A atual pandemia do coronavírus que o mundo está presenciando certamente irá causar mudanças irreversíveis em muitas áreas, setores, relações sociais e modos de viver, de consumir, e de produzir, bem como nos comportamentos em geral.
Uma dessas áreas é o home office, ou seja, o trabalho remoto, o trabalho à distância.
Antes visto por muitas empresas, patrões e empregadores como algo que teria o potencial de trazer mais malefícios do que benefícios, pelo medo de que os empregados não pudessem fazer o serviço a contento, a pandemia provou que não é bem assim, que as pessoas, os trabalhadores, os colaboradores, podem perfeitamente trabalhar a partir de casa, inclusive com ganhos de produtividade.
Já temos visto notícias na imprensa sobre algumas grandes corporações terem decidido adotar essa solução em caráter permanente, e não apenas temporário, para algumas de suas unidades, como foi o caso da Petrobras (reportagem), em vista dos ótimos resultados que foram alcançados.
E quais são os impactos desse “novo” home office na vida das pessoas que conseguem se aproveitar dessa nova forma de trabalhar?
Eu faço um conjunto de reflexões nos parágrafos abaixo, sem prejuízo de que você, na caixa de comentários, adicione outras importantes comentários sobre as consequências que o home office em caráter permanente poderá provocar em sua vida pessoal, a partir de sua própria experiência com o trabalho remoto, seus prós, seus contras, e seus desafios.
Espaço físico: o home office como uma necessidade em apartamentos e casas
Tudo indica que o setor imobiliário e da construção civil pode ter um aquecimento de demanda nessa era pós-coronavírus. Afinal de contas, com a SELIC em patamares tão baixos (2,25% a.a.) boa parte dos investidores conservadores continuarão a preferir o investimento em imóveis no lugar do investimento em ações.
E o setor imobiliário deve se atentar para essa provável nova demanda da sociedade: cômodos destinados especificamente para o home office.
Temos visto, ao longo dos últimos anos, uma tendência de se privilegiar a formatação de plantas de apartamentos e de casas com amplos espaços internos, com integração de vários ambientes, como salas mais ampliadas, cozinha integrada com a sala (cozinha americana), e até varanda integrada com a sala e a cozinha.
Além disso tudo, alguns donos de imóveis antigos ainda quebram as paredes de um dos quartos para aumentar ainda mais a sala.
Contudo, essa integração total entre os ambientes, para famílias numerosas, pode dificultar o uso de um espaço destinado exclusivamente para o trabalho, em virtude da necessidade de silêncio e de um ambiente isolado dos demais cômodos da casa.
Daí a importância de construtoras, engenheiros e arquitetos já se prepararem para uma demanda diferente, que é a construção de casas e apartamentos que contenham um home office, que geralmente exige um espaço isolado, mas menor que o tamanho de um quarto, bem como isolamento acústico e boa iluminação.
Além disso, com a implantação do home office em caráter definitivo para muitas pessoas, pode diminuir um pouco aquela necessidade que muita gente tem de procurar um local para moradia perto do local de trabalho, uma vez que o trabalho passa a ser na própria moradia.
E mais: com as facilidades proporcionadas pela tecnologia, no que tange à entrega de produtos via delivery, teleconsultas médicas, fretes grátis para compras de itens de supermercados etc., podem também diminuir um pouco aquela necessidade de as pessoas morarem perto de supermercados, farmácias, restaurantes etc., uma vez que tais demandas podem ser supridas pelas compras via Internet e/ou uso dos serviços remotos.
Auto-disciplina e gestão do tempo
O trabalho em casa, por outro lado, impõe um grande desafio aos profissionais que assim o fazem: uma rígida auto-disciplina, e uma gestão de tempo eficiente, para que o trabalho possa se desenvolver com a mesma eficiência com que era desenvolvido no escritório.
No escritório, normalmente há rotinas pré-estabelecidas, como horários delimitados, cronograma de tarefas a serem realizadas etc., sem as intercorrências da vida doméstica, como os filhos querendo atenção, o barulho da televisão, a demanda da empregada doméstica etc. No escritório, há, então, barreiras passivas naturais.
Em casa, o desafio é conciliar o trabalho com essas demandas da vida doméstica, de modo a conseguir entregar o trabalho dentro dos prazos estabelecidos, ainda mais se não houver um espaço físico apropriado para o home office (muitas pessoas optam por improvisar o home office em um dos quartos, para evitar ter que trabalhar na mesa da sala ou da cozinha, misturado junto à circulação de outras pessoas).
Daí a importância de um cômodo separado, isolado, das demais áreas da casa (o que nos leva ao item acima mencionado), bem como a necessidade de estabelecimento de auto-disciplina constante e rigidamente controlada.
A mudança nas prioridades financeiras
É preciso repensar boa parte da vida financeira após a implantação definitiva do home office.
À primeira vista, há ganhos notáveis de economia em itens que antes eram rotineiramente pesados ou custosos, como os gastos atrelados ao transporte (vale-transporte, combustível, estacionamentos, pedágios etc.), bem como os gastos de tempo nos deslocamentos, evitando-se, assim, o estresse do trânsito. Além disso tudo, a própria necessidade de um carro, especialmente do segundo carro da família, passa a ser questionada.
Porém, o home office impõe novos tipos de custos. Aumentam-se os gastos com energia elétrica – afinal de contas, você passa a ficar muito mais tempo em casa – bem como há necessidade de bons equipamentos eletrônicos, como computadores, tablets, redes sem fio, além de um serviço de Internet fixa que dê conta do maior tráfego de dados, bons aparelhos WiFi que façam o sinal de Internet chegar forte aos cômodos dedicados ao home office, além de um plano de dados móveis como backup em caso de a Internet fixa falhar.
E tudo isso provoca a reboque reflexões ainda mais profundas e interessantes, que podem repercutir em maior ou menor grau em sua qualidade de vida e em seu planejamento financeiro.
Por exemplo, até que ponto vale a pena realmente ficar gastando dinheiro com carros caros, de altos custos de manutenção e de tributos e seguros, se você quase não o utiliza mais?
Por outro lado, até que ponto morar num apartamento ou casa de tamanho mais reduzido (só porque é mais barato) compensa, em termos de qualidade de vida, se agora você passa a maior parte do tempo em casa? Será que não seria melhor buscar um apartamento ou casa maior, ainda que de maior custo, em prol de uma maior qualidade de vida? E a sua moradia precisa ser realmente bem localizada, agora que boa parte dos serviços está migrando para as plataformas online?
Em algumas cidades de médio e até grande porte, geralmente as casas e apartamentos situados em áreas bem localizadas costumam ter o preço mais caro do metro quadrado. Logo, é de se questionar se não seria viável morar numa casa ou apartamento maior, porém, menos bem localizado, mas que tenha, como eu disse antes, uma metragem maior, em virtude dos motivos acima enumerados.
São questões instigantes, e que devem fazer parte de seu repertório de reflexões, afinal de contas, passar muito tempo fora de casa pode vir a ser uma realidade para menos pessoas daqui por diante.
Conclusão
Uma das maiores virtudes do ser humano, enquanto espécie, é a sua capacidade de adaptação, de adaptação a novas circunstâncias.
A pandemia do coronavírus forçou muitas empresas e instituições, públicas e privadas, a adotarem – e muitas, diga-se de passagem, a contra gosto – o trabalho remoto, em home office.
Porém, para a surpresa dessas mesmas empresas e instituições, o home office provou ser, em muitos casos, um aliado, e não um inimigo, da produtividade, do comprimento de metas e da eficiência de muitas delas.
Logo, com a provável irreversibilidade desse quadro para muitas pessoas, é hora de você fazer novas reflexões sobre seus gastos, sobre sua gestão de tempo, e sobre sua capacidade de lidar com essas novas demandas, e o significado delas para seu planejamento financeiro de médio e longo prazos.
Quais outras revelações que você descobriu nessa nova era do home office? Você conseguiu se adaptar a esses novos tempos? Quais pontos positivos e negativos você visualizou nessa nova abordagem de trabalho? Está sendo melhor ou pior para você trabalhar em regime de home office?
Está sendo melhor para mim no sentido de ter menos viagens.
Desafio é quando necessário informações de terceiros que não estão no mesmo ritmo.
Verdade, Marcos.
Ótimo texto (como sempre!)! Eu e meu marido tivemos mais tempo para repensar muita coisa na nossa vida, pois antes não tínhamos tempo para “parar e pensar”. A questão da casa foi uma grande mudança de paradigma para nós. Agora entendemos realmente o que precisamos e queremos e traçamos metas para conquistar isso!
Que bom, Natália!
Um dos reflexos negativas da necessidade de ficar em casa foi o aumento do preço dos equipamentos de informática, junto com o aumento do dólar. Notebooks médias que custavam 2.000 reais hoje passam de 4.000. Notebooks bons que você conseguia por 4.000 reais hoje chegam a custar 7.000 reais.
Bem lembrado, Gustavo! Até as cadeiras de escritório tiveram elevação de preço.
O perfil de gastos muda, realmente. A maior redução é no transporte,, seguido de roupas e gastos pessoais.
Por outro lado, tivemos aqui um sensivel aumento no custo de alimentação.
Ainda tenho duvidas de que os espaços fechados para home-office, farão parte das novas moradias.. Pelo menos nas familias sem crianças pequenas, creio que a tendencia ainda é de espaços mais fluidos e compartilhados, sem paredes nem divisões muito rigidas.
Já há anos trabalho em home-office. Embora o espaço aqui em casa não seja um problema ( apto de 120 m para 2 pessoas), nunca tive um comodo separado para o trabalho. Há um pequeno home office, com computador, arquivo etc, mas não tem porta, um dos lados é totalmente aberto para a sala. Acho mais agradavel, a gente trabalha mas não se isola completamente do que acontece na casa. É como nos escritorios fisicos, não ha mais salas, e quase nao há mais baias. Usam-se estações de trabalho compartilhadas. Quando tenho muitos papéis a tratar, me instalo na mesa de jantar inclusive. E recolho tudo ao terminar, como faria numa mesa de escritorio numa empresa.
Já minha filha, que passou a trabalhar tbm em homeoffice, prefere trabalhar no quarto. Tem uma escrivaninha, e desenvolve suas atividades ali.
Eu acredito que as casas tendem a ser mais fluidas, sem espaços separados para as atividades. Nos imoveis mais antigos muitas vezes havia um escritorio fechado, a copa separada da cozinha, ou uma despensa., Em quase todos havia um quartinho para deposito. Penso eu que caminhamos no sentido contrário. A conferir,,,
Excelentes observações, Vânia!
Quanto à questão dos espaços para trabalhar, acho que também depende do perfil da pessoa e do tipo de trabalho, pois há pessoas que preferem trabalhar isoladamente em termos de ambiente.
Exato. Estou construindo uma casa e criando um escritório específico para home office. Isso que eu trabalhava fisicamente antes da pandemia. Me adaptei muito bem e pretendo manter o trabalho remoto.
Tem pessoas que manifestaram interesse em ir para o trabalho apenas alguns dias da semana, outras quinzenalmente, etc. O primordial é gestor conseguir enxergar o que o texto bem concluiu acerca da necessidade de o ser humano aceitar e se adaptar ao já popular “novo normal”.
Parabéns pelo texto.
Para mim é o melhor dos mundos e sempre defendi trabalho por resultados e não por horário. Moro sozinha com meus dogs. Para eles também foi ótimo. Trabalho no quarto de hóspedes/escritório em meu note para não misturar os canais. Aproveito ao máximo todos os dias, não me sinto mais cansada nem estressada. Não quero mais outra vida. Tomo sol quase todos os dias. A hora do almoço virou hora do sol\ciesta. Faço compras durante a semana (mais vazio e prefiro caminhar a comprar por apps). Atividades físicas regulares. Produtividade high level, sono tranquilo. Reuniões por Zoom e Teams sem sair de casa. Custos com energia seguem os mesmos (sempre aproveito a luz do dia) e internet/Wifi continuam cobertas com o mm pacote que tinha, mm com maior uso. Vivo de chinelo e de short. Qualidade de vida 1000!!!!!! Rumo aos 100!!!!
Excelente depoimento, Isabela! Rumo aos 100!!
A intenção do home office é trabalhar em casa…
O que ocorreu é que estamos morando no trabalho
Apesar de não ter um espaço preparado para o meu home office (acho que pegou várias pessoas de surpresa), gostei bastante da experiência e achei que foi muito produtivo.
Tem postagem nova no blog – se possível, passa por lá!
Bj e fk c Deus.
Nana – http://procurandoamigosvirtuais.blogspot.com/
Oi Nana, vou passar sim.
Gilherme, passei tempos sem ler o seu BLog, mas agora que voltei, vejo que o tempo passa e ele só melhora! Agora estou com um canal de educação financeira no youtube, adoraria ter sua opinião e, quem sabe, participação um dia… Chama-se Minuto Financeiro. https://www.youtube.com/channel/UCIGBV1C1Kzs1MT1wfD_ifhg
Parabéns pelo ótimo post, estou vivendo tudo isso!
Excelente, Daniel, vou dar uma passada lá!!!
Excelente artigo. No meu caso, os custos com energia subiram só um pouco, e meu plano de internet que já era bom, deu conta do recado.
Meus custos com alimentação também diminuíram, já que eu precisava almoçar em restaurantes por kg de segunda a sexta.
Os gastos com alimentação em casa logicamente aumentaram, mas nem perto do valor dos restaurantes. Mas claro, tem que existir um planejamento e um pequeno uso do tempo para preparar as refeições.
Custos de transporte, no meu caso ônibus, zeraram. E ainda ganhei esse tempo para minha vida, em torno de 1h30.
Pra mim, praticamente apenas vantagens e os chefes todos apontando em produtividade equivalente, ou até acima do normal da empresa nesse período.
Excelentes pontos, Luiz, principalmente na questão dos ganhos de dinheiro e de tempo, principalmente no de tempo, que é incomensurável!
O maior impacto pra mim está sendo no convivo pessoal, meu ultimo post no meu blog foi até sobre isso. Estou extremamente isolado e sem contato pessoal, o que está fazendo muito ruim pra minha saúde mental e disposição no dia a dia.
Adorei a experiência, embora se fosse pra continuar eu teria de fazer uma programação de horários de trabalho, pois percebi que passei muito + h trabalhando do que se fosse no local de trabalho. Era uma ansiedade, desejava ver o fim do trabalho, mesmo sabendo que seria impossível fazer tudo naquele dia.
Prefiro espaço separado para home office, todos os dias me arrumava como se fosse sair de casa
Ótimo texto!
Para a qualidade de vida do funcionário, sem dúvidas há ganhos, mas tb desafios, como fazer o próprio almoço, rs.
Essa coisa de espaço para escritório em casa, é difícil pro cidadão médio. O m2 é caro, e adaptações no imóvel também…. E o ar condicionado faz falta em algumas cidades. Aqui no RJ é quase impossível trabalhar sem ar ligado.
Mas acho que o modelo não vinga pra muitas empresas não…. Acho que só as mais tech. Há uma ilusão de economia das empresas com alugueis de espaços, mas essa economia não é tão grande de forma relativa. Geralmente é uma fatia muito pequena do total de gastos.
E provavelmente é necessário investir em alguma tecnologia pra facilitar a comunicação, e meio que “neta” a economia. Junta isso com a falta que sentimos da interação lado a lado…. Creio q passada a pandemia, poucas ficarão no Home Office.
Verdade, João, muito bem enumerados os prós e os contras!
É interessante observar as idas e vindas dessas novas formas de trabalhar. Vamos acompanhar os próximos passos….
Abraços!