A blogosfera financeira, ou simplesmente finansfera, é certamente um excelente ambiente para compartilhar conhecimentos, experiências reais, reflexões oportunas e muito, mas muito, aprendizado, seja nas finanças e investimentos, seja na vida pessoal e profissional.
A Internet é feita, basicamente, de links (que o diga o Google), um lugar leva a outro, que por sua vez leva a outro, e assim por diante, num emaranhado de conexões que assombram pela vasta quantidade e vasta qualidade.
Uma das grandes virtudes da finansfera brasileira é que o seu conteúdo é feito, em sua esmagadora maioria, por pessoas comuns, sem interesses propagandísticos por trás. Ou seja, a maioria dos autores e autoras dos blogs pessoais de finanças e investimentos são constituídos por pessoas comprometidas apenas com a sua liberdade de pensar, sem o viés comercial que muitas vezes prejudica e até deturpa a informação transmitida.
A propósito disso, destaco, no dia de hoje, um giro pelos blogs, com a indicação de leitura de quatro excelentes artigos escritos por nomes de influência na blogosfera das finanças e investimentos.
Acompanhem!
Patos selvagens explicam o conceito de liberdade, distinguindo-a da segurança
A partir de uma alegoria criada pelo escrito Rubem Alves, o André, do Viagem Lenta, explica a importância de tecermos diuturnas reflexões sobre o conceito de liberdade, e de como ficar na zona de conforto, na denominada “segurança”, pode constituir em empecilho para o desenvolvimento de habilidades que nos levam a ter mais capacidade de ação e de reação, sobretudo para enfrentar os problemas da vida moderna.
O dilema que está na raiz da problemática envolve o binômio liberdade x segurança, e, para tal, André também recorre a Benjamin Franklin para provocar o leitor sobre reflexões acerca do papel que a liberdade de ação pode cumprir em nossas vidas.
Esse dilema pode ser vivenciado inclusive em várias áreas financeiras de uma pessoa, principalmente no tocante à questão de alugar (liberdade) vs. comprar um imóvel (segurança), como bem mencionado pelo André:
“Liberdade para morar onde quiser quando bater uma vontade de sentir novos ares. Liberdade de entregar as chaves e sair pelo mundo, sem preocupações de ter deixado algo para trás.
Liberdade de livrar-se de problemas estruturais, vizinhos chatos, ruídos incômodos que não estavam lá quando você se mudou.
Liberdade de não ter a carga emocional de abandonar sua casa própria, que você não quer mais, mas sacrificou-se tanto para conseguir”.
Amortização de financiamento imobiliário: reduzir a prestação ou reduzir o prazo?
E por falar em compra de imóvel, uma dúvida comum a muitos tomadores de financiamento imobiliário diz respeito à melhor forma de amortização extraordinária do financiamento imobiliário, isto é, aquela situação em que a pessoa recebe uma verba extra, como uma indenização, um bônus salarial etc., e pretende usar o dinheiro para abater do saldo devedor.
A dúvida consiste em saber se seria melhor reduzir a prestação ou se, pelo contrário, reduzir o prazo seria mais conveniente.
Quase todo mundo diz que reduzir o prazo seria melhor, pois isso aceleraria o processo de quitação do financiamento, embora, na prática, o quantitativo da redução seja o mesmo tanto em um quanto em outro.
Contudo, essa opção não traz a vantagem que a redução da prestação proporciona: ampliação imediata do fluxo de caixa presente.
Nesse post, Paulo Portinho explica as vantagens de se amortizar o financiamento imobiliário reduzindo a prestação, no lugar do prazo. Destaco especialmente esse trecho:
“Dinheiro agora é melhor do que depois. Pagar menos agora é melhor que pagar menos depois. Tudo isso ponderado pela taxa de juros.
A grande vantagem de reduzir a prestação é fazer caírem os custos mensais HOJE e não daqui a 15 anos. E isso, numa lógica financeira e de fluxo de caixa descontado, fala muito alto”.
Pare com essa bobagem de aposentadoria precoce
Num artigo polêmico, mas muito bem fundamentado, e complementado com comentários de excelente qualidade – vários inclusive escritos pelo André, autor de um dos textos indicados hoje 😉 – o Raphael, do blog Investidor Internacional, tece críticas sobre a forma como muitas pessoas buscam a aposentadoria antecipada, que está no núcleo do movimento FIRE.
Destaco particularmente o item 5 do artigo dele, em que mostra as incongruências e inconsistências do movimento FIRE:
“Será que vale mesmo a pena passar a vida se privando de ter uma refeição elaborada, uma sobremesa ou uma bebida de melhor qualidade de vez em quando e de acordo com as possibilidades e gosto de cada um? E nem falo de restaurante 5 estrelas. Pode ser o churrasco de fim de semana, ou a ceia de Natal. Se refeição fosse apenas ingestão de nutrientes, o mercado de ração para humanos deveria ser no mínimo tão grande quanto o de animais.
Isso nada mais é que a estratégia do cafezinho repaginada. Aliás, até hoje ninguém me mostrou um caso sequer de alguém que ficou rico, simplesmente porque cortou o cafezinho. Se existe essa implicância em economizar com comida, imagine com viagem e lazer! É daí pra pior.”
Assim como o texto do Paulo, esse do Raphael também é contraintuitivo, pois ambos fundamentam suas respectivas teses em argumentos que vão de encontro ao que preconiza o maistream financeiro, e só por isso já valeria a leitura. 😉
Bolsões sociais – e o que isso tem a ver com você?
Para fechar com chaves de ouro a seleta lista de artigos indicados de hoje, e atribuir um sentido de conectividade a cada um dos textos indicados acima, nada melhor do que um texto do blog Simplicidade & Harmonia, da amiga Rosana.
E, assim como o texto do Viagem Lenta teve inspiração em um grande escritor (Rubem Alves), o do S&H também teve inspiração em outro grande escritor, C.S. Lewis.
Um ponto-chave da reflexão sobre os bolsões sociais é o fato de muitas vezes nos resignarmos e nos conformarmos com determinados padrões de comportamentos que deveriam ser motivo de enérgica luta:
“Estamos tão imersos em nosso bolsão social, que nos acostumamos com a violência – desde que seja apenas no noticiário da televisão. E não com nossa família, é claro.
Nos acostumamos com serviços públicos ou pagos ruins, com o excesso de poluição, com o trânsito caótico, com o excessivo estresse diário, com a interminável corrida de ratos, com embalagens de produtos cada vez menores e preços cada vez maiores, com o trabalho unicamente visando o sustento e alguns confortos etc.”
O fundamento da mudança de estado, que leva efetivamente à transformação, consiste na reflexão. Ou seja, na tomada de atitude que nos faça perceber que “há algo de errado no ar”, e muitas vezes, para que tal ocorra, precisamos sair da nossa zona de conforto e vivenciar novas experiências, angariar novos conhecimentos ou viajar ou conhecer outras culturas:
“Atualmente, com a popularização da internet, há também uma outra classe de bolsões que não estavam presentes na época em que C. S. Lewis escreveu O problema do sofrimento: os bolsões digitais, nos quais pessoas com interesses semelhantes procuram o que precisam e compartilham ideias, sugestões e conteúdos como o que você está lendo agora.
Ao nos depararmos com opiniões diferentes, com bolsões diferentes, o nosso mundo torna-se diferente, muito maior do que foi um dia.”
A partir daí, teremos consciência de nossas potencialidades, bem como poderemos desenvolver as virtudes e as habilidades necessárias para a realização da transformação:
“Todos nós temos dons, talentos, virtudes, habilidades e valores. Precisamos estar dispostos a procurá-los e a desenvolvê-los, pois são eles que determinarão nosso futuro: se seguiremos para o que esperamos da vida ou se estamos caminhando exatamente para o lado que queremos evitar”.
Bom, não preciso nem dizer que a leitura sobre patos selvagens explicando a diferença entre segurança e liberdade, amortização de financiamento imobiliário com redução de prestação, e visualizar a aposentadoria precoce como uma bobagem podem constituir exemplos perfeitos de você sair de seu bolsão digital e ver esses 3 assuntos de uma maneira, no mínimo, diferenciada. 😉
Agradeço a todos os autores pelos textos indicados no dia de hoje.
E, como o texto de hoje é o último antes do Natal (mas não o último do ano! Semana que vem faremos o fechamento de 2020), desejo um Feliz Natal a todos os leitores do blog!
Interessante o ponto de vista do Portinho mostrando as contas, falando do ponto de vista financeiro. Entretanto, tão importante quanto isso é considerar também a forma como as pessoas pensam/funcionam e, por isso, na prática, em geral eu acho mais fácil reduzir o prazo do financiamento.
Nessa situação, pessoas normais não fazem contas muito detalhadas. Então quando a pessoa amortiza um valor pequeno com muita frequência, ela vai reduzindo o valor da prestação em 30-50 reais a parcela. E o natural é, dado que é um valor muito pequeno, a pessoa incorpora aqueles poucos reais no orçamento sem ver.
Por isso, a realidade da maioria não é ter o dinheiro agora para investir versus reduzir o prazo de financiamento. A realidade é ter o dinheiro agora para gastar sem ver versus reduzir o prazo de financiamento.
Ótimas explicações, MJC!
O ponto explicado pelo Portinho agrega um nova perspectiva sobre e essa questão, e pode fazer muito sentido para as pessoas que conseguem ter um planejamento financeiro racionalizado e cumprido à risca.
Olá Guilherme! Obrigado pela citação e pelo compartilhamento dos demais textos de nossos colegas, todos excelentes, que fazem nos pensar muito! Sinto que está ocorrendo na finansfera algum tipo de seleção “natural”, o que é bom para aumentarmos o nível das postagens.
Também aproveito para desejar um Feliz Natal a vc e a todos os leitores de seu blog!
Abraço!
Exato, André! Também acho que ocorra uma seleção natural também na finansfera.
Abraços, e um Feliz Natal também!
Vou fazer aqui a mesma pergunta que fiz no blog do Portinho:
Portinho, boa tarde!
cheguei aqui pela indicação do Valores Reais. Uma dúvida: não faria mais sentido comparar as estratégias usando os mesmos valores de abatimento? Afinal, quem tem um valor X na mão para abater o saldo devedor, não terá um valor maior que esse para fazer os pagamentos. Resumindo em uma pergunta, ficaria assim: tenho 20k para abater do meu saldo devedor, devo escolher por pagar parcelas menores ou por reduzir o prazo do financiamento? Acredito que essa é uma hipótese mais real.
Abraço, e vou assinar o feed do blog para seguir os próximos posts.
Também achei muito coerente o questionamento de Vida Rica.
Verdade, Vida Rica.
Por essas métricas, economizar para reduzir a prestação acaba sendo mais vantajoso no tempo presente, do que no eventual tempo futuro. Pelo menos essa é a impressão.
Abraços!
Gostei muito do post neste estilo de curadoria com os highlights!
Abraço
Valeu, AC!
Simplesmente ótimas dicas de posts.
Muitos dizem que a finansfera está acabando.
Apesar de (eu) estar postando bem menos que o normal, sigo ativo, lendo todos os posts, apesar de não ter muito tempo (infelizmente) de comentar e discutir com todos os amigos.
Vou ler com calma todas as postagens sugeridas, mas não pude deixar de comentar antes aqui para desejar a você e sua família boas festas e um ano de 2021 cheio de novas conquistas.
Um grande abraço! Stark.
http://www.acumuladorcompulsivo.com
http://www.elevedigital.com.br
Muito obrigado, Stark!
A finansfera ainda produz textos de excelente qualidade! E é sempre bom divulgar esse material valioso!
Feliz 2021 pra você também!
Guilherme,
Os posts do André e do Raphael são muito bons. Mostram um lado que muitas vezes não queremos ver, pois entram em conflito com nossos paradigmas, objetivos e cosmovisão.
Agradeço pela citação e compartilhamento do meu post. 🙂
Desejo um Feliz Natal para você, seus familiares e todos os leitores do Valores Reais.
Boas Festas!
Verdade, Rosana.
Ver o “outro lado” nos fornece uma visão muito boa e mais completa do panorama como um todo.
Abraços, e boas festas também!
Ótima seleção de posts! Comungo em especial com a ideia central do post sobre a aposentadoria precoce. Penso que investir, conquistar a tranquilidade financeira tem um objetivo: viver bem. Dentro de viver bem inclui-se estar preparado para os inevitáveis sobressaltos da vida. ter renda passiva que garanta nossa qualidade de vida lá adiante, quando já não formos tão capazes de gerar renda pelo trabalho, etc. Não se pode sacrificar o futuro, gastando de forma pouco prudente os recursos de que dispomos hoje, E tambem não se pode sacrificar em demasia o presente. Queremos e podemos ser felizes, hoje e no futuro. Caminho do meio, sempre.
Bem lembrado, Vânia!
O segredo está no meio, novamente!
Abraços!