Uma das maiores facilidades financeiras oferecidas pelos estabelecimentos comerciais é o parcelamento de compras no cartão de crédito.
Você vai no posto de combustível abastecer seu carro, pede pra colocar R$ 30 de gasolina, e, quando o frentista chega pra você pra finalizar o serviço, pergunta:
– Quer parcelar?
Ou então você vai no supermercado, faz a compra dos itens que precisa, eles somam R$ 178,54, e o atendente do caixa logo pergunta:
– Quer parcelar a compra?
Venhamos e convenhamos: a tentação do parcelamento no cartão de crédito é gigantesca. Afinal de contas, se comprar com um cartão de crédito, ou seja, com um dinheiro que ainda não se tem (pois o desembolso efetivo só ocorrerá no momento do pagamento da fatura do cartão) já é uma facilidade quase irrecusável, imagina então postergar ainda mais o pagamento integral dessa mesma compra, de modo a ficar com uma quantia de dinheiro, em tese, ainda maior no mês corrente, prontinha pra ser gasta com mais consumo.
Mas aquilo que é uma facilidade quase irrecusável deve ser, sim, totalmente recusada. Compras recorrentes, periódicas e constantes, como despesas com supermercado, gastos com combustível, e outras despesas cuja frequência no seu orçamento doméstico é certa e ocorre todo mês, devem ser quitadas imediatamente. À vista – no débito, no dinheiro, ou no próprio cartão de crédito (mas em uma parcela só!), desde que a liquidação ocorra no próprio mês em que a despesa é criada.
Liquide a compra no ato. Sem pestanejar.
A mensagem central do texto de hoje é que você nunca deve parcelar as compras recorrentes, isto é, as compras que ocorrem todo mês, como as despesas com supermercados, combustível etc. E isso por três motivos principais.
Primeiro, pelo fato do valor total das compras recorrentes ser plenamente compatível com o seu orçamento mensal, ou melhor, com sua normal capacidade de pagamentos.
Se você ganha, digamos, R$ 2 mil por mês, dificilmente suas despesas com mercado ultrapassarão R$ 2 mil, não é mesmo? Até porque você precisará arcar com outros gastos igualmente recorrentes e importantes, tais como transporte, habitação, saúde etc.
Limitado pelo salário de R$ 2 mil, você já naturalmente ajusta seu orçamento doméstico para a sua realidade salarial. Por exemplo, ninguém, em sã consciência, pagaria um aluguel de R$ 1,5 mil ganhando R$ 2 mil. Da mesma forma, ninguém gasta com supermercados uma quantia equivalente a 100% de sua renda mensal.
Se você ganha R$ 5 mil por mês, igualmente é difícil imaginar que gaste, com mercados, combustível, farmácia etc., um valor que extrapole a sua renda mensal (R$ 5 mil).
Logo, não faz sentido você adiar o pagamento de uma despesa que já cabe inteiramente dentro do seu orçamento doméstico mensal.
O segundo motivo para você nunca parcelar compras recorrentes está na própria natureza dessas compras: você não escapará de pagá-las no(s) mês(es) seguinte(s), exatamente pelo fato de elas ocorrerem… todo mês!
De que adianta você pagar, agora em abril, uma compra de mercado de R$ 200 fracionada em 2 vezes de R$ 100 (rolando, portanto, uma parcela de R$ 100 pra maio), se, no próximo mês de maio, você precisará gastar de novo com supermercado?
Ao deixar para o mês seguinte uma compra que já cabia integralmente dentro do mês atual você não só estará procrastinando desnecessariamente uma compra frequente, como também estará agravando o orçamento doméstico do mês seguinte. Qual é a pior consequência disso?
É aqui que entra precisamente o terceiro motivo para você nunca parcelar compras recorrentes: o efeito bola de neve.
Ao fracionar despesas recorrentes como gastos com mercados, posto de combustível etc., você estará dando início a um desnecessário e perigoso ciclo de endividamento, pois, ao perceber que o orçamento doméstico do mês seguinte, ou seja, o de maio, terá que comportar despesas realizadas no mês antecedente, ou seja, em abril, você muitas vezes não terá outra alternativa a não ser postergar as compras que poderiam ser quitadas em maio para o mês de junho.
Mas o problema não termina em junho, pois as despesas recorrentes continuarão chegando, afinal de contas, elas são… recorrentes! Ocorrem todo mês. Assim como boleto de condomínio, conta de luz, água e telefone. Ao fracionar compras recorrentes, você estará só adiando um problema, mas não o enfrentando diretamente, como deve ser – com pagamento à vista, e ponto final.
O efeito bola de neve pode chegar a estágios completamente perversos para as suas finanças pessoais. Imagine que você receba em sua conta o depósito do salário de R$ 3.521,57, no dia 5, e verifica que a fatura do cartão de crédito, que vence no dia 8, totaliza, por conta das despesas atuais e mais as despesas das compras parceladas dos meses anteriores, R$ 3.800,25. Você recebe R$ 3,5k, mas tem um saldo a pagar de R$ 3,8k. A matemática não vai fechar. O que você vai fazer?
Se você não tiver uma reserva de emergências, irá para o purgatório dos analfabetos financeiros: utilizará o limite do cheque especial, usará o rotativo do cartão de crédito (ou seja, pagando o valor mínimo), ou pegará um empréstimo consignado. Todas as opções igualmente ruins, e extremamente negativas para a sua saúde financeira, já que você irá pagar juros escorchantes por um problema muito simples, que poderia ser facilmente eliminado, se você não caísse na tentação de ficar parcelando tudo quanto é tipo de compra que aparece na sua frente. 🙁
Dicas para comprar sempre à vista
Na verdade, tudo é uma questão de planejamento financeiro. Ter um orçamento doméstico sob controle é o primeiro e mais importante requisito para manter as contas sob controle. Mas há medidas adicionais que facilitam o controle financeiro das compras recorrentes:
Tenha um plano de gastos: estabeleça um teto para cada categoria de compras recorrentes. Por exemplo, estipule um valor que você poderá gastar com a categoria “supermercados” todo mês – digamos, R$ 800 – e cumpra essa meta mensal. Faça o mesmo com as demais compras recorrentes variáveis, que existem em seu orçamento doméstico: um valor-limite para combustível, outro para gastos com farmácias, e assim por diante.
Pague com dinheiro ou cartão de débito: se o problema for a sua relação descontrolada com o uso do cartão de crédito, tomar medidas mais drásticas, como só usar o cartão de débito ou dinheiro para os pagamentos das despesas do dia a dia, também terá inegável valor, na medida em que você estará educando forçadamente sua mente a agir somente quando tiver disponibilidades de caixa. Na verdade, essa é uma excelente medida para aquelas pessoas mais endividadas, e que aprenderam erroneamente a ver no limite do cartão de crédito uma extensão do salário (e acredite, há muita gente que pensa assim!).
Reveja os artigos que escrevemos a respeito das vantagens das compras à vista:
- 16 vantagens de pagar as compras à vista – Parte III: Vantagens 11 a 16, e conclusão final;
- 16 vantagens de pagar as compras à vista – Parte II: Vantagens 5 a 10;
- 16 vantagens de pagar as compras à vista – Parte I: Introdução, e Vantagens 1 a 4
Conclusão
Nem tudo o que é mais conveniente no curto prazo apresenta os melhores resultados a longo prazo.
A possibilidade de se parcelas as pequenas compras do dia a dia pode soar, de início, como uma maneira de otimizar o uso do dinheiro no mês atual, redirecionando-o para investimentos e, assim, proporcionar o ganho de alguns centavos (ou reais) a mais em seu portfólio.
Contudo, a dificuldade de se administrar as compras parceladas dessas pequenas quantias, aliadas à formação de um hábito ruim de sempre ficar parcelando tudo o que aparece pela frente (quando se tem a possibilidade de já se livrar do débito na hora), somado ao agravamento econômico do orçamento doméstico dos meses subsequentes, não recomendam o uso dessa facilidade financeira.
Em suma: simplifique a administração das despesas, principalmente as despesas recorrentes, pois isso também trará tranquilidade na sua organização financeira.
Deixe para gastar seu tempo com coisas que realmente gerem valor e tragam benefícios concretos a você. Quanto mais simplificado for seu orçamento doméstico, menos dores de cabeça você terá na administração de suas finanças, dando-lhe a paz necessária para se ocupar com outras áreas de sua vida. 😉
Créditos da imagem: Free Digital Photos
Amo esse blog, não trabalho, mas cuido das finanças aqui de casa.
Aprendi muito lendo as matérias ,hj com o orçamento de 3.200,00 estamos com as finanças em dia e até tá sobrando uma graninha pra realizar umas obras em casa .Como é libertador poder pagar a vista e o melhor dormir tranquila .
Dívidas me tiravam o sono.
Olá, Roberta!
Grato pela sua audiência! Realmente, é libertador viver uma vida sem dívidas.
Abraços!
O nubank permite que vc antecipe as parcelas, recebendo um desconto de 4.5%aa sobre as parcelas. Talvez assim valha a pena!
verdade, pode ser interessante parcelar no ato e então antecipar as parcelas e pagar tudo na próxima fatura, se o desconto for interessante.
É uma possibilidade, embora haja o gasto adicional de controlar e gerenciar essa despesa, bem como o montante reservado para pagá-la.
Eu não parcelo compras recorrentes, tenho esse habito que me ajuda muito.
Abraço e bons investimentos.
Excelente hábito!
As dicas desde blog são realmente eficientes e sempre me ajudaram muito. Por hábito, parcelo apenas as compras de bens duráveis, isso se não conseguir um bom desconto para pagamento à vista ou tudo no próximo vencimento do cartão. Controlo as compras em conformidade com o fechamento do cartão, para não ultrapassar minha capacidade financeira mensal.
Parabéns pela disciplina, Paulo!
E grato pelas palavras!
Ótima matéria, eu nao parcelo compras recorrentes, mas as demais costumo sim parcelra, me ajudou a entender que só estou postergando para os proximos meses uma divida de hoje.
Obrigada pelo ensinamento !!
Valeu, Alexssandra!
Acho que o problema não é o parcelamento, mas o controle. Eu utilizo apps no celular para gestão mensal do dinheiro, sei exatamente quanto ganho, quanto gastei e o que parcelei. Se em janeiro precisei gastar 300 reais no supermercado e me deram a opção de fazer em 5 vezes, eu o faço com o seguinte cuidado: guardar os 300 reais em um investimento com liquidez diária justamente para pagar essa dívida. Eu “gastei” o dinheiro do supermercado investindo ele, então é um dinheiro que “eu não tenho mais”. Mês seguinte fevereiro mesma coisa.. parcelo novamente anoto tudo e invisto o dinheiro.
O problema não é o parcelamento em si, mas como bem citou no artigo, a falta de controle. E sempre a máxima, o cartão de crédito é uma arma, pode ser usada para o bem ou para o mal. Nesse caso: parcelo tudo, deixo o dinheiro investindo e, por pagar com o cartão e não dinheiro ou débito a vista, ainda faturo milhas para quem sabe um passeio no final do ano.
Perfeito. É o que faço também.
Ótimo depoimento, Rafael!
Concordo totalmente, Guilherme! É algo desnecessário e só complica o fluxo de caixa. Pago praticamente tudo à vista e sempre que possível, com desconto.
Sobre a antecipação do Nubank, que alguns leitores comentaram, percebo que só compensa se estiver com o dinheiro parado na conta. Se estiver bem aplicado, as taxas são muito baixas…
Abraço!
Verdade, André!
A ideia somente tem validade para algum dinheiro eventualmente parado na conta. Os gastos adicionais de tempo acabam não compensando os pequenos retornos financeiros.
Abraços!
Eu costumo usar o cartão de crédito por comodidade mesmo, uso o nubank e posso conferir extrato a todo momento. Mas nunca parcelo compras, sempre são a vista, a não ser raras exceções.
Parabéns, Lucas!
O problema é como as pessoas lidam com a bola de neve do parcelamento, pois para quem faz controle financeiro funciona de forma normal, porém concordo que comprar a vista sempre der é muito melhor, além dos descontos que pode-se conquistar com tal ato. Parabéns pela publicação.
Obrigado, Marcos!
Guilherme,
Parcelar esse tipo de compra pode virar uma bola de neve incontrolável com o tempo.
É como você disse: compras de supermercado devem ser compatíveis com o orçamento, senão, os problemas futuros poderão ser catastróficos.
Abraços,
Verdade, Rosana, planejamento é fundamental.
Abraços!
Nubank: parcelo e adianto o pagamento das parcelas. Assim ganho uns trocados.
Concordo, de fato… no fim acaba virando uma bola de neve sem fim. Por isso é necessário ter muito controle e sempre que possível pagar à vista, evitando parcelar.
Além disso eu uso o guiabolso para controlar minhas finanças e verificar quanto posso gastar e quando gastar.
Infelizmente caí nesta armadilha.
Recebo 3mil parcelei supermercados (sim , no plural) veio a conta, paguei um valor que nao era o total e agora veio outra cobrança ainda maior do que do mes anterior.
Eu acho que se vc fazer compra de fardo….pra durar entorno 7a 8 meses ,compensa parcela compra valor de 1.000 reais em duas vezez.
Porque nao precisaria comprar o grosso da compra,
Depois só mistura e verduras.
Parabéns pela publicação, finanças pessoais é um tema muito delicado e deveria fazer parte do ciclo básico de ensino nas escolas!
Excelente o artigo!
Extremamente complementar ao que estava pesquisando.
sou dona de casa e meu esposo quem controla as finanças,no momento estamos na bola de neve,muito endividados não por causa de cartão de crédito,mais pq gastamos mais do deveríamos e meu esposo fez muitos empréstimos consignados,agora como vamos sair disso si todo mês temos as despesas recorrentes, alguma dica de como começar?
O jeito de tentar resolver isso é bem simples na teoria, mas tem que ter disciplina pra colocar em prática:
1. É necessário você mapear todas as suas dívidas e verificar quais são as mais caras e quais são as mais baratas. Dívidas caras são aquelas com alta taxas de juros. Como regra geral, as mais caras são cheque especial e cartão de crédito.
2. As dívidas caras são as que você tem que pagar primeiro, pois são as principais aceleradoras da sua dívida.
3. Se você está atolada com o cartão, não role a dívida pagando o mínimo da fatura, pois isso fará com que sua dívida aumente rapidamente (pois a taxa de juros é na faixa dos 10% ao mês). Caso não consiga pagar de jeito nenhum, o que você pode fazer é procurar a administradora do cartão (ou banco) pra negociar essa dívida. Tem que ligar e dizer que não tem condição de pagar, que gostaria de parcelar ela sem juros ou com uma taxa menor do que a taxa do cartão.
4. Enquanto estiver no sufoco é necessário entrar num modo de economia gigantesco. Tente reduzir seus gastos fixos (telefone celular, serviço de streaming etc). Obviamente alguns serviços não dá pra ficar sem (celular e internet, por exemplo), mas é possível negociar. Outros podem ser cancelados até que se resolva a situação (streaming, por exemplo).
5. Opte por não comer fora, só fazer comida em casa e procurar por alternativas mais baratas dos produtos que vocês compram.
6. Quando for ao supermercado, vá com uma lista do que é necessário comprar e fique na lista. Não fique passeando no supermercado procurando por coisas que “vai que precisa”. Não vá ao supermercado com fome, você tende a comprar mais coisas do que o necessário.
7. Tem que organizar um orçamento da família, ver o que de fato entra de dinheiro e quanto exatamente vocês podem gastar.
Pra tudo dar certo, é necessário que todos estejam alinhados. Não adianta uma pessoa tentar tapar o buraco com as mãos e um outro usar uma pá pra aumentar o tamanho do buraco.
Há diversos textos na internet que podem te ajudar. Você pode ver um do Serasa aqui: https://www.serasa.com.br/ensina/seu-nome-limpo/10-passos-sair-das-dividas/
Excelentes dicas, MJC! Vai virar post!
Abraços!
Gostei muito tava com dúvidas como usar meu cartão de crédito !