Se você já é leitor assíduo do blog, sabe que o Valores Reais não trata apenas de temas ligados estritamente ao campo das finanças pessoais e investimentos. Abordamos também temas como a importância dos cuidados com a saúde física, a relevância da transmissão de valores éticos na educação dos filhos pelos seus pais, dicas de produtividade pessoal etc.
Pois o artigo de hoje também tratará de um tema não financeiro, pois considero importante intercalar tais assuntos entre os temas financeiros tratados cotidianamente no blog, seja por meio dos textos, seja por meio das caixas de comentários de leitores muito bem qualificados.
Todo texto desse blog começa do nada. Ou melhor, ele começa, claro, com uma ideia, que é o ponto de partida para o desenvolvimento de outras ideias e outros assuntos. Mas, na essência, ele começa do nada.
Eu não sei se já disse isso aqui antes (ou melhor, eu já disse sim), mas o fato é que eu gosto de rascunhar as ideias usando a boa e velha dupla caneta e papel, antes de começar a colocar as ideias no computador.
Então, todo texto do blog começa assim. Literalmente assim:
Com uma folha de papel em branco.
Essa folha em branco é o terror de muitos escritores e blogueiros, pois às vezes eles olham para essa folha em branco, olham, olham de novo… e nada surge. Nenhuma ideia. Simplesmente nada.
Eu admito que já vivi momentos assim. Isto é, momentos em que eu pegava uma folha de papel em branco, olhava, olhava… e nada surgia.
Vencer a inércia é uma das coisas mais difíceis para o ser humano, pois significa brigar com nossos instintos mais primitivos de querermos estar aonde estamos.
Um corpo em movimento tende a permanecer em movimento. Um corpo parado tende a permanecer parado. E uma folha de papel em branco… tende a continuar sendo uma folha de papel em branco.
Quando nos espreguiçamos no sofá e começamos a assistir televisão, é difícil sair desse estado de coisas, pois a preguiça acaba sendo muito grande. Quando acordamos de manhã num final de semana sem compromissos, a primeira ideia que vem à mente é… continuar na cama.
O mesmo estado de letargia ocorre quando nós, escritores, nos deparamos com uma folha de papel em branco. Se simplesmente pegarmos uma e tentarmos escrever algo, dificilmente sairá alguma coisa. Pois do nada, nada surge.
Por isso, aos poucos eu fui me precavendo, e adotando outra técnica para solucionar esse problema. Em vez de começar a ter as ideias depois de pegar a folha em branco, eu comecei a ter as ideias antes de pegar a folha em branco.
Eu gosto de visualizar o cérebro como uma verdadeira usina, uma verdadeira fábrica, de ideias, e eu gosto bastante de utilizar a técnica que aprendi com o David Allen, de registrar uma ideia assim que ela surge na mente. Dessa forma, eu tenho mais subsídios na hora de finalmente escrever um artigo, pois já tenho um “estoque prévio” de pensamentos a serem desenvolvidos.
Portanto, eu retifico o que disse linhas atrás, e afirmo, agora, que todo texto do blog na verdade não começa com uma folha em branco, mas sim com uma ideia. Ou seja, as ideias surgem na mente, mas são corporificadas e ganham vida no papel em branco, e em seguida são transmitidas via Internet para milhares de leitores no mundo inteiro.
E o processo de escrita é fascinante justamente por causa disso: porque nós, como seres humanos, temos essa incrível capacidade de decodificar sinais gráficos postos numa folha de papel, e interpretá-los a ponto de fazerem sentido para nós.
Dentro dessa linha de raciocínio, eu gosto de escrever sobre os temas que eu escrevo porque as ideias contidas neles têm poder para influenciar positivamente e decisivamente vidas de muitas pessoas.
Vejam, por exemplo, a folha de papel abaixo:
Uma folha em branco, correto?
Agora, veja no que ela se transformou:
Sim, ela é o rascunho de um dos melhores artigos que eu já escrevi no blog, e, por meio desse artigo, muitas pessoas repensaram a forma como lidavam com um de seus bens mais valiosos, que é a atenção. Como eu sei disso? Pelos comentários que eu recebo no blog, pelas mensagens que eu recebo via email, pelos tweets que me enviam no Twitter, ou pelos textos publicados no Facebook.
E o que esse texto era antes de nascer?
Isso:
Ele era uma simples e mera folha em branco. Um nada.
Uma folha em branco é incapaz de mudar qualquer coisa, mas uma folha bem escrita, que depois se transforma em um artigo; mas um conjunto de folhas com ideias concretas, úteis e concatenadas e articuladas entre si, que depois se transformam em um conjunto de vários textos, podem, sim, modificar vidas.
Pois tais ideias circulam na mente das pessoas, que depois impulsionam comportamentos, transformando-se em atos materiais, e levando, portanto, a modificações nos planos físico e emocional.
É interessante observar esse fato: como coisas aparentemente tão pequenas têm tanto poder de provocar mudanças. E mais: com coisas que começam com folhas em branco.
Uma coisa que era sem vida de repente, através da mente humana, através de trabalho e dedicação, se corporificou num instrumento potencialmente capaz de transformar hábitos e comportamentos. Veja:
E agora eu pergunto: será que não é isso que falta em sua vida? Será que o comodismo não está te conduzindo a um estágio de letargia diante da vida?
Dizer para não deixar sua vida passar como uma folha em branco, como é o título desse artigo, é uma ótima metáfora para te encorajar a preencher com cores vivas todas as folhas em branco que a vida, a cada dia, está te proporcionando.
Não deixe as oportunidades passarem. Não espere – e não fique fantasiando – a chegada de um momento ideal para começar a agir.
Reflita por um momento: que sonhos você abandonou porque achou que não tinha coragem “suficiente”? Quantas oportunidades perdeu por achar que “não era para você”? Quantos estudos poderia ter iniciado, mas não iniciou, por ter achado que só valeria a pena ter feito se você estivesse “nas condições ideais”?
Ora, e você ainda acha que vai começar a agir quando as condições estiverem perfeitas? Parabéns, eu vejo que você tem respostas prontas para todo tipo de desculpa, e é muito bom nisso, mas vejo também que é incapaz de reconhecer que o culpado pela situação aonde chegou é você mesmo…
Como não deixar a vida passar em branco?
Por outro lado, existe uma boa notícia, e a boa notícia é essa: as folhas em branco ainda não acabaram. Ainda dá tempo de preenchê-las com novidades, com novas atitudes, com novos comportamentos.
Como eu ilustrei nesse artigo que até hoje recebe comentários, nunca é tarde para começar de novo. E só digo isso porque você chegou até aqui, depois de ler mais de mil palavras de um texto que não tem vídeos, não tem imagens bonitinhas, não tem gráficos, não tem fotos retocadas com filtros, e, portanto, seria um texto pouco atraente no meio dessa nossa sociedade que tende a desprezar cada vez mais a leitura de textos longos como fonte de conhecimento e entretenimento.
E como não deixar a vida passar em branco?
Há três atitudes que, conjugadas, farão com que você possa ser mais responsável consigo mesmo, e comece a preencher as folhas em branco de sua vida.
1. Metas escalonáveis.
Primeiro, crie metas escalonáveis. Ou seja, objetivos que possam ser decompostos, ou fracionados, em objetivos menores, a fim de permitir que você visualize a progressão no cumprimento dessas metas.
Por exemplo, estabelecer como uma meta financeira alcançar R$ 1 milhão, mas, como esse objetivo pode estar muito longo, fracione essa meta em metas menores, de modo que a meta menor seja requisito indispensável para o cumprimento da maior. Você pode estabelecer 10 metas parciais com intervalo de R$ 100 mil cada uma, sendo que pode ainda fracionar a primeira meta de R$ 100 mil em quatro objetivos menores de acúmulo de R$ 25 mil por “degrau”. Assim fica bem mais fácil, não!?
2. Marcadores de tempo.
Segundo, estabeleça marcadores de tempo para o cumprimento dessas metas, de modo a que você possa visualizá-las no eixo horizontal.
Voltando ao exemplo da conquista do milhão, estabeleça prazos factíveis para o cumprimento de cada uma das sub-metas (por exemplo, R$ 25 mil a cada 10 meses, para os primeiros R$ 100 mil), e vá ajustando os intervalos temporais do cumprimento das metas subsequentes de acordo com o ritmo de sua evolução.
3. Recompensas parciais.
Terceiro, estabeleça recompensas para cada progresso alcançado nos planos horizontal (intervalos temporais) e vertical (cumprimento progressivo e escalonado das metas).
Você precisa fazer isso para estabelecer um vínculo, uma associação, entre seu lado racional e que pensa a longo prazo, com seu lado mais primitivo e que pensa mais no curto prazo.
Nosso cérebro mais primitivo atua de forma um tanto quanto bipolar: ou busca o prazer ou foge da dor. Se essa parte do cérebro foi muito importante nos primórdios de nossa civilização, para nos mantermos vivos enquanto espécie humana, hoje em dia ainda pode ser útil para nos certificarmos de que estamos no caminho correto.
De tempos em tempos, ao verificar que você está evoluindo em seus planos, se permita recompensas como forma de se premiar pelos seus esforços.
É esse tipo de recompensa que está no cerne do “dia (ou refeição) do lixo”, que muitas pessoas que seguem uma dieta rigorosa fazem: elas se permitem uma refeição com porcarias, diante da disciplina em seguir a dieta nas outras 41 refeições da semana.
Desde que essa auto-recompensa esteja dentro de seus limites financeiros, psíquicos e emocionais, não há nada de errado em se prover algum tipo de agrado.
Conclusão
É muito mais fácil deixar as coisas como estão.
É muito mais simples inventar desculpas, do que agir para modificar alguma coisa.
Aprender coisas novas, explorar novos territórios, saciar a curiosidade pelo desconhecido, são coisas que dão trabalho, exigem disciplina, consomem tempo e recursos financeiros, emocionais e físicos. Nem todos estão dispostos a arcar com os custos dessas mudanças. Na verdade, uma minoria. A maioria prefere gastar seu tempo livre assistindo televisão.
Porém, os que estão dispostos a fazer coisas novas são os mesmos que se destacam positivamente na sociedade. São aqueles que não se contentam em continuar deixando páginas em branco enquanto o relógio da vida está correndo. São aqueles que fazem acontecer, que vencem a inércia, e que colhem os frutos daquilo que arduamente plantaram.
Agora que estamos no final de mais um ano, é muito comum as pessoas se sentirem estimuladas a fazerem as famigeradas promessas de Ano Novo e escreverem seus objetivos numa folha de papel em branco, para no ano seguinte, após decorrido um ano, olharem de novo para aquela mesma folha e descobrirem que ela continuou vazia.
Não seja uma dessas pessoas – a menos que você continue não querendo fazer nada com sua vida.
Que nesse momento de sua vida você possa modificar seu comportamento em relação a você mesmo, e comece enfim a preencher as páginas de sua vida com coisas das quais possa se orgulhar quando, no futuro, voltar os olhos para o passado, e perceber que sua vida não passou em branco, como na primeira imagem desse post, mas foi fortemente preenchida com palavras tão úteis quanto às mostradas na segunda imagem desse post. 😉
Mais um excelente texto Guilherme, todas as pessoas possuem sonhos e objetivos e sempre com a chegada de um novo ano eles afloram.
Porém, se não for colocado no papel com os respectivos prazos e ações para suas realizações, esses sonhos permaneceram como mais um desejo não realizado.
Essas três atitudes também fazem parte do método que utilizo para realizar meus sonhos e apoiar as pessoas a alcançarem seus objetivos.
Um grande abraço.
Obrigado, Cleiton!
Bom saber que temos alguns princípios em comum para a conquista de objetivos. 🙂
Abraços!
Parabéns, excelente reflexão!
Grato, Marlene!
Obrigado por esse texto. Demorei a tomar coragem, saber dizer não e correr atrás do que quero. Recentemente mudei para o interior em busca de qualidade de vida. Achei, exceto no trabalho, que se tornou maçante, repetitivo e sem qualquer perspectiva de crescimento. Pensei muito, imaginei-me em 5, 10 anos fazendo isso… Decidi voltar para a capital, onde consegui uma recolocação e agora com perspectiva de crescer. Espero ter feito a coisa certa, não é fácil, mas o que me guiou foi exatamente o pensamento exposto no seu artigo: de não deixar a vida passar em branco.
Olá, Thiago, excelente iniciativa, parabéns!
Não é fácil assumir e fazer mudanças em nossas vidas, principalmente pela exposição a julgamento dos outros, o que causa paralisia e incertezas.
Mas, se tivermos as motivações certas em mente, conseguiremos vencer todos os obstáculos.
Abraços!
Ótimo artigo.
Boa reflexão sobre o impacto da zona de conforto em nossa vidas.
Sair da inércia é muito difícil mesmo
Obrigado, Marcos!
Muito bom!!! Estou precisando reescrever algumas páginas e escrever outras,vamos pegar papel e caneta….
Isso mesmo, Leila, força e fé!
Abraços
Guilherme,
Excelente post, muito adequado para essa época do ano no qual as pessoas costumam fazer algum balanço sobre suas vidas.
Eu sou como você: primeiro escrevo com a velha e boa dupla caneta e papel.
A diferença é que sempre preferi começar textos com uma ideia em mente.
E também anotar ideias para futuros posts, pois quando não anotadas ficam “buzinando” o tempo todo no cérebro ou então se perdem. Há alguns anos, por pura e injustificável preguiça de gravar um rascunho, anotar os acordes e por confiar na memória, acabei perdendo uma música que gostei de ter criado.
Eu nunca havia pensado nisso, mas todas as músicas que criei sempre iniciei do zero, sem ideias, uma “folha” totalmente em branco, ao contrário dos textos. Particularidades da mente!
Gostei da sua dica de metas escalonáveis!
“Um corpo em movimento tende a permanecer em movimento. Um corpo parado tende a permanecer parado.”
Isso comprova o poder dos hábitos em nossas vidas.
Abraços,
Oi Rosana, obrigado!
Muito interessante sua criatividade para compor canções! Isso é ótimo para criar novas conexões no cérebro, ou seja, reforça e revitaliza a saúde! 🙂
Boa parte de nossas ideias criativas surgem de um ponto em branco, digamos assim. Dizem até que as melhores ideias ocorrem nos momentos mais inesperados, quando estamos caminhando ou fazendo atividades mecânicas, como escovar os dentes ou tomando banho.
Abraços!
Guilherme,
É verdade: várias ideias, soluções ou novos ângulos de abordagem de problemas realmente ocorrem nesses momentos. Para mim, o contato com a água funciona muito bem nesse sentido.
Desejo um Feliz Natal à você e à todos os leitores do Valores Reais!
Olá, Rosana, também lhe desejo um Feliz Natal!
Abraços!
Grande Guilherme.
Posts como esse deveriam ganhar um lugar no hall da fama daqueles que nos levam a mudar de vida.
Gostaria de acrescentar, humildemente, que a mudança na vida não vem sem erros. Inclusive, são eles que nos ajudam a solidificar as mudanças, se vistos de forma a serem encarados como aprendizado. Espere erros e retrocessos como apenas formas de evoluir ainda mais.
Grande abraço.
Olá Robson, muitíssimo obrigado pelas palavras!
Concordo com você, os erros são etapa fundamental na vida de qualquer ser humano, para o progresso e contínua evolução.
Abraços!