O artigo Crise econômica ou crise de valores? gerou um interessante debate na caixa de comentários.
Tudo começou com um trecho do texto em que eu comentava alguns comportamentos de políticos no exterior:
“… por exemplo, eu soube, através da leitora Bárbara que, na Holanda o primeiro-ministro vai sozinho de bonde para o trabalho… Em Israel a primeira-ministra Golda Meir recebia políticos e ministros em sua cozinha para lhes oferecer chá…”
A propósito desse trecho, o leitor Carlos Manoel nos brindou com uma excelente história:
“Vou reforçar o que a Bárbara falou a respeito do primeiro ministro da Holanda.
Fui assinante do jornal “Gazeta Mercantil nos anos 80. Lá para o final destes, um empresário da época, do qual não me recordo mais o nome (deveria ter guardado aquele recorte de jornal), contou o seguinte fato que tinha acontecido com ele por aquela época.
Ele estava em Genebra na Suíça num mês de abril ou maio (lembro-me que era primavera). Ele sentado em um banco virado para uma avenida, praça às suas costas, e uma parada de bonde à sua frente. Disse que ao lado dele se sentou um senhor de meia idade, terno, chapéu e guarda-chuva pendurado em um dos braços. Como ele estava lendo um jornal brasileiro, este senhor, educadamente, lhe perguntou se era brasileiro. Ele respondeu que era, e começaram uma conversa agradável, que durou uns 5 minutos. Passado este tempo, o Sr. de cidadania suíça, despediu-se, pois disse que via ao longe o bonde dele se aproximando e que ia trabalhar. Trocaram cartões. Ele esperou o Sr se afastar e tomar o bonde. Quando o bonde se ia, ainda trocaram um aceno de mãos.
Após a partida do bonde ele olhou para o cartão e estava assim escrito: O nome do Sr. e abaixo um indicativo funcional assim grafado “Ministro de Estado… (não me recordo de que pasta).
Pois é… outro mundo”.
Em seguida, o Flavio contou um caso que costuma ocorrer em seu ambiente de trabalho:
“Trabalho em um órgão público federal. De 2 em 2 horas mais ou menos vem um garçom nos servir cafezinho. Durante as reuniões ele sempre vem, trazendo café e água.
Anos atrás participei de um seminário em Washington organizado pelo Departamento de Justiça norte-americano, órgão mais ou menos equivalente ao nosso Ministério da Justiça. Havia café, água e suco de laranja à vontade, em uma mesa no fundo da sala, para quem quisesse pegar.
É uma diferença de mentalidade que parece pequena, mas que tem implicações profundas na sociedade. O americano, quando quer algo, vai e faz. O brasileiro espera que alguém faça para ele” (sem destaque no original).
E, para complementar, vejam a história vivenciada pelo leitor Douglas:
“É isso mesmo. Não só o americano mas também o europeu. Trabalhei na Alemanha e o meu chefe jamais me pediu para trazer café para ele, ou tirar um xerox (eu era estagiário, o mais baixo dos baixos).
O meu chefe só me dava tarefas úteis e com sentido. Inclusive a chefe dele, uma vez me pediu para tirar cópia de vários documentos (enquanto ele estava de férias no Natal) e quando ele voltou, me perguntou se ela me pediu alguma coisa. Falei das tarefas que ele me pediu (complexas e com sentido) mas também falei da cópia de documentos (mas nem me importei com a tarefa, até falei que não tinha problema) e ele ficou possesso e foi lá e falou com ela (A CHEFE DELE, vejam só) e ela nunca mais me pediu nada do gênero.
Ou seja, é uma mentalidade totalmente diferente. Cada um faz a sua parte e já está em um nível de achar absurdo delegar aos outros o que você não quer fazer. Imagine então uma pessoa exclusiva pra servir água e café, nem sequer passa na cabeça dos europeus que esse tipo de realeza ainda exista em 2015” (destaquei).
A mentalidade Casa Grande e Senzala: e os bons exemplos de que é possível superá-la
No Brasil, infelizmente, a realidade é essa: os brasileiros esperam que alguém faça algo para eles. Os brasileiros, de uma maneira geral, gostam de serem servidos, e não de servir. Exigem muito dos outros, mas exigem pouco de si mesmos.
Observe bem as pessoas ao seu redor, as pessoas com quem você convive, seja no ambiente familiar, seja no ambiente de trabalho, seja em qualquer outro tipo de ambiente em que é preciso lidar com “pessoas” e gerenciar “tarefas”. Muitas vezes, “sobra tudo pra você”: ou seja, os outros poderiam muito bem realizar tarefas das quais eles próprios poderiam se encarregar, mas preferem delegar a responsabilidade para os outros. Podem ser coisas relativamente simples, como fazer compras no supermercado ou cuidar das crianças, podem ser coisas mais complexas, como realizar atribuições dentro de um projeto profissional.
Às vezes, seu cônjuge não faz aquilo que ele poderia muito bem fazer. Às vezes, é seu colega de trabalho que age assim.
Por isso, aqui vem um fato de fácil constatação: as melhores pessoas são aquelas que servem.
A personal trainer brasileira Danielle Tâmega, que mora nos Estados Unidos junto com o bodyboarder heptacampeão mundial Guilherme Tâmega, já disse por diversas vezes que cuida sozinha de duas crianças pequenas, porque “nos Estados Unidos não existe essa coisa de empregada doméstica e de babá”. Ela resolveu assumir sozinha as funções de dona de casa e babá, embora até tivesse dinheiro para bancar empregados.
O empresário brasileiro Jorge Paulo Lehman também é da mesma linha de pessoas que gostam de servir. Conforme escrevi na resenha do livro Sonho Grande, vejam o que a pessoa (atualmente) mais rica do Brasil (e uma das mais ricas do mundo) fazia:
“Quando recebia gente para almoços no Garantia, dispensava garçons e ajudava a servir os convidados”.
E tem mais: no ambiente familiar, ele criou, no Brasil, os 3 filhos pequenos dispensando, assim como a Danielle, a ajuda de babás, que ele poderia confortavelmente pagar.
[…]
Mas não é preciso ir muito longe para constatar que existem exceções ao alcance da vista.
Na academia que eu frequento, eu admiro muito a postura do proprietário, pois toda vez que eu vou lá, ele está presente, supervisionando funcionários, inspecionando as instalações físicas, conversando com os clientes, lidando com fornecedores etc. etc. etc. E a academia continua se expandindo, tanto em termos de infraestrutura, quanto de serviços.
Outro que está sempre no local de trabalho e faz questão de ser o famoso “líder-servidor” é o dono do mercadinho de bairro que eu costumo frequentar. Ele ajuda a embalar os produtos nas sacolas, orienta os funcionários sobre o que fazer e o que não fazer, supervisiona a colocação de produtos nas prateleiras, ajuda os clientes a encontrarem os produtos que procuram etc. Outro dia mesmo, ele deu a maior bronca em um funcionário por conta de uma faca que esse último havia esquecido de tirar de um refrigerador que armazenava verduras, diante dos óbvios riscos que uma atitude negligente dessas poderia causar…
No Brasil, os empresários, principalmente aqueles que lidam com pequenos negócios, sabem da dificuldade que é lidar com os funcionários, que muitas vezes, além de não cumprirem bem suas funções, ainda reclamam quando têm que fazer eventualmente algo que esteja fora de suas estritas atribuições, alegando que seria “desvio de função”.
Os melhores funcionários (ou “colaboradores”, no jargão atual) são, incontestavelmente, aqueles que vivem apresentando soluções, inovações e “botando a mão na massa” pra valer. Ou seja, aqueles que têm e demonstram um genuíno interesse em crescer.
Conclusão
É preciso mudar a mentalidade coletiva ainda reinante no Brasil, de que “os outros nasceram para servir, e que nós é que devemos serem servidos”.
Não espere de braços cruzados por soluções que dependem basicamente da força de seus próprios braços.
Reclame menos, e faça mais.
Por outro lado, se são os outros que ficam te sobrecarregando com tarefas que eles mesmos poderiam realizar (que é o caso da maioria que lê esse blog, penso eu), então é chegado o momento de chamá-los para uma conversa particular, “no canto da sala”, explicar a situação, e lhes pedir para que eles assumam a responsabilidade pelas atividades que eles mesmos são capazes de fazer.
De uma forma ou de outra, é preciso agir. Pois, como diz a letra de uma famosa canção brasileira,
“Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.
Excelente semana para você!
Créditos da imagem: Free Digital Photos
Confesso que não sou fã de servir, mas se tem uma coisa que me incomoda é ser servido. Sempre me incomodou.
Olá, Guilherme! Tudo bem?
Já leu o livro “Um País Sem Excelências e Mordomias”? Nesse livro a escritora compara a diferença entre o Brasil e a Suécia, especialmente no que tange ao tratamento dado às autoridades nos dois países.
Logo na capa do livro você se depara com um senhor andando de bicicleta. Quem é ele? O presidente da Suprema Corte daquele país, que pega bicicleta e trem todos os dias para ir para o trabalho.
Enquanto isso, no Brasil… o desembargador de Tribunal de Justiça estadual TEM QUE TER um carro de R$ 80.000,00 + motorista à disposição dele sem limite de cota de gasolina, tudo gasto com dinheiro público.
Insinuar que esse desembargador pegue ônibus para o trabalho só geraria calorosas risadas, pois nem mesmo carro particular o cara usa.
Perguntando ao presidente do Supremo sueco o que ele pensa do auxílio-moradia para juízes praticado no Brasil (R$4.3k/mês), ele disse que é uma ideia terrível e perigosa. Perguntado sobre o auxílio alimentação (que para magistrados no Brasil ultrapassa 1k, lembrando que juízes em sua maioria trabalham só meio expediente), ele disse que “não almoça às custas do contribuinte”.
Eu sei que esse tipo de comportamento existe na iniciativa pública e privada, mas pra mim as mordomias públicas são tão mais graves que eu sequer consigo me importar quando o cara de iniciativa privada queima seu próprio dinheiro em busca de mordomias coloniais, afinal, não é com dinheiro público que ele está fazendo isso.
Olá Madruga, ótimo comentário!
Não li esse livro, vou procurar me informar a respeito.
E parabéns pelo novo blog! Já vi que tem bastante conteúdo original e criativo, como os mandamentos para os empresários!
Abç!
Fico feliz que tenha gostado. Abraço!
Guilherme,
Ótimo o título do post: “A Mentalidade Casa Grande e Senzala”. Muito original e apropriado ao tema! 🙂
Você lê bastante e já deve conhecer o texto que segue abaixo, folclórico na internet. Todavia, vou deixa-lo aqui para que outros possam aproveitá-lo (o texto abaixo é um excerto/resumo que adere ao tema aqui exposto). O texto é apócrifo e não sabe-se se é verdadeiro ou não. Mas a idéia que transmite, é. Li pela primeira vez esse texto na virada do século. Fiquei tão impressionado que comecei a fazer o mesmo no meu trabalho (estacionar o carro no fundo do estacionamento da fábrica onde trabalhei). E assim foi até me aposentar. 🙂 Segue o tal texto.
“Já vai para 18 anos que estou aqui na Volvo, uma empresa sueca. Trabalhar com eles é uma convivência interessante. Não conheço um povo que tenha mais cultura coletiva do que eles.Só para ter uma noção…
A primeira vez que fui a trabalho, em 1990, um dos colegas suecos me pegava no hotel todo dia pela manhã. Era setembro, frio leve e nevasca. Chegávamos cedo na Volvo e ele estacionava o carro bem longe da porta de entrada (são dois mil funcionários de carro). No primeiro dia não disse nada, no segundo, no terceiro… depois, com um pouco mais de intimidade, perguntei: você tem lugar demarcado para estacionar? Notei que chegamos cedo, o estacionamento vazio e você deixa o carro lá no final…e ele me respondeu simples assim: é que chegamos cedo, então temos tempo para caminhar. Quem chegar mais tarde já vai estar atrasado, melhor que fique mais perto da porta de entrada. Você não acha? Olha a minha cara! Ainda bem que tive esta na primeira! Tratei de rever os meus conceitos e práticas do mundo individualista”.
Olá Carlos, obrigado! 🙂
Não conhecia esse texto, realmente, é uma “fábula” da qual é possível extrair diversas lições sobre a mentalidade coletiva que reina em países mais avançados…
Abç!
Excelente texto, meus parabéns!
Valeu, Diego!
Cara isso é um grande paradoxo do nosso país. Eu odeio essa mentalidade e faço o máximo para evitar “ser servido”. Existem várias profissões inúteis e de baixa qualificação que poderiam ser perfeitamente via autosserviço, por exemplo: frentista de posto de gasolina, ascensorista, trocador de ônibus, bilheteiro de metrô, empacotador e caixa de supermercado (parcialmente) e etc… Agora imagina se um empresário resolve adotar uma medida pra acabar com esses empregos? Sindicatos e categorias inteiras se mobilizam, se revoltam entram na justiça e etc…
O caso dos frentistas é o mais clássico, em qualquer lugar do mundo é autosserviço, menos no Brasil que existe lei que impede isso… Aí os mesmos caras que criticam a “elite branca opressora”, são os mesmo que lutam para manter seu empregos como serviçais e assim nunca nossa mentalidade vai mudar.
O pior de tudo, como são profissões de salário mínimo não há incentivo algum para eles se aperfeiçoarem ou melhorarem a produtividade, pois o salário aumenta todo ano acima da inflação, o que de um ponto de vista não é ruim, mas por outro possui um efeito perverso na nossa economia e na sociedade. E assim caminhamos aos poucos…
Exato, Pedro, é bem isso mesmo.
A propósito disso, lembro-me de uma história contada por um educador financeiro que resolveu comparar como dois países, Brasil e Alemanha (salvo engano) tratam os problemas de “consertar buracos nas estradas e rodovias”.
No Brasil, ele presenciou e contabilizou em torno de 8 trabalhadores: 1 para operar a máquina, 2 para taparem os buracos, mais 2 para fazerem a limpeza do local, e mais 3 para “supervisionarem” a obra. E a obra demorou 10 dias para ser concluída.
Na Alemanha, o mesmíssimo tipo de serviço era feito por, pasme, 1 trabalhador: o operador de máquinas, que fazia também outros serviços relacionados à obra. E ele precisou de apenas 2 dias para fazer tudo…
Brasil-il-il-il…..
Eu acho que é por coisas assim que o Brasil não vai para frente.
Além disso, esses 8 trabalhadores fazem um serviço bem inferior, com materiais/misturas inferiores e muito desperdício. Tudo isso resulta em uma durabilidade muito menor, o que gera mais custos de manutenção. Não é à toa que o asfalto no Brasil é tão ruim.
“De certa forma, estamos um pouco parados no tempo (em relação à tecnologia de pavimentação), mas mesmo com as metodologias dessa época (50 anos atrás), se seriamente executadas, 90% dos problemas não existiriam”.
Fonte: http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/por-que-o-asfalto-brasileiro-e-mesmo-uma-porcaria
Exato, Rosana, não é à toa que as estradas brasileiras são tão ruins.
É ótima a reportagem, mostra bem quão triste é a realidade de nosso asfalto…
Abç
Nunca entendi para que serve um ascensorista.
Exatamente o que eu ia comentar. Qual a necessidade de alguém apertar um botão pra você?
Agora, cobrador de ônibus é um caso mais complicado. A não ser que só se aceite cartão/vale e o motorista não precise lidar com dinheiro, aí tudo bem.
Em vários países é o próprio motorista que exerce a função de cobrador. Aqui em Brasília rodam micro-ônibus (´21 lugares sentados) onde quem faz a cobrança é o próprio motorista.
Suíça, Alemanha e Itália não tinham cobrador. O motorista mesmo fazia a cobrança.
Se bem que na Alemanha e Suíça não têm nem catraca, então é até maldade fazer uma comparação.
Leandro, desde os anos ’70 na Itália também não tem catraca nos ônibus e motorista não cobra nada.
Alias, ninguém pode pegar ônibus com dinheiro: tem que comprar o bilhete ANTES de montar no ônibus ou ter cartão.
Por lei, é proibido falar ao motorista.
—-
Um dos piores problemas do povo brasileiro é que não tem respeito pelo TEMPO.
Dois exemplos:
1) motorista cobrando poucos passageiros montando no ônibus em cada ponto. No final do percurso são muitos minutos a mais, e no final do ano são MESES e MESES de tempo desperdiçado pelo ralo.
2) na Europa até ministros, gerentes de banco, reitores de faculdade colocam suas compras nas sacolas. Ninguém o faz no seu lugar. Simplesmente, não existe este serviço. O habito absurdo de muitos brasileiros de ficar no aguardo do caixa ensacolar suas compras mesmo com uma fila horrorosa de outros clientes aguardando, é mau, é desrespeito pelo tempo de pais, filhos, cônjuges, enfim: de qualquer um que no final do dia precisa vir pra casa ficar com seus queridos e não aguardar você no supermercado com braços cruzados enquanto o caixa ensacolar. As vezes, para depois vir na academia treinar os braços com pesos de ferro, como no caso de garotões atléticos que ficam servidos no mercado para satisfazer sua miséria de não ter verdadeiros serviços. Tudo isso é patético e/ou ridículo…
O uso do tempo é necessário pelo exercício da inteligencia: gastar o tempo dos outros e o próprio a toa, é destrutivo e estupido. No mercado ou no ônibus, assim como em centenas de outras ocasiões.
Obrigado.
Exemplo dos mais simples é ir numa praça de alimentação de shopping. A maior parte das pessoas aqui come e deixa a bandeja na mesa.
Exatamente. A classe média morre de medo de “parecer pobre” então se cerca de servidores sempre que possivel. Tenho 34 anos e trabalho em uma empresa pública federal qual a minha surpresa quando constatei que diversos colegas de trabalho NUNCA lavaram o banheiro de sua própria casa. Quantos nunca sequer passaram a ferro uma camisa social. Enfim, parece que há trabalhos dignos e outros em que é melhor contratar um outro ser humano para fazer o óbvio.
Infelizmente parece que o Brasil vai continuar na contramão por muito tempo em relação a servir x ser servido. Todos os comentários postados aqui ilustram bem isso.
Enquanto em alguns países é vergonhoso para os funcionários públicos – inclusive de alto escalão – usar dinheiro público para mordomias, aqui é exatamente o contrário.
Maravilhoso o exemplo do funcionário da Volvo. Aqui, até vaga de deficiente é usada sem critério algum…
Como disse o psiquiatra Flávio Gikovate em um de seus programas na CBN, a sociedade brasileira é culturalmente atrasada. E pelo andar da carruagem, acho que continuará assim por muito tempo…
Abraços,
Essa mentalidade coletiva atrasada realmente “emperra” muitas coisas no Brasil. Muito boa essa observação do Flávio Gikovate.
Abç
Guilherme, pra variar, um ótimo texto!
Estou meio sumido dos comentários, mas não deixo de acompanhar os posts.
Bem, posso dizer que tenho quase pavor de ser servido e que sou da turma dos que servem.
Na medida do possível, tento fazer tudo o que acho possível fazer, não só por estranhar a ideia de ter alguém fazendo o que eu poderia/deveria fazer, mas também pela curiosidade e vontade de aprender e de fazer as coisas. Contratar algum profissional aqui em casa, por exemplo, só em último caso. Talvez isso possa ser excessivo, me levando a querer abraçar o mundo e a perder o foco, mas ainda prefiro assim.
Sobre essa tendência de o brasileiro ser servido, creio que 3 séculos de escravidão deixam marcas que levarão tempo pra ser superadas. Estou lendo os livros do Laurentino Gomes (li o 1822 e estou lendo o 1808). É impressionante como parece que estou lendo não um livro de história, mas reportagens sobre a atualidade… Muito interessantes as partes em que são citados relatos de estrangeiros de passagem pelo Brasil Colônia, impressionados com a falta de valorização do trabalho, bem como a acomodação das pessoas que possuíam escravos, que não eram capazes de fazer absolutamente nada por si só.
Uma herança desse período é a quantidade de ocupações de baixa qualificação, como bem disse o Pedro, num comentário anterior. Alem das já citadas, acrescentaria também os lavadores de carro: adoraria dispor de lugares onde eu mesmo pudesse lavar o meu carro, como sei que existe na Europa e nos Estados Unidos.
Um exemplo que vivencio dessa necessidade de ser servido: trabalho num bairro de classe média/alta. Perto do trabalho, tem uma padaria, com um estacionamento na porta, com manobrista, e outro, alguns metros ao lado, no qual nós mesmos estacionamos. Não preciso nem dizer qual fica lotado, enquanto o outro fica vazio, né?
Outro dia desses, fiquei espantado com outra cena: na saída do estacionamento do supermercado, o carro que estava à minha frente parou cerca de 1 metro afastado do leitor do cartão. O que fez o motorista? Ficou paradinho, com o braço pra fora da janela e o cartão na mão, esperando até que viesse um funcionário pra pegar o cartão e inserir no leitor…
Nesse comparativo com situações vividas em outros países, às vezes me pergunto quem é mesmo que vive como rico…
Acho que a sociedade que queremos, será construída de maneira lenta, à medida em que cada um se conscientizar de suas responsabilidades, transformar o seu mundo e conseguir ser um exemplo para os que o rodeiam. Pena que isso não será uma coisa rápida.
Pra finalizar o assunto servir e ser servido, uma citação do mestre Jesus: “Entre vós não deverá ser assim. Quem quiser tornar-se grande, torne-se vosso servidor; quem quiser ser o primeiro, seja vosso servo” (Mt 20, 26-27)
Grande abraço!
Excelentes comentários, César, como de costume.
Impressionante os exemplos que você deu em relação ao seu cotidiano, que mostram bem quão difícil é a realidade de um país que ainda vive no espírito da realeza, na qual boa parte dos cidadãos prefere agir como reis, e tratar os outros como plebeus…
E a passagem final fechou com chaves de ouro mais uma excelente intervenção sua! Apareça mais vezes, quando puder! 🙂
Abç!
São muitos os comportamentos que temos, enquanto brasileiros, que nos são prejudicais.
São comportamentos aprendidos durante nosso desenvolvimento e nem percebemos o quanto são ruins.
Tem coisa pior do que sermos reconhecidos pelo “jeitinho brasileiro”?
Causa-me ojeriza.
Só muita educação pra mudar isso.
Talvez daqui a duas gerações…
O “jeitinho brasileiro” é o clássico exemplo de que, além de o brasileiro gostar de ser servido, ainda gosta de trapacear…
Abç!
Caramba,
acabei de ler exatamente o cenário que vivo todos os dias no trabalho. É muito triste percebem que os próprios SERVIDORES públicos são os que menos servem e os que mais querem ser servidos. Triste realidade. Já estou fazendo a minha parte para mudar isso. O exemplo muda mais que palavras.
Pois é, Camilla, é um cenário que ainda impera em muitas repartições públicas no Brasil.
E você tem total razão: o exemplo muda mais do que palavras.
Abç!
Isso aí, Camilla, a palavra ensina, mas o exemplo arrasta!
Reclame menos, e faça mais. Gostei muito dessa parte. É triste trabalhar com pessoas que só sabem reclamar. Onde trabalho chegou a um nível, que parece o muro das lamentações… com todo respeito aos irmãos judeus. Sempre tive postura colaborativa e de uns tempos pra cá, percebi que o que fazia para ajudar a equipe do meu plantão, estava virando obrigação e com isso deixando tarefas importantes de lado. Tomei coragem, parei de ficar me sobrecarregando e estou até mais feliz. E na verdade não tem muito o que reclamar, recebemos bem mais que outros colegas da área, mas percebo por diversas vezes, má vontade em fazer o óbvio: trabalhar. Não é preguiça em trabalhar, mas é a falta de compromisso, de fazer as coisas de qualquer jeito, sem cuidado… é falta de educação, de cultura e respeito com o próximo/contribuinte. Tenho orgulho de ser servidor público e procuro fazer o possível e o impossível para atender bem quem precisa dos meus serviços. Às vezes sofro por causa da minha postura, mas não deixo de atender bem.
Parabéns pela postura, Marinaldo!
São de mais pessoas como você que o Brasil precisa.
Continue agindo assim, que certamente as pessoas ao seu redor desejarão te imitar e copiar seu bom comportamento.
Abç!
Guilherme,
Gostaria de deixar mais uma contribuição: uma reportagem da revista Superinteressante, de Setembro/2014, sobre o cotidiano dos políticos naquele outro planeta chamado Suécia:http://super.abril.com.br/cotidiano/politica-mordomia-823350.shtml.
Abraço!
Excelente sugestão, César!
Abç!
Boa Tarde Guilherme!
Adoro sua abordagem crítica e sútil sobre os assuntos. Esse texto ficou excepcional.
Infelizmente é cultural esse comportamento aqui. Eu queria que um número MUITO GRANDE de pessoas lessem este texto, para ao menos refletirem.
Acho que um número expressivos de pessoas possuem uma visão muito micro no Brasil, são muito alienadas… E como não conhecem outras culturas, acabam achando que não há nada de tão errado com a delas. Apenas suposição minha.
E tenho mais uma suposição, na verdade uma quase certeza…
Se aqui, políticos e funcionários de alto escalão, utilizassem serviços públicos… Estes teriam muito mais qualidade. É muito diferente pegar um metrô em São Paulo e um trem na Suíça… Concorda?
Quem sabe se eles usassem, como a “grande massa”, não funcionariam melhor…
Abraço
ALINE PORTO
Aline, boa tarde!
Muito obrigado pelas suas palavras!
E concordo com você, nada como ter a experiência pessoal para poder “sentir na pele”, aí sim, acho que os políticos poderiam ter a iniciativa de melhorar os serviços públicos.
Abç!
Guilherme, descobri o blog através de um comentário no “Clube dos Poupadores”.
Já estou interessado em continuar lendo seus posts, que por sinal, são muito relevantes e inteligentes.
Ainda não terminei a leitura deste artigo, porém, não posso deixar de comentar esta frase: “as melhores pessoas são aquelas que servem”.
Num país como o nosso, já tendo convivido em diversos ambientes de trabalho e observado inúmeras situações, a impressão é de que quem gosta de fazer e servir não é valorizado, e pior, por muitas vezes é boicotado dentro do próprio ambiente por apresentar uma postura de atitude e proatividade.
Qual seu ponto de vista sobre isso?
Abraços.
Muito obrigado, Rodrigo, pelos comentários, e por ter chegado até esse blog por esse canal do Clube!
Sobre a frase mencionada, de fato, no Brasil, infelizmente, falta a cultura de proatividade e atitude. Parece que os funcionários e membros de equipe ficam tão acostumados a se restringirem às suas funções rotineiras, que quando alguém faz algo fora de seu estrito círculo de atribuições, essa pessoa acaba não sendo valorizada.
Trata-se de uma mentalidade e uma cultura coletiva que acaba criando raízes profundas em milhões de brasileiros, acostumados a apenas “cumprirem seu papel”.
Espero que, com a afluência de novas ideias, como as difundidas por esse blog, bem como ao intercâmbio com pessoas de fora, esse tipo de mentalidade um dia mude.
Abç!