecidos em que o resultado final é uma combinação de acaso e determinação. Apenas um deles não levaria ao resultado final. Apenas para não ficar muito no discurso, alguns exemplos dados no livro são a data de nascimento dos atletas da liga canadense de Hóquei e o local e época em que Bill Gates nasceu etc.
Enfim, não quero tirar o mérito da determinação para se atingir o sucesso. Mas não dá pra negar que o acaso também influencia muito, muitas vezes atuando como um filtro inicial ou empurrando para um vencedor (tem trabalhos nesse sentido mostrando como músicas se sobressaem em streaming).
Excelentes observações, MJC.
Em complemento ao que você disse, há também um livro muito interessante do Nassim Thaleb, que vai ao encontro das ideias que você colocou, de maneira geral.
Além da necessidade de esforço e de uma pitada de acaso, para averiguar se algo vale a pena ser feito, uma prévia análise procurando encontrar assimetrias positivas também é deveras interessante. E o que seriam assimetrias positivas?
São aquelas em que há mais ganhos potenciais do que perdas potenciais. Por exemplo: fazer uma graduação, uma pós-graduação etc., estudar de maneira geral. Há algumas perdas potenciais: vai gastar dinheiro, vai gasta tempo etc. Mas os ganhos potenciais são muito maiores: possibilidade de conquistar um salário bem maior, de conseguir mudar para um bairro ou cidade melhor etc.
Apenas acrescento que para a imensa maioria, classes menos favorecidas, esses saem no fim da fila da corrida da vida, outros saem mais a frente ou do meio para frente, são as classes sociais altas. Claro que desses últimos a probalidade de dar certo e muito maior.
Verdade, Adri. Há uma combinação de fatores, que são múltiplos.
Um sujeito que vive na Suíça, por exemplo, tem, em tese, mais chances de conseguir estar na frente da fila da corrida da vida do que uma pessoa que more em Burkina Faso.
Apenas acrescento que para a imensa maioria, classes menos favorecidas, esses saem no fim da fila da corrida da vida, outros saem mais a frente ou do meio para frente, são as classes sociais altas. Claro que esses últimos a probalidade de dar certo e muito maior de darem certo.
Sem dúvida, há fatores de variados graus envolvidos.
Guilherme,
Gosto muito da frase: o sucesso é o encontro do preparo com a oportunidade.
Se com esforço, dedicação e comprometimento nem sempre os objetivos são alcançados, imagine sem.
Abraços!
Verdade, Rosana, excelente definição de sucesso.
O preparo é fundamental. Como dizia Bernardinho, a vontade de se preparar tem que ser maior que a vontade de vencer.
Abraços!
Ótimo artigo
Acredito que esses ingredientes não são únicos definidores do sucesso mas sem eles alcançar qualquer meta fica difícil!!!
Valeu, Marcos!
Concordo, temos que fazer o que está ao nosso controle!
Abraços!