Semana passada, o Banco Central diminuiu novamente a taxa básica de juros (SELIC), que, de 2,25% ao ano, passou agora ao patamar de 2% ao ano, com chances de haver nova queda até o final do ano.
Com isso, os juros reais nas aplicações de renda fixa ficaram ainda menores, já que há uma expectativa de inflação de 1,63% ao ano; havendo, ainda, possibilidade de os juros reais ficarem negativos, caso se confirme a previsão de uma inflação acima de 2% para os próximos 12 meses.
Ou seja, haverá provável perda do poder de compra em caso de investimentos alocados na renda fixa pós-fixada, isto é, aquela atrelada à SELIC e ao CDI, como é o caso dos fundos referenciados DI, do Tesouro SELIC, do CDB pós-fixado ao DI etc.
O cenário econômico para quem é conservador nos seus investimentos nunca ficou tão ruim, e, se a pressão inflacionária ocorrer, pode ficar pior ainda.
O que fazer, diante de perspectivas nada animadoras para quem concentra seus investimentos em renda fixa?
Abaixo enumero 3 alternativas para encarar esse “novo normal” (expressão da moda, agora tudo virou “novo normal”) da renda fixa com juros reais (quase) negativos.
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Diversifique mais seus investimentos
Sair da zona de conforto da renda fixa é o primeiro passo para quem deseja dar um “up” na rentabilidade de seus investimentos.
É quase mandatório aumentar seus conhecimentos em renda variável, tais como ações e imóveis e/ou fundos imobiliários, e o subsequente investimento nessas classes, a fim de conseguir dar uma rentabilidade melhor ao seu portfólio de ativos.
Veja bem o que eu disse acima: inicialmente, é preciso estudar sobre tais investimentos, para, somente na fase subsequente, você decidir aumentar sua fatia de investimentos nas classes de ativos da renda variável.
Porém, esse aumento gradativo em renda variável tem limites: limites em função de seu perfil de tolerância a risco, limites em função de seu grau de conhecimento com tais ativos, limites em função de seus objetivos não financeiros.
Pessoas que são muito conservadoras, ou que, por exemplo, têm objetivos não financeiros que precisam ser saldados no curto ou médio prazo (como compra de bens ou realização de outros gastos), devem se ater a limites bem específicos, e não destinar à renda variável uma porção muito grande de seus investimentos que possa comprometer outros fins.
Para tanto, é fundamental se conhecer e, sobretudo, traçar um raio-x o mais completo possível de sua atual situação financeira.
Ademais, a inteligência emocional é fundamental nessas horas, principalmente para não querer ficar sabendo todo dia se sua carteira de ações subiu ou desceu. Na pior das hipóteses, um acompanhamento semanal já é suficiente, sendo que basta, em diversas situações, um simples acompanhamento mensal, principalmente para quem investem em fundos amplamente diversificados, como fundos de índice passivos (BOVA11, SMAL11 etc.).
Aumente sua capacidade de aportes
Se você não se sentir muito à vontade para investir em ativos da renda variável, não há outro jeito: você precisa aumentar sua capacidade de aportes.
Para tanto, é fundamental você ADIAR SUA APOSENTADORIA.
Essa ideia, muito propagada na finansfera, sobre a independência financeira o quanto antes, pode ser uma verdadeira armadilha para sua vida financeira.
Evite seguir essa ideia de antecipação de aposentadoria, sobretudo se você estiver em plena idade produtiva (que vai da faixa dos 30 aos 50, ou 60 anos), e aproveite o momento atual para produzir, para entregar resultados, para prestar serviços e produzir bens, enfim, para ser útil à sociedade com o produto de seus esforços e de suas habilidades intelectuais.
Não despreze e nunca desvalorize suas conquistas até aqui. Se você tem tempo, use suas habilidades mentais e intelectuais não apenas para render dinheiro, mas principalmente para “fazer” dinheiro, como destaquei nesse post.
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Enxugue gastos
Outra ideia fundamental associada à necessidade de depender menos de dinheiro e, consequentemente, menor necessidade de viver de juros ou viver de renda: enxugue gastos. Viva uma vida mais simples.
Frugalidade é a palavra de ordem, e ainda é mais valorizada nesses tempos de crise.
Lembre-se de que economizar dinheiro é uma maneira de “ganhar” dinheiro. Como conseguir obter um ganho de mil reais ao mês? Você pode obtê-lo, em um investimento livre de risco, se tiver aplicados cerca de R$ 500 mil num fundo DI. Ou pode obter a mesma quantia mensal se conseguir reduzir suas despesas mensais em mil reais. Entendeu a importância de economizar dinheiro? O que você poderia obter com R$ 500 mil você pode obter se livrando de despesas fixas mensais.
Reduzir seus gastos fixos mensais, hoje em dia, é tão importante quanto fazer render seu dinheiro ou aumentar a capacidade de aportes.
O controle firme de gastos assume, assim, papel importantíssimo em épocas de juros reais negativos.
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Conclusão
Tudo o que vale a pena ser feito vale a pena ser bem feito.
Não ignore os sinais que a vide lhe emite.
Já que ganhar dinheiro investindo exclusivamente na renda fixa está se tornando cada vez mais uma atividade desafiadora e penosa, busque alternativas para incrementar seu patrimônio financeiro que vão além de um simples ato de depositar seu dinheiro numa aplicação conservadora e de baixo risco.
E essas alternativas passam necessariamente por uma revisão de sua vida financeira como um todo, seja na parte dos investimentos propriamente ditos, onde deverá haver um espaço maior para outras opções de investimentos e, obviamente, um aumento de sua instrução financeira; seja na parte do controle de gastos, por meio de um orçamento baseado em uma vida mais simples; seja ainda na sua própria capacidade de trabalho, mediante uma mudança para um novo e melhor trabalho, ou uma mudança de emprego, que lhe permita aumentar a capacidade de fazer aportes.
Se cuidar da vida financeira já não é uma tarefa das mais simples em tempos de calmaria e estabilidade econômicas, é uma tarefa ainda mais desafiadora em tempos de crise econômica e juros reais negativos ao mesmo tempo.
Na renda fixa ainda da para conseguir “boas” rentabilidades, há cdb’s pré do banco máxima pagando 12%aa com resgate em 8 anos, claro que o prazo é longo e também não sabemos o rumo da inflação/selic nesse período mas na minha opinião é uma forma de diversificar caso a pessoa não queira sair da renda fixa.
Claro que também existe o risco de liquidação desse banco, mas o fgc está ai para garantir até um determinado valor. (eu tinha investimentos no Dacasa e em menos de 40 dias recebi o valor que estava investido na data da liquidação).
Ótimos complementos, Flávio!
Realmente, há alternativas dentro da própria renda fixa para melhorar a rentabilidade, observados os devidos cuidados com a relação risco/retorno.
Ótimo artigo
Valeu, Marcos!
Será que já vale pegar dinheiro emprestado e aplicar em bolsa?
Geralmente não, Leonardo, devido aos riscos inerentes em operações alavancadas.
A resposta prática é NÃO.
Porém depende da taxa de juros que você pegou o empréstimo e qual/quais operações você fará em bolsa.
Só vale tomar dinheiro emprestado quando a taxa de retorno que vc tiver for maior que a taxa do empréstimo.
Observe que essa taxa de 2% a.a. é a Selic, que remunera o investidor. Ou seja o quanto você, enquanto investidor, vai ganhar.
Mas quando você vai tomar crédito, as taxas são MUITO superiores a esta, por exemplo simulei um empréstimo para o meu perfil que tenho score de crédito 967 no serasa. O resultado da taxa foi de 1,29% ao mês, 16,63% AO ANO.
Quando você empresta dinheiro ao mercado ele te remunera em 2% a.a. quando você toma empréstimo ao mercado você paga 8 vezes isso.
Existe um descasamento imenso entre o quanto você vai receber enquanto investidor no mercado financeiro e quanto você para quando vai pegar crédito na economia real. Já bati nessa tecla diversas vezes e continuo batendo, pq é simplesmente absurdo.
É Guilherme, espero que seja o novo normal! O país e a economia agradecem!
E, lembro que nem é preciso a inflação estar acima de 2% para termos uma taxa real negativa, pois, considerando o imposto de renda, mesmo na melhor situação (aplicações com mais de 2 anos), iremos receber cerca de 1,9% apenas, se mantivermos o dinheiro na Selic. Surreal!
Abraço!
Verdade, André, muito bem lembrado!
Os impostos, junto com a inflação, são verdadeiros inimigos da rentabilidade líquida real final do investidor.
Abraços!
Bom, claro que é muito confortável para quem investe ter as taxas de juros lá nas alturas. Foi bom enquanto durou…rsrsrs Vamos reconhecer que em nome do crescimento do país, e do equilíbrio econômico, a queda nas taxas de juros é bem vinda.
Os pontos abordados no post são fundamentais: sair da zona de conforto da renda fixa, aumentar os aportes (seja no valor, seja no tempo), e reduzir gastos.
Nessa ultima parte, o isolamento social nos trouxe alguns aprendizados e conquistas. Pra viver bem, não precisamos ter uma vida social intensa (e normalmente cara), viajar não é a unica coisa prazerosa desse mundo. Aprendizados que podemos levar conosco, mesmo depois da vacina, quando a pandemia estiver no passado.
Muito bem lembrado, Vânia!
As mudanças de paradigma provocadas pela pandemia têm feito muitas pessoas repensarem seus hábitos e suas escolhas.
Afinal de contas, dá pra viver muito bem com menos, e não com necessariamente mais coisas.
Enxugar, enxugar, enxugar. Sempre estamos nessa e não evoluímos por conta do país mal administrado, com poucas oportunidades de enriquecimento sólido.
Bj e fk c Deus.
Nana
http://procurandoamigosvirtuais.blogspot.com