Com a massificação e popularização da Internet e, por consequência, da distribuição de conteúdo pelos meios digitais, é inegável que o acesso à informação – e, no caso que nos interesse, à informação financeira – ficou muito mais fácil.
Porém, excesso de informação disponível nem sempre significa, na mesma proporção, que devemos ter a obrigação de aproveitar tudo isso para melhorar nossas vidas e nossas tomadas de decisões.
Em artigo publicado ano passado (link), abordamos o problema das assinaturas “de jornal” do século XXI: aqueles serviços digitais (streaming de mídias digitais, como Deezer, Kindle Unlimited etc.) de valores “módicos”, mas que acabam consumindo nosso tempo, nossa atenção e, por último mas não menos relevante, o nosso dinheiro, se visualizados os gastos a médio e longo prazo.
Hoje, quero tratar de outro tipo de “jornal” que vem ocupando um espaço crescente em nossas vidas, se não em termos de capital financeiro (afinal, muitos deles são gratuitos), mas principalmente em termos de capital de atenção, particularmente focando aquilo que mais interessa ao mundo dos investimentos: os calls diários de notícias financeiras.
O que são esses calls diários?
Basicamente, e de modo bem simplificado, são um resumo das notícias que movimentarão os mercados financeiros no decorrer do dia, notícias essas que podem influenciar na precificação dos ativos em Bolsa, câmbio, juros, commodities etc.
Esses calls têm de tudo que você possa imaginar: comentários sobre os indicadores financeiros que saíram no dia anterior e que vão sair no decorrer do dia – e acredite, todos os dias saem uma tonelada de indicadores financeiros – comentários sobre resultados e fatos relacionados às empresas, gráficos diários do Ibovespa com projeções de topos e suportes no intraday, notícias internacionais que podem mexer com os mercados etc. etc. etc.
Mas não é só isso.

Além dos calls de abertura, também temos os calls de fechamento, normalmente publicados no final da tarde, comentando tudo o que ocorreu no dia, e mais o que está por vir no dia seguinte.
E no dia seguinte o ciclo se repete, com mais uma avalanche de informações para “você se manter bem informado e tomar as melhores decisões para o seu dinheiro” (!!!???).
Não bastasses os calls publicados em sites de notícias, hoje em dia também temos os calls em vídeos: o YouTube tá cheio deles, publicados tanto por canais de notícias propriamente ditos, como também por casas de análise (researchs) e, claro, corretoras e bancos.
E, pra completar essa “fartura” de informação, agora temos também os calls diárias fornecidos em apps como Telegram e WhatsApp, também por corretores, casas de análise, agentes autônomos de investimentos etc.
A questão toda que fica é a real utilidade disso tudo para você, investidor pessoa física que não vive do mercado financeiro – que constitui 99% do público que lê esse blog.
Será que vale a pena gastar 5, 10, 15, 30 minutos diários de sua vida para entupir seu cérebro com esse tipo de informação? Que diferença irá fazer para seus investimentos a longo prazo saber que uma empresa “A” concluiu a aquisição da empresa “B”, ou que o Supremo irá julgar uma lei tributária “C” que pode diminuir a base de cálculo da COFINS, ou que o Banco Central Europeu irá manter política monetária de refinanciamento de bancos na Hungria durante os próximos 4 meses?
Disponibilidade de informação não quer dizer obrigatoriedade de assimilação dessa mesma informação. Simplesmente ignore. Menos é mais.
No começo de minha jornada da educação financeira e dos investimentos, eu achava o máximo fazer a leitura diária desses calls, ficava acompanhando pelo canal da Bloomberg Brasil o início da sessão diária do pregão de Wall Street (com aquele sininho e tudo o mais), lia o Infomoney de cabo a rabo, mas com o tempo…
… com o tempo fui percebendo que tudo isso era desnecessário. Ocupa o tempo, ocupa o dinheiro, mas ocupa principalmente um de nossos capitais mais valiosos: o capital da atenção. Porque rouba nossa atenção. Nos conduz à distração. Nos faz perder o foco naquilo que realmente nos importa, que são as coisas e atividades que podemos controlar e, portanto, influenciar os resultados.
45 minutos diários gastos lendo, ouvindo e assistindo calls diários de notícias irrelevantes são 45 minutos diários que poderiam ser utilizados para fazer exercícios na academia, para estudar e se qualificar profissionalmente, ou simplesmente gastar com lazer em convívio com filhos ou amigos.
Conclusão
O estudo de investimentos sim, é fundamental, mas a leitura de informação diária descartável de curto prazo… não é tanto assim.
O que quero colocar em pauta aqui é: reflita sobre o modo como você vem gastando seu tempo. Reflita sobre em quê você está concentrando toda a sua atenção. Há coisas nas quais vale mais a pena concentrar seu foco? Então mude de hábitos.
A vida passa num piscar de olhos, e, sem você perceber, já estaremos às portas de 2020, ou da terceira idade (se você estiver na meia idade), ou do ingresso no mercado de trabalho (se você estiver iniciando a faculdade). Não perca tempo.
Ótima reflexão
Obrigado!!!
Obrigado, Marcos!
Perfeito! É um dos grandes desafios da nossa época: entre a avalanche de informações selecionar só aquilo que realmente fará diferença.
O tempo de se informar compete com o tempo de fazer. Se deixarmos, ocupamos muito do nosso tempo em ler sobre dinheiro, e pouquissimo tempo em ganhar dinheiro.
Vale para outras áreas da vida tbem. Se a pessoa decidir que quer perder algum peso, é natural que leia alguma coisa sobre o assunto, para se informar. Mas se não brecar o fluxo enorme de informaçao, esse tempo gasto em se informar impede que haja tempo para ir ao mercado comprar os legumes/verduras necessários, preparar refeições equilibradas, fazer atividade fisica, etc.
Conheço algumas pessoas que sabem tudo sobre organização. Os métodos, os autores, os blogs. E mesmo sabendo tanto sobre organização, seus armários continuam um caos…
haha excelente Vania. A carapuça serviu aqui! Sucesso minha amiga!!!
Vania, excelente depoimento.
Gostei especialmente desse trecho:
“O tempo de se informar compete com o tempo de fazer. Se deixarmos, ocupamos muito do nosso tempo em ler sobre dinheiro, e pouquissimo tempo em ganhar dinheiro.”
Mais um artigo excelente. Recentemente entrei em marcado variável e assinei uma casa de análise achando aquilo o máximo, depois de 10 dias pedi para cancelar e receber o estorno (havia promoção de 14 dias de teste). O volume de informação é colossal e, eu que faço UMA compra no mês, não precisava de saber daquilo tudo. Antes utilizava o tempo de leitura para resolver questões de concursos em um site, depois que passei a ler essas morning calls percebi que meu desempenho diminui, isso porque eu já levantava e resolvia algumas questões, então já começava meu dia me condicionando a estudar, depois que comecei a ler as calls parei por completo de usar tempos vagos para estudar e só queria mais. Percebi a tempo quando meu controle no excel acusou o fraco desempenho em volume de questões resolvidas diárias. Enfim, o foco deve ser em se capacitar para aumentar os aportes. Isso sim traz resultados concretos. Acho que foi no seu blog que eu li em um artigo a mensagem de que o que importa são os aportes, tem quem fique em uma boa condição com poupança e tem que não fica bem com ações e renda fixa. O que diferencia os dois? Os aportes… Abraços meu amigo. O blog continua um sucesso!!!
Excelente testemunho, Rafael!
Enfatizo esse ponto de seu comentário:
“Enfim, o foco deve ser em se capacitar para aumentar os aportes. Isso sim traz resultados concretos.”
Verdade. O importante é injetar massa no acúmulo de patrimônio, o que tem tudo a vez com o que disse a Vania: gastar tempo para ganhar dinheiro, e não simplesmente ler sobre dinheiro.
Obrigado, e grato mais uma vez pelas palavras!
Excelente texto. Tem toda razão. O importante é filtrar a informação.
Obrigado, Ynvest!
Guilherme,
Gostei do seu post, tem muita relação com o que postei ontem com o título de Obesidade Mental. Se quiser ler, coloquei o link no meu nome.
Além das notícias financeiras, será que o excesso de informação e de conexão não está trazendo mais malefícios do que benefícios, já que o tempo gasto poderia ser utilizado com atividades que tenham mais a ver com a essência, personalidade e objetivos de cada um?
Acredito que o conhecimento é bom, útil e necessário, mas poderia ser melhor selecionado, pois estamos nos tornando obesos mentais sem perceber.
Boa semana!
Verdade, Rosana.
O seu texto vai ao encontro da mensagem exposta nesse aqui.
E toda obesidade, todo excesso, é ruim. Entope a vida, encurtando-a.
Boa semana também!
Guilherme,
Excelente post. Tem muito a ver com minha postagem de ontem: Obesidade Mental.
Assim como nas finanças, acredito que não precisamos de tantas informações em outras áreas também. Se pudéssemos visualizar a quantidade de tempo que acabamos “jogando fora” durante toda a vida com informações inúteis à nós, acredito que ficaríamos horrorizados. Por isso, precisamos filtrar o que realmente importa à cada um de nós para não nos perdermos no mar de distrações e ilusões de informações, redes sociais, etc.
Obs: fiz um comentário, mas como não apareceu, estou postando esse outro.
Boa semana!
Gostei desse trecho:
“Se pudéssemos visualizar a quantidade de tempo que acabamos “jogando fora” durante toda a vida com informações inúteis à nós, acredito que ficaríamos horrorizados.”
É mais ou menos como o controle do tempo numa planilha. Só enxergando “com nossos próprios olhos” (com o perdão da redundância) o modo como gastamos o tempo é que passamos a tomar medidas mais eficazes para distribui-lo melhor.
Não conhecia esses calls de notícias (ou pelo menos não sabia que é assim que eles são chamados), mas não poderia estar mais de acordo com a sua avaliação desse fenômeno.
Uma coisa que eu acho importante ressaltar, e que torna ainda mais grave dar atenção a esse avalanche de informações, é que não se trata apenas dos 15 minutos diários que se passa diretamente exposto a essas notícias.
Antes fosse. Porque todos esses fatos e especulações ficam rondando a cabeça da pessoa mesmo quando ela acha que ela nem perceba, e fazem com que ele/ela gaste uma quantidade enorme de energia mental (e, consequentemente, energia física também).
Muito bem lembrado, Henrí!
Esse efeito residual das notícias do momento é péssimo, pois elas ainda ficam zanzando em nossas memórias ativas, nos perturbando e, por consequência, atrapalhando no raciocínio e nas demais atividades que requerem foco.
Energia mental é uma coisa muito séria, muito cara, mas também muito desprezada pela sociedade atual.
Obrigado por usar a expressão “efeito residual”. É exatamente o que eu queria ter expressado no meu comentário (onde acabei usando muitas palavras, e ainda por cima cometi alguns erros de português consideráveis). Abrçs!
Valeu, Henrí!
Quanto aos erros de português, li e reli seu comentário, e não achei erro algum. 😉
Interessante que, relendo agora, talvez a rigor o único erro mesmo tenha sido “esse avalanche”.
Mas tem também o “mesmo quando ela acha que ela nem perceba”. Não sei se foi um erro, mas teria sido melhor ter usado “percebe”.
Agradeço pela oportunidade de fazer essa autorrevisão gramatical. 🙂
Henrí, são apenas pequenos detalhes que não tiram o brilhantismo do comentário. 😉
Aliás, eu acho uma tarefa bem difícil avaliar textos, do ponto de vista gramatical e ortográfico, pela tela do computador.
Às vezes eu prefiro ler no papel, pois parece que nossa atenção se fixa de maneira mais forte.
Abraços!
Realmente, não tem por que se torturar por causa dessas coisas.
Interessante que você ache mais difícil revisar um texto no computador do que no papel. Me lembrei de uma citação que geralmente é atribuída a Monteiro Lobato:
“A luta contra o erro tipográfico tem algo de homérico. Durante a revisão os erros se escondem, fazem-se positivamente invisíveis. Mas, assim que o livro sai, tornam-se visibilíssimos, verdadeiros sacis a nos botar a língua em todas as páginas. Trata-se de um mistério que a ciência ainda não conseguiu decifrar.”
kkkk….. ótima essa citação do Monteiro Lobato.
Em relação às dificuldades de revisar no computador, talvez isso se deva à minha formação pré-tecnológica, digamos assim.
Só comecei efetivamente a usar computadores lá por meados da década de 90, quando tinha 15 ou 16 anos. Até então toda minha formação e todas as minhas leituras eram concentradas em material de papel – livros, jornais, revistas etc.
Por alguma circunstância ainda não decifrada pela ciência, consigo ficar mais atento aos erros de grafia/gramática/coesão, quando vejo as coisas diretamente no papel. A conexão sujeito-objeto parece ser mais forte nessas horas. Não se explicar bem o motivo.
Talvez também por isso ainda não abdiquei totalmente dos livros de papel. Tenho e uso o Kindle, acho ótimo ter livros sempre à mão, mas quando quero me aprofundar num assunto, não hesito em comprar o livro de papel.
Faz volume, ocupa espaço em casa, não é tão fácil de transportar…. mas pô, é um livro tangível, em que posso grifar, fazer anotações à mão, sublinhar, rabiscar, destacar e tudo o mais.
Cara, fantástico saber mais da sua história. Acho que a palavra-chave do seu comentário é “tangível”. Tudo que envolve mais o toque (E também outros sentidos, como o olfato. Quem nunca cheirou livro novo?) tem mais chance de se fixar na nossa mente do que algo que está simplesmente enquadrado numa tela.
Gosto muito de ler no computado, porque fico com as mãos livres para fazer minhas observações a qualquer momento. Ainda estou pra experimentar um Kindle, mas suponho que seja ótimo para leituras menos densas.
Opa, valeu Henrí!
Você disse bem: tudo o que envolve mais os sentidos (olfato, tato, audição etc.), têm mais chances de nos causar impressão e, assim, absorver melhor o conteúdo.
Quanto ao Kindle, é bem por aí: para leituras de lazer, do tipo entretenimento, ele é uma mão na roda – livros de ficção se encaixam bem nesse conceito.