Os últimos dias foram marcados por uma polêmica envolvendo a (já não tão) boa, e velha, renda fixa.
Tratava-se de um embate comparando os rendimentos líquidos, no curto prazo (até seis meses da aplicação) do Tesouro Selic, que é o investimento em teoria mais seguro do mercado brasileiro, e a tradicional caderneta de poupança.
No curto prazo, a caderneta de poupança estava apresentando rendimentos líquidos ligeiramente maiores que aqueles apresentados pelo Tesouro Selic, na casa dos décimos e centésimos por cento.
Isso se devia, basicamente, ao spread cobrado nos títulos do Tesouro Selic, isto é, ao fato de o Tesouro Selic nem sempre pagar a variação exata da taxa SELIC no vencimento, como explicado nesse artigo.
Apesar de, nos patamares atuais da taxa SELIC, a caderneta pagar apenas 70% fixos da taxa SELIC + a variação da TR (que atualmente é zero), o Tesouro SELIC sofre com o desconto do imposto de renda na sua alíquota mais alta, de 22,5%, para resgates em até 180 dias da data da aplicação, o que, aliado ao famigerado spread, poderia gerar essa anomalia: perder para a modestíssima caderneta de poupança.

Para evitar – na verdade, corrigir – esse problema, o Tesouro Nacional implementou, a partir de 5 de abril de 2019, uma mudança muito importante no Tesouro Selic, reduzindo o spread de 0,04% para 0,01%.
Confiram a nota oficial emitida pelo Tesouro:
“O Tesouro Direto dá mais um passo importante na redução dos custos de aplicação no Tesouro Selic; mudança faz parte de um contínuo processo de melhorias.
O Tesouro Nacional está reduzindo a diferença entre a taxa de investimento e a taxa de resgate – conhecida como spread de compra e venda – do Tesouro Selic de 0,04% para 0,01% ao ano (ou 1 ponto-base). Essa alteração é parte do contínuo processo de aprimoramentos no Tesouro Direto e terá como resultado a redução dos custos de aplicação para o investidor e, consequentemente, o aumento de sua rentabilidade líquida.
O spread justifica-se pela necessidade de evitar que as oscilações dos preços praticados no mercado secundário, que servem de referência para o Tesouro Direto, resultem em perdas para o investidor ou para o Tesouro Nacional.
Agora, com a evolução do Programa e por meio de desenvolvimentos tecnológicos e operacionais, o Tesouro Direto reduz o spread, criando mais flexibilidade para o investidor que precisa resgatar seu Tesouro Selic antes do prazo de vencimento. O novo spread passa a valer a partir desta sexta-feira, 5 de abril de 2019.
A redução do spread potencializa o impacto positivo da rentabilidade do Tesouro Selic. Dessa forma, o Tesouro Nacional reafirma seu compromisso em proporcionar à população um investimento atraente, com custos cada vez menores, em um ambiente de redução das taxas de juros na economia brasileira”.
Mas não só de Tesouro Selic precisa viver sua reserva de emergências
Apesar de divulgado aos quatro cantos – inclusive por esse blog 😉 – que o Tesouro Selic é uma alternativa segura, confiável e barata para a sua reserva de emergências, é preciso destacar que há outras alternativas equivalentes no mercado que podem proporcionar níveis idênticos ou parecidos de segurança, confiabilidade e custos baixos na hora de montar seu colchão de segurança.
Há, por exemplo, os fundos referenciados DI com baixa taxa de administração, que investem no próprio Tesouro SELIC, e que possuem rentabilidade diária e liquidez imediata.
Em termos de custos, particularmente dois se destacam:
- O Fundo BTG Pactual Digital Tesouro Selic Simples, que cobra taxa zero de administração, tendo aplicação inicial mínima de R$ 500 e movimentações mínimas de R$ 100;
- O Fundo Órama DI Tesouro FIRF Simples, que cobra taxa de administração entre zero e 0,01% a.a., tendo aplicação mínima de R$ 1.000,00.
Além dos fundos referenciados DI e da própria caderneta de poupança, há também os CDBs pós-fixados ao DI com liquidez diária e que pagam 100% do CDI.
Normalmente, ou quase sempre, esses CDBs somente são encontrados em bancos de médio e pequeno porte. Esqueça, portanto, Banco do Brasil, Bradesco ou Itaú.
Você só irá encontrá-los em bancos de menor envergadura, tais como o Inter, NuBank, Pine, Daycoval e o Sofisa.
O lado bom é que esses investimentos (CDBs) estão protegidos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC), até o limite de R$ 250 mil por instituição financeira, e por CPF.
O lado ruim é, mesmo assim, o risco, sempre existente – e na verdade quase onipresente! – em bancos privados de menor porte, por melhores que sejam seus balanços trimestrais e seus resultados financeiros.
Ano passado, por exemplo, FGC foi acionado para proteger pequenos investidores pessoas físicas no caso de uma instituição financeira que “quebrou”, como noticiado nesse artigo.
Conclusão
A “descoberta” de que o Tesouro Selic vinha apanhando até da pobre caderneta de poupança é mais uma evidência de quão magros têm sido os rendimentos na classe de ativos da renda fixa, sinalizando um alerta para que os investidores saiam em busca de aplicações de maior risco para melhorar a rentabilidade de sua carteira de ativos.
Outrora conhecido como “porto seguro” dos investidores brasileiros, pela agregação do trinômio liquidez imediata/segurança/alta rentabilidade nominal (que chegou a ultrapassar inclusive os famigerados 1% ao mês), hoje a renda fixa encontra-se num patamar cada vez mais baixo quando se pensa em rentabilidade líquida real.
Atualmente, para quem tem um perfil mais arrojado de investimentos, a renda fixa praticamente ficou reduzida a duas funções básicas: constituir a sempre indispensável reserva de emergências para situações de imprevisibilidade; e ao mesmo tempo funcionar como uma reserva de oportunidades para eventuais boas entradas geradas nos mercados de ativos de risco, tais como fundos imobiliários e o próprio mercado de ações.
E, para ambas as finalidades, ter o dinheiro alocado em aplicações que proporcionem melhores resultados em termos tanto de liquidez quanto de rentabilidade, ainda que mínimos, é essencial para que o dinheiro seja melhor otimizado, e os custos – tais como impostos, spreads, taxas de administração e custódia – não impactem tanto na rentabilidade líquida final, para que a renda fixa não vire sinônimo de “perda” fixa. 😉
Bom dia! E obrigado pelas informações sempre precisas.
Fiquei com uma dúvida: qual a vantagem para o fundo se não há taxa de administração? Publicidade para outros produtos?
Desde já, agradeço.
Thiago
Boa tarde, obrigado!
Sim, a vantagem é exatamente essa: fazer o clientes se interessar e adquirir outros produtos.
Abraços
Olá Guilherme!
Quanto a reserva de emergência, eu procuro evitar o uso de Tesouro Selic. Primeiro porque os títulos ainda não tem liquidez imediata. Outra, é porque vira e mexe eles fecham o mercado de títulos.
Imagina que você precisa do dinheiro e encontra o mercado fechado?
É por isso que escrevi em meu post sobre a reserva, para a galera tomar cuidado com Tesouro Selic. Ela ter participação até vai. Agora compor toda a reserva acho perigoso.
Abraço!
Verdade, II, também acho que 100% da reserva no Tesouro Selic pode ser arriscado, principalmente na questão de aproveitar oportunidades instantâneas que podem surgir na Bolsa.
Estou iniciando a minha reserva de oportunidades no Tesouro Selic e ao mesmo tempo criando um valor na Poupança na reserva de emergências. Após inflar melhor ambos, aí irei para outros investimentos, diversificar meus ativos. Estudando os FII’s.
Antes desse spread reduzido, sempre ficava perturbado vendo que realmente parecia (e era) melhor deixar na poupança (curto prazo) que o famosinho no momento “Tesouro Selic”, mas agora já entendi todo o processo.
Bons investimentos, abraço!
Ótima estratégia, SF, devagar e sempre!
O importante é a aquisição do hábito de formar uma reserva.
Com estudos e o avanço natural no conhecimento, novos fronts se abrirão no campo dos investimentos.
Abraços!
Há uma corrente que diz que não se deve usar Tesouro Direto para reserva de emergência, pois não há obrigação contratual do Tesouro recomprar os títulos antes do vencimento, sendo uma liberalidade que ele praticamente atualmente. Por essas e outras que o Tesouro, as vezes, suspende a recompra dos títulos.
Em casos em que isso acontece (recompra suspensa), o portador do título não consegue vender seu título naquele dia. Se aquilo for realmente uma emergência, poderá ficar sem acesso ao dinheiro por alguns dias.
Essa é a justificativa que usam.
Até acho que pode haver situações em que você precisa de dinheiro vivo rapidamente, mas isso deve ser muito raro que ainda não vi acontecendo. Se precisar do dinheiro de madrugada, nem da poupança você não vai conseguir sacar, já que tem restrição de quanto você consegue sacar. Além disso, ainda não vivi (e não cogito, na minha vida) situação de emergência em que um cartão de crédito não tivesse resolvido.
Enfim, só comentando muito sobre uma discussão sobre usar ou não o TD como reserva de emergência. Minha opinião é a mesma sobre porcentagem de ações na carteira: tá dormindo tranquilo com sua reserva do jeito que está? Então mantém. Se acha que não tá em lugar bom (seja ele qual for), troque pra um que te deixa tranquilo.
Isso mesmo, MJC.
A questão da necessidade de liquidez imediata para emergências “super emergenciais”, com o perdão do trocadilho, é mais uma possibilidade teórica do que prática.
Alguns, inclusive, preferem deixar uma parte alocada no Tesouro Selic como uma espécie de barreira passiva, já que a dificuldade de se ter o dinheiro em D0 acaba funcionando como um obstáculo para evitar que o investidor tome decisões mais afoitas do que se tivesse o dinheiro imediatamente na mão.
Abraços!
A taxa de custódia da B3 a partir de 01/01/2019 é de 0,25% aa no entanto ao acessar a página da Corretora Rico em taxa de custódia B3 consta 0,30% aa mantive contato com a Rico uma atendente de pré nome Fernanda disse que a taxa havia aumentado não conformado enviei e-mail para o tesouro direito e retornaram informando que a taxa de custódia da B3 é 0,25% desde 01/01/2019. Por que a corretora Rico discrimina a taxa de custódia da B3 em 0,30% ?
Eu investi pelo o BTB Pactual Digital que é menor que estes dois aí.
Se é reserva de emergência, então é para considerar emergências. Poupança, um pouco de dinheiro em casa também. Já tive questões de falecimento, onde na funerária só aceitavam dinheiro vivo, nem cartão de débito.
Tesouro Selic e etc., na minha opinião entrar como renda fixa, quer deixar uma reserva na renda fixa para usar em algum momento, tudo bem, ou para ajudar na volatilidade da renda variável (psicológico), tudo bem.
Mas reserva de emergência que não pode contar em emergências, pra mim, não faz sentido.
Desculpe
Reserva de emergência é poupança.
Aplicação em renda fixa é outra história.
Amigos… Parem de girar patrimônio!
Exatp. É que o pessoal fica a todo instante querendo rentabilizar tudo.
Se fosse no Bastter já teria visto várias voadoras…..kkkkkkk.
Mais um fundo Tesouro Selic sem taxas.. agora da Pi, corretora criada pelo Santander
https://www.seudinheiro.com/fundo-conservador-taxa-zero-is-the-new-black-pi-do-santander-lanca-o-seu-com-menor-minimo-de-r-30/
Obrigado pela notícia, Lucas!
Olá !
Fiz um aporte no Tesouro Direto,que tem aliquota de IR, certo ?
Aportes consecutivos tem calendários diferentes cada um para efeito do calculo do desconto do IR se eu sacar ou a contagem se baseia no 1o aporte feito ?
Olá Poney!
Sim, tem a alíquota de IR.
O sistema faz o cálculo automático para abatimento do IR sempre sobre as aplicações mais antigas!
Abraços!