Recebi um comentário do leitor Fábio a respeito de uma matéria na BBC, do relato de um sobrevivente de Auschwitz, campo de concentração nazista que exterminou milhões de pessoas.
Segue o comentário:
“Acabei de ler essa matéria no site da BBC Brasil sobre um sobrevivente (Sr. Andor Stern) do campo de concentração de Auschwitz, nascido no Brasil, mas que por uma eventualidade da vida acabou sendo capturado.
Ao ler a matéria, imediatamente eu me questionei sobre o que realmente importa em nossas vidas.
Qual deveria ser a nossa preocupação?
Talvez a liberdade e a frugalidade, eu me arrisco em opinar.
Leia e veja que o tempo pode ser o nosso maior aliado.
E parafraseando John C. Bogle: “Siga em frente, não importa o quê”.
Um forte abraço”.
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-50790313
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O relato do Sr. Andor traz trechos que valem por uma reflexão.
Em determinada passagem da reportagem, ele diz:
“A guerra terminou e eu sobrevivi. Estava vivo. Pesava 28 quilos, mas estava vivo. (…) Perguntei a mim mesmo: ‘o que quero da vida? Onde estarei daqui a 5, 10, 20 anos?'”. “Decidi o seguinte: ‘quero um par de sapatos em que não entre água e me aqueça no inverno; uma roupa isenta de qualquer bicho e que me cubra no inverno, um paletó com bolso e um relógio que eu possa olhar e dizer: ‘vou comer esse pão amanhã às 14h e vou resistir, porque não estarei passando fome’. Podendo me movimentar da esquerda para a direita, vou ser o homem mais feliz do mundo'”, conta.
“Isso passa, e você fica cheio de frescura”, brinca. “‘O sapato tem que ser de cromo alemão’, ‘O terno tem de ser de casimira inglesa’ (Mas) eu não esqueci. Tudo isso para mim era um presente extra. Cada dia que eu vivo é uma sobremesa. Talvez isso explique essa intensidade de querer viver e que os outros vivam. Tenho o máximo respeito pela vida” (sem destaque no original).
Coisas simples, como a liberdade e a possibilidade de não apenas sobreviver, mas de viver, e de viver com a consciência de estar desfrutando de coisas simples da vida, como a liberdade, eram desejos ardentes de sua alma naquela época da libertação, e são valores que ele cultiva até hoje.
Essa passagem de seu relato é emblemática:
“Cada dia que eu vivo é uma sobremesa. Talvez isso explique essa intensidade de querer viver e que os outros vivam. Tenho o máximo respeito pela vida.”
Só quem passou pelo limite entre a vida e a morte pode valorizar tanto a “nova” vida que ganhou após escapar de ser mais uma pessoa condenada a morrer.
Apesar de tudo o que ele passou, ele ainda é capaz de dizer coisas como essa:
“A vida me deu péssimos momentos, mas também momentos maravilhosos, talvez mais do que uma pessoa merece. Saber sentir gratidão já é um grande presente, e sinto gratidão quase diariamente”, conta.
“Sobreviver àquilo (Holocausto) te dá uma lição de vida que você fica tão humilde. Quer que eu te conte uma coisa que aconteceu hoje? Talvez isso nunca tenha te ocorrido, e essa vantagem eu levo em cima de você. Imagina a minha cama cheirosa, de lençóis limpos. Chuveiro fumegante no banheiro. Sabonete. Pasta de dente, escova de dente. Uma toalha maravilhosa. Descendo (a escada), uma cozinha cheia de remédio, porque velhinho precisa tomar para viver melhor; comida à vontade, geladeira cheia. Peguei meu carrinho fui trabalhar pelo caminho que eu quis, ninguém me enfiou uma baioneta. Estacionei, fui recebido com calor humano pelos meus colegas. Gente, eu sou um homem livre.”
A lição que fica disso tudo é simples, mas densa: não reclame à toa. Valorize o que você já tem. Aproveite cada minuto. Pense em construir, não em destruir. Foque no positivo, foque na esperança, e tome atitudes alinhadas com esses valores positivos.
Parabéns ao Sr. Andor, que, do alto de seus 91 anos, está deixando um legado de exemplo de verdadeira inspiração e modelo de conduta de vida.
E agradeço ao Fábio pelo envio da reportagem que inspirou esse artigo!
Uma história e tanto! Não são todos que não quebrariam depois de vivenciar na pele uma desgraça tão grande na vida. É um privilégio pra gente poder ler esse tipo de relato.
Sem dúvida, MJC! São reflexões como as trazidas pelo depoimento que nos fazem ver a vida sob novas lentes.
Bom dia!! Realmente espetacular!!!! Sem palavras!!!! ❤
Verdade, Mônica!
A importância da gratidão no dia a dia…
O exercício da gratidão deve ser uma prática diuturna!
Uma historia inspiradora!
De fato!
Entrou um cisco no meu olho…
Em todos nós…
Olá Guilherme! Excelente relato. Me lembrou a primeira parte do livro de Vitor Frankl, “O sentido da vida”. Se não conhece, vale muito a pena!
Abraço!
Já tinha ouvido falar, ótima sugestão de leitura, André!
Olá Guilherme,
Legal trazer esse relato aqui. É legal e ao mesmo tempo triste. Como o senhor diz, ele é privilegiado (e não) pela lição que tomou ao ser preso no campo de concentração.
Em 2018 eu conheci o museu da Anne Frank. É bem legal e muito triste. Tentar imaginar o que essas pessoas passaram arrepia cara.
Abraço
Sem dúvida, II.
São reflexões que valem a pena ser feitas, diante da nossa condição humana.
Abraços