Hoje o blog Valores Reais tem o orgulho de apresentar mais um guest post de um de seus qualificados parceiros de conteúdo.
Trata-se de mais um artigo de caráter educacional, dedicado a orientar e formar investidores, e focado nas especificidades do mercado de ações no Brasil, comparativamente ao resto do mundo. O texto é de autoria do Tiago Reis, fundador da casa de análise Suno Research, que muitos leitores do blog já devem ter ouvido falar, ou mesmo serem assinantes.
Ao longo dos últimos anos, o Brasil viveu um período de crescimento e consolidação das casas de análise, e um dos diferenciais da Suno, e consequentemente do trabalho do Tiago, é educar e formar investidores individuais, com seriedade, e sem sensacionalismo.
Pode-se até afirmar que existe uma afinidade muito grande na filosofia e nos princípios de investimentos entre o que defendemos no blog Valores Reais e o que a Suno Research produz em conteúdo para seus leitores, principalmente no que tange à importância da aquisição da educação financeira antes de se começar a investir.
Sempre batemos nessa tecla, como pode ser vislumbrado nesse artigo.
Em face desse compartilhamento de valores e de ideias comuns, essa parceria que hoje se inicia trará ótimos frutos ao conhecimento dos leitores, que poderão ler aqui conteúdo inédito e de qualidade produzido pelo Tiago e pela Suno.
Bom, e o texto de hoje não poderia ser mais apropriado, pois voltaremos a falar de um assunto que está “na ordem do dia”: Bolsa de Valores.
Como o Ibovespa está passando por um momento de euforia, com recordes sendo batidos, é interessante entender os motivos pelos quais investir no mercado de ações brasileiro pode ser interessante para seu acúmulo de patrimônio e formação de reservas financeiras para a aposentadoria.
Quais são os pontos positivos da Bolsa brasileira, comparado, por exemplo, às Bolsas europeias e norte-americana? E quais são seus pontos negativos? O que dá para ser melhorado no Brasil, para atrair mais investidores para o mercado acionário?
Essas e outras perguntas serão respondidas ao longo desse texto.
Acompanhem!
……………………………….
“A bolsa brasileira possui diversas características que lhe tornam única. Apesar disso, muitas pessoas acreditam que investir em empresas brasileiras é um mau negócio ou algo arriscado. Esse pensamento advém da crença de que tudo do Brasil é ruim e de que estamos sempre atrás das economias desenvolvidas.
Felizmente, essa crença não possui fundamentos quando o assunto é o mercado acionário brasileiro. Isso porque confiar nas empresas brasileiras por meio de participações acionárias foi, historicamente, um ótimo negócio até agora.
Mas o que faz do mercado brasileiro um ambiente diferente do restante dos países? Essas diferenças são mais positivas ou negativas? Para conhecer isso, vamos conferir ponto a ponto algumas das características do mercado acionário brasileiro, destacando em que fatores ele se diferencia dos mercados estrangeiros.
Peculiaridades da bolsa brasileira: pontos positivos
A bolsa brasileira possui diversas peculiaridades frente outras bolsas do mundo. A maioria delas são bastante positivas para os investidores. Eis as três principais:
1. Histórico de rentabilidade
Aqui está a primeira diferenciação do mercado brasileiro: a rentabilidade da nossa bolsa do Brasil foi superior ao Dow Jones, um dos principais indicadores do mercado norte-americano.
Por isso, investir nas maiores empresas brasileiras foi, historicamente, mais vantajoso do que investir nas maiores e mais importantes empresas dos Estados Unidos. A comparação entre o Ibovespa e o DJI pode ser observada no gráfico a seguir, feito em base 100 e baseado em dólar para os dois índices:

2. Volatilidade
Aproveitando o gráfico acima, podemos constatar outra importante peculiaridade da nossa bolsa: a alta volatilidade.
De fato, o rendimento histórico brasileiro foi superior à rentabilidade da bolsa da maior economia do mundo. Contudo, vale ressaltar que o caminho que percorremos como investidores foi, sem dúvida, mais árduo: a bolsa brasileira foi essencialmente mais volátil tanto positivamente quanto negativamente.
Em outras palavras, os rendimentos nos anos bons foram fenomenais, e nos anos ruins; péssimos.
3. Tributação
Outra importante diferenciação do investimento em renda variável no brasil é a existência de alguns benefícios fiscais.
Nesse sentido, existem dois grandes incentivos:
A) Isenção de imposto de renda sobre dividendos
No que se refere ao primeiro incentivo, costumamos ver especialistas dizendo que a tributação dos dividendos seria, na realidade, uma bitributação.
Isso porque as empresas já pagam imposto de renda de pessoa jurídica na faixa de 34% sobre o lucro. Então, tributar a distribuição dos dividendos significaria tributar esse lucro duas vezes.
Contudo, a maioria dos países não vêm essa questão tributária dessa maneira. O Estados Unidos, por exemplo, tributa as distribuições de lucro em até 30%, dependendo do estado. Além disso, no mercado acionário europeu esse imposto pode ultrapassar até os 50%, como pode ser visto no infográfico:

Portanto, por termos essa isenção de imposto sobre dividendos, as empresas brasileiras acabam distribuindo mais os lucros para os acionistas em relação às companhias estrangeiras.
Dessa forma, o dividend yield das empresas brasileiras, em geral, é robusto comparado a esse mesmo indicador das companhias americanas e europeias.
Nesses outros países, as empresas costumam preferir as recompras de ações do que as distribuições de dividendos. Isso porque a recompra é uma outra forma de remunerar o acionista, mas sem a incidência de tributos.
B) Isenção de imposto de ganho de capital até o limite de 20 mil reais negociados no mês
Outro incentivo fiscal que podemos usufruir no mercado acionário brasileiro é a isenção do imposto de ganho de capital. Isto é, até o limite de 20 mil reais negociados em ações por mês o investidor está livre de qualquer tributo, independente do lucro.
Esse estímulo começou a valer a partir de junho de 2005, e desde então o teto de isenção não foi atualizado. Apesar dessa falta de reajuste, o Brasil se destaca frente aos outros mercados acionários por possuir tal isenção.
Peculiaridades da bolsa brasileira: pontos negativos
Porém, alguns aspectos negativos que prejudicam os investidores continuam existindo, e representam pontos onde o mercado brasileiro ainda precisando melhorar. Os dois principais são:
1. Número de empresas e investidores
Outro ponto peculiar do mercado acionário brasileiro é o pequeno número de investidores que temos aqui. Nesse sentido, vemos que a porcentagem da população economicamente ativa que investe em empresas brasileiras na Bolsa está próxima de 1%. Por outro lado, em países desenvolvidos o número de investidores chega a 50%.
Essa situação é consequência das altas taxas de juros que tivemos no Brasil nas últimas décadas. Ou seja, os juros reais da economia foram desproporcionais, deixando o brasileiro, de certa forma, mal acostumado.
Em outras palavras, o rendimento exagerado da renda fixa não incentivou novos investidores de entrarem para a Bolsa.
Além disso, outro destaque negativo que diferencia a bolsa brasileira é o número de empresas listadas. Temos cerca de 350 companhias sendo negociadas, enquanto nas bolsas estrangeiras esse número chega à casa dos milhares.
Para se ter uma ideia de como esse número é pequeno, a bolsa de valores de Londres e de Nova York possuem mais de 2.000 empresas listadas.
2. Volume transacionado
Em linha com a menor quantidade de empresas e de investidores, o volume transacionado na bolsa brasileira também é tímido perto de outras bolsas mundiais: 2,5 bilhões de dólares no Brasil contra mais de 150 bilhões na bolsa de Nova York.
A título de comparação, os 2,5 bilhões negociados por dia no Brasil representam menos que o volume de negociação das ações do Facebook na bolsa americana, como pode ser visto no quadro abaixo:

Qual é o futuro do mercado acionário brasileiro?
Apesar desses últimos pontos negativos, pode-se observar que investir na bolsa brasileira foi, historicamente, muito vantajoso. De fato, passamos por períodos com mais volatilidade, contudo no longo prazo o investimento nas empresas brasileiras foi um excelente negócio.
Ademais, acreditamos que o futuro do nosso mercado acionário é bastante promissor. Nesse sentido, as reduções das taxas de juros e a estabilização econômica têm atraído novos investidores e gestoras de capital estrangeiras para o Brasil. Dessa forma, a maior demanda por ações brasileiras promete melhorar ainda mais a rentabilidade e o acesso à Bolsa ao longo do tempo”.
……………………
Tiago Reis é formado em Administração de Empresas pela FGV e tem mais de 15 anos de experiência no mercado financeiro. Foi sócio-fundador da Set Investimentos e é fundador da Suno Research, casa de análise de investimentos independente voltada para investidores individuais.
Muito boa a comparação. Faltou apenas o custo das corretoras e da B3 daqui com outros paises.
No quadro comparando o volume das bolsas latinas com as ações dos USA, a LATAM aparece com o volume médio maior que o Brasil. Não entendi essa parte. Não seria o total?
LATAM – América Latina
Acho que refere-se à LATin AMerica e não à empresa aérea