O blog Valores Reais tem o orgulho de apresentar mais um guest post de alta qualidade vindo de um de seus leitores mais antigos.
Trata-se do Felipe Medeiros, que, além de leitor, enriquece a blogosfera financeira com um excelente conteúdo gerado no dinâmico blog Mais Retorno.
No texto de hoje, ele aborda os perigos de se tornar um trader de fundos de investimentos. Através de exemplos práticos extraídos do mundo real dos investimentos, o Felipe nos conduz sobre a importância de manter os investimentos focados no longo prazo, pois são aqueles que produzem os resultados mais duradouros.
Confiram!
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“Rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura! ”
Aposto que a maioria de vocês já ouviu essa frase, e o Guilherme inclusive já escreveu um texto sobre este assunto.
E vocês não imaginam como fico frustrado quando vejo que, infelizmente, alguns investidores repetem os mesmos erros continuamente, fazendo com que boa parte do fruto que poderiam colher com seus investimentos a longo prazo, acabe sendo prejudicado por conta de más escolhas tomadas pela ansiedade de curto prazo.
Dentre essas más escolhas, uma delas é a de cair na tentação de pular de galho em galho trocando de investimentos no curtíssimo prazo por qualquer ponto percentual extra de rendimento ou por insatisfação com uma volatilidade um pouco maior que a esperada.
E no atual cenário de taxa de juros já baixa e em tendência de queda, o desespero por encontrar alternativas de investimentos mais rentáveis faz com que isso aconteça com cada vez mais frequência, ao ponto de vermos crescerem os casos de uma antiga figura do mercado financeiro: o “trader de fundos”.
Antes de falar desse tipo de perfil em si, tente responder para si mesmo se acha a seguinte opção de investimento interessante:
- Um Fundo de Investimentos que tem um rendimento médio de 151% do CDI;
- Rendendo positivamente em 75 dos meses, contra apenas 14 negativos;
- O melhor retorno mensal de 6,39% e o pior de -3,78%;
- Superando o CDI em 51 vezes, mas perdendo em outras 38;
- Um fundo que já gerou mais de R$ 30 milhões de valor para seus cotistas;
- Finalmente, entregando uma volatilidade média de 4,26% ao ano e um Índice de Sharpe de 0,87.
E então, te pareceu uma boa pedida investir nesse fundo?
Pois veja só que história interessante nos mostram seus dados sobre a quantidade de cotistas que investem nele:
O gráfico acima mostra perfeitamente o movimento dos “traders de fundo” que falei na introdução do texto: Quando o investimento está subindo, entram em massa. Quando o investimento está caindo, saem todos correndo juntos.
A consequência disso é que esses investidores acabam entrando na beira do abismo e saindo quando o investimento está próximo a se recuperar. Ou seja, levam algum prejuízo teórico e concretizam ele ao resgatar seu dinheiro.
E nesse caso específico, não daria nem para usar a desculpa de que o investidor não esperava oscilações tão bruscas nos rendimentos.
Isso porque o exemplo que eu usei é do Azul Quantitativo FIM, e veja só o que ele mesmo recomenda em sua própria política de investimentos:
Ou seja, esse é um fundo que deveria ser apenas opção dos investidores que tem objetivos de médio e longo prazo. Além disso, como pode ser visto acima, o próprio gestor ainda recomenda que esse fundo deve compor apenas “uma parcela do portfólio de investimentos” desses investidores.
A primeira debandada aconteceu em 2014, logo após o fundo atingir seu primeiro pico de cotistas com mais de 3500 pessoas investindo nele. Nesse ano, por conta da grande incerteza e volatilidade das eleições, o Azul Quantitativo tinha conseguido entregar apenas 58% do CDI no ano.
Logo após esse ano, o fundo voltou a performar razoavelmente bem, entregando resultados de 114% do CDI em 2015 e 124% do CDI em 2016, quando alcançou um novo pico de investidores, dessa vez ultrapassando a marca de mais de 4300 cotistas.
Foi só o fundo passar por uma nova fase de drawdown em 2017, que o movimento lá de 2014 voltou a acontecer, e hoje menos de 2400 cotistas ainda continuam investindo no Azul Quantitativo.
Ou seja, será que esses investidores realmente sabiam onde estavam investindo? Será que eles minimamente leram o objetivo, público-alvo e política de investimentos desse fundo? E ainda que tenham lido, será mesmo que esse fundo era adequado para o perfil deles?
Como esse é um fundo multimercado que tem rendimentos variáveis e uma certa volatilidade, altos e baixos são extremamente comuns ao longo do tempo e fazem parte do negócio.
Até mesmo fundos consagrados como o célebre Fundo Verde e gerido por um dos maiores gestores do Brasil, Luis Stuhlberger, já passaram por isso como pode ser visto no aperto da crise de 2008 (inclusive perdendo rapidamente mais de 200 cotistas depois do evento).
Mas quem tem perfil de investimentos em renda variável já sabe disso e, portanto, boa parte dos investidores que saíram em debandada nesses períodos provavelmente foram aqueles que investiram cegados pela boa rentabilidade do passado, sem se preocuparem com a adequação desse investimento ao seu perfil de risco.
O problema disso é que, como meu sócio Lucas Paulino costuma dizer, se o investidor está tendo que trocar de investimento no curto prazo, é porque tomou uma decisão errada lá atrás e agora vai pagar um custo de transação por conta disso.
Tanto os custos de antecipação e pagamento de faixa de imposto de renda mais elevada, tarifas e taxas de corretagem em alguns casos e o próprio custo de oportunidade de não ter aplicado em algo mais rentável naquele período, só aumentam ainda mais a frustração de um investimento mal pensado.
Rankings de rentabilidade como o que temos lá no Mais Retorno servem apenas como uma referência para os destaques do ano, mas jamais devem ser levados como o fator decisivo de tomada de decisões. Afinal de contas, eles avaliam apenas a rentabilidade passada.
Quando um investidor decide por confiar seu dinheiro em um gestor de fundo, tem que dar algum tempo mínimo para que ele possa executar o seu trabalho e provar a sua competência, sobretudo em fundos de alta volatilidade.
Esse tipo de investimento é completamente diferente de realizar operações no mercado de ações ou derivativos.
E não estou aqui para atacar ou defender o Quantitativo Azul ou mesmo o Fundo Verde.
Apesar de ter usado eles como exemplo nesse texto, o mesmo cenário se repete por centenas de outros fundos, sejam eles bons, sejam eles ruins.
Conclusão
Meu ponto aqui é apenas um: invista pensando a longo prazo.
Para montar uma carteira vencedora que valorize o seu dinheiro, o que importa de verdade é saber bem onde está colocando seu dinheiro e construir uma carteira diversificada e estratégica com foco no longo prazo.
Afinal de contas, qual desses investidores do Azul Quantitativo você escolheria ser?
- O que entrou na euforia do final de 2016 passado e já está saindo:
- O que entrou na euforia do começo de 2014, mas está aguentando firme até agora:
- Ou aquele que investiu a longo prazo e está desde o começo no fundo?
Se você for um dos dois primeiros, está na hora de investir algum tempo no planejamento do seu dinheiro.
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Sobre o autor: Felipe Medeiros é economista e empreendedor do mercado financeiro há quase uma década, tem como objetivo compartilhar suas experiências e se conectar com outros investidores e entusiastas do mercado. Fundador do site Mais Retorno, também foi criador dos portais Bolsa Financeira, Melhores Fundos e é autor do livro “Investidor Especialista”. Escreve regularmente para grandes portais de finanças como InfoMoney e Dinheirama.
“O sistema financeiro vive do giro, quem paga a conta? O investidor incauto.”
Isso para não falar dos grandes bancos que estimulam o giro dentro dos fundos.
Perfeito IF, a ideia é justamente essa! Quem liga todo mês para o cliente oferecendo o “produto milagroso da vez”, certamente não está alinhado aos interesses desse investidor.
Por isso mais uma vez a importância de resistir às tentações de promessas de curto prazo e do foco no investimento de longo prazo.
Alguem sabe se existe na CVM algum movimento para a volta dos clubes de investimento? Ou aquelas regras abusivas claramente beneficiando a industria de fundos ainda nao foram derrubadas?
Fica como sugestao ao autor a criacao de uma plataforma de gerenciamento de fundos para pessoa fisica. Seria uma nova forma de clubes de investimento.
Rafael,
Antigamente realmente havia muita sacanagem no mercado de fundos, sobretudo nas cobranças de sobretaxa de administração em fundos de cotas e os chamados “rebates” de taxa.
Mas no final de 2014 a CVM lançou uma nova instrução que ajustou muitos desses pontos e hoje em dia o cenário melhorou bastante. Você pode conferir mais detalhes da instrução 555 aqui: http://www.cvm.gov.br/legislacao/instrucoes/inst555.html
Além disso, agora que os juros estão em um patamar mais “civilizado” acredito que as gestoras serão forçadas pela concorrência a cobrar taxas cada vez menores, caso contrário não conseguirão entregar performance aos seus clientes.
Hoje em dia que é fácil de comparar e trocar de fundo de investimentos nas corretoras, não entregar uma performance minimamente adequada pode ser mortal para uma gestora.
Muito obrigado pelo espaço e pela apresentação Guilherme! É uma honra poder contribuir para um blog da importância do Valores Reais!
Espero te ver algum dia por lá também!
Grande abraço!
Gostei de abordarem o tenha nesse momento. Foi só a taxa de juros baixar e alterar o cálculo da poupança, que já aparece muito estardalhaço. Vai perder dinheiro na poupança? Vai jogar aonde? Qual a taxa? E o IR? Boas perguntas… Corram pras colinas!
Entendo que um investimento em fundo deva ser a longo prazo, mas por exemplo se vir o fundo valorizar 10% parecia uma boa opção resgatar.
Veja o exemplo:
Aquisição: Março U.P 10 € x 100 unidades = 1000€
Venda: Abril: UP 11€ x100 unidades = 1100€
Possível ganho, excluindo taxas e imposto 100€
Segundo a IFI, tem que para resgates inferiores a 1 ano há uma comissão de resgate de 1%. (1100€x1% = 11€)
Existe outa comissão de encargos correntes cobrados ao longo do ano de 2,5%
Esta ultima comissão como é calculda?
Poderia ser lucrativo fazer o resgate, ou esta metodologia não é aplicada a fundos.
Obrigado