Completar 100 anos de vida não é para qualquer um.
Completar 100 anos de vida com saúde e disposição é para menos gente ainda.
Quantas pessoas do seu círculo de convivência já chegaram aos 3 dígitos de vida?
E quantas pessoas você gostaria que tivessem chegado a soprar as velas do número 100 em seu bolo de aniversário, mas que, por qualquer motivo que seja, não chegaram lá?
O que essas pessoas têm a nos ensinar?
Aliás, você gostaria de chegar lá?
Infelizmente, eu não conheço pessoalmente ninguém com mais de 100 anos de vida, embora já tivesse me deparado com uma pessoa assim, há alguns anos.
Felizmente, a Internet nos premia com a chance de conhecê-los, ainda que de forma não presencial, a fim de saber que lições podemos extrair dessas maravilhosas pessoas.
Sim, você já deve imaginar que tipo de resposta provavelmente virá pela frente: “alimente-se bem, cuide da saúde, aproveite os momentos em família etc. etc. etc.”. Porém, ver e ouvir a resposta diretamente da fonte nos confere uma perspectiva inteiramente diferente dos conteúdos das respostas que você já imagina que virão.
E o texto de hoje é sobre isso: não é propriamente sobre aprender coisas novas (pode até ser), mas sim sobre refletir melhor sobra coisas que você já deve saber.
Esse artigo foi baseado num excelente e magistral vídeo em inglês, intitulado Life Lessons From 100-Year-Olds, produzido pelo LifeHunters.
Clique aqui para abrir o vídeo diretamente do YouTube.
Esse vídeo é fresquinho, foi publicado no YouTube em 23 de dezembro de 2016, e, apesar de tão recente, já recebeu mais de 1 milhão e 500 mil visualizações. Trata-se de um vídeo relativamente curto, de pouco mais de 13 minutos de duração, mas absolutamente profundo em seu conteúdo, daqueles que nos fazem querer assistir de novo, e de novo, e de novo…
Infelizmente, não há legendas em português, mas há a opção de legendas em espanhol. De qualquer modo, não é difícil captar a essência do conteúdo mesmo no idioma original. 😉
Uma das coisas que tornaram o vídeo singular, ao menos para mim, é que ele não tem paralelo com nenhum outro vídeo que já assisti antes. Normalmente, gostamos (ou desaprovamos) um vídeo, ou livro, ou filme, ou qualquer outra coisa que seja, com base num ponto de referência anterior. Por exemplo, para quem já assistiu Star Trek, será que Star Wars é tão bom quanto? Para quem já foi para a Serra Gaúcha, será que a Serra Catarinense vale a pena? E assim por diante.
Para mim, esse pequeno documentário tem mais essa ilustre vantagem: o de inaugurar um tipo de produção “cinematográfica”, digamos assim, que eu nunca vi anteriormente: lições de vida de pessoas acima de 100 anos de idade.
Se quiser, assista primeiro o vídeo, e depois leia o texto abaixo. Ou leia o texto abaixo antes, assista o vídeo depois, e volte a ler o texto abaixo, para ver se concorda comigo. 😉
Foram entrevistados 3 centenários, todos vivendo (e bem) no Reino Unido: Cliff Crozier, John Denerley, e Amelia Harper. Destaco, abaixo, algumas das lições extraídas das entrevistas.
Serenidade
A vida parece ser mais serena à medida que avançamos no relógio biológico. E essa é com certeza uma característica marcante que transpassa ao longo da fala de todos os centenários entrevistados nesse vídeo.
Muitas vezes, nos aborrecemos demais com coisas que nos importam de menos, e, especialmente na juventude e no começo de nossa vida profissional, tendemos a explodir fácil, a ficar muito zangado e bravo, de maneira desproporcional, com determinados acontecimentos, que não eram assim, no final das contas, tão importantes.
Se você já está na faixa dos 40 ou 50 anos, certamente já refletiu sobre isso: coisas que você fez no passado, aos 20 e pouco, 30 e pouco anos, que, se pudesse voltar no tempo, teria agido de modo diferente. Seria menos explosivo. Seria menos raivoso. Tomaria uma outra atitude. Teria ponderado melhor. Seria mais prudente.
E essa é uma característica marcante de todas as pessoas entrevistas nesse vídeo: a serenidade. A serenidade no olhar. A serenidade na fala. E junto com a serenidade vem a resiliência: aceitar as coisas como elas são. Aceitar as perdas, adaptar-se às mudanças, e prosseguir com a vida. Pois as coisas ruins passam, mas você segue adiante. Vai seguir adiante. E terá uma vida inteira pela frente para que as coisas ruins sejam completamente substituídas e repostas por coisas novas, e coisas novas boas.
O caso da Amelia é magistral nesse sentido. O pai dela foi prisioneiro de guerra, ela própria perdeu os filhos gêmeos no parto, mas vida prosseguiu. Prosseguiu tanto a ponto de ela ter outra filha, ter tido um longo e próspero casamento de mais de 50 anos, e de ter vivido mais um bom punhado de décadas de, nas palavras dela, “amáveis memórias”.
Crie memórias que valham a pena ser lembradas
Na estrada da vida, quanto mais você avança na idade, mais você tenderá a olhar menos para o que vem pela frente, e mais para o retrovisor, ou seja, para o que ficou para trás. E nesse momento baterá a pergunta: o que eu fiz dessa vida? Que memórias eu tenho das décadas passadas que vivi?
Quando se é centenário, o futuro já não importa tanto – é apenas mais um dia, como disse o Cliff – mas o passado… ah, o passado: esse sim é lembrado a todo instante.
Isso ficou claro na fala da Amelia, e ela dá a dica: crie memórias amáveis. Ela falou com alegria no coração sobre vários dos episódios que a fizeram feliz: o casamento dela, a época em que se alimentava de coisas produzidas diretamente do quintal de casa, os momentos com a filha, e até os momentos em que “conversava” com as crianças que morreram muito cedo (os gêmeos).
A mensagem aqui é clara e direta: gaste seu tempo com coisas úteis, com coisas pelas quais valha a pena gastar seu tempo, a fim de que, quando você também olhar para o retrovisor dirigindo na estrada da vida, seu sentimento seja não o de arrependimento, mas sim o de gratidão. Gratidão por ter tido a oportunidade de viver tanto tempo, mas sobretudo gratidão por ter aproveitado bem esse tempo.
O mais interessante disso tudo é que o poder de criar memórias positivas é de sua inteira responsabilidade. Embora seja verdade que muitas vezes a vida não nos dá a chance de ter sempre fatos positivos pelos quais valha a pena lembrar (falecimentos inesperados, demissões injustas, acidentes etc.), em muitas outras oportunidades a vida nos confere “espaços em branco”, pelos quais temos a chance de colorir com memórias afetivas, alegres e positivas.
Estude
Veja o caso do John, aquele que estava com o iPad conferindo quando chegariam em sua casa as compras que havia feito na loja online Tesco.
Em um dado momento da entrevista, ele fala que, “se tivesse estudado mais cedo, as coisas teriam sido diferentes”.
Quanto mais cedo você estudar, melhor. Ponto.
Ele disse que, no final das contas, “não se saiu tão mal”… mas eu fico especulando: será mesmo? O jeito que ele falou dos estudos nos instiga a especular – e isso é um mistério deliciosamente não desvendado – que talvez ele tenha tido esse arrependimento: o de não ter estudado tanto quanto poderia… ou deveria.
O estudo era tão importante antigamente, na década de 30, quanto é hoje, na década de 10 do século XXI. A educação continua sendo seu ativo mais valioso. Por isso, aproveite bem o valor das oportunidades enquanto elas estiverem disponíveis.
Se é verdade que nunca é tarde demais para perseguir seus sonhos, não é menos verdade que é preciso pagar um preço para sair do comodismo e da zona de conforto, e conquistar aquilo que você deseja. O estudo te dá liberdade de opções, e a falta dele limita essas mesmas opções. O que você prefere: uma vida de liberdade, ou uma vida de limitações? 😉
Seja tão independente quanto possível
Sim, sim, e não é que a nossa querida “independência financeira” também é um valor cultivado pelos centenários? Vejam o que disse o Cliff:
Talvez ele não esteja falando da independência no sentido financeiro do termo, mas sim da independência física, de fazer as coisas do dia-a-dia por conta própria. Porém, é inegável que podemos interpretar a frase dele também no sentido de não depender de outras pessoas, principalmente dos filhos e parentes próximos, para gerenciar e administrar suas finanças.
Afinal, o dinheiro permeia boa parte de nossas relações com o mundo exterior, e ter condições financeiras de se auto gerir por conta própria é um dos grandes desafios da nossa sociedade, principalmente para a geração que se aposentará daqui a 20 ou 30 anos, ou seja, dos nascidos de 1970 pra cá, que terão que lidar com um sistema previdenciário cada vez mais arcaico e despreparado para garantir provisões suficientes para os aposentados do futuro.
Conclusão
No meio da correria do dia-a-dia, em que muitas vezes agimos no piloto automático, com mil e uma atividades e tarefas para serem realizadas, prazos para serem cumpridos, contas para serem pagas, enfim, enquanto estamos saboreado, nas palavras do Mr. Money Mustache, os “suprimentos ilimitados de vida” que a vida nos oferece, muitas vezes não temos tempo para fazer uma pausa, descansar, e produzir reflexões a longo prazo.
Porém, e quando os suprimentos ilimitados de vida não forem assim tão ilimitados?
Se você chegou até a essa altura do texto e também assistiu ao vídeo, parabéns! Isso mostra que você é uma pessoa que dá valor a ensinamentos atemporais transmitidos por pessoas sábias como as entrevistadas no vídeo, e consegue separar um tempo para se dedicar exclusivamente para você.
Sim, pois o texto de hoje não é apenas sobre lições de vida que as pessoas com mais de 100 anos de vida podem nos ensinar. Esse texto é sobre você. Sim, sobre você.
Esse texto de hoje é, antes de tudo, sobre o que você pode ensinar quando completar os 100 anos de vida. O que você dirá? Quando você chegar lá, baseado em sua experiência nos 99 anos anteriores de vida que viveu, você será capaz de transmitir ideias, valores e crenças de forma tão natural, espontânea e verdadeira quanto as lições transmitidas pelo Cliff, pelo John e pela Amelia?
O que você diria se fosse entrevistado após ter completado 103 anos de idade, tal como fez a Amelia? 😉
Tenham todos uma ótima semana… e cem anos de vida, quem sabe! 😀
Guilherme,
Excelente post! Esse poderia ir também para o Top 50 (ou Top 75)!
Desde criança eu sempre gostei de conversar com idosos, pois sempre podemos aprender algo com eles. Além disso, eles sempre são mais tranquilos, alguns transmitem tanta paz!
Realmente podemos aprender muito com essas pessoas do vídeo, cada uma com sua história de vida, seu aprendizado.
Serenidade, foco no que realmente vale a pena, menos impulsividade. São coisas que deveriam fazer parte de nossas vidas diariamente.
Boa semana!
Voltando a atualizar os comentários!!! 😀
Obrigado, Rosana!
Verdade, conversar com os idosos é uma excelente maneira de aprendermos mais sobre a tal da “escola da vida”, sobre coisas que não nos são ensinadas na escola.
Boa semana também! 🙂
Abraços
Buenas tardes seu Guilherme…. uma verdadeira reflexão o teu chasque (postagem). Peço permissão para colocar o link escrito por este gaúcho em 2015, mais ou menos sobre o mesmo tema…. abra as porteiras clicando em …..: http://obolsodabombacha.blogspot.com.br/2015/03/atitude-84-multiplicacao-dos.html
Tenha uma baita semana e continue espraiando educação financeira por toda esta terra que chamamos de mundo!
Buenas….
Que baita coincidência, amigo Valdemar, eu estava justamente a responder seu comentário no artigo sobre o carro quando veio a notificação de resposta a esse tópico… isso que eu chamo verdadeiramente de “transmissão de pensamento”, tchê!
Bom, mas eu li seu texto da Atitude 84 e achei fantástico! Concordo plenamente contigo, o que falta é educação financeira na vida das pessoas, sob pena de muitas pessoas continuarem a depender de outras pessoas mesmo durante a velhice.
Tenha também uma baita semana!
Abraços!
Eu tive o prazer de ver minha avó chegar aos 106 anos completamente lúcida. Pena que morávamos distante e não tinha a oportunidade de conversar mais. Porém quando encontrávamos era muito prazerosa a conversa. Era mais ou menos isso mesmo, muito sobre o passado e pouco sobre o futuro.
Excelente, Claudinei, legal saber que você teve alguém próximo chegando a essa idade!
Abraços!
Excelente texto para reflexão Guilherme, parabéns. Temos sempre que estar com a mente aberta para aprender com as pessoas com essa vasta gama de experiência.
Outro impacto de reflexão sobre o que fizemos ou o que gostaríamos de ter feito na vida é quando passamos por alguma situação extrema como o relatado pelo autor Viktor E. Frankl em seu livro Em busca de sentido – http://resenha.li/busca-sentido.
Gosto muito de efetuar essas reflexões e a viagem no tempo é uma excelente maneira de saber se o que estamos fazendo agora é o que vai nos proporcionar a vida que desejamos no futuro.
Um grande abraço.
Oi Cleiton, obrigado!
Você disse tudo: viagem no tempo! Conversar com pessoas que são mais velhas nos ajudam a ter uma melhor compreensão do que fazer com a vida.
Gostei da resenha do livro do Viktor.
Abraços!
Cleiton,
Esse livro do Viktor Frankl é muito bom, um dos melhores que já li.
Também recomendo a leitura.
Abraços,
Muito legal esse vídeo. Minha avó casou de novo (era viúva fazia 10) há uns anos atrás com 69 anos e eu fui madrinha e de lá pra cá ela construiu uma nova casa, viajou e está muito feliz. Com os avanços da medicina, a expectativa de vida só tem a aumentar e aquele ditado “a vida começa aos 40” fará cada vez mais sentido.
Realmente, Jacqueline, os avanços da Medicina fazem com que as pessoas vivam cada vez mais e melhor.
Em tempo: parabéns pra sua avó! Tá melhor do que muita gente com a metade da metade da idade dela! 😀