Um dos principais objetivos almejados por um bom programa de educação financeira consiste em reprogramar seu cérebro para tomar decisões inteligentes de longo prazo.
Ou seja, fazer você pensar e agir menos no curto prazo (que ocorre, por exemplo, quando você faz compras visando a atender necessidades de gratificação imediata em detrimento do seu eu futuro) por meio de um processo de reorientação de sua mente para agir priorizando o longo prazo.
Tal ocorre por meio da aprendizagem da importância de cultivar hábitos como poupar de forma disciplinada, fazer controle permanente do orçamento doméstico, e adiar gratificações instantâneas em prol de um futuro mais próspero e mais farto.
O problema é que muitas pessoas simplesmente não conseguem criar hábitos voltados para o futuro, para o longo prazo, simplesmente porque o longo prazo… demora muito para chegar.
Imagine uma plateia que assiste a uma apresentação sobre como conquistar um milhão de reais depois de 30 anos, por meio de investimentos de uma pequena quantia de reais por mês, a uma taxa de y% ao ano.
As pessoas olham para aquilo, acham bacana e até fácil de conquistar, por unir dois extremos opostos: conquistar um valor muito grande no final (um milhão de reais) através de um valor muito pequeno no presente (“x” reais por mês). Parece ser uma coisa factível de se conseguir sem muito esforço.
Porém… são 30 anos de investimentos. Três décadas. É tempo pra caramba.
Para solucionar tal impasse, e dar um fôlego extra de motivação para as pessoas cumprirem suas metas de educação financeira – e para a vida, por quê não? 😉 – a chave consiste no meio termo: em mirar objetivos de médio prazo. Mais especificamente 10 anos.
Dez anos é um tempo suficiente para fazer muita coisa, mas ele tem um ingrediente especialmente tangível que faz você pensar e agir com uma motivação muito maior: é que esse tempo, além de passar muito rápido, faz muitas pessoas se arrependerem de não terem feito escolhas adequadas dez anos antes.
“Eu queria ser dez anos mais novo”
Essa é uma sensação muito comum: a sensação de que o tempo está voando, e que, se você pudesse voltar atrás, teria feito muitas coisas de modo diferente.
A pessoa que está com 30 anos de idade queria ter a idade do cara que tem 20. Provavelmente essa pessoa que tem 30 anos adquiriu educação financeira só agora, aos 30, e só agora percebeu os erros que cometeu quando era mais jovem. Por exemplo, comprou um carro de R$ 30 mil, financiado em 72 meses, pagou um total de R$ 60 mil, e agora tem nas mãos um carro que vale R$ 15 mil.
O sujeito que acabou de completar 40 anos de idade queria ter a idade do cara que tem 30. Nesse intervalo de 10 anos, que vai dos 30 aos 40, poderia ter feito pós-graduação, poderia ter feito mestrado, poderia ter feito doutorado, poderia ter migrado para uma carreira melhor, mas ficou acomodado na zona de conforto de seu emprego supostamente estável, e agora não só está encurralado pela falta de perspectivas profissionais do emprego em que trabalha, como também chegou à conclusão de que não está construindo patrimônio algum, pois gastou todo o dinheiro com “experiências” (viagens, restaurantes etc.), que serviram mais pra impressionar aos outros do que qualquer outra coisa.
A pessoa que tem 50 anos de idade se lamenta por não ter mais 40 anos. Pois, se tivesse 40 anos, teria cuidado mais da saúde, feito mais atividades físicas, e e alimentado melhor, evitando, assim, a famigerada barriga de chope (gordura abdominal em excesso), excesso de cabelos brancos, dentes mal conservados, dolorosas cirurgias e tratamentos para recuperar a saúde, saúde essa tão fragilizada em virtude de péssimos vícios formados nos últimos 10 anos.
O sujeito que acabou de completar 60 anos de idade queria ser dez anos mais novo, pelo menos para ter mais tempo de guardar mais dinheiro, pois, com a Reforma da Previdência batendo na porta, e sem reservas acumuladas, está vendo que não terá como sustentar o atual padrão de vida assim que se aposentar, pois sua renda mensal cairá de R$ 7 mil para R$ 3 mil…
O fato é que muitas vezes olhamos nossa vida pelo olhar dos outros, assim como os outros olham a vida delas pelas lentes da sua vida.
Quantas vezes você não ouviu de outra pessoa: “ah…. como eu queria ter a sua idade…. se eu tivesse a sua idade, teria feito tanta coisa diferente…..”
Da mesma forma, você mesmo já soltou a mesma frase acima ao conversar com pessoas mais jovens que você – jovens esses que incorrem nos mesmos erros que você cometeu dez anos atrás.
Isso é absolutamente normal, e faz parte das nossas relações sociais. Analisamos o transcurso do tempo em nossas vidas, analisamos nossos erros e acertos, e chegamos a uma conclusão…
Você mesmo pode estar numa situação de arrependimento
Não importa a sua idade, não importa se você tem 35, 45 ou 55 anos, você certamente teria feito algumas coisas diferentes se pudesse voltar no tempo e tivesse, respectivamente, 25, 35 ou 45 anos de idade.
Você poderia ter cuidado melhor da sua saúde. Você poderia não ter gastado tanto dinheiro com viagens, restaurantes, carros, eletrônicos e compras de passivos em geral. Você poderia ter se estressado menos com situações que, analisadas hoje, não precisavam ter causado tanto impacto emocional em sua vida, se você tivesse agido com outra postura.
Embora o passado seja imutável, e, portanto, o que está feito “feito está”, os próximos dez anos podem ser diferentes.
O que eu quero dizer é o seguinte: o longo prazo é mais tangível do que poderia parecer à primeira vista, não só porque a percepção subjetiva do tempo se acelera à medida em que envelhecemos, mas também porque os resultados de nossas ações diárias – nossos hábitos, nossas rotinas, nossos comportamentos – são cumulativos, e essa é uma verdade com a qual você precisa aprender a conviver e a absorver.
Se você tiver, no dia de hoje, 11 de novembro de 2019, um grande patrimônio financeiro acumulado, quando comparado ao que você tinha em 11 de novembro de 2009, é porque isso foi o resultado de ações diuturnas, frequentes e consistentes, de obtenção de renda, ações de poupar e de economizar, e ações de estudar sobre investimentos e de efetivamente investir. Você não acumulou seu atual patrimônio financeiro da noite para o dia.
Ok, pode ser que você não tenha chegado ao aclamado um milhão de reais em reservas financeiras, mas você, durante um intervalo de 10 anos, pode ter construído um patrimônio sólido, formado por um imóvel próprio (já quitado), um carro (igualmente já quitado) e, digamos, R$ 300 mil em aplicações financeiras. Isso é mais do que a esmagadora maioria da população brasileira, e já serve como uma base muito firme para você, daqui a 10 anos, caminhar forte rumo aos primeiros sete dígitos de aplicações financeiras.
O contrário do exemplo acima também é inteiramente verdadeiro. Há muitas pessoas que ostentam uma alta renda mensal, mas que, ao final de 10 anos, não conseguem acumula patrimônio, mas apenas passivos e dívidas.
Pense naquele sujeito que ganha muito, que ganha bem, mas que troca de carro a cada 2 anos, que vive postando nas redes sociais as suas maravilhosas experiências de viagens, de gastronomia etc., e que, quando você puxa conversa sobre investimentos, logo já trata de mudar de assunto na conversa. Será que essa pessoa pode projetar um futuro financeiro tranquilo? Obviamente que não.
As chances correm contra as pessoas que não se preparam. E dez anos passam voando tanto para aqueles que se preparam, quanto principalmente para aqueles que não se preparam.
Conclusão

“Nunca é tarde demais para ser aquilo que você deveria ser” – George Eliot
Em suma, faça planos pra 10 anos para que, daqui a uma década, você possa olhar para os últimos 10, e concluir que valeu a pena todo o esforço.
Na verdade, 10 anos é um tempo em que dá pra fazer muita coisa, menos pra se arrepender de escolhas que não foram feitas, mas que eram sabidamente as mais importantes para a sua vida.
Portanto, avalie a sua situação hoje. Onde você está hoje era aquilo que você projetava estar 10 anos atrás? A sua saúde atual está melhor do que em 2009? O seu patrimônio financeiro atual está melhor do que estava em 2009? Sua vida profissional progrediu do jeito que você imaginava há 10 anos? O seu inglês está melhor do que estava em 2009?
Reflita e responda com sinceridade às perguntas formuladas acima.
Se hoje não está melhor do que dez anos atrás, então se planeje para, daqui a 10 anos, você olhar para trás e não ter a sensação de arrependimento pelas coisas que deixou de fazer, sejam essas coisas no plano financeiro, sejam essas coisas no plano da saúde ou de qualquer outra área de sua vida.
Uma das maiores dádivas do ser humano consiste na sua capacidade de se reinventar, independentemente das suas circunstâncias ou da sua condição social. Sempre há aspectos de sua vida que podem ser mudados, transformados, melhorados.
Continue fazendo planos para o longo prazo, sim, ou seja, para a sua aposentadoria financeira, para a sua velhice etc.
Mas acrescente uma pitada de “pimenta de motivação” nesse planejamento, com a adição de metas intermediárias, escaláveis em intervalos de 10 anos, que, embora não sejam tão curtas a ponto de apresentarem resultados visíveis imediatamente, têm o inegável mérito de produzirem resultados muito mais duradouros e sólidos, cujos efeitos podem, inclusive, servir de base para escalar metas ainda maiores mais pra frente. 😉
Guilherme,
Em um mundo no qual o hedonismo muitas vezes predomina, pensar em um futuro um pouco mais longo não é algo habitual. Por isso, o arrependimento e a vontade impossível de voltar no tempo são tão presentes.
E como você disse, olhando 10 anos para trás, percebemos que apesar de não ser como imaginávamos, ao menos algum progresso foi feito. Pensar nesse crescimento pode ser muito útil para que novas atitudes e hábitos façam parte da vida no sentido de tornar os objetivos mais próximos – e não mais distantes através do consumo impulsivo ou um estilo de vida prejudicial à saúde.
Parabéns pelo post. Ficou perfeito!
Obrigado, Rosana!
Gostei do termo “hedonismo”: realmente nossa sociedade está muito doente no aspecto do consumo irresponsável.
Abraços!
Obrigado por mais esse texto Guilherme. Infelizmente, para a maioria das perguntas, a minha resposta é não. Hoje, com 26 anos, tenho muito mais do que aos 16. Inclusive, comecei a aportar na RF aos 21 e na RV aos 23. Aproveitei bem o mercado de alta, inclusive, prefixando alguns títulos, contudo, só isso.
Minha área de formação não me agrada e, o que planejei para minha carreira, ainda não deu certo. Estou na luta ferrenha. O que me motiva a continuar na caminhada é a famigerada esperança de dias melhores, se não houvesse esse sentimento, não sei o que faria.
Enfim, por mais que a minha vida financeira esteja completamente controlada, os demais campos me incomodam muito. NÃO SEI se, tivesse me dedicado a outras coisas ao invés de me dedicar ao conhecimento financeiro minha vida seria melhor, por vezes tenho a sensação de que quanto menos esclarecido o sujeito, mais feliz o é. rsrs.
Abcs e sucesso meu amigo.
Olá, Rafa, obrigado!
Essa luta interior a que você se refere constitui um sentimento comum de muitas pessoas na faixa dos 25 aos 35 anos de idade.
O mais importante, do seu relato, é a ênfase em dois aspectos: que parte da sua educação financeira já foi bem implementada (investindo bastante cedo na faixa dos 20 e poucos, o que é raro), e o fato de você alimentar a esperança de dias melhores, pois é a esperança um combustível que te impulsiona a melhorar de vida.
Ressalto, ainda, que você é BEM jovem, e ainda há muito tempo para reinventar sua própria vida.
Abraços!
Parabéns, Guilherme! Excelente artigo. É isso mesmo, devemos comparar a nossa vida, não com a dos outros, mas ao melhor de nós mesmos.
Um abraço.
Obrigado, Fábio!
Verdade, compararmos o eu presente com o eu passado, a fim de projetar o eu futuro.
Abraço
Olá, mais uma ótima reflexão, gostei muito do seu blog, vou compartilhar seu texto com amigos. Abraços
Valeu, BZ!
Perfeito reflexão!!
Meus planos são para 14 anos conseguir atingir a FIRE.
Fora que quero investir até o ultimo dia da minha vida.
Um Abraço
Sniper
BG
Valeu, Sniper!
E 14 anos é um ótimo prazo pra buscar a FIRE!
Abç!
Ótimo texto Guilherme, assim como todos os outros do seu site! Tem muito de verdade em que vc disse, acabei de puxar meu balanço de janeiro/17 e comparei com meu patrimônio líquido de nov/19. Não foram dez anos, foram quase 3 anos apenas (não tenho dados planilhados anteriores a 2017). E já é bem perceptível a diferença no patrimônio.
Lendo seu texto hoje fiquei refletindo: Como estarei daqui a mais 7 anos? Talvez com um patrimônio que nunca nem sonhei em ter.
Um grande abraço, sucesso!
Olá Guilherme tudo bem?
Como sempre seus posts são maravilhosos. Toda a semana eu “bato o cartão” no seu site. São textos que me motivam a continuar com meus planos, com os meus sonhos.
Gostei muito quando você diz:
“Quantas vezes você não ouviu de outra pessoa: “ah…. como eu queria ter a sua idade…. se eu tivesse a sua idade, teria feito tanta coisa diferente…..”
Acredito que neste caso o grande “x” da questão é a escolha. A todo momento estamos fazendo escolhas que vão se refletir em minutos, horas, dias ou até mesmo anos (décadas) à frente.
Devemos refletir mais em nossas escolhas e ações pois somente assim vamos “plantar” o que gostaríamos de “colher” amanhã.
Um forte abraço e Deus abençoe a todos nós.
Olá Thiago, obrigado pelas suas palavras!
Sim, gostei muito do que vc disse.
A propósito, li uma frase agora há pouco que tem tudo a ver: “a semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória”.
Abraços, e que Deus o abençoe também!!
Bom dia Valores Reais,
Excelente o texto, esta de parabéns, e é isso que você falou, em qualquer idade seja 20, 30, 40, 50 ou 60 anos se a gente para para pensar poderiamos ter feito algumas/muitas coisas diferentes aqui ou ali, mas o mais importante na minha opinião é pensar que tudo começa com um pequeno estimulo/pequeno passo como evitar gastos desnecessarios para começar a juntar dinheiro a partir de hoje e usar a força dos juros compostos a seu favor.
Mais uma vez Parabéns irei passar a seguir seu blog.
Abraços.
Obrigado pelas palavras, Carlos!