Estamos vivendo tempos sombrios.
À medida que o tempo passa, mais e mais notícias vão sendo veiculadas sobre a devastação que a pandemia do coronavírus está causando nas pessoas, nas empresas, nos negócios e nas instituições.
Ninguém está imune aos efeitos da crise, mas temos alguns grupos de pessoas que serão atingidos mais em cheio: o grupo dos autônomos. Daqueles que são donos de pequenos negócios. Dos trabalhadores informais. Dos empregados que trabalham nos pequenos negócios. De todos aqueles que dependem de demanda presencial para conseguirem ganhar o pão de cada dia.
Nunca na história recente da civilização uma crise atingiu tão em cheio o direito básico à liberdade de locomoção em escalas tão assustadoramente globais. Alguns comparam a atual crise à Grande Depressão que se iniciou em 1929. Outros a comparam aos efeitos devastadores das Duas Grandes Guerras Mundiais, que colapsaram países inteiros.
O problema não é apenas dos investidores que estão amargando prejuízos atrás de prejuízos nas Bolsas de Valores e nos mercados financeiros. Ah, antes fosse!
Não.
A crise é mais séria, pois está acontecendo na economia real. Pra dizer a verdade, no mundo real. Nas ruas. Nos comércios. Nos shoppings. Nos hospitais. Nas instituições públicas. Nas instituições privadas. Nas escolas. Nos bares. Nas academias. Em cada lar. Em cada família. Ninguém está escapando.
Não é apenas uma crise na economia. É uma crise na sociedade. Igrejas não podem realizar cultos. Práticas esportivas estão sendo canceladas. Parques e praças estão sendo fechados. Reuniões acabaram.
Além de todas as recomendações financeiras clássicas para enfrentar esse período de crise – tais como cuidar da reserva de emergências, evitar perdas permanentes de capital etc. – uma outra diretriz tem ganhado força em muitos locais, principalmente nas redes sociais.
Trata-se do valor da solidariedade, exteriorizada por meio da possibilidade de você ajudar seu semelhante. Não o grande banco que tem bilhões em ativos financeiros e que certamente vai ter ajuda do governo. Não a empresa aérea Y ou Z que vai ter acesso a um pacote de benefícios governamentais e linhas de crédito com juros subsidiados para escapar da crise.
Não. Não.
Estou falando daquela pessoa que mora em sua comunidade, do profissional autônomo que depende de demanda presencial para o seu ganha pão. Que não tem décimo terceiro, férias ou outros direitos que, por exemplo, um servidor público tem.
Estou falando do trabalhador informal que muitas vezes não consegue oficializar seu trabalho por conta da enorme burocracia estatal. Do dono do pequeno negócio que, sem clientes no balcão, vai ter que fechar as portas, ou, no mínimo, vai ter uma drástica redução de renda.
A crise é real. Ela já chegou. Temos que trabalhar com os olhos voltados para ela.
Conseguindo atender sua prioridades elementares, que consistem nos cuidados que você tem que ter consigo mesmo e com sua família, é hora de olhar além. De dar um segundo salto em sua evolução.
Havendo, por óbvio, condições financeiras – ou seja, caso você consiga dar conta de si mesmo e de sua família – pense na possibilidade de ajudar as pessoas da comunidade local em que você está inserido.
O exemplo clássico é o da diarista, que você pode dispensar e continuar pagando o salário.
Outro exemplo é o de, em vez de fazer as compras do supermercado nas grandes redes varejistas, muitas delas com ações em Bolsa de Valores, você faça tais compras no mercadinho local mais próximo, atitude que já era recomendada inclusive em tempos normais, sem crise, por amigos da blogosfera, como o Valdemar Engroff, do Bolso da Bombacha.
Restaurantes vão ter restrições à livre circulação de pessoas? Opte, em vez daqueles grandes que normalmente são franquias de uma mega rede nacional ou internacional, por aqueles menores, com estrutura mais enxuta, que pode ser aquele que te mandou um Whats dizendo que o serviço de delivery vai continuar funcionando normalmente, ou daquele outro cujo dono lhe atende pelo nome. Esses estabelecimento menores vão ser duramente atingidos pela crise. Repito: serão duramente engolidos pela crise. Alguns, infelizmente, a depender da intensidade e da extensão dessa crise, podem falir e encerrar as portas definitivamente.
Mas utilize o bom senso
Como sempre, prudência e equilíbrio são os fatores-chave para você também desempenhar uma função social adequada nesse caso.
Afinal de contas, se você perder o emprego ou tiver seu salário reduzido a metade, dificilmente vai poder ajudar outras pessoas.
A responsabilidade pela manutenção da reserva de emergência é de cada um, principalmente naqueles casos em que o risco de variação de renda é inerente às atividades profissionais.
Trago aqui, para reflexão, um comentário do leitor SwineOne:
“Outra situação que vi rolando por aí e me deixou boquiaberto… Espero que o sem noção nessa situação não seja eu.
Tem gente fazendo campanha que você dispense sua diarista, seu terapeuta, seu personal trainer, enfim, os profissionais autônomos, mas CONTINUE OS PAGANDO. Segundo estas pessoas, fazer diferente (ou seja, não pagá-los mesmo que eles não prestem o serviço) é “ganhar em cima deles”, é “oportunismo”, e assim por diante.
Ora, só eu estou ficando louco, ou tem muita gente querendo fazer caridade com o chapéu alheio?
Se perder meu emprego, vou poder sair por aí exigindo que continuem me pagando?
Vejo que é responsabilidade de cada um ter a sua reserva de emergência para um momento desses.
Talvez a única situação que me compadeça um pouco seja no caso das diaristas, já que para esse pessoal pobre é mais difícil ter reservas. Mas ora, se a pessoa não estiver doente, deixe ela continuar trabalhando, e continue pagando. Se está preocupado com a contaminação no transporte público, mande um Uber para buscá-la, ou vá você mesmo buscar e levar com o seu carro.”
O Cristiano Andrade, por sua vez, complementou:
“Eu dispensei a minha funcionária e continuo pagando o salário dela (registrada), mas aí é uma funcionária e tem um salário mensal e, ainda assim, obviamente é uma opção de cada um.
A questão do distanciamento social é para que possamos (enquanto sociedade) achatar a curva de contágio e evitar o colapso do sistema de saúde. Isso vai além de evitar que nosso núcleo familiar seja contagiado, mas evitar que nossa sociedade possa reagir com os recursos que dispõe, se trata talvez de caridade com chapéu alheio, ou talvez de solidariedade com a comunidade a qual estamos inseridos, podem olhar de vários ângulos. Então não é apenas o transporte coletivo, mas Uber ou mesmo o uso do carro particular podem minimizar, mas não trabalham na direção do distanciamento social.
Tenho algumas situações no trabalho a qual felizmente a empresa a qual trabalho divide os mesmos valores, estamos trabalhando de casa, mas alguns contratados que não podem desempenhar suas funções (normalmente pela natureza das mesmas) estão sendo enviados para casa, mantendo-se os pagamentos de salários dos mesmos (e também do contrato com a empresa responsável por estes terceiros). A ideia é achatar a curva de contágio, para isso há de se reduzir o contato social e manter o máximo de pessoas em casa.
Concordo contigo que a suspensão de pagamentos de alguns profissionais autônomos não é oportunismo e vejo caso e caso, até porque na maioria das vezes tem relação com a dinâmica da profissão, sejam médicos, advogados, personal trainers etc.Terapeuta pode experimentar ferramentas de videoconferência, não?
Diaristas tem o problema até de sobrevivência, difícil como lidar, né?
Nada fácil… o impacto social vai além do impacto sanitário. Um desafio para a sociedade lidar”.
E um complemento…
A minha grande amiga Elen Angela, do canal do YouTube Elen Angela – Educadora Financeira, publicou um excelente vídeo a respeito do tema:
Conclusão
Precisamos vencer essa crise. Só com a união de pessoas bem intencionadas, realizando as medidas certas, é que poderemos vencer não só o vírus, mas também o terror de um colapso financeiro.
Apesar de estar apenas no início, essa crise já serviu de mote para que muitas pessoas reavaliassem suas posturas e seus valores.
Como eu costumo dizer, não são nas situações de normalidade e de alegria que você testa seus valores e suas crenças: estes são verdadeiramente testados nos momentos de crise.
Há tempos – pra falar a verdade, há 11 anos – eu venho batendo na tecla da importância da formação de uma reserva de emergências, que pode ser utilizada justamente nas… emergências.
Nunca, jamais, fique exibindo um padrão de vida acima de suas possibilidades. Se as contas estão chegando acima do normal, então está na hora de rever e de cortar seus gastos. AGORA.
Use essa época de isolamento social não apenas gastando tempo em mídias sociais, mas também refletindo sobre seus valores, suas crenças e seus comportamentos. 😉
Você conseguiu sintetizar o que nós devemos fazer.
Obrigado, Tati!
Que coisa maravilhosa ler isso num blog que trata de economia! Claro que não é obrigação de ninguém, que depende da situação e estabilidade de cada um e de uma série de outros fatores. Claro também que todos deveriam ter reserva de emergência. Mas não podemos nos alienar do fato de que alguns não têm reserva pelo simples fato de que o que ganham não lhes garante nem o básico e nem que se qualifiquem pra alçar outros postos. E poderão ser lançados à miséria com a crise, não tendo sequer como garantir o básico. Manter o serviço durante a quarentena não penso que seja sequer uma opção. Obrigada pelo artigo, de fato faz jus ao nome do blog!
Muitíssimo obrigado pelas palavras, Renata!