Um amigo, formado em Direito, me contou que, depois de 5 anos afastado do meio jurídico (pois trabalhava – na verdade ainda trabalha – no comércio), resolveu voltar à área jurídica, estudando para concursos.
Nesse retorno, ele disse que está tendo muitas dificuldades, pois muita coisa mudou na legislação, de 2014 para cá, e, portanto, muito daquilo que ele aprendeu na faculdade hoje já não serve para coisa alguma.
Essa história guarda muita afinidade com uma conversa que tive recentemente com um médico.
Durante a consulta, ele me contou da necessidade inadiável de continuar estudando, pois, na área de especialização dele, nos últimos 10 anos, a ciência médica evoluiu muito, com muitas descobertas e novas formas de tratar inúmeras patologias, e quem estava trabalhando com base em paradigmas antigos poderia colocar em risco a vida de seus próprios pacientes.
Essas duas histórias formaram a matéria-prima básica para o post de hoje, pois a ela se agregam muitas outras situações que eu e você vivenciamos praticamente todos os dias: é impossível evoluir na vida se você não estiver disposto a aprender.
Mais exemplos
A tecnologia, e digo mais, a tecnologia móvel, é um exemplo bastante emblemático disso, não só porque a velocidade das transformações que ela imprime são muito aceleradas, como também porque a própria sociedade meio que nos “obriga” a absorver tais mudanças, requerendo de nós o emprego de energia mental e de força de vontade para acompanhar tais tendências, por meio da aprendizagem e da experiência.
Veja o exemplo dos meios de pagamento. Parece que estamos vivendo uma era de transição, a partir da qual nem mesmo portar fisicamente um cartão de crédito será necessário para fazer compras em estabelecimentos comerciais.
Outro dia mesmo fui numa farmácia e fiz a compra sem levar o cartão de crédito nem dinheiro. Usei apenas um app de celular, e paguei com o QR Code, para obter um desconto que somente era possível se eu usasse o app.
O procedimento não era dos mais triviais, já que, dentro do app, teria que usar ainda a opção do QR Code, que nada mais é do que apontar a câmera fotográfica do celular para uma imagem em código de barras gerada na tela do computador da farmácia, e, em seguida, confirmar o pagamento.
Para mim, que não tenho resistência ao uso de novas tecnologias, fazer toda essa operação de verdadeira “aprendizagem”, não foi um grande problema, mas imagina para as pessoas menos afeitas às novidades do mundo digital. Será que elas estariam dispostas a aprender todo esse processo para obter tal benefício?
Vou dar outro exemplo. Um amigo utiliza bastante o carro porque tem filhos pequenos, e tem gastos consideráveis de combustível para ir ao trabalho e levar/pegar os filhos na escola.
Dei a dica de que ele poderia economizar combustível se abastecesse em um posto X usando o app do celular, mediante o uso de cupons de desconto que esse app regularmente oferecia.
Como ele e a esposa vão frequentemente ao posto, falei que eles poderiam dobrar o potencial de economia instalando o app em cada celular.
A economia poderia chegar a mais de R$ 100 num único mês, em um item de gasto obrigatório no orçamento familiar deles.
Dei o passo a passo, imprimi um tutorial, tudo certinho… mas eles deixaram pra lá. Acharam tudo “muito complicado”. Não estiveram dispostos a aprender…

Se jogue ao novo
Ray Dalio, um dos maiores investidores do mundo, diz que uma das chaves do sucesso no trabalho dele é buscar saber aquilo que não sabe: “know that you don’t know a lot”.
Já falamos sobre isso aqui no blog antes (post aqui):
“Ele diz que a grande vantagem dele não é aquilo que ele sabe, mas sim que ele não sabe de muita coisa. Sabendo que não sabe, ele vai atrás das pessoas que sabem muito sobre aquela coisa que ele não sabe, a fim de aprender bastante, e, assim, diminuir o perigo que incorreria com as coisas que ele não sabia”.
Parece óbvio, não?
Mas é justamente por isso que as pessoas não vão atrás. Pior: mesmo sabendo, não vão atrás. Como no caso da pessoa que sabia como usar o app para obter descontos no combustível, mas que preferiu ficar na zona de conforto mental de não aprender, e, assim, não usufruir dos benefícios que o aprendizado proporciona.
Será que você também não se encontra em uma situação parecida? Será que o motivo de você não estar evoluindo em seu trabalho não se deve a uma preguiça mental de não querer aprender mais, de não querer descobrir meios de fazer mais e melhor gastando menos tempo e energia?
Será que o motivo de suas finanças não estarem do jeito que você gostaria se deve ao fato de você até hoje não ter elaborado uma planilha de orçamento doméstico?
Será que o motivo de seu patrimônio não estar rendendo tanto se deve ao fato de você não querer aprender mais sobre investimentos, restringindo-se somente à poupança e à prestação do imóvel?
Veja que interessante: até mesmo no campo das finanças pessoais e investimentos, que é o tópico por excelência desse blog, há coisas novas a aprender.
Você pode aprender sobre como melhorar a análise de sua carteira de investimentos, usando um benchmark diferente do CDI, como explicamos semana passada.
No lado dos passivos, você pode aprender – ainda que não vá utilizar – sobre uma nova forma de crédito imobiliário, com juros prefixados + IPCA, em vez de juros prefixados + TR, e analisar se essa nova modalidade de financiamento imobiliário pode ou não valer a pena.
No lado dos passivos, ainda, você pode aprender sobre como comprar produtos mais baratos, sobre como escolher cartões de crédito que deem mais benefícios, sobre como eliminar dívidas pagando menos juros…
Quanto ao controle do orçamento doméstico, você pode adotar novas estratégias para aumentar as sobras do salário, estar por dentro de novas dicas para economizar, e fazer seu dinheiro render mais.
Tudo que perpassa seu campo cognitivo é passível de melhora. Praticamente qualquer área de sua vida pode evoluir, se você estiver disposto a experimentar o novo, sair da preguiça e da zona de conforto.
Pague o preço do estudo, porque a ignorância – e todo o conforto que ela proporciona – não compensa.
Conclusão
Praticamente todos os aspectos de sua vida são passíveis de melhoria, se você reclamar menos e estiver disposto a aprender mais, que, por consequência, fará você agir mais.
Não se prenda a velhos modelos de conduzir a vida e fazer as coisas. Pelo menos experimente novas ideias que surgem, nem que essa experiência ocorra ao nível puramente mental, a fim de analisar a viabilidade delas para a sua vida.
Sobretudo, não seja uma pessoa preguiçosa. A preguiça é negativa e prejudicial à sua vida, porque te priva de conquistar benefícios futuros, ao custo de ter um benefício presente (o conforto proporcionado pela inércia).
Aprender muitas vezes dói, pois seu cérebro é um órgão concebido pela natureza para conservar energia, e aprender, treinar, estudar, consome energia.
Termino esse texto com uma frase que eu li na Internet, mas que se encaixa muito bem nos propósitos do artigo:
“Treine enquanto eles dormem
Estude enquanto eles se divertem
E viva aquilo que eles sonham”.
Boa semana!
Que bom começar a semana com um texto tão inspirador. Obrigado, Guilherme.
Sobre a situação que você passou com o amigo e a esposa, saiba que é bastante comum, também já passei por isto. Inclusive em outros aspectos da vida, além do financeiro.
Quer um exemplo pessoal? Nos últimos meses, passei por uma profunda reeducação alimentar (low carb, pra ser mais exato) que me fez perder 10 quilos. Os amigos quando me encontram, logo perguntam qual foi o “segredo”. Quando começo a falar que basta cortar/reduzir trigo e açúcar, o que implica em modificar hábitos alimentares (evitar pão e massas, tirar o açúcar do café, etc), percebo de imediato o desinteresse das pessoas e vem o discurso “muito complicado”.
As pessoas querem o bônus (melhora da vida financeira ou saúde) sem o esforço da aprendizagem e das mudanças nas escolhas do dia a dia.
Sei que gera uma frustração interna em nós, afinal gastamos tempo e esforço ensinando, mas não desanime, afinal somos milhares aqui no blog colocando em prática seus valores reais.
Obrigado pelas palavras, Fernandes!
E parabéns pelos resultados alcançados mediante esforço e aprendizagem em sua própria vida!
Gostei particularmente desse trecho, que bem resume o ponto-chave da equação aprendizado/resultados:
“As pessoas querem o bônus (melhora da vida financeira ou saúde) sem o esforço da aprendizagem e das mudanças nas escolhas do dia a dia.”
Para ter o bônus, as pessoas precisam enfrentar os ônus! Muito bom!
Abraços!
Guilherme,
“Pague o preço do estudo, porque a ignorância – e todo o conforto que ela proporciona – não compensa.”
Sua frase, aliás, o post inteiro ficou perfeito e muito inspirador.
Em relação a tecnologia, nem todos estão dispostos, como o exemplo do seu casal de amigos. Há muitas pessoas que ainda preferem pagar as contas em agências bancárias, enfrentar filas para sair com um comprovante nas mãos.
Fico pensando: quanto tempo desperdiçado com uma atividade que poderia ser resolvida em casa, me menos de 5 minutos…
Boa semana!
Realmente, Rosana, eu frequentemente passo em frente às agências lotéricas, e vejo que elas passaram a praticamente a se tornarem agências bancárias.
Um gasto de tempo que poderia ser muito bem economizado em atividades mais produtivas/enriquecedoras.
Boa semana também!
“Treine enquanto eles dormem
Estude enquanto eles se divertem
E viva aquilo que eles sonham”.
Conheço uma musica do papa maike la no youtube igual haha
rsrsrsrs….. baita coincidência!
Eu acho que toda tecnologia deve ser avaliada. Nem tudo que é moderno é bom ou é bom pra todo mundo. Aqui em Fortaleza, as empresas de ônibus estão obrigando a população a pagar com cartão(bilhete único). Metade da frota só aceita cartão. Sim, é isso mesmo, exclusivamente cartão, e a tendência é que daqui a alguns meses nenhum ônibus aceite dinheiro.
Gosto da agilidade no pagamento, mas não é de boa índole um prestador de serviço recusar moeda nacional. É uma contravenção penal também.
Outros problemas: e se o usuário perder o cartão momentos antes do embarque? Vai gastar tempo e dinheiro pra receber outro, porque essa tecnologia favorece muito mais a empresa do que o usuário.
Eles querem a modernidade pra eles. Pra quem usa, não. Caso contrário seria permitido a compra de um cartão pela internet. Não é aceito. A pessoa é que tem que sair de casa pra conseguir outro.
E em relação aos créditos, qual empresário não gostaria de receber pagamentos antecipados? Os do transporte urbano já recebem. O cartão é um incentivo pra que a pessoa compre passagens em valores altos, sendo que ele só vai usar todas daqui a um tempo, ou seja, ele está financiando a empresa com muita antecedência.
Gasta um pouco também de tempo pra buscar um local de recarga. O site só aceita pagamento com cartão de crédito(não tenho). Outro ponto negativo é que o site não informa o saldo do cartão.
Sobre o “app” de pagamento na farmácia, não seria vantajoso pra mim, pois não preciso de smartphone. Isso deixa algumas pessoas muito surpresas. Sei que sou estranho, mas é verdade, não gosto desses aparelhinhos, de seus teclados pequenos nem de abaixar a cabeça pra digitar.
Minhas contas são pagas por internet banking através de desktop ou com cartão de débito. Quando sou obrigado a instalar algum aplicativo de Android, faço isso no Nox Player que é um emulador de celular.
Paulo, ótimas as suas reflexões!
No caso específico da empresa de ônibus aí em Fortaleza, de fato eles deveriam facilitar, ao invés de complicar.
O pretexto da tecnologia pode esconder os reais interesses por trás da inflexibilidade da empresa, que poderia pelo menos permitir a compra do cartão pela Internet.
Abraços!
Perfeito o texto, Guilherme! Concordo absolutamente com tudo.
O que me fez pensar de tudo isso é como o tempo livre torna-se ainda mais necessário para manter nossas atividades “competitivas e viáveis” em todas as áreas da vida.
Precisamos tempo para procurar novas formas de fazer as coisas, aprender, analisar, treinar e praticar. E, se as pessoas continuam em sua corrida de ratos, não conseguirão doar seu tempo para isso, e ficarão cada vez mais para trás.
Pode parecer injusto: quem tem mais tempo tende a estar cada vez mais na frente, quem tem menos, ficar para trás. Mas, como seus textos sempre mostram, isso é muito mais uma questão de decisão pessoal, não um karma.
Cada um de nós pavimenta a estrada de seu futuro de uma forma diferente.
Ah, e a sacada do Dalio é sensacional, hein? Quanto menos sabemos, maior nosso potencial. Na veia!
Grande abraço!
André, ponto muito bem observado esse relativo à questão de ter tempo livre para aprender e absorver todo o processo de mudança dinâmica hoje em dia.
E isso acaba sendo mais um motivo para persistir na luta pela independência e liberdade financeiras.
Abraços!!
Bela reflexão
Obrigado
Que coisa, sempre vejo sua postagem na segunda pela manhã, e essa semana estou vendo só agora (quinta-feira), só que nunca recebi tanta inspiração como a desse post. Estou nessa fase de quase desistir de uma coisa por causa do desconhecido, e o texto trouxe um fôlego!
Valeu!
Olá Guilherme
Ótimo texto, parabéns. Precisamos aprender coisas novas sempre. Um forte abraço.