Dando continuidade à série de artigos que mostram os nove desafios do planejamento financeiro, o educador Luiz Paulo Guimarães irá discorrer, no texto de hoje, sobre assuntos ligados ao desemprego, reserva de emergências e crédito.
A primeira parte pode ser conferida aqui.
Boa leitura!
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Desafios 4 e 5 – Taxa de desemprego e Reserva de Emergência
Taxa de desemprego
“Crise internacional e problemas internos são causas do desemprego no Brasil (Valor Econômico)”
“O Brasil chega ao Dia do Trabalho, neste 1º de maio, com taxa de desemprego de 10,9%” (dados mais recentes do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O aprofundamento do desemprego atinge as economias emergentes em geral, mas o caso brasileiro é agravado pelas crises política e fiscal.
Enquanto as economias emergentes navegaram pela primeira fase da recessão global relativamente bem, elas recentemente experimentaram destacada deterioração nas perspectivas econômicas e do mercado de trabalho. A situação é particularmente crítica na América Latina e Caribe. A região deve crescer significativamente abaixo da média mundial nos próximos anos.
Para ultrapassar a crise do desemprego, qual o planejamento financeiro?
Vou citar algumas medidas que eu chamo de “lugar comum”, pois são as amplamente recomendadas e divulgadas por todos os planejadores ou consultores financeiros.
São, na maioria, recomendações genéricas (devem ser adaptadas a cada caso) e preventivas (para que sejam eficazes devem ser iniciadas antes da crise instalada):
a) não dependa somente da rescisão: em caso de demissão, é permitido retirar o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), mais 40% de multa rescisória paga pela empresa, e ainda alguns meses de seguro desemprego. O dinheiro permitirá que você pague as dívidas mais urgentes e sobreviva por um período, mas não é uma garantia de estabilidade por muito tempo;
b) organize suas finanças e crie uma reserva de emergência: o montante vai variar de acordo com a estabilidade da renda.
Reserva de emergência
Sua criação, de suma importância, é efetivamente um grande desafio.
Durante nossa vida, fazem-nos aprender a recorrer às instituições financeiras e ao crédito, tanto para superarmos momentos de dificuldade financeira, como para realizarmos nossos sonhos.
Para quê conquistar através do trabalho, poupança e investimentos?
Para quê se sacrificar hoje e só comprar com o próprio dinheiro amanhã?
As campanhas publicitárias, muito bem elaboradas, não estão a nos mostrar que os bancos são nossos melhores amigos?
“Você é aposentado, não possui uma reserva de emergência e nem planejou sua aposentadoria no passado? Não fique preocupado, o banco é o seu melhor amigo. Você pode contar com o crédito consignado do banco para ser feliz agora. Veja nas imagens de nosso site como os nossos clientes são felizes! Não importa se você passará 48 meses pagando juros que irão comprometer sua qualidade de vida. O importante é ser feliz hoje!”.
“Preocupado em economizar para comprar material escolar, pagar colégio, IPVA, IPTU, no início do ano? Gaste seu décimo terceiro passeando com sua família e, na volta, fale com seu gerente. Nós temos dinheiro para emprestar de forma rápida e fácil. Você passará o resto do ano pagando juros, mas isso faz parte do negócio. O importante é ser feliz!”
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Bancos públicos? Bancos privados? As propostas de negócios são idênticas. Mostram o quanto você vai pagar pelo empréstimo oferecido. Não falam das taxas de juros abusivas, do custo efetivo total do empréstimo, dos riscos para o tomador, nada para lhe facilitar uma decisão consciente.
Os comerciais exploram questões emocionais, mostram pessoas e famílias felizes graças ao crédito rápido e fácil que oferecem.
“Solicite nosso dinheiro emprestado e seja uma família feliz”.
Vencidas as tentações acima, de felicidade a curto prazo e endividamento de longo prazo, o quanto se recomenda manter como reserva de emergência?
Servidor Público: o servidor público possui estabilidade no emprego; assim, o risco de perder sua renda por uma demissão é menor. Mesmo assim, a reserva de emergência é importante para enfrentar situações inesperadas como doenças, acidentes e outros imprevistos que podem gerar impactos financeiros negativos. A reserva de emergência oferece proteção contra a necessidade de pedir empréstimos, principalmente os consignados, que são fartamente oferecidos para servidores públicos e aposentados. Recomenda-se que um profissional com uma situação mais estabilizada, como um servidor público, tenha uma reserva no valor de três vezes o valor de suas despesas.
Funcionário Privado: o funcionário da iniciativa privada deve manter uma reserva de emergência maior, na ordem de 12 vezes o valor mensal das suas despesas. A pessoa deve avaliar quanto tempo levaria para encontrar um novo emprego se fosse demitida hoje. Existem profissões onde a recolocação é rápida, em outras o tempo de espera pode ser maior. Como regra geral, quanto maior forem o salário, a idade e a qualificação profissional, maior será o tempo de recolocação, principalmente nesse momento de crise que atinge o País.
Empresários e Profissionais Liberais: os profissionais liberais, autônomos e pequenos empresários precisam ter um cuidado maior com as reservas de emergência, pois necessitam reserva como pessoa física e como pessoa jurídica. A meta deve ser a manutenção de reservas específicas, uma para manter por 12 meses o padrão de vida (pessoa física) e outra para manter, pelo mesmo período, a operação da empresa (pessoa jurídica).
Como planejar a reserva de emergência?
Analise as despesas e corte os excessos: recomenda-se listar, inicialmente, as despesas obrigatórias como aluguel, energia, telefone, compras mensais e mensalidade escolar. Fica então mais fácil encontrar os excessos de cada mês, que podem estar, principalmente, na fatura do cartão de crédito.
Livre-se das dívidas: para começar uma reserva de emergência, inicie fazendo um planejamento para quitar todas as dívidas.
Onde investir a reserva de emergência?
Considerando o propósito da formação da reserva, recomendamos que se dê preferência a investimentos que propiciem:
a) maior segurança, ou seja, aqueles que são garantidos pelo FGC (Fundo Garantidor de Crédito), como Caderneta de Poupança, CDB, LCA, LCI ou pelo próprio Governo (Tesouro Direto);
b) maior liquidez.
Desafio 6 – Maior acesso ao crédito
Esse desafio já foi por mim comentado em outros artigos e, portanto, apenas sintetizo o que foi escrito anteriormente..
É fato comprovado que a expansão do crédito incluiu milhões de brasileiros no mercado financeiro. Muitos dos incluídos festejaram o primeiro cartão de crédito. Outros tantos conseguiram financiar o primeiro carro, sonho que até então não imaginavam realizar. Outros, ainda, buscaram realizar o sonho da casa própria através de um financiamento imobiliário.
Ocorre que esses novos tomadores de crédito, em sua maioria, não tinham conhecimento de como lidar com o crédito, com juros, com análise de riscos, enfim, não possuíam noções mínimas de educação financeira.
Como princípio básico, uma instituição financeira concede um crédito porque acredita no poder de pagamento do tomador, o que deve ser precedido de acurada análise de um cadastro financeiro. Entretanto, o crédito farto tornou essa análise mais benevolente e, por vezes, na ânsia de aumentar a lucratividade e a base de clientes, algumas instituições passaram a oferecer limites de crédito superiores à capacidade de pagamento dos tomadores.
Os tomadores de crédito ficavam obviamente satisfeitos, esquecendo-se de que nada lhes era dado de graça. Para se preservarem contra a inadimplência, as instituições financeiras praticavam (praticam) juros elevados e incluíam (incluem) um seguro nos contratos com os clientes, o que aumentava (aumenta) a despesa de quem se utilizava (utiliza) do crédito.
Quem passou a possuir, por exemplo, um cartão de crédito, efetuou despesas considerando a possibilidade do pagamento mínimo da fatura. Passada a satisfação da compra, em pouco tempo via com surpresa o avassalador e cumulativo crescimento do saldo devedor, fruto dos elevados juros que eram, e ainda são, praticados no mercado.
À semelhança do cartão de crédito, passaram a ter sérios problemas de desequilíbrio financeiro os tomadores que utilizaram indiscriminadamente o cheque especial, considerando as altas taxas de juros que eram, e ainda são, praticadas, além do IOF (imposto sobre operações financeiras). Inadvertidamente, muitas pessoas viam (veem) o cheque especial como um prolongamento de seu contracheque de pagamento, sem a preocupação de utilizá-lo, apenas, em caso de extrema necessidade e pelo mínimo tempo possível.
O fato é que o uso do crédito de forma indevida, pelas facilidades concedidas, por desconhecimento ou para satisfazer exclusivamente ao consumismo, contribuiu significativamente para o aumento do índice de endividamento de nossa população.
As famílias brasileiras estão hoje muito endividadas. De acordo com os dados mais recentes do Banco Central (BC), o nível do endividamento oscila em torno dos 62%. Isso significa que a dívida total com as instituições financeiras representa mais de 60% de toda a renda familiar anual.
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Na terceira e última parte dessa série especial de artigos, abordaremos os desafios 7 a 9, com ênfase especial na formação de poupança para o longo prazo. Não percam!
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Sobre o autor: Luiz Paulo Guimarães: “Morei nos EUA de 1988 a 1990. Minha filha iniciou a cursar o high school em Washington-DC e, no primeiro mês de aula, fui surpreendido. Compunha a grade curricular uma disciplina Financial Education, até então estranha aos meus ouvidos. Passei a acompanhar, passei a gostar. De volta ao Brasil, outras atividades, outras prioridades. Em 2010, após a realização de diversos cursos sobre o assunto, elaborei o Projeto Educação Financeira e iniciei a ministrar palestras e cursos. Infelizmente, ainda há no Brasil um vácuo de conhecimento sobre o assunto, vilão responsável pelo alto nível de endividamento de nossa população. Em 2012 o primeiro livro, Educação Financeira em 3 Capítulos, sonho finalmente realizado. Sou Oficial da Reserva Remunerada da Marinha do Brasil (MB). Por mais de trinta anos, no Brasil e no exterior, exerci diversos cargos de gerência e direção, nas áreas de logística e finanças. Com formação e pós em Administração de Empresas, mestrado em Ciências Navais, fui durante oito anos Diretor Administrativo-Financeiro de empresa estatal (NUCLEBRAS S/A), além de ter dirigido, posteriormente, duas empresas privadas (MULTIIMAGEM LTDA e LBT SINALIZAÇÕES LTDA). Atualmente, sou Palestrante em Cursos de Educação Financeira em empresas, instituições de ensino e na MB”.
Guilherme,
Gostei dos 2 posts e volto ao 1º para iniciar:
“Estamos prontos para viver mais de 90 anos?”
Não.
Fisicamente os hábitos alimentares atuais com excesso de industrializados causam muitos problemas crônicos que muitas vezes não são à eles atribuídos. A falta de informações importantes nos rótulos e a falta de interesse em procurá-las são muito úteis à indústria.
Financeiramente, a resposta está no final do 2º post: “As famílias brasileiras estão hoje muito endividadas.”
Por isso, é muito importante a reflexão antes do consumo, pois se cedermos aos apelos do marketing nunca estaremos satisfeitos e o hábito de poupar/investir será intensamente prejudicado.
Diante desse cenário, a Educação Financeira e a Educação Alimentar são essenciais, para que aqueles que consigam chegar aos 90 anos cheguem da melhor forma física, mental e financeira possível.
Boa semana,
Comentário perfeito do Simplicidade e Harmonia, alertando para a importância e essencialidade da Educação Financeira e da Educação Alimentar.
Concordo com o Luiz, excelente seu comentário e as respostas à pergunta.
No final das contas, é fundamental educar a mente sob todos os prismas, a fim de garantir longevidade saudável e com boa capacidade financeira.
Boa semana também!
Bem lembrada a questão da alimentação. Sem manter hábitos saudáveis ao longo da vida, a parte final dela tende a ser um rosário de doenças.
Não chegarão a 90 anos esses brasileiros. Teremos muitos contribuindo e morrendo antes dos 65anos e tantos outros vão rastejando esperando os 65 anos pq já não tem mais nada e tem que pedir. Triste realidade. O governo e o marketing não tem interesse em preparar as pessoas para isso. Lamentável
As pessoas vivem mais, isso é fato. Com os avanços da medicina, o aumento da longevidade é esperado.
Se viveremos mais, precisamos trabalhar mais. A aposentadoria tem que ser postergada, para que se possa formar uma reserva maior, capaz de sustentar não mais 75 anos, mas 90 ou 95 anos.
Vânia, esse é o ponto chave – Reforma da Previdência.
Não vou aqui abrir uma polêmica sobre qual a melhor reforma.
O projeto do Governo foi levado ao Congresso e certamente será modificado, aprimorado, etc.
O que me parece fundamental é a consciência de que é necessária uma reforma, considerando o aumento da longevidade. Tal qual você demonstrou ter em seu brilhante comentário.
O projeto é polêmico, como é polêmica qualquer medida que exija da população algum tipo de sacrifício.
Na verdade, quem gosta de sair de sua zona de conforto?
Pontos muito bem observados, Vania e Luiz.
Também penso que a postergação da aposentadoria passa a ser uma necessidade, e não algo opcional.
E para isso devemos conservar e prolongar a nossa vitalidade, em todas as vertentes, principalmente a vitalidade física, mental, emocional e espiritual.
Ótima série
Obrigado!!