[quote style=”boxed”]”Riqueza não é o quanto você gasta, mas o quanto você acumula”.[/quote]
– Thomas Stanley e William Danko, em O milionário mora ao lado
A educadora financeira Marcia Dessen publicou, em sua coluna semanal no jornal Folha de S. Paulo, um excelente artigo que propõe ao leitor uma série – e um sério – conjunto de reflexões sobre como anda sua vida financeira, particularmente em relação aos seus hábitos de consumo.
Tais hábitos, para muitas famílias brasileiras (talvez a maioria) na verdade representam venenosos vícios de consumo, na medida em que impedem a construção de um patrimônio financeiro. E a situação é tanto pior quanto maior for a renda líquida mensal familiar.
A autora começa seu artigo contando a história de um casal, que tem uma renda mensal de 10 mil reais líquidos, e como eles conseguiram torrar todo seu patrimônio “vivendo bem”:
“José não tem o hábito de controlar as despesas da família. Ele e a mulher sabem (acham que sabem) o que podem fazer com o dinheiro que ganham e conseguem, na maioria das vezes, terminar o mês sem invadir o limite do cheque especial.
Não gastam demais, mas também não conseguem poupar para uma reserva financeira que lhes daria mais tranquilidade e conforto para enfrentar situações de emergência ou, ainda, realizar um dos sonhos que têm.
A soma do salário dos dois é uma quantia suficiente para manter um padrão de vida confortável. Porém acreditam que estão fazendo algo errado porque se deram conta de que construíram uma riqueza muito pequena apesar de ganharem bem.
Juntos, fizeram as contas de quanto ganharam nos últimos dez anos, tempo em que estão casados. Consideraram uma renda familiar média mensal de R$ 10 mil, que, multiplicada por 120 meses, chega a R$ 1,2 milhão e ficaram surpresos.
Incrível como o que parece pouco ou apenas suficiente a cada mês ganha proporções importantes no longo prazo. O que fizeram com essa pequena fortuna?”
O exemplo não é surreal. Há muitas famílias brasileiras que têm renda mensal líquida nesse patamar de cinco dígitos, mas que não conseguem construir um patrimônio de ativos financeiros. Na verdade, o que eles conseguem poupar se resume a carros (que são passivos), e um imóvel próprio (financiado), que nem chega a ser um ativo financeiro propriamente dito, pois só dá despesa:
“Para responder a essa pergunta, decidiram analisar o patrimônio que construíram. Um apartamento de R$ 500 mil cujo financiamento ainda acusa um saldo devedor de R$ 200 mil. Dois carros quitados que valem cerca de R$ 100 mil. Um saldo no FGTS e mais nada. Felizmente não têm dívidas além do financiamento imobiliário, mas chegaram à conclusão de que, se tivessem planejado melhor, teriam um patrimônio líquido muito maior do que o apurado, de aproximadamente R$ 400 mil, equivalente a 33% de todo o dinheiro que ganharam.
O que foi feito com os outros R$ 800 mil? Viveram muito bem, obrigado! A má notícia é que geraram mais riqueza para os outros do que para si mesmos. Gastaram cerca de R$ 80 mil por ano para desfrutar a vida. A eles incomoda o fato de não serem capazes de dizer o que fizeram com tanto dinheiro” (destaquei).
Essa é o lado perverso do consumo inconsciente: quem gasta muito acaba transferindo o próprio patrimônio para outras pessoas. Para empresas. Para os bancos. Para a indústria do entretenimento. Para a indústria das viagens. Para a indústria do lazer. Para os fabricantes de carros, roupas, tecnologia. Todos querem o seu dinheiro. Se você gasta além da conta, parabéns! Pode ter a certeza absoluta de que você está enriquecendo muita gente… menos você.
[quote style=”boxed”]”Cada dólar que você gasta hoje representa o sacrifício de um pedacinho de seu futuro.” – Trent Hamm, fundador do The Simple Dollar[/quote]
É por essas e outras que devem ser admiradas, seguidas e até imitadas as pessoas que gastam menos do que ganham, e se esforçam para construir um patrimônio de ativos financeiros, visando a ter um futuro mais tranquilo e um futuro bem melhor do que o presente.
Me refiro, é claro, à comunidade dos blogueiros de finanças pessoais, e mais particularmente aqueles que arduamente trabalham, estudam e se esforçam para aprender mais sobre como investir melhor o dinheiro que poupam. Muitos deles fazem parte do ranking do patrimônio financeiro dos blogueiros de finanças brasileiros, divulgado pelo Pobretão de Vida Ruim, e do ranking de Rentabilidade, elaborado pelo General Investidor.
O que fazer para começar a mudar a situação?
[quote style=”boxed”]”Os seus desejos não são realmente seus. Eles foram colocados em sua mente por outras pessoas”. – Mr. Money Mustache, fundador do blog de mesmo nome[/quote]
A solução proposta por Márcia Dessen é simples: medir as despesas (a fim de as controlar melhor), cortar as desnecessárias, priorizar as importantes, e iniciar a formação da boa e velha reserva de emergência:
“Não se pode controlar nem administrar o que não se mede. Assim, resolveram que farão um orçamento familiar. Querem saber exatamente quanto gastam com cada despesa. E decidiram incluir no orçamento uma reserva de 10% do que ganham para a realização de seus sonhos.
Para isso, terão de reduzir despesas de alguns itens além de mudar alguns hábitos, mas estão convictos de que, juntos, podem alcançar esse objetivo.
O orçamento permitirá priorizar as despesas, identificando o que é importante e agrega valor. Para isso, decidiram anotar -por um único mês- todas as despesas, as grandes e as pequenas. Depois as anotações irão para uma planilha, com os tipos de despesa e a parcela que cada grupo representa do total.
As anotações deixarão claras quais são as pequenas (e grandes) bobagens dos hábitos atuais. Algumas serão fáceis de eliminar. Outras exigirão esforço considerável para corrigir. Mas a motivação de ambos indica que estão no caminho certo.
A poupança mensal de 10% da receita do casal tem agora um objetivo: constituir uma reserva financeira igual a seis meses do orçamento familiar, que será feita em investimento de baixo risco e liquidez garantida, como a poupança, por exemplo.
Esse será o primeiro teste da capacidade de disciplina do casal. Se forem bem-sucedidos, outras metas virão. Já estão pensando que a próxima meta pode ser a de acelerar o pagamento das parcelas do crédito imobiliário e se livrar dessa dívida.
E, daqui a alguns anos, quando poupar se transformou em hábito e olharem novamente para o passado, poderão se orgulhar do que foram capazes de construir com trabalho, esforço e disciplina. Sem deixar de desfrutar a vida, é claro!”
Conclusão
Recapitulando: não basta ganhar bem. É preciso também gastar bem, e fazer isso sem prejudicar a construção paralela de um plano de investimentos. Vai por mim: viver de contracheque em contracheque (ou holerite, ou, ainda, para alguns, “miserite”…rs), depender sempre do salário do próximo mês para quitar as contas do mês anterior, e ser um(a) escravo(a) do trabalho só vai te trazer dor de cabeça.
Comece hoje a dar seus primeiros passos rumo à liberdade. Rumo à independência financeira. Controle seus impulsos de consumo. É melhor sacrificar um pouco o presente para ter um futuro melhor e com mais qualidade, do que viver hoje “como se não houvesse amanhã”, e ter o desprazer de ter um futuro sombrio, e pior, convivendo com pessoas que, de fato, poderão mais pra frente, verdadeiramente ” viver hoje como se não houvesse amanhã”.
Pois riqueza, como já diziam Stanley e Danko, não é o quanto você gasta. Riqueza é o quanto você acumula. 😉
Ótimo post.
A formula é simples, mas é bem dificil conseguir seguir.
Mesmo depois que você toma consciência, o ato de poupar (ou mais fácil, de não gastar todo o salário) exige muita disciplina.
Mas depois que você acostuma, vai se sentir mal se tiver algum mês em que não consegue guardar dinheiro.
Oi, VBeI, obrigado!
Você abordou o cerne da questão: disciplina. E isso leva tempo, perseverança e muita dedicação. Mas vale a pena!
Abç
Parabéns por compartilhar conosco este artigo. Muito bom!
Obrigado, Rafael!
Excelente Post.
Há 12 anos sigo esses preceitos e afirmo que é muito recompensador ver a riqueza vindo na sua própria direção do que o contrário. Vou compartilhar com um público muito ciente dessas escolhas o pessoal do “Bolha Imobiliária” no Brasil. Abraços!
Muito obrigado pelas palavras, William!
E parabéns pela disciplina na matéria, essa qualidade indispensável para a construção de riqueza, como bem afirmado pelo Viver Bem e Investir.
Abç!
Excelente Gui,
Realmente nossos desejos não são nossos, são da mídia. Muito bem lembrou o bigode.
Uma pena tão poucos se atentarem aos gastos.
Pequenos ajustes já proporcionam diferença significativa.
Abraço meu amigo!
Obrigado, amigo!
Você disse bem: os pequenos detalhes, bem ajustados, já fazem uma boa diferença!
Abç!
Excelente contribuição Guilherme! Sempre falo em minhas palestras e consultorias que o primeiro investimento de qualquer pessoa deve ser a reserva de emergência. Tive a oportunidade de testar isso na prática (amarga, mas fundamental), pois o 1ºS/13 foi bastante duro para mim, devido a um reposicionamento de negócio. A reserva construída me salvou. Agora é recompô-la e voltar a construir patrimônio.
Abraço!
Olá Philip, muito obrigado pelas palavras!
Acredito que aquilo que vivenciamos conseguimos transmitir melhor. Dessa forma, creio que sua experiência no primeiro semestre desse ano deve ter reforçado ainda mais a importância de uma boa reserva de emergências para situações imprevistas.
Parabéns pela atitude e por praticar aquilo que você ensina tão bem!
Abç!
Parabéns pelo texto, ficou perfeito!
Gostei do trecho sobre gerar mais riqueza para os outros do que para nós mesmos. É uma boa estratégia para desmotivar o consumo por impulso.
Além disso, a humanidade chegou em um ponto tão grande de destruição e desrespeito à natureza que qualquer iniciativa no sentido de incentivar o “desconsumo” é sempre bem-vinda.
Abraços,
Oi Rosana, muito obrigado pelas palavras!
De fato, o hiperconsumo ainda por cima traz severos prejuízos ao meio ambiente.
Temos que ficar antenados!
Abç!
Ótimo artigo. Também gosto de pensar em cada real economizado como “um soldadinho”, um empregado que você coloca para trabalhar por você, que vai se multiplicar e ajudar você na busca pela IF.
Só não concordo friamente com esta definição crua dos grandíssimos Stanley e Danko (“O milionário mora ao lado” é um dos melhores livros que existem sobre o tema), pois para mim, riqueza não é o quanto você gasta e nem quanto acumula, e sim, liberdade e independência financeira. Claro que isso passa pela acumulação de um certo nível de patrimônio, mas isto é simplesmente um meio, não devemos buscar a acumulação simplesmente pela acumulação, sem saber onde se quer chegar.
Acredito que a definição dos autores ficou meio ambígua (tentaram usar poucas palavras), mas no fim das contas, acho que era isso que eles queriam dizer. Aliás, este tema evoca discussões que me fazem acreditar que vale um artigo próprio.
Oi GG, penso que o Stanley tenha focalizado mais nos efeitos materiais do processo de acumulação de riqueza, do que nos efeitos extrapatrimoniais (liberdade e independência).
Também concordo que o assunto vale um artigo próprio, pois traz discussões palpitantes!
Abç!
Olá Guilherme, li alguns rumores na internet sobre o possível confisco e congelamento dos valores investidos por pessoa física feitos pelo governo. Vc acha que isso poderia acontecer como ocorreu no governo Collor ou é uma coisa improvável de acontecer?
Abraços.
Oi Gouvea, isso é uma coisa improvável de acontecer, porque isso afugentaria de vez o capital estrangeiro, que é não só o capital que manda na Bolsa, mas também que manda na economia real brasileira.
Fique tranquilo que os investimentos não sofrem esse risco.
Abç!
É frustrante guardar dinheiro. Racionalmente eu entendo e guardo cerca de 30% da renda mensal familiar mas não é nada bom hahaha. Claro que no futuro fará toda a diferença e eu até gosto de olhar os extratos mas é um sacrifício. Filha da mídia, eu sei.
Oi Gisely, que bom ver você por aqui novamente! 😉
De fato, é um sacrifício guardar dinheiro, mas no final das contas tudo valerá a pena, em função dos benefícios obtidos no futuro!
Abç!
Guilherme, meu marido perguntou se o casal da pesquisa éramos nós, rs.
As situações são bem parecidas, assim como os dados; eu destacaria apenas que não vivemos como um “bon vivant”, não ganhamos bem há tanto tempo (10 anos) e, infelizmente, não temos 2 carros quitados que totalizam 100 mil, mas um só, ainda alienado.
O resto, tá igual, valor do imóvel, valor do saldo devedor do financiamento…
Começamos há poucos meses a planilha de controle, reduzimos consumo, saímos do cheque especial, há mais pesquisa e consciência nas compras… só falta agora sobrar para investir.
Abraços.
Olá Lívia, mas que coincidência, né…rsrs….
Bem, o importante é que vocês começaram a mudar o jogo dessa história, e é isso que fará toda a diferença no futuro.
Especialmente relevante deve ser a sensação de liberdade experimentada por vocês assim que conseguiram sair do famigerado cheque especial. É uma liberdade que não tem preço!!!
Continuem na caminhada, que certamente vocês conseguirão se tornar mestres na arte dos investimentos!
Abç!