Reportagem publicada recentemente no jornal O Globo mostrou um fenômeno que começa a se popularizar no Brasil: a simplicidade voluntária. E o que significa, afinal, esse movimento?
Basicamente, significa adotar um estilo de vida mais frugal, menos consumista. Ou seja, viver com menos. Menos coisas. Menos consumo. Menos “necessidades”. Trata-se de um movimento que vai na contra-mão do que prega a nossa atual sociedade de consumo, onde se valoriza mais o “ter” do que o “ser”, onde as pessoas valorizam mais aqueles que têm um smartphone que custa R$ 1.999,00, mas um cérebro que vale R$ 0,10, do que aqueles que têm um cérebro que vale R$ 300 milhões, mas um smartphone que custa R$ 49,90 (vide, a propósito, excelente post do meu amigo Henrique Carvalho, no Facebook).
E o mais interessante é que esse movimento – o da simplicidade voluntária – está sendo adotado por pessoas que podiam muito bem escolher um estilo de vida completamente recheado de coisas materiais, conforme mostra a reportagem:
“O escritor carioca Alex Castro, de 39 anos, que cresceu num apartamento de 600 metros quadrados na Barra da Tijuca, aderiu ao movimento e usa seu site pessoal para propagar suas ideias sobre a redução do estilo de vida ao essencial. A base de tudo é o minimalismo — movimento cultural do século passado que faz uso de poucos elementos fundamentais como base de expressão.
— Antes eu atrelava os momentos felizes a objetos inanimados. Um dia, fiquei irritado porque um amigo usou minha caneca. Decidi que não queria ser essa pessoa. Descobri que jogar fora os objetos não significa jogar fora as emoções. Passei a viver uma vida sem rastro, aumentando a prática do desapego.
Castro reduziu seus pertences de tal forma que garante caberem numa caixa. Poucas roupas e sapatos, assim como utensílios domésticos. Ele só não abre mão de investir num bom laptop, Kindle, celular, câmara digital e cachimbos. Todo o resto, teoriza, é supérfluo. Deixar tudo para trás, diz ele, é um exercício constante, que incluiu até livros caçados em sebos durante anos.
— Tenho menos objetos e mais tempo livre para mim. Não posso imaginar troca mais sensata”.
Menos coisas = Mais tempo / Mais tempo = Mais liberdade / Mais liberdade = Mais vida
Na equação que rege a matemática da simplicidade voluntária, onde há um forte apelo ao desapego de bens materiais e objetos supérfluos, o resultado final é o ganho de tempo, e o consequente ganho de liberdade que isso provoca. Isso porque, ao gastar menos dinheiro com bens de consumo, você acaba gastando também menos tempo na manutenção desses mesmos bens, isto é, gasta menos tempo na organização deles, e na ocupação de espaço que eles acabam realizando em sua casa. Menos coisas em casa também significam menos coisas na mente para gerenciá-las, e o resultado disso tudo é um alívio mental e uma sensação de bem-estar psíquico, de que tudo finalmente está sob seu controle, porque esse “tudo”, afinal de contas, acabou se reduzindo a “pouco”, isto é, ao essencial:
“O analista de mídias sociais Ian Black, de 32 anos, não tem tocador de DVD e diz não frequentar locadoras de vídeo há quatro anos. Nos últimos dez anos acumulou um acervo considerável de música e entretenimento digital. Tem mais de 20 mil faixas armazenadas. Possui também aproximadamente 400 filmes baixados. Para ele, um jeito torto de ser ecologicamente correto.
— Consumir menos também significa gastar menos recursos naturais. Mas há um lado de conveniência mesmo. Ter uma estante com centenas de CDs significa que você precisa investir um bom tempo organizando, limpando e ainda tirando da embalagem para colocar em um aparelho específico. Também vou, aos poucos, me livrando dos livros. É o que considero mais absurdo. Dificilmente são relidos e depois só servem como decoração e como peso desconfortável na mudança.
Black, que mora em São Paulo, diz que tenta aplicar o mesmo conceito para roupas. Cada vez mais se apega a peças lisas e fáceis de combinar, de maneira que não tomem tempo e espaço maiores do que o necessário”.
Simplicidade é um ato voluntário: você só aceita se você quiser!
No livro pioneiro a respeito do tema, Simplicidade Voluntária, que resenhamos há quase 3 anos, Duane Elgin trata de explicitar bem um ponto: a simplicidade é um ato voluntário, no sentido de só aderir ao movimento quem realmente quiser:
“Faz toda a diferença a simplicidade ser voluntariamente escolhida, e utiliza o exemplo de duas pessoas que usam a bicicleta para ir ao trabalho, para economizar combustível. A primeira usa a bicicleta para se exercitar fisicamente, ter contato com a natureza e poupar energia. Ele teria a possibilidade de usar o carro, mas opta pela bicicleta, e sente grande satisfação em optar por esse meio. Já a segunda pessoa vai de bicicleta ao trabalho porque não tem condições de comprar o carro. Ela anseia por ter um carro, e fica ressentida toda vez que tem que ir e voltar do trabalho de bicicleta.
Exteriormente, a atividade é a mesma. Contudo, as perspectivas pessoais são completamente diferentes. Qual das duas oferecerá uma resposta funcional mais eficiente para a economia de combustível: a primeira ou a segunda? Fica evidente, a partir desse exemplo, descobrir se a vida simples foi voluntariamente escolhida ou externamente imposta. E mais, a simplicidade voluntária envolve não apenas os aspectos puramente objetivos da atividade, mas sobretudo os aspectos subjetivos, ou seja, a intenção com que se faz”.
Em síntese, podemos concluir que a simplicidade voluntária expressa um estilo de vida cujo o slogan principal poderia ser definido como “menos é mais“. Contente-se com aquilo que você já tem. Valorize aquilo que você já possui. Como bem ressaltado nesse post do Mude.Nu:
“A satisfação, o contentamento, não é interessante para as empresas. Pessoas satisfeitas não compram, ou compram menos. O que faz a roda do dinheiro girar é a insatisfação, o desejo de ser outra coisa, de ter mais, de apostar a própria felicidade em objetos externos”.
No jogo da vida, ganha não quem acumula simplesmente mais coisas, mais dinheiro, mais patrimônio, mas sim quem acumula mais tempo para fazer aquilo que gosta, quem acumula mais densidade nos relacionamentos, quem acumula mais energia nos desafios a que se propõe a fazer, quem acumula, enfim, mais propósito para melhorar não só a sua própria vida, mas também a dos outros. 😉
Agradeço aos velhos amigos Renato C e Jônatas pelo envio da matéria do O Globo!
Oi, Guilherme
Excelente texto!
Eu vi o site Simplicidade Voluntária há muito tempo e gostei. Hoje em dia o Ter se sobrepôs ao Ser, mas isso vai contra nossa natureza. Por isso vemos tantas pessoas com celulares ou automóveis ou qualquer outra coisa de última geração e com olhares vazios, o que soa meio contraditório pois deveria estar muito felizes, não é? Mas essas coisas muitas vezes são compradas para satisfazer o ego e então o efeito do bem estar passa rápido.
Gostei do novo estilo do blog, ficou muito bom, um visual mais limpo, tem tudo a ver com simplicidade!
Falando em blog, essa semana resolvi criar um blog, espero que dessa vez eu leve à sério de verdade, o que não aconteceu nas outras vezes. No início quero postar somente textos, vídeos ou músicas que gosto, mas quem sabe mais para frente eu escrevo algo também. Não sou muito boa com textos, sou mais com poesias, com rimas, mas vou tentar. rsrsrs
E tem muito a ver com esse texto, o nome que escolhi é simplicidade e harmonia. Eu queria só simplicidade, mas não estava mais disponível.
Muito boa a última citação, sobre o contentamento e o a satisfação não serem interessantes para as empresas. Eu ainda não havia pensado nisso por esse lado, li o texto no site Mude.nu e gostei.
Muitas vezes nos deixamos levar pelas propagandas e se eu já pensava muito antes de comprar, agora farei o que ele disse, pensar nas propagandas de forma crítica.
Abraços,
Rosana
Oi Rosana, muito obrigado pelas palavras!
Você disse tudo: a sociedade deveria ser mais feliz com mais bens de consumo serem produzidos a cada dia. O problema é que são soluções artificiais, que não resolvem o âmago emocional das pessoas, cobrindo apenas a superfície delas.
Muito legal que tenha gostado do novo design do blog! É, como você bem disse, uma maneira de tornar as coisas no blog mais simples e com mais foco igualmente.
Sabe que adorei sua ideia de ter um novo blog! Já adicionei aos meus feeds RSS, e vejo que você sabe selecionar muito bem o conteúdo dele! É a sua cara! Você está de parabéns e desejo todo o sucesso do mundo para você!
Para aqueles que estão curiosos e ansiosos, segue o link: http://simplicidadeeharmonia.blogspot.com.br/
Abç!
Oi, Guilherme
Fico feliz que tenha gostado do meu blog, quero fazer algo bem legal, algo que leve às pessoas à pensarem mais em SER e menos em TER. As duas coisas são importantes, mas cada uma em seu lugar e ultimamente o TER tem tomado o lugar do SER. Por isso essa infelicidade meio que generalizada.
As coisas simples da vida são as mais importantes. Pena que muitas vezes só damos valor à elas quando estão acabando ou quando já acabaram por completo.
Agradeço por compartilhar o link aqui! 🙂
Acho legal o rumo que o seu blog tomou. Lembro que você falava muito mais sobre investimentos, mas de repente os assuntos começaram a ser mais sobre a vida em si, os valores reais mesmo. Acho legal o equilíbrio que consegue ter entre esses assuntos pois muitas pessoas que entram no seu blog por causa de algum assunto relacionado à finanças, de repente vê tanto conteúdo de qualidade relacionado à vida, e acredito que isso possa ter feito a diferença na maneira de pensar de muitos.
Abraços,
Oi Rosana!
Você abordou um assunto muito importante nos dias atuais: equilíbrio entre o TER e o SER. É fato que hoje a balança está muito mais pesada em favor do TER, e precisamos urgentemente espalhar a mensagem do SER, para equilibrar os pratos da balança mais uma vez. Ambos são importantes e têm seu papel, como você sabidamente enfatizou.
Muito legal que você tenha gostado do novo ritmo do blog. Você captou bem a essência de todo esse processo evolutivo. Eu tenho procurado fazer uma certa “depuração” no blog, de modo a excluir assuntos financeiros que já estão passando meio batidos ultimamente, e paralelamente abrir espaço para a discussão de temas relevantes ligados à vida mesmo.
E novamente você acertou quando disse que muitas pessoas entram no blog vindas do Google em busca de assuntos de finanças, mas acabam lendo outros artigos não-financeiros, e passam a gostar dessa outra “parte” do blog também. Várias pessoas já me disseram isso, e fico muito feliz com esse tipo de repercussão.
Abç!
🙂
Guilherme parabéns pelo novo visual do blog (ficou mais organizado) e pelo post. Não sei se concorda comigo, mas a internet foi um divisor entre a burocracia que vivíamos no passado e a praticidade que possuímos atualmente. Gostaria de saber sua opinião sobre a nova emissão de Debêntures da BNDESPar e sobre a possível extinção do come-cotas nos fundos de investimentos renda fixa e multimercado.
Oi TBB, grato pelas palavras!!!
Concordo integralmente, a Internet é uma ferramenta fantástica, que nos permite levar uma vida muito melhor. É claro que, como toda ferramenta, pode ser usada positiva ou negativamente, mas, sabendo selecionar bem o conteúdo, você tem muito mais opções e muito mais liberdade pra viver uma vida mais plena e mais digna.
Sobre a nova emissão de debêntures, não estava sabendo não… vou procurar me informar a respeito.
Quanto à possível extinção do come-cotas, já não era sem tempo, afinal, esses impostos só inibem e dificultam os investimentos no mercado financeiro.
Obrigado pelas sugestões de pauta!
Excelente meu amigo!
Se enganha quem pensa que ser simples é simples.
Abraço!
É verdade, Jô! Menos é mais!
Abç!
Interessante isso.
Ser simples na maioria das vezes não é mesmo tão simples assim.
Meu caro Guilherme.
Sou muito a favor da frugalidade e não quero, de forma alguma, “jogar água fria” em todas essas ideias. Mas acho importante refletirmos: será que não é mais fácil abrir mão de uma vida de supérfluos quando se foi crescido num apartamento de 600m2? Para abrirmos mão desse tanto de coisas, acho que a primeira condição é ter esse monte de coisas, certo?
Mas podemos abrir mão de lutar pra consegui-las. Podemos escolher não querer tê-las. Tudo bem… beeeem lá no fundo só você vai saber se não quis mesmo ou se as uvas estavam verdes. O cara da bicicleta forçada pode dizer que quer fazer exercícios.
Preocupação minha com a opinião dos outros? Na verdade, não. Só estou dizendo que acho que esse voluntarismo só vale quando temos realmente a opção de escolha (isso é óbvio, por definição) e essa opção só acontece se tivermos a capacidade de possuir as coisas de que abriremos mão.
Isso aqui iria longe, mas só pra terminar, faço questão de reafirmar minha primeira afirmação: sou totalmente a favor da frugalidade.
Um abraço e mais sucesso ainda pra você.
Nicandro.
Oi Nicandro, ótimas e interessantes reflexões!
O seu raciocínio segue uma lógica bastante coerente: só se pode abrir mão de algo que já esteve nas mãos.
Por outro lado, é importante acrescentar que há pessoas que poderiam potencialmente ter mais coisas, no futuro, em face do desenvolvimento natural da carreira, dos negócios etc., mas que optam por, digamos assim, abrir mão de coisas futuras. Elas não tiveram tais coisas no passado, mas podem vir a tê-las no futuro, mas abrem mão disso.
É um outro ponto-de-vista para contribuir com o debate.
Abç!
Opa amigo, sou André administrador do Blog Mão de Vaca Web, no endereço
http://www.maodevacaweb.com.br. Excelente o Blog hein parabéns! Vou acompanhar… post interessante!
Oi, André, muito interessante seu blog também!
Obrigado pelas palavras!
Abç!
Primeiro: parabéns pelo novo layout. Ficou muito mais limpo organizado: uma delícia para ler!
E segundo: que texto fantástico! Vou ter que copiar e incorporar várias citações do texto na minha vida. Não que eu não tenha uma vida simples, mas as citações foram fantásticas!
Forte abraço!
Olá Philip! Que honra tê-lo por aqui comentando no blog!
Muitíssimo obrigado pelas palavras! O objetivo do novo layout foi exatamente esse que você disse: proporcionar uma leitura mais confortável para o leitor, através de um visual mais clean e com fontes – tamanho e tipologia – mais adequadas.
Agradeço também pelo texto, é o que procuramos oferecer ao leitor: reflexões para tornar a vida de todos melhor!
Abç!
Eu já fui atraido. Acredito que seja o verdadeiro caminho para uma vida mais calma e feliz. Até criei um blog pra me manter motivado e acompanhar a minha transição de um modo de vida consumista pra um mais minimalista!
Muito legal, Ataraxia!!
Abç
isso ja existe a muito tempo escrito na biblia
ex ::::
1 timoteo 6:8 diz que tendo sustento e com oque nos cobrir estaremos CONTENTES COM ESTAS COISA.
1 timoteo 6:9 diz que o amor ao dinheiro é raiz de toda sorte de coisas prejudiciais
mateus 5:3 diz que o segredo da felicidade esta em buscar a deus
mateus 6: 19 diz para parar de armazenar tesouro na terra , não perder o seu precioso tempo com isso.
1 joão 2: 15 , diz para não amar as coisas materiais do mundo que tudo oque a no mundo vai acabar
este movimento não é algo novo , se as pessoas estuda sem a bilblia veria que isso, ja tinha sido orientado por deus, ja estava escrito na biblia a muito tempo ……..que ironia esta vida , que povinho sem noção
Muito bom! Concordo com tudo! Parabèns pelo texto! Meu estilo e filosofia de vida 🙂