Um trabalho bem feito é como “acertar o que você vê, e atingir também o que você não viu”.
Hoje em dia, as pessoas estão gastando seu tempo cada vez menos com trabalhos bem feitos.
Um trabalho concentrado, uma atividade que exige máxima concentração e o mínimo de distrações, é algo bastante escasso e, portanto, raro, nos dias atuais.
E quanto mais raro é, mais valorizado ele tende a ser.
Isso ocorre porque as pessoas, a sociedade de uma maneira geral, estão reduzindo sua capacidade de foco, atenção e concentração diante do (a) excesso de informação, que conduz à distração; e (b) do excesso de desatenção provocada pela massificação dos vícios decorrentes das luzes e telas que convidam ao relaxamento e à busca incessante por novidades para aplacar a sede insaciável do cérebro por mais dopamina.
Quando foi a última vez que você conseguiu fazer algo ininterruptamente por 50 minutos consecutivos, sem ser interrompido por uma notificação de celular, uma chamada telefônica, alguém te chamando, ou um interfone tocando?
Difícil se lembrar.
Tempos atrás, a Microsoft conduziu uma pesquisa sobre os hábitos dos trabalhadores de escritório, ou seja, daqueles que ficam sentados diante de uma tela de computador. A conclusão a que eles chegaram foi espantosa: em média, os trabalhadores ficam alternando as abas no navegador, ou entre os diferentes aplicativos rodando no computador, a cada 11 segundos. Não é a cada 11 minutos. É a cada 11 segundos.
Desse modo, desligar as notificações de celular, ou desligar o próprio celular, não constitui apenas o único desafio para manter um trabalho focado. Quando você está diante do computador, é preciso também “desligar” todo o resto, o que inclui desativar o WhatsApp Desktop, e também as outras 18 abas do Chrome ou do Firefox ligadas. É desafiador. E é complicado, porque vai contra os nossos instintos naturais de sede por novidades.
Mas as recompensas são muito positivas, para quem consegue produzir um trabalho com total concentração.
Escrever um blog, ou mesmo pensar mais profundamente sobre determinados hábitos que temos, se realizados de modo profundo e com total concentração, podem produzir resultados maravilhosos e que vão além daquilo que inicialmente prevíamos.
E a coincidência de dois fatos recentes serviu de mote suficiente para a produção do artigo de hoje: os frutos inesperados de um trabalho bem feito.
O artigo sobre as vantagens de eliminar o segundo carro da família levou um certo tempo para ser produzido, e exigiu reflexões bastante acuradas sobre os prós e os contras desse comportamento.
Exigiu, também, várias revisões e correções de texto antes de ser finalmente publicado.
Publicado, teve repercussões bastante interessantes na caixa de comentários, mas também provocou um efeito colateral inesperado, que eu já havia divulgado no Twitter: ele foi citado no site do Laboratório de Inteligência em Mobilidade Urbana Sustentável, do Programa de Estudos Pós-Graduados em Tecnologias da Inteligência e Design Digital da PUC-SP => bit.ly/34dmoOB
Isso é um exemplo de um fruto inesperado de um trabalho bem feito.
E em seu trabalho? Você já desenvolveu alguma atividade, elaborou algum projeto, concluiu alguma tarefa, que gerou resultados para além daquilo que você estava projetando inicialmente?
Todos nós temos exemplos, depoimentos, lembranças e testemunhos de atividades que realizamos cujos efeitos se ampliaram para além dos horizontes que havíamos inicialmente previstos.
E isso só é ou só foi possível graças, sobretudo, à quantidade de dedicação e concentração que empenhamos no desenvolvimento da referida atividade.
Tudo o que vale a pena ser feito vale a pena ser bem feito, já dizia o velho provérbio.
O detalhe é que o bem feito pode gerar muitas outras consequências positivas.
Reflexões profundas são capazes de gerar novos comportamentos em outras áreas da vida
Mas não é apenas o trabalho material em si, aquilo que impacta direta e imediatamente no mundo exterior, que produz resultados inesperados. Também o simples ato de pensar, de refletir, se for realizado também de modo profundo, pode gerar resultados inesperados, que não estavam previstos inicialmente.
Trago novamente o depoimento da leitora Emile, que, após pensar sobre a (des)necessidade de seu carro, alargou o espectro de suas reflexões também em relação à sua moradia:
“Eu me desfiz do meu carro ano passado (em novembro) eu reparei que estava usando o veículo praticamente para ir para o trabalho e para a academia (que ficava no caminho), então troquei a academia para uma perto da minha casa e comecei a utilizar o fretado da empresa e olha, a economia é impressionante, além do valor do carro (e de poder realocar o valor que eu guardava mensalmente planejando a troca que eu fazia em média a cada 5 anos) tem todos os gastos de seguro, imposto, manutenção, estacionamento, combustível, lavagens….
A pandemia e o trabalho em home office facilitaram ainda mais a mudança e como meu companheiro tem o carro dele praticamente não tive alterações no meu dia a dia.
Realmente não é muito fácil fazer uma mudança desse porte, eu tive carro desde os meus 20 anos (estou com 37 agora) mas no fundo é uma questão de ajustes de prioridades.
Agora andamos questionando nossa moradia, moramos num apartamento na região central da cidade (financiado pela CEF que deve ser quitado em 2 anos) caso o home office se mantenha, estamos avaliando a mudança para uma casa numa região mais afastada, mas com pátio e um valor menor que o apto (considerando aqui também IPTU, condomínio e manutenções).
Esse tipo de post é muito importante para nos tirar do piloto automático e fazer pensar no que realmente é importante para nós.
Muito obrigada pelas reflexões”.
Esse tipo de reflexão com resultados “alargados” costuma gerar impactos muito positivos quando você começa a analisar, por exemplo, seus gastos, seu orçamento doméstico.
Qual é o intuito inicial? Economizar dinheiro de uma forma mais inteligente, cortar gastos desnecessários etc.
Porém, à medida que você vai aprofundando suas reflexões orçamentárias, você acaba sendo conduzido naturalmente a repensar suas próprias prioridades de vida, e não apenas de gastos. Roupas e perfumes: será que gastar tanto com roupas e perfumes é realmente uma prioridade assim tão importante? Restaurantes: cortar gastos com restaurantes nessa pandemia impactou de modo tão negativo a minha vida? E assim por diante…
Conclusão
O trabalho que gera valor, as reflexões que geram mudanças, são “produtos” de alta escassez hoje em dia, porque demandam tempo, concentração e dedicação para serem construídas, e a absoluta maioria das pessoas não quer saber de se concentrar, pois caíram na armadilha dos vícios em distrações mentais.
Hoje em dia, a procura constante é pela zona de conforto, pelo fácil, pelo atalho, pelo caminho que consome menos energia e proporciona menos cansaço, principalmente mental.
Porém, tudo o que vale a pena nessa vida não vem fácil. Exige esforço, exige dedicação, exige concentração, exige disciplina.
A recompensa pelo trabalho bem feito – ou por reflexões bem feitas – não vem apenas na forma dos resultados previsíveis que você pretende alcançar. A recompensa vem, muitas vezes, de forma completamente inesperada, por frutos que você não imaginava.
Então a dica de hoje é essa: simplesmente concentre-se mais. Esforce-se mais. Dê um gás extra. Quando você acha que sua energia tiver acabado, lembre-se da sua reserva mental de 30% a mais que pode ser gasta. Vá além. E depois desfrute dos resultados positivos esperados – e inesperados – que só um trabalho bem feito é capaz de proporcionar. 😉
A cada dia está mais difícil de se desconectar, pois isso ja se tornára um vício para muitos.
Verdade, Valter.
Olá Guilherme!
O trabalho bem feito exige concentração. Uma das técnicas que usei foram variações da “Pomodoro”, onde estabelecemos um temporizador que definirá o tempo para nos concentrarmos em apenas uma atividade.
Se a usarmos regularmente, passamos a acostumar nossa mente perante ao foco. Hoje uso naturalmente, embora nossa mente e ansiedade continue pregando peças regularmente rs
Excelente texto! Boa semana!
Excelente ideia, André!
É preciso realmente de ferramentas para controlar nossos impulsos mentais….rsrsr
Valeu, forte abraço e ótima semana!
Guilherme,
Parabéns pela citação no Laboratório de Inteligência em Mobilidade Urbana Sustentável da PUC!
Um trabalho bem feito dá trabalho (desculpe a redundância), mas os resultados são muito melhores do que quando são feitos de “qualquer jeito”. Além disso, a satisfação e o senso de realização alcançados, nos motivam a melhorar cada vez mais.
“os trabalhadores ficam alternando as abas no navegador, ou entre os diferentes aplicativos rodando no computador, a cada 11 segundos. Não é a cada 11 minutos. É a cada 11 segundos.”
11 segundos! Surpreendente!
Isso demonstra o quanto as distrações estão realmente prejudicando a produtividade. Além disso, quanto mais o cérebro vai se acostumando nesse ritmo, mais difícil é retornar ao estado de maior concentração.
Eu costumo utilizar o Pomodoro. Nem sempre consigo bons resultados, mas estou me esforçando. E dependendo da tarefa, utilizo apenas a pausa de 15 minutos, como para ver e-mails, por exemplo.
Sempre me lembro que em um dos seus posts você disse que dimensionamos o tempo disponível à tarefa que temos em mãos. Fiz várias experiências nesse sentido, deixando um tempo maior para uma tarefa que necessitaria de uma quantidade menor de minutos e incrivelmente, o tempo foi preenchido por completo!
Voltando aos e-mails, em um ou outro dia há realmente uma demanda maior do que 15 minutos, mas em pelo menos 70% dos dias, eles são mais do que suficientes.
Boa semana!
Oi Rosana, excelentes comentários!
Olha, assim como você e o André, também tenho usado o Pomodoro, com resultados muito bons. Para alguns atividades menos complexas, de 10 a 15 minutos já são suficientes.
Para outras atividades mais complexas, deixo um timer de 30 a 40 minutos, e aí vou fazendo “manualmente” os ajustes. Se, p,ex., sinto que estou cansado, dou um tempo e retomo em seguida.
Gostei dos seus depoimentos sobre o uso do tempo, realmente temos que ir testando aquelas ferramentas que nos agregam mais valor.
Ótima semana pra vc também!
Guilherme,
Parabéns pelo texto!
Penso que outra vantagem do “trabalho bem feito” é evitar o “retrabalho”.
Quantas e quantas vezes, fazemos alguma tarefa ou atividade no piloto automático, distraídos entre tantas notificações, interrupções, telefonemas, conversas com colegas e, depois, numa conferência, verificamos que precisamos fazer de novo?
Fazer o trabalho bem feito é, em última instância, uma prática do mindfulness, do poder do agora. É estar inteiro, presente, única e exclusivamente naquela atividade.
Obrigado pelos textos reconfortantes de sempre!
Abraço
Obrigado, Lincoln, e excelentes comentários também!
Gostei particularmente da associação que você fez entre trabalho bem feito e mindfulness.
Abraços!
Belo artigo.
Obrigado!!!
Valeu, Marcos!
Prezado Guilherme,
Ao pesquisar sobre metodologia e impacto das taxas de administração em fundos de investimento, encontrei o seu artigo:
http://valoresreais.com/2010/10/02/fundos-referenciados-di-com-ate-1-de-taxa-de-administracao-nao-perdem-da-poupanca/
onde há uma planilha simulando as diversas rentabilidades em função de uma dada taxa de administração.
Seria possível você disponibilizar para mim essa planilha com a metodologia de cálculo, para que eu pudesse estudar as possibilidades variando a Rentabilidade Bruta e também visualizar e aprender a metodologia de cálculo.
Obrigado.
Olá, Eduardo, vou buscar essa planilha e, encontrando-a, enviar para o seu email.
Olá, Eduardo,
Não consegui localizar a planilha.
Contudo, consegui encontrar um site que pode ser muito valioso para suas buscas => https://sites.google.com/view/dlombelloplanilhas
Lá, inclusive, você pode contactar o autor para conseguir obter essa fórmula específica.
Tenho usado tbem a tecnica Pomodoro, com bons resultados. No meu caso, são blocos de 50 m, ou de 60 m.
No meu caso, que tenho mais de uma atividade à que tenho que dedicar tempo, o Pomodoro tem a vantagem de impedir que eu fique o dia todo numa atividade só, simplesmente pque ela não terminou. Então, se tenho um projeto, dedico um bloco de tempo a ele. Acabou o bloco, vou fazer outra coisa no proximo bloco, como responder os emails e msgs (interminaveis, e muitos tenho que responder mesmo), ou uma atividade fisica. Enfim, vou “girando todos os pratos”.
Excelente, Vânia.
Eu também tenho “girado os pratos”, fatiando as tarefas em blocos.
Isso tem uma vantagem muito boa, que é a de diminuir a “pressão interna” para terminar determinada tarefa. Isso ocorre porque conseguimos dividir uma grande tarefa em pequenos blocos, e, visualizando o cumprimento progressivo, também ficamos aliviados mentalmente de não precisar fazer “muita coisa” num curto espaço de tempo, pois já começamos a execução anteriormente.
Curioso o fato de apontar 50 minutos de dedicação. Quase sempre é o tempo que consigo me manter focado e concentrado em uma atividade.
Excelente, Paulo.
Isso tem a ver com os ciclos circadianos e ultradianos, que regulam biologicamente nossas atividades mentais e subconscientes também.