Estamos vivendo tempos difíceis.
As manifestações de protestos que ganharam as ruas do Brasil inteiro nos últimos dias são o reflexo natural de um estado geral de insatisfação, de um sentimento coletivo e generalizado de revolta, diante do abismo que existe entre o discurso oficial e a caótica realidade em que vivemos. Não adianta os (des)governantes quererem tapar o sol com a peneira. Não irão conseguir.
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Como acertadamente apontou a Folha de S. Paulo no editorial da edição de anteontem:
“O que aflige os brasileiros é a perda de poder aquisitivo, com a inflação, e a incapacidade do Estado de apresentar soluções concretas para a crise as áreas vitais de saúde, educação, segurança e transportes. Mais consumo e mais futebol não resolvem nada disso” (destaquei).
No âmbito econômico, o cenário continua preocupante, e isso, é claro, tem efeito direto e imediato sobre os investimentos nossos de cada dia.
Dólar
Comecemos pelo dólar, essa moeda que não pára de subir dia após dia. Ao acessar o UOL nessa quarta-feira, me assustei quando li a notícia de que a moeda norte-americana tinha fechado na impressionante cotação de R$ 2,22, a maior desde 27.04.2009, quando então vivenciávamos o auge da crise econômica mundial. O dólar está subindo a galope e isso, é claro, traz uma série de consequências negativas, principalmente para quem pretende (ou pretendia) viajar para o exterior nas próximas semanas, uma vez que fomos brindados, quase do dia para a noite, com um aumento de 10% no valor da viagem.
10% não. Mais. Porque teremos que acrescentar o valor do dólar “bancário”, aquele praticado pelo seu banco ou operadora de cartão de crédito (que sempre será superior à cotação oficial), e adicionar, sobre esse montante, a “doação compulsória” de 6,38% pagos a título de IOF, cujo dinheiro obtido o governo deve empregar tão bem…
Supondo que a cotação de seu banco fique 10 centavos acima do dólar oficial, o ponto de partida para o cálculo do valor das viagens começa em R$ 2,32. Adicione mais 6,38% pelo IOF, e você terá que pagar R$ 2,47 para cada dólar gasto no exterior – e supondo, na melhor das hipóteses, que a cotação oficial estacione nos R$ 2,22. É muita grana para um dólar só…
Bolsa de Valores
O IBovespa ainda tá em busca do fundo do poço. Ontem, fechou na faixa dos 47 mil pontos, 47.893, para ser mais exato, sendo a menor pontuação desde 30 de abril de 2009, no auge da crise econômica internacional. Só nesse mês de junho, as perdas do Índice somam -10%, sendo que, acumulado do ano de 2013, o prejuízo é de -21,4%.
São notícias ruins vindo de todos os lados, e ontem a queda de mais de 3% se deve, principalmente, ao fato de FED ter praticamente antecipado a data de encerramento do programa de injeção monetária, como bem alertou o Finanças Inteligentes em seu último artigo:
“Bernanke antecipou ao mercado a data de despedida do programa de injeção monetária. Segundo o presidente do FED, o programa será encerrado na metade de 2014, caso as projeções da autoridade monetária, para o crescimento e emprego, sejam confirmadas. Este foi o grande choque que afetou as praças financeiras na tarde desta quarta-feira. O convite para a festa de encerramento da era do dinheiro farto e barato, com local e data praticamente confirmados, foi enviado formalmente ao mercado na tarde desta quarta-feira”.
As ações que compõem o índice, principalmente as blue chips, têm apanhado bastante, é claro. Vale e Petrobras têm perdido até 60% do seu valor de mercado, desde o ápice das cotações, em maio de 2008. Aliás, no que diz respeito às ações da Vale, existe uma informação curiosa: além de elas estarem no menor nível desde 1999, o valor de mercado da mineradora (US$ 151,47 bilhões) está abaixo de seu patrimônio líquido (US$ 156,52 bilhões – dados de 31 de março, os últimos disponíveis), de acordo com notícia veiculada no jornal Valor.
Essa pancada que as principais ações da Bolsa têm sofrido só reforçam a importância de você não fazer muitas apostas em poucas fichas, ou seja, dilua ao máximo que puder os seus investimentos entre diferentes ações, a fim de minimizar as perdas em caso de quedas ainda mais profundas na Bolsa de Valores. Os investimentos em fundos de índice passivo, tais como PIBB11 e BOVA11, continuam sendo a melhor e mais atrativa opção para o investidor que quiser obter o melhor retorno no mercado de ações, gastando o menor tempo possível analisando o mercado.
Títulos públicos
Com todo esse movimento de pânico que tem tomado conta do mercado nos últimos dias, os títulos do Tesouro Direto têm, é claro, sofrido bastante, e isso tem trazido consigo também a chance de pescar algumas oportunidades.
Os juros da LTN 2016 chegaram ao patamar de 11,20% (enquanto a nossa SELIC paga 8%). Já a NTNB Principal 2024 (atrelado à inflação) está pagando 5,80% de juros prefixados + a correção pelo IPCA. Conforme sabiamente explicado pelo amigo Finanças Inteligentes:
“As taxas dos títulos pré-fixados estão apresentando um spread de quase 3 pontos percentuais sobre a atual taxa Selic, mostrando um certo exagero do mercado que deve ser aproveitado pelo investidor.
Outra oportunidade como esta, para abertura de posições em renda fixa, poderá ocorrer somente em 2015, quando o Banco Central deverá apertar novamente a política monetária, seguindo a estratégia dos demais banqueiros centrais mundiais, inclusive o FED”.
Isso só reforça o que dissemos na semana passada, por ocasião do artigo Zigue-zague: Bolsa em baixa, dólar em alta, fundos imobiliários em baixa, juros em alta: o que fazer?: a de que existem oportunidades tanto na renda variável quanto na renda fixa, principalmente nesses movimentos de pânico que o Sr. Mercado de tempos em tempos costuma apresentar.
E se você ainda não se convenceu sobre o fato inconteste de que, no longo prazo, títulos do Tesouro Direto atrelados à inflação são investimentos bem mais seguros do que a caderneta de poupança, recomendo que ouça um dos últimos programas da Mara Luquet na rádio CBN, onde ela comenta que o maior risco do investimento em aposentadoria é perder para a inflação:
Não gaste seu dinheiro comprando coisas caras, no momento errado
Um dos segredos de ter uma boa vida financeira é apresentar um equilíbrio entre consumo e investimentos. Ou seja, consumir com consciência e qualidade, e investir com prudência e inteligência. Ou ainda, em outras palavras, comprar coisas baratas e evitar comprar coisas caras. Isso implica, normalmente, em seguir um movimento contrário ao que a maioria das pessoas faz. E o que a maioria faz? Bom, você já sabe: compra quando a coisa está cara, e vende quando a coisa está barata.
E isso vale para tudo. Compram Bolsa quando ela está cara (porque todo mundo está comprando), insistem em ir para o exterior mesmo quando o dólar vai machucar o bolso, vendem ações quando elas estão despencando… afinal, é muito confortável fazer o que todo mundo está fazendo, não é mesmo?
Porém, se você fizer o que todo mundo faz, irá obter os mesmos resultados que todo mundo obtém. E o que todo mundo obtém, quando todos fazem a mesma coisa? Perdem dinheiro. Deixam escapar oportunidades. Relevam a frugalidade a segundo plano, num movimento típico de maria-vai-com-as-outras, apenas com o objetivo de impressionar os outros e se exibir aos quatro cantos. Pobres pessoas (pobres mesmo!).
Valorize o seu dinheiro e o respeite, porque dinheiro não aceita desaforo. Você irá pagar caro no futuro pelos erros que cometer no presente. E o maior erro que você pode cometer agora consiste em comprar coisas por mais do que elas realmente valem, e isso se aplica tanto para passivos quanto para ativos financeiros. E se em abril de 2014 o dólar cair para R$ 1,85, desvalorizando-se 17%? E se o imóvel que você pretende comprar agora por R$ 400 mil daqui a 6 meses custar R$ 350 mil? E se a Bolsa que agora está a 47 mil pontos subir para 55 mil em junho de 2014?
Não tente satisfazer prazeres de curto prazo à custa de, ou sacrificando, benefícios de longo prazo. É hora de ser mais cauteloso em seus atos de consumo, e investir mais em seus atos de trabalho e educação.
Não aja sob o impulso de emoções negativas. Controle-se, e nunca deixe que alguém fique te controlando.
Bons investimentos!
Mais um ótimo artigo!
Com relação ao Tesouro Direto, esta disparada de hoje obrigou o governo a programar dois leilões extraordinários de recompra de títulos para quinta-feira, a fim de reduzir a excessiva volatilidade. O volume vendedor está causando grandes distorções na taxa, gerando estes exageros. Estes leilões não são comuns, voltaram a aparecer agora. A última vez que o governo realizou este tipo de operação no Tesouro foi em 2008. O leilão poderá minimizar o desequilíbrio entre as duas demandas (vendedora e compradora). Quem fisgou as taxas hoje se deu muito bem.
Abcs, obrigado pelas citações!
F.I., obrigado!
Muito boa sua explicação sobre a dispara dos preços dos títulos do TD! Oportunidades pipocando em várias áreas de ativos financeiros!
Abç!
Gui, excelentes ponderações meu amigo.
O interessante é que o momento se mostra oportuno para investimentos tanto em RV ou em RF. É um ótimo momento de entrada.
Abraço!
Obrigado, Jô!
Sem dúvida, o mercado está atraente, parece até que o gerente do lápis vermelho resolveu aparecer…..rsrs…
Abç!
Realmente, muitas oportunidades para quem é investidor de verdade.
Concordo, Operario. Hora da onça beber água….hehehe
Abç!
O valor do dólar é a cotação comercial mais uma taxa de conversão de 0 até 5% da cotação + IOF.
Grato pelos esclarecimentos, Emerson!
Não entendo o porquê desse desespero com o dolar. Em 2002 o dólar estava estabilizado em 2,50 e todo mundo sobrevivia. Disparou por causa do medo do Lula, mas depois voltou a cair.
O dolar alto + demanda por commodities na china salvaram a pele do Lula porque deu sorte de entrar em um período de muita exportação.
Hoje, 11 anos depois, o dolar ainda nem chegou aos 2,50 e o poder de compra de 2,50 é muito menor, mas todo mundo trata como se fosse o fim do mundo.
Acomodação? dependência da china?
Não tem como um país planejar exportação desse jeito porque o custo interno subiu mais de 100% nesse período com inflação e reajustes.
O povo não está ganhando mais? a renda não aumentou?
2,20 nem deveria fazer cócegas…não é?
Georges, ótimas ponderações sobre o dólar.
Abç!
Guilherme,
Sinceramente, nem sei mais o que pensar sobre o nosso país.
O governo fala em cortar gastos em investimentos (exceto os da tal copa do mundo), mas em nenhum momento falou em diminuição dos seus próprios salários exorbitantes, das regalias que todos eles têm, nem da quantidade vergonhosa de ministérios…
De qualquer forma, estou com algum receio em relação ao TD pois até quando esse país será mesmo uma democracia? E se aparecer algum “Collor” da vida e resolver dar calote nos pequenos investidores do TD? Considerando a corrupção reinante nesse país, a chance dos maiores investidores terem algum tipo de informação privilegiada em troca de alguns favores é grande. E os pequenos sempre são os maiores prejudicados.
Sobre a queda da bolsa, até os FII começaram a cair.
Abraços,
Rosana
Oi Rosana, ótimas reflexões!
O Brasil vive uma situação lamentável de maneira geral e em todos os campos, e o governo federal tem uma parcela muito grande de culpa, justamente pelos motivos citados por você: ausência de redução de gastos no próprio funcionalismo público, aumento de ministérios, e por aí vai.
Penso que a situação geral é grave, mas não chega ao ponto de o Tesouro Direto perder seu brilho e sua principal qualidade, que é a segurança. Isso porque o Brasil está inserido no contexto internacional, e garantir e honrar os pagamentos dos juros dos títulos públicos é condição essencial para o país continuar a receber investimentos estrangeiros, que ainda são a grande mola mestra de desenvolvimento de muitas empresas e obras no Brasil.
Acho bastante remota a possibilidade de um calote. É claro que pode acontecer, como qualquer coisa nesse país, mas é difícil.
E sim, todos os investimentos em Bolsa estão derretendo, até os fundos imobiliários começaram a perder valor de mercado.
O negócio é apertar os cintos. Ser frugal nunca foi tão importante quanto nos dias atuais.
Abç!
Oi, Guilherme
Agradeço por sua resposta, agora ficou mais claro para mim.
Frugalidade é sempre bem-vinda!
Abraços,
Com certeza, Rosana! Frugalidade já! 😀
Abç!
Olá Guilherme, ótimo artigo que ilustra bem o momento atual. Acredito que devemos ser mais espertos que o governo, como em alguns livros de educação financeira, que falam que o governo tenta penalizar os ricos, mas os ricos sempre conseguem sair pela tangente.
Então devemos economizar ao máximo; gastando no Brasil apenas com alimentação e demais despesas fixas(ex: tel, inter, energ. elet. gasolina). E claro negociando o preço dessas despesas fixas sempre que possível.
Deixar para comprar roupas, eletronicos, info e etc.. no exterior que é mais barato.
Sacar dólar/euro/libra no exterior pois paga-se cotação comercial e quando vc for viajar novamente não vai depender da cotação futura da moeda.
Evitar ao máximo pagar impostos, seja quando for investir, seja quando for comprar, ou impostos gerais como IPVA, IPTU e etc. Usar o Paypal para não pagar IOF, pedir NFe para abater o IPVA e IPTU, investir em investimento isentos de I.R. como Ações, Ouro, LCI e recebimento de aluguéis de FII.
Logo, fazendo a jogada: economizando o máximo possível + comprando no exterior aquilo que é mais caro no Brasil + evitando ao máximo o pagamento de impostos = vamos fazer valer o nosso dinheiro, tendo um real retorno do nosso trabalho e horas de estudos.
Abraços.
Excelentes recomendações, Gouvea! Um comentário que vale por um post! 😀
Com as dicas suas, não tem como não dar certo!
Abç!
Guilherme, também aproveitei a oportunidade para escrever sobre como os iniciantes podem se aproveitar deste bom momento na bolsa para começar a investir, sempre devagar e minimizando os riscos, obviamente.
http://gurudagrana.com.br/2013/07/30/como-entrar-na-bolsa/
Guru, parabéns pelo post, recomendo a todos que estão iniciando no mundo dos investimentos. Você leva jeito pra escrita, continue assim, que o futuro é promissor!
Abç!