Na esteira de boas notícias para os investidores no que tange à regulação na negociação de ativos (post), aqui vai mais uma: a B3 anunciou a redução do lote padrão para ETFs e BDRs.
Antes o lote padrão para os ETFs estava em 10 unidades, e agora caiu para 1 unidade.
Há anos vínhamos defendendo no blog, já que essa diferenciação de lotes prejudicava o pequeno investidor, que era penalizado com spreads injustificados para a compra dos mesmos ativos.
Segue a publicação oficial:
“Em linha com o desenvolvimento do mercado de renda variável, sobretudo, com o crescimento das pessoas físicas, a B3 anuncia a redução dos lotes padrões de BDRs e ETFs de Renda Variável. A alteração passa a valer a partir do dia 28 de setembro, quando a quantidade mínima negociada de BDRs Não Patrocinados Nível I, ETFs de renda variável e as Opções sobre ETFs de renda variável passarão de 10 para 1 unidade. Além disso, os BDRs Patrocinados Nível II ou III passarão de 100 unidades para 1 unidade.
Desde 2018, a B3 vem trabalhando em conjunto com o mercado para o desenvolvimento dos BDRs. Além de listar mais de 500 programas, a B3 passou a aceitar esse produto como margem de garantia e habilitou o empréstimo de ativos para os BDR Não Patrocinados. Todas as iniciativas têm foco no mais variado tipo de investidores, como a indústria de fundos e o mercado de varejo, que demonstram grande interesse no produto.
“Essa era mais uma alteração aguardada pelo mercado nos BDRs que, associada à constante revisão da paridade dos programas, cria melhores condições de acesso aos investidores pessoas físicas nas ações internacionais e, consequentemente, dos investidores institucionais. É mais um importante passo para impulsionar a liquidez e volumes do produto”, comenta Felipe Paiva, diretor de Relacionamento com Clientes da B3.
A alteração para BDR acontece em um momento relevante para o mercado de capitais, uma vez que se aguarda a aprovação da CVM em relação ao Regulamento e Manual do Emissor da B3 para que, dessa forma, o produto fique à disposição do investidor pessoa física.
Liberação do BDR para o investidor pessoa física
Em 11 de agosto a CVM divulgou a mudança da regra de acesso aos BDRs ampliando à pessoa física. A partir disso, a B3 passou a trabalhar na operacionalização do produto, submetendo seus regulamentos para aprovação da CVM. Somente após a validação da autarquia, o produto ficará disponível para o investidor de varejo.
“Sempre em parceria com a CVM e com o mercado trabalhamos de forma bastante cuidadosa para que todos esses passos fossem dados. Nossa expectativa é que no mês de outubro as pessoas físicas possam efetivamente investir em ações internacionais”, pontua Mario Palhares, diretor de Produtos Listados da B3.
A nova regra também permite o desenvolvimento do mercado de ETFs no Brasil, pois a CVM autorizou ETFs estrangeiros e títulos de dívida como lastros dos BDRs. “Essas alterações são uma excelente oportunidade para ampliar as alternativas de investimentos no país e fortalecer, ainda mais, o mercado financeiro e de capitais brasileiro”, complementa Paiva”.
Em relação aos BDRs, aliás, vale ressaltar que já havíamos publicado a notícia de que ele também estava liberado para acesso aos investidores pessoas físicas, conforme esse post.
A necessidade de extinção do mercado fracionário para as ações
Aos poucos, a B3 vai percebendo a necessidade de extinguir determinadas “jabuticabas financeiras”, ou seja, regras esdrúxulas e anacrônicas que persistem em vigorar no Brasil.
Assim como o Banco Central percebeu a necessidade, com o Pix (post aqui), de dar melhores soluções de transferências do que os ultrapassados TEDs e DOCs, a B3 também precisa “acordar” para a necessidade de instituir mecanismos e regras que facilitem a vida do pequeno investidor.
Afinal de contas, determinadas “travas” para investimentos não se justificam nos tempos atuais.
E uma dessas travas ainda existentes nos dias de hoje é o famigerado lote fracionário para a compra e venda de ações, que causa os mesmos problemas de spread existentes nas negociações de ETFs.
Não faz sentido o sujeito A que compra, digamos, 100 ações da Petrobras no lote integral às 14:53:27 pagar mais barato que o sujeito B que compra 99 ações da mesma Petrobras no lote fracionário às 14:53:27.
E, quanto maior for o preço nominal de uma determinada ação, maior será a dificuldade do pequeno investidor de pagar ou vender a um preço justo pelas ações compradas ou vendidas.
Imagina uma ação que custasse hipoteticamente R$ 100. Para comprar um lote integral de 100 ações, você precisa desembolsar R$ 10.000,00 para fazer o investimento. Dá pra comprar menos, por exemplo, 8 ações? Dá. Mas provavelmente haverá um preço maior a ser pago, justamente pela menor liquidez do mercado fracionário.
Tudo isso dificulta sobremaneira a vida de quem investe em ações diversificadas, pois precisa de um montante de dinheiro disponível bastante grande para comprar ou vender as ações sem ter que se sujeitar aos spreads (e às perdas) que ocorrem no mercado fracionário, onde a liquidez é muito menor e empurra os preços para uma formação que prejudica aos pequenos investidores.
Conclusão
A notícia de redução do lote padrão para apenas uma unidade para ETFs e BDRs sem dúvida é positiva e vem num momento oportuno de facilitação da vida do investidor pessoa física.
Os ETFs são a melhor opção para a montagem de uma carteira equilibrada de ações, ao passo que os BDRs vêm atraindo bastante atenção em função da rentabilidade atual, marcada por valorizações na Bolsa americana, cumuladas com a alta do dólar.
No entanto, a B3 precisa avançar mais nessa seara regulatória, e implementar modificações também no mercado de ações, permitindo a redução do lote padrão igualmente para uma unidade.
Acompanhemos o desenrolar dos próximos capítulos…
Excelente texto, Guilherme!
Acabar com essa jabuticaba do lote padrão para ações aparenta ser mais difícil do que imaginamos.
Fosse só o problema de liquidez, vá lá… fracionário é terra sem lei, cheio de robôs tentando aumentar artificialmente os preços.
Se alguém tiver dúvida a respeito do que falo, é só escolher acompanhar o fracionário de uma empresa que não seja blue chip por 2, 3 minutos. É ridículo.
Abraço!
Verdade, LL!
Está mais do que na hora da B3 extinguir essa jabuticabinha aí!
Abraços!
É uma boa notícia mesmo. Mas ainda é incrível pq a B3 resolve diminuir o lote padrão de ETF (era 100, passou para 10 e agora passou para 1) e não faz o mesmo com as ações. Dificuldade técnica obviamente não existe. Então por qual motivo será que eles insistem nessa bobagem de mercado fracionário e mercado padrão?
Concordo integralmente, MJC!
E os ETFs de renda fixa, possuem lote padrão?
É de uma cota apenas.
Guilherme, tudo certo? Deixe-me te fazer uma pergunta um pouco off topic. Depois de um bom tempo consegui me reorganizar para comprar um pouquinho de ETFs mensalmente, acho até que conversamos sobre isso mais cedo nesse ano. A questão é que gostaria de controlar melhor esses ETFs, preços médios, essas coisas. Você conhece alguma planilha simples que ajude nisso? Dei uma olhada online e achei algumas mais complexas, mas o que quero é realmente algo mais simples…
Abs e felicitações pelo ótimo e duradouro trabalho!
Olá, Giancarlo, quanto tempo!!!!
Que bom que você já esteja investindo nos ETFs!
Quanto às planilhas para controle, eu ainda uso o bom e velho Excel.
Nesse link https://usemobile.com.br/melhores-apps-para-investidores/ há sugestão de alguns apps que talvez possam ajudar….
E se alguém souber de algum app de uso simples, fique à vontade para falar aqui nos comentários!
Valeu, meu caro!!
Eu uso app só pra consultar de vez em quando, mas pra uso sério eu não recomendo nenhum. Todos eles vão apresentar um ou outro problema que você não vai conseguir resolver de jeito nenhum e vai ficar na dependência do criado.
Minha recomendação pra acompanhamento de longo prazo é usar planilha mesmo. Eu uso uma minha já há mais de 10 anos. Mas o pessoal tem usado muito as planilhas do dlombello, que fornecem um monte de informação. E, por ser planilha, se chegar no ponto dela deixar de atender basta você pegar os dados que já estão lá e estender a funcionalidade.
Ótima dica do dlombello, MJC!
Excelente notícia, esperando o momento pra se alastrar pra todo mercado, até o de opções xD
Torcendo!!!
Ótimo post, Guilherme.
Espero que pessoas importantes leiam essa sua sugestão de acabar com o mercado de lotes nas ações.
Seria fantástico poder negociar qualquer quantidade.
Isso é um porre e difícil de gerenciar.
Daria mais liquidez para um mercado em constante expansão.
Grande abraço, Stark.
http://www.acumuladorcompulsivo.com
http://www.elevedigital.com.br
Sem dúvida, Stark, só vejo vantagens na extinção desses mercados “paralelos”.
Abraços!