Há quase uma década, fiz uma série de seis artigos no blog intitulada “Aprenda com meus erros de investimentos“:
Nessa série “aprenda com meus erros de investimentos”, estarei mostrando a vocês os erros que cometi com diversos tipos de investimentos, bem como mostrando os caminhos para que você não incida nos mesmos erros, e tome decisões acertadas acerca de seus investimentos no mesmo tipo de produto narrado na história, para evidenciar que o erro está menos no investimento e mais no comportamento do investidor.
Os seis artigos da série foram esses:
- 6. Aprenda com meus erros de investimentos #6: Investindo na Bolsa pagando caro pela corretagem. R$ 74,41, para ser mais preciso.
- 5. Aprenda com meus erros de investimentos #5: Entrando numa IPO baseado numa opinião dada num programa de TV. E perdendo 62,69% do dinheiro investido.
- 4. Aprenda com meus erros de investimentos #4: apostando altas quantias na Bolsa. Sem conhecimento.
- 3. Aprenda com meus erros de investimentos #3: Comprando, no home broker, uma ação. Literalmente.
- 2. Aprenda com meus erros de investimentos #2: comprando PETR4 a R$ 16,99, PIBB11 a R$ 49,04, USIM5 a R$ 20,24…
- 1. Aprenda com meus erros de investimentos #1: CDB a 85% do CDI!? Uauuu…
Acabei de reler o primeiro artigo daquela série, e foi bisonho, totalmente bisonho, relembrar que eu tinha investido num CDB que pagava 85% do CDI acreditando que meu dinheiro ia praticamente dobrar com aquele investimento (!!!??).
Mas educação financeira é isso: primeiro você erra, depois você estuda, acerta, estuda, continua estudando, e estuda mais um pouco, a fim de consertar aqueles erros, e não voltar mais a cometê-los.
A questão é que todos nós somos seres humanos, não somos máquinas, e, mesmo com o grande acervo de conhecimento acumulado, ainda cometemos, aqui e acolá, alguns erros básicos.
Como é sempre melhor aprender com os erros dos outros do que com os próprios, resolvi contar no texto de hoje outra situação tão bisonha quanto aquela de 2006, com um detalhe importantíssimo: ela ocorreu em pleno ano de 2019. Dois mil e dezenove!
E o detalhe que torna o post de hoje ainda mais atípico e paradoxal é que esse texto está interrompendo uma série de excelentes guest posts do educador Luiz Guimarães sobre… adivinha o quê… a importância do PLANEJAMENTO financeiro (fiz questão de gritar a palavra “planejamento” pra ela não sair tão fácil da minha cabeça 😉 ).
É por esses e outros motivos que eu prezo tanto pela publicação de textos de conteúdo pedagógico sobre educação financeira, mais voltados para o público iniciante, mas que tem todo o valor para qualquer tipo de público: porque precisamos alimentar continuamente nosso cérebro com os nutrientes financeiros adequados para que tomemos as decisões mais corretas sobre o uso do dinheiro.
O IPVA pago à vista com desconto
Como é de conhecimento de todos, os famigerados tributos recorrentes de começo de ano, vale dizer, IPVA e IPTU, costumam vir com generosos descontos para pagamento à vista.
O problema é que a maioria dos brasileiros fica na pindaíba no começo de ano, justamente por conta de um montão de gastos que se acumulam, derivados não só da postergação das despesas do final do ano anterior – presentes de Natal, festas de Reveillon cuja conta é postergada com o uso do cartão de crédito com vencimento pra fevereiro etc. – mas também das despesas típicas de janeiro e fevereiro, valendo destacar, dentro desse contexto, as despesas com viagens de férias em família, matrícula escolar dos filhos, anuidades de órgão de classe (OAB, Creci, Crea…) etc. etc. etc.
A solução para isso tudo?
Mensalizar, como eu disse no artigo Como começar o ano de 2018 no azul. 😉, ou seja, incluir no orçamento doméstico de todo e de cada mês, sem exceção, despesas grandes que ainda estão por vir – e que certamente virão, como os clássicos exemplos dos carnês do IPVA e do IPTU.
Pois bem.
Eu segui religiosamente todas as instruções que eu deu para meus leitores naquele artigo, provisionando todo mês um valor para o IPVA.
Contudo, nesse ano de 2019, eu simplesmente esqueci de pagar o bendito do carnê com o desconto para pagar à vista. Passou em branco. Eu achava que viria pelo Correio (como sempre vem), mas não veio.
O problema é que todo ano eu nunca espero chegar o carnê físico. Em meados de janeiro, já vou na Internet, pego os dados e pago, assim como ocorrem com todas as demais contas de consumo (energia elétrica, fatura de cartão de crédito, Internet etc.): assim que chega próximo da data de vencimento, vou lá, pego o código de barras, e pago. Fácil e prático.
A importância dos calendários de pagamentos
Aí eu fiquei me indagando o que eu poderia fazer para não depender tanto do carnê quanto de confiar na minha memória (para gerar o boleto pela Internet), para evitar cometer o mesmo tipo de erro em 2020, e não precisei pensar muito para verificar onde estava o erro.
Eu tenho, na minha planilha de despesas do Excel, dois calendários de despesas recorrentes: o calendário das despesas mensais recorrentes, e o calendário das despesas anuais recorrentes.
O calendário das despesas mensais recorrentes abrange todos aqueles gastos que se repetem a cada mês: luz, Internet, seguros, academia etc. Por óbvio, esse calendário também contempla algumas linhas para as provisões mensais para as grandes despesas anuais, incluindo, é claro, uma provisão mensal para o pagamento anual do IPVA.
Já o calendário das despesas anuais recorrentes contempla todos os gastos que ocorrem de uma só vez a cada ano, tais como assinatura de revista (parece coisa do século passado, mas eu ainda assino uma, embora de procedência estrangeira), assinaturas de conteúdo digital (renovação de alguns apps) etc.
Pois bem, o problema estava justamente nesse último calendário: não havia uma linha dedicada ao pagamento do IPVA.
O que eu fiz? Não só inclui a linha para me lembrar desse pagamento anual, como também já deixei agendado no app da agenda um compromisso para pagar o IPVA de 2020 (e ainda coloquei o evento como “recorrente”, ou seja, para se repetir anualmente).
Pronto! Daqui por diante, com tantos lembretes marcados em diferentes ferramentas de controle financeiro (Excel e app da agenda), eu só não foi pagar o IPVA com desconto se eu não quiser. 😉
Conclusão
A lição que fica disso tudo é: não confie apenas em sua memória. O planejamento financeiro bem executado não é aquele que apenas estabelece diretrizes para suavizar o orçamento doméstico de cada mês (p.ex., com o provisionamento mensal para grandes despesas anuais), mas também é aquele em que você estabelece marcadores (ou lembretes) consistentes e eficientes para que todas as suas ações ocorram dentro dos prazos estabelecidos.
Esse episódio do esquecimento não me fez propriamente gastar dinheiro a mais, uma vez que consegui pagar o IPVA dentro do prazo, sem acréscimo de multas por inadimplemento.
Porém, houve sim, um vacilo, consistente na perda da possibilidade de ganhar um dinheiro a mais, ou, na pior das hipóteses, de economizar uma graninha extra, na “segunda dimensão”, conforme eu disse em 2017:
A segunda dimensão se refere à dimensão do gasto propriamente dito: consiste na possibilidade de obter descontos pelo pagamento à vista. E, sim senhor, nessas despesas sazonais de grande impacto, costuma haver descontos generosos para quem tem o poder de pagar à vista.
Essa situação de ter passado completamente em branco o pagamento do IPVA me lembrou bastante aquele caso, contado em 2014, sobre o fato de eu ter esquecido – também por completo (e em plena era digital) – de acompanhar o Grand Slam de Wimbledon (post aqui).
Naquela oportunidade, tal episódio me gerou reflexões sobre a necessidade de ter uma TV por assinatura.
No caso narrado hoje, o esquecimento me gerou reflexões sobre a necessidade de ter ferramentas mais eficazes para me lembrar do pagamento à vista com desconto, ainda que sejam muito simples, como a adição de uma mera linha no calendário de pagamentos anuais recorrentes no Excel, somada à criação de um eventual anual recorrente em janeiro no app da agenda do celular.
Não dá mais pra ficar se lamentando e se remoendo pelo dinheiro que se foi (o desconto que eu não obtive). Isso são custos afundados. Paciência. Mas resolvi escrever esse post para alertar os leitores para ficarem sempre vigilantes quanto às datas e prazos para pagamentos. Cerquem-se sempre de bons lembretes. Não custa nada, mas pode te salvar de gastar em excesso.
Que esse “causo” possa também despertar em você a necessidade de utilizar, por mais que não pareça necessário, marcadores físicos e externos (à sua mente) para suas ações envolvendo finanças. Afinal, como eu disse no começo desse tópico, não confie apenas em sua memória! 🙂
Guilherme, bom dia!
Você carrega alguma ação ou mesmo o Bova11 desde quando iniciou seus investimentos na Bolsa? Não me refiro a rentabilidade, apenas a posição(ões) mesmo.
Eu utilizo o b&h, no meu caso desde 2017 quando iniciei na renda variável, mas tem um ditado que lucro é o que se coloca no “bolso”.
Boa noite, Moisés!
Sim, carrego e concordo com você quando se diz que lucro bom é aquele que se coloca no bolso, ou seja, que é realizado.
Porém, é preciso ter estratégias para a realização das vendas, e penso que um dos requisitos fundamentais para tal é esperar um tempo adequado, pelo menos de 5 anos, aliado a uma estratégia de alocação de ativos que permita identificar pontos de venda, quando, por exemplo, se ultrapassa o percentual da carteira destinado à renda variável.
Se quiser colocar notas adicionais sobre o tema, fique à vontade!
Abraços!
Guilherme,
Quando é algo muito importante costumo deixar um bilhete físico embaixo das chaves de casa (que vou precisar pegar para sair) ou sendo a primeira folha (metade de um rascunho de A4) na gaveta onde deixo meus documentos. Se forem vários assuntos que eu acredite poder esquecer, deixo essa folha com tópicos que vou riscando ao cumprí-los.
Na área digital, deixo um lembrete na área de trabalho do computador, mas essa modalidade eu uso bem menos. Prefiro o papel mesmo.
Boa semana,
Oi Rosana, muito interessantes esses lembretes!
Eu também gosto dos marcadores físicos, eles impõem barreiras que não nos deixam esquecer facilmente dos compromissos.
Abraços e boa semana também!
Não só paguei IPVA a vista com desconto, como paguei pelo app RecargaPay com cartão de crédito sem taxas e ainda ganhei umas milhas e mais 1 mês de rendimento do dinheiro até o pagamento efetivo da fatura no mês seguinte.
Ótima estratégia! Esses apps realmente são uma mão na roda para pagamentos de contas, desde que controlados os valores das tarifas cobradas.
Olá Guilherme!
Pois é, a agenda on-line ajuda muito, uma vez que envia para seu e-mail avisos dos compromissos e lembretes. O IPVA é um desses lembretes, em conjunto com resgates de PGBL, pagamentos de juros semestrais de investimentos, declaração de IR, etc.
Se a gente usa direto o e-mail, fica muito fácil acompanhar e não perder prazos.
Até no planejamento de compra e venda de ações uso esses lembretes de alertas de preço pela Socopa. Ajuda muito. De fato, não dá para confiar somente na gente. Ainda mais quando a idade vai acumulando rsrs.
Abraço!
rsrsrsrs….. bem lembrada a questão da idade, André!
Os lembretes dos emails realmente são uma mão na roda.
Abraços!
Guilherme,
Bem que você poderia disponibilizar o modelo de sua planilha de controle financeiro.
Abraço!
Oi Murilo,
A planilha base está disponível no site: http://valoresreais.com/2011/01/23/via-fabiano-calil-planilha-de-orcamento-domestico/
Obrigado!
Guilherme,
Ótima dica! Sempre crio “reuniões recorrentes” no calendário para as despesas anuais como IPVA, seguro do carro, seguro do apartamento, IPTU.
Também faço isso com os aniversários do amigos. Incrível como volte e meia alguém fala que tenho uma memória excelente 😀
rsrssrsrs….. ótima dica, Ricardo, uma memória de elefante! 😀
Opa Guilherme!
Pois é, IPTU chega em fevereiro do nada! kkkkk
E olha, tem gente que tem mais de um imóvel, eu tenho dois terrenos, e tudo é iptu, tem que se programar mesmo pq somando os descontos já dá um dinheirinho bom.
Abraço!
rsrsrs…. verdade, Frugal, o negócio é se cercar de bons lembretes, pois esses amiguinhos dos tributos são pontuais! rsrs
Abraços!
Eu também esqueci de pegar o IPVA com desconto, quando eu ia conseguir esses 3% em tão pouco tempo? Só na bolsa heheh. Mas agora também pago só no vencimento, fica na selic.
Abraços
No meu caso a diferença de pagar antes é muito baixa. Mesmo assim uso o agenda Google, tem ajudado. Pq tem notificação
Como acesso os novos desafios do planejamento financeiro?
Aqui => http://valoresreais.com/2019/03/04/guest-post-os-nove-desafios-do-planejamento-financeiro-parte-2-desafios-4-6/
Olá Guilherme,
Gostaria de saber a sua opinião à respeito de carros.
Considerando os seus conhecimentos em educação financeira, qual a porcentagem máxima do patrimônio você acha que deva ser gasto na compra de um carro ?
Para uma pessoa que deseja economizar, no mínimo, 30% da sua renda mensal para aplicar em renda fixa, para quem sabe, daqui a 20 anos atingir a sua independência financeira, você acha que é razoável comprar um carro usado à vista e bem conservado, ano 2012, que custará cerca de metade das suas economias ou reservas financeiras ou você preferiria comprar à vista um carro antigo, ano 97 ou 98, que custaria cerca de 25% das suas economias, ou você preferiria não ter carro e andar de ônibus, uber, táxi e etc ?
Olá, Carlos!
Acho que essa pergunta deve ser respondida com base também em outros fatores que considero igualmente relevantes, dentre os quais o mais relevante é a necessidade do carro: quão necessário é o carro para você. É um item que irá fazer você ganhar tempo e qualidade de vida, ou você considera que consegue viver sem esse item sem prejudicar muito seu consumo de tempo e de deslocamentos diários.
Partindo dessa premissa, considero que você tenha colocado o carro como um item que pode otimizar melhor seu tempo no dia a dia.
Apesar dos gastos maiores dentre as opções listadas, e considerando que os custos de manutenção de um carro mais novo tendem a ser menores, parece que a opção pelo carro usado ano 2012 seja a melhor opção, dentre as que foram apresentadas.
Embora ele consuma metade de suas reservas, você tem que pensar que ele te proporcionará ganhos em termos de uso do tempo e praticidade no dia a dia.
Para o futuro, eu sugiro que você use uma técnica de compra de carro baseado num plano plurianual de investimentos: http://valoresreais.com/2010/09/14/estabelecendo-um-plano-plurianual-para-a-troca-do-carro-2-alternativas-de-investimentos/
Abraços, e depois nos conte o resultado de suas escolhas!
O ideal e paga o IPVA antes do prazo para receber os descontos, infelizmente eu acabei esquecendo o dia e não peguei os descontos.