Hoje, o blog Valores Reais tem o orgulho de apresentar, de forma inédita, o primeiro guest post vindo da Europa. 😀
Dentre as diversas surpresas positivas que esse blog me trouxe, uma das mais significativas é a aproximação com pessoas situadas em diferentes regiões geográficas do planeta. Gosto de saber que meu blog é lido por pessoas localizadas em mais de cem países do mundo inteiro, tendo uma audiência significativa de muitos brasileiros que moram no exterior, principalmente na América do Norte e na Europa. Mas o que eu não sabia era que pessoas estrangeiras – e pessoas estrangeiras qualificadas 😀 – também leem meus artigos. 😀
João Morais Barbosa, renomado autor de educação financeira em Portugal, discorre, no artigo de hoje, sobre uma questão fundamental no tema da educação financeira para crianças: quem deve assumir essa responsabilidade? Os pais? Os professores?
Além disso, ele aborda, com muita propriedade, outro tema recorrente nesse contexto: os pais devem dar mesada ou semanada para seus filhos?
Os destaques ficaram por minha conta, e procurei preservar, na medida do possível, a estrutura original do texto, com o idioma português de Portugal.
Boa leitura!
………………………
O tema da educação é um tema que me é muito querido. E isso quer falemos de educação em geral, quer falemos de educação financeira em particular. Nos últimos anos, eu tenho dedicado a minha vida a ensinar as pessoas a refletir sobre dinheiro, quer seja no contexto de cortar custos e poupança, ou quer falemos de investimentos e de ganhar dinheiro.
Neste artigo, eu gostaria de focar a sua atenção em duas questões distintas, mas que permitirão chegar a uma conclusão interessante:
1 – Será que a educação financeira deve estar nas escolas?
2 – Será que devo dar semanada/mesada ao meu filho?
Vamos desenvolver as respostas a cada uma dessas questões.
Será que a educação financeira deve estar nas escolas?
A Educação Financeira já tem muita tradição em muitas escolas no Brasil. Em Portugal e na Europa começamos recentemente a dar os primeiros passos, e temos muito que aprender com a experiência e a realidade brasileiras (talvez se tivéssemos começado mais cedo não estaríamos a viver a crise atual). Talvez em breve tenhamos um programa de formação financeira como no Brasil…
Neste artigo, eu gostaria de refletir um pouco sobre quem tem o papel da educação. Serão os pais? Será a escola? Será o governo? Serão todos estes agentes?
Na realidade, eu creio que a educação deve ser uma tarefa quase exclusiva dos pais. Se falamos de educação financeira, esta minha posição assume-se como ainda mais firme, pois acredito que o dinheiro e a relação que criamos com ele são estruturantes nas nossas vidas. O dinheiro tem tudo que ver com a gestão dos afetos. Com a forma como lidamos connosco próprios e com os outros. Com os valores humanos que a família defende.
Infelizmente, muitos pais delegam a educação dos seus filhos nas escolas, acabando por tirar de si esta responsabilidade que é um prazer imenso. Eu tenho 4 filhos e estou agora a iniciar o meu caminho na sua educação e não me passa pela cabeça atribuir esta responsabilidade a terceiros. Talvez possa atribuir parte desta responsabilidade à escola que escolhi para eles, mas sempre supervisionando. O papel da escola, penso eu, é um papel de formar e transmitir conhecimento. O papel de educação é dos pais. No caso dos meus filhos é um papel da minha mulher e meu… e é tão bom ver as crianças a crescer, a evoluir e a aprender a pensar por elas próprias…
Será que devo dar semanada/mesada ao meu filho?
Associado ao ponto acima está uma estratégia que poderá ajudar em muito à aprendizagem das crianças no tema financeiro. Sendo certo que a educação começa em casa e que as personalidades se formam e crescem na família, é essencial que em casa sejam passados os principais conteúdos nesta temática.
Uma estratégia muito defendida pelos consultores financeiros passa por atribuir uma semanada aos filhos para que estes se possam confrontar com a necessidade de tomar opções, prever o futuro e lidar com o dinheiro desde cedo. Acredito nestas potencialidades e defendo-as na maioria dos casos. No entanto, será errado optar por uma estratégia diferente?
Muitos pais não têm a possibilidade de dar uma semanada ao seu filho. Outros optam deliberadamente por não o fazer, pelos mais variados motivos. Se optar por não dar semanada ao seu filho, você irá ser confrontado com diversos pedidos de dinheiro para as mais variadas despesas. Assim, é fundamental que crie o hábito de falar com os seus filhos sobre dinheiro (com moderação) procurando pedir justificativas e controlar o destino que eles dão ao dinheiro, mas sem nunca esquecer de promover a poupança.
Conclusão
As crianças gostam de dinheiro. Todos gostamos. Nós pais temos a obrigação de lhes mostrar que o dinheiro serve um propósito e que é um meio para atingir o conforto financeiro, um meio para pagar as nossas despesas e atingir os nossos sonhos. No entanto, não pode ser o fim em si mesmo.
Observação: achei excelente esse trecho escrito pelo João, já que é uma ideia que vai totalmente ao encontro do que eu defendo há anos aqui no blog, como expus, por exemplo, no artigo O que o dinheiro compra, o que o dinheiro é.
A importância do dinheiro não se pode sobrepor aos valores da amizade, do amor, do trabalho… enfim, aos valores da sua família. Talvez assim consigamos evitar no Brasil alguns dos problemas que estamos a viver na Europa, fruto da ganância e da corrupção. Talvez assim evitemos uma crise de valores humanos com os resultados que estamos a ver.
Uma correta educação financeira permite prevenir problemas. Permite centrar as pessoas naquilo que é importante e prioritário. Permite que sejamos felizes com aquilo que temos mas impulsionando-nos a trabalhar e batalhar por uma vida melhor. Ou não?
………………………….
Sobre o autor: João Morais Barbosa é formador e consultor na área das Finanças Pessoais. Trabalhou vários anos em Gestão de Ativos, publicou 5 livros nesta temática e desenvolve dois blogs dedicados ao dinheiro. É pai de quatro filhos e empreendedor, tendo criado a Reorganiza, uma empresa que se dedica a combater o excesso de endividamento e a iliteracia financeira.
…………………………..
Agradeço ao João pelo envio desse excelente artigo, o qual revela que, na essência, a educação financeira é uma importante pauta em qualquer nação que queira progredir, esteja ela localizada em um país da América Latina, esteja ela localizada em um país da Europa.
E você, como pai (ou mãe), que respostas daria a cada uma dessas questões propostas pelo João?
Créditos da imagem: Free Digital Photos
Alto lá, alto lá: “A Educação Financeira já tem muita tradição em muitas escolas no Brasil.”!!!
O que isso minha gente: “e temos muito que aprender com a experiência e a realidade brasileiras …”?
Rapaz, quem dera fosse verdade.
Quando li isso, pensei “nossa! como estamos bem cotados em Portugal” rsrs.
Eu também não entendi muito bem essa frase, pois no Brasil não há sequer o hábito de fazer poupança, pensar no futuro, em aposentadorias não totalmente dependentes do decadente INSS.
Que dera mesmo isso fosse verdade….
No mais o texto está muito bom. Acredito que em uma época na qual o consumismo é tão forte e os produtos de mais fácil acesso do que em outros tempos, cabe primeiramente aos pais não induzirem os filhos ao consumo, primeiramente através do exemplo e segundo, não deixando que a mídia coloque nos filhos sonhos que não são propriamente deles.
“Talvez assim consigamos evitar no Brasil alguns dos problemas que estamos a viver na Europa, fruto da ganância e da corrupção.”
Ah, se ele soubesse como isso tudo é tão presente no Brasil, com desvios de bilhões….
Abraços,
Rosana
Oi Rosana, Gilberto e Danilo, vocês têm razão, talvez o autor tenha se referido a alguma escola que tenha feito um trabalho específico nessa área.
Abraços!
Desculpe-me, mas como esperar que os pais transmitam educação financeira aos filhos quando eles próprios não a têm?
Educação financeira (e a educação em geral), é responsabilidade simultânea da família (quando os familiares tiverem este conhecimento, ainda que em nível básico), da sociedade e do governo.
Quando os pais tiverem conhecimento, ajudam na sua transmissão, quando não tem, seu papel seria o de acompanhar os filhos nesta evolução.
Outro ponto: Ao contrário do que afirma o texto, aqui no Brasil, educação financeira ainda é um tema bastante incipiente no sistema de ensino.
Está presente em apenas algumas poucas escolas particulares e muitos dos docentes que a ministram não sabem cuidar das próprias finanças.
Deve ser por isso que também por aqui estamos enfrentando uma crise econômica séria.
Abraços
“Educação financeira é responsabilidade simultânea da família, da sociedade e do governo.”
Não acho que a sociedade e a família devam interferir na educação dos meus filhos.
A educação é responsabilidade dos pais, que devem escolher entre as opções de escola aquela que mais se adequa aos seus objetivos. Cabe ao livre mercado e aos empresários da educação fornecerem essas opções.
Agora, dizer que as pessoas não têm opção, ou que a escola pública é de má qualidade é justamente não enxergar o problema que é ter o governo ou a sociedade interferindo na educação.
Abçs!
Correção:
“Não acho que a sociedade e O GOVERNO devam interferir na educação dos meus filhos.”
Sobre o tema que é suma importância, vamos ter o Seminário abaixo com inscrições gratuitas limitadas:
http://www.investidor.gov.br/form/2015/EF-CriancaseJovens.html
Aproveitem…
Ótima dica, Flavio!
A velha discussão sobre a responsabilidade da Educação … 🙁
(não importa se estamos falando da financeira, ou daquela que nos ensina a dizer “obrigado” e “por favor”, sabe ?)
Um dos motivos que trouxe a situação brasileira para a a atual, é justamente essa: “Deixa que a escola cuida da educação do meu filho. Corro feito um doido e não tenho tempo para isso” … O povo sempre tirando o dele da reta.
Mas o principal problema desse pensamento é: muitos dos que pensam assim, não admitem que seus filhos sejam advertidos ou repreendidos pelos professores. Então me diga … como isso pode funcionar ? o.O
Vi um vídeo esta semana de um moleque tocando o terror no colégio, enquanto os professores só olhavam. Todos com medo de ouvirem algo dos pais ou de alguma ONG que defende a “liberdade” das crianças. Ou muito provavelmente apenas com medo de tomar algum processo na cabeça. 🙁
Sim, a Educação vem de berço. Por mais batida que possa estar esta frase.
Oi Zé!
Você disse tudo: o povo sempre dá um jeito de tirar o dele da reta. Há uma verdadeira mentalidade, enraizada na cultura coletiva brasileira, de “empurrar” a culpa das faltas cometidas pelos jovens nas costas dos outros, sejam esses “outros” professores, governo, sejam esses “outros” a sociedade ou os pais.
Gostei muito também da sua última frase: a educação vem do berço.
Abraços!
Rapaz, educar bem um filho é o maior desafio do homem adulto. Mas a maior dificuldade está em educar primeiramente nós mesmos.
Excelente artigo.
Adicionei o seu blog no meu RSS Feed Reader (http://abacusliquid.com/blogosfera/)
Quando tiver uma oportunidade adicione também o meu novo site no seu reader (http://abacusliquid.com).
Grande Abraço!
Obrigado, uÓ!
Acabei de adicionar seu blog ao meu blogroll!
Abraços!