No excelente guest post de hoje do Tiago Reis, da Suno Research, será abordada a temática dos investimentos em títulos do Tesouro Direto, em face da mais recente queda da taxa SELIC, agora no patamar de 6% a.a.
Será que, com a queda da SELIC, ainda vale a pena investir em títulos do Tesouro Direto?
Essa era uma pergunta enviada a mim pela leitora Alexssandra:
“Acompanho seu blog Valores Reais há cerca de um ano e gosto muito, não deixo de ler uma semana sequer.
Gostaria de tirar uma dúvida.
Gostaria de saber o que muda nessa queda da taxa Selic, para pequenos investidores, no caso quem investe em Tesouro Selic (reserva de emergência).
Nos ajudem por favor.
Muito Obrigado e parabéns pelo excelente trabalho com finanças.
Alexssandra”
Pois bem, Alexssandra! O Tiago Reis, da Suno Research, parece que leu seus pensamentos, e, no artigo de hoje, entrega um texto completíssimo sobre os reflexos da queda da taxa SELIC para quem investe no Tesouro Direto. Vale a pena? Continua valendo a pena? Não vale? Muda alguma coisa?
Essas e outras perguntas serão respondidas ao longo do texto.
Acompanhem!
………………………….
“O brasileiro, durante muito tempo, se acomodou com as aplicações em títulos públicos e em renda fixa. Nesse período, o Brasil lutava para sair dos míseros 0,5% da população investindo na renda variável, enquanto algumas economias contavam com até 50% da população nessa classe de investimento.
Mas este cenário está mudando. Agora, os brasileiros parecem estar, finalmente, passando a investir na Bolsa de Valores, o que pode ser visto no crescimento exponencial do número de investidores ativos na renda variável.

A curva de crescimento acima demonstra investidores tentando buscar retornos melhores fora da renda fixa, em um contexto de juros nos menores patamares históricos. E é exatamente isso que acontece em economias com baixas taxas de juros: o tímido rendimento dos títulos públicos direciona a população para a Bolsa.
Rentabilidade histórica da renda fixa
Que a verdade seja dita: o brasileiro foi mal acostumado pelos retornos desproporcionais de aplicações de renda fixa. Essa situação foi construída ao longo de um histórico de taxas de juros altíssimas na economia brasileira, como pode ser observado no gráfico abaixo:

Como consequência disso, a maioria dos poupadores do Brasil se acomodaram por muito tempo em aplicações de poupança rendendo satisfatórios 0,5% ao mês. Os mais ousados ainda buscavam CDBs, títulos do Tesouro Direito e outros títulos privados para ganhar ainda mais com os juros da economia, mas estes investidores eram minoria.
A recente queda dos juros
Contudo, o cenário de juros altos passou. Por isso, ganhar dinheiro na renda fixa e no Tesouro Direto não será mais tão fácil assim.
Nesse sentido, quando retiramos a inflação e os impostos do rendimento dos títulos públicos, vemos que o que sobra de juro real não se compara com os juros antigamente, os quais chegavam à casa das dezenas.
Entretanto, mesmo estando nos menores patamares históricos, o juro da economia brasileira continua sendo um dos maiores do mundo. Ou seja, na realidade o problema está no nosso costume com as taxas exageradamente elevadas.
Para se ter um exemplo, é difícil para o brasileiro imaginar taxas de juros reais negativas. Isto é, ficamos céticos em imaginar o governo pegando dinheiro emprestado pelo Tesouro por menos que a inflação. Mas esta é a realidade de diversos países que contam com taxas de juros reais negativas ou próximas de zero.
No gráfico abaixo, é possível observar a taxa básica de juros nominal dos últimos 10 anos de alguns países, com o Brasil se destacando pelo alto yield dos títulos públicos:

Ademais, além de entender que nossos juros ainda são elevados mesmo nos menores patamares históricos, precisamos também reconhecer que esse cenário de redução da taxa básica adveio de um momento de maior equilíbrio para a economia brasileira.
Novas perspectivas para a economia brasileira
A redução da taxa básica de juros não é mera discricionariedade. Esse movimento mostra que o Brasil tem sido um país mais estável e seguro para se investir. Isto devido aos esforços para a melhoria da situação fiscal por meio das reformas.
Ou seja, o prêmio de risco menor representa um país que tem se esforçado para a simplificação econômica e que está preocupado com o orçamento e com a dívida pública.
Devido a essa sinalização do Brasil para os investidores e para o mundo, mais investimentos virão, trazendo também mais renda, empregos e impostos para o governo.
E por mais que esses fatos não se reflitam positivamente no rendimento das aplicações de títulos públicos, a população se beneficia com seus efeitos. Isto é, aproveita do aumento do poder de consumo, da inflação controlada, da abertura de vagas de emprego e da maior certeza fiscal do país.
Mesmo com os juros baixos, ainda vale a pena investir no Tesouro Direto?
Levando em consideração todo esse cenário, uma pergunta inevitável aparece: será que ainda há espaços e razões para investir nos títulos do Tesouro Direto, mesmo com o movimento dos juros que parece ter chegado para ficar?
Sem dúvida, investir em títulos públicos continua fazendo sentido, afinal eles representam aplicações seguras, acessíveis e fáceis de se investir. Contudo, o Tesouro Direto não será mais conhecido pelos altos rendimentos acima da inflação.
Em outras palavras, a aplicação junto ao tesouro Tesouro será mais uma ferramenta para investir reservas de emergência, focadas em liquidez, por exemplo, do que um investimento de multiplicação de capital.
Por isso, a população deve aproveitar desse novo contexto de baixos rendimentos da renda fixa para buscar novas formas de fazer seu dinheiro render, investindo, por exemplo, em ações e fundos imobiliários.
Isso porque esses ativos serão os que mais se beneficiarão nesse novo contexto de juros mais baixos. Afinal, empresas poderão comercializar mais, tomar empréstimos com juros menores, aumentar os investimentos e, consequentemente, lucrar mais. Esse lucro maior, inevitavelmente, se refletirá nas cotações e nas distribuições de dividendos.
Ademais, a redução dos juros reduz a taxa de desconto para todos os ativos, além de criar um incentivo para investidores profissionais correrem risco para atingir suas metas de rentabilidade de curto prazo. Assim, mais aceitação de risco resulta em maior demanda por ações, e quanto maior essa demanda, maiores as cotações da Bolsa.
—
Sobre o autor: Tiago Reis é formado em Administração de Empresas pela FGV e tem mais de 15 anos de experiência no mercado financeiro. Foi sócio-fundador da Set Investimentos e é fundador da Suno Research, casa de análise de investimentos independente voltada para investidores individuais.
Olá, Agradeço a perfeita explicação ! Adorei a matéria
Acho que terei que começar a me arriscar mais rs
Obrigada e obrigada
Eu é quem agradeço, Alexssandra!
Os leitores têm ótimas sugestões de pautas, que muitas vezes viram excelentes artigos, como o do tópico!
Prezada Alessandra,
Sim, terá que se arriscar um pouco mais para maiores rendimentos. Porém, conforme a pergunta, ainda vale deixar uma parte na RF para sua reserva de emergência.
Digo mais, melhor para emergência é a Poupança, onde o saque é imediato, já que dependendo da emergência vc vai precisar dessa grana na hora e não em D+1
Essa reserva não é pra especulação em mercado e muito menos para busca de rentabilidade. Como o nome já diz é para uma emergência.
Sendo assim, se tiver alcançado a quantia necessária para te deixar confortável em caso de uma emergência, aí sim, deve partir para outros produtos.
E tem a reserva para oportunidades, que sempre aparecem.
Para D+0 existem fundos de renda fixa com essa característica e rendem bem mais que a poupança.
Pesquisando se vai longe.
Reserva de oportunidade já é outro tema.
Com certeza, mas como a matéria é se o TD Selic ainda tem utilidade, já apresentei mais uma.
O problema Sandro é que emergências não tem agendamento para acontecer e podem vir aos finais de semana. Nesses dias, nem TED da corretora pra sua conta vc consegue fazer
Concordo YNVES. A maioria dos atuais analistas demonizam a poupança. De fato, ela não deve ser encarada como investimento. Entretanto, qual rentabilidade paga a sua tranquilidade? Qual é o retorno que paga a paz que te dá saber que tem uma reserva e que pode usar ela de imediato, inclusive Aos fim de semana?
Que legal esse post, Guilherme!
Eu gosto muito dos artigos e das lives do Tiago e do Barone da Suno. 🙂
Valeu, Rosana!
Os artigos do Barone também são ótimos!
Buenas tardes! Em relação ao chasque (post) acima, realmente passou o tempo que se ganhava muito dinheiro em renda fixa….. e nos lançamentos de Fundos Imobiliários, na corretora onde aplico, a procura é tão grande que há rateio e os valores efetivamente alocados nestes produtos, são bem menores….
Vou tentar acrescentar um pouco…….Gosto muito desta colunista do Jornal do Comércio de Porto Alegre – a Márcia Dessen. Na edição de segunda-feira, dia 05 de agosto ela trouxe o assunto a tona….. títulos públicos prefixados: deixar aplicado até o vencimento…. ou vender antes do vencimento pois os rendimentos são ótimos. Levei esta chasque (coluna) para o meu modesto blog e também estou tomando a decisão em vender….. e realocar o valor da venda….: https://obolsodabombacha.blogspot.com/2019/08/renda-fixa-supera-ganho-na-bolsa.html
Baita abraço
Ótima dica, Valdemar!
Também gosto muito da Márcia Dessen, e concordo com as recomendações dela.
Baita abraço!
pra mim vale como mais um item de diversificação
abs!
Sim, uma diversificação saudável.
Infelizmente vejo TD igual a aplicação em poupança, só serve para reserva de emergencia ou então como reserva de oportunidade… a festa parece que acabou mesmo e todos teremos que suar a camisa daqui pra frente. A parte boa é que o céu é o limite para a RV!
Sr.IF
http://www.srif365.com
Verdade, SrIR!