Como já era esperado pelo mercado, o COPOM aumentou, depois de quase 2 anos, a taxa básica de juros da economia (SELIC), de 7,25% para 7,50% a.a. Trata-se de um aumento insignificante, se o objetivo for combater a inflação, pois, como bem demonstrou o amigo blogueiro Finanças Inteligentes na semana passada:
“A decisão de subir os juros em 0,25 p.p. é muito mais política do que prática. O efeito prático desta primeira alta dos juros é insignificante. A inflação permanecerá pressionada até o final deste ano, pelo menos.
Caso o Banco Central demonstre estar ingressando num ciclo de aperto monetário mais consistente, as pressões inflacionárias de 2014 serão reduzidas. O encarecimento do crédito (provocado pela alta dos juros) será um remédio amargo para economia brasileira, pois não aproveitamos este benefício quando as condições eram favoráveis (queda dos juros em 2011 e 2012, períodos marcados pelo baixo crescimento e inflação elevada)”.
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No campo dos investimentos, é interessante analisar o aumento da taxa SELIC dentro de uma perspectiva mais ampla, isto é, considerando não só esse aumento pontual de 0,25 p.p., mas também os prováveis aumentos que virão nos próximos meses, pois esse movimento da política monetária acaba tendo implicações bem concretas nos diversos investimentos existentes dentro da renda fixa.
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No âmbito do Tesouro Direto, os títulos que mais estão sofrendo com essa tendência (agora confirmada) de aumento da SELIC são os títulos pós-fixados atrelados ao IPCA, notadamente as NTN-Bs de prazo mais longo (que vencem de 2020 pra frente). Elas acumulam rentabilidade negativa, nesse ano de 2013, de até -5%. Ou seja, quem comprou um título desse tipo nos primeiros dias de janeiro de 2013, e resolver vender agora, irá amargar prejuízo, pois receberá de volta menos dinheiro do que aplicou. É… na renda fixa também é possível perder dinheiro.
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Nessas horas, é preciso ter muito sangue frio e não se deixar levar pelas pressões do mercado, principalmente se você não precisa do dinheiro agora. Simplesmente aguarde até o vencimento dos títulos, pois assim você não terá prejuízo algum: pelo contrário, receberá de volta aquilo que foi contratado no ato da compra, ou seja, IPCA + 3 ou 4% a.a. de rentabilidade brutos, antes dos impostos.
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E para quem quiser entrar agora, seria um bom momento? Olhando as taxas que estavam sendo oferecidas no começo do ano, e comparando-as com as atuais, verifica-se que os percentuais agora estão mais atraentes. Por exemplo, uma NTN-B com vencimento em 2035 chega a pagar inflação + 4,43% de juros brutos, bem melhor do que no começo do ano (onde a porção fixa dos juros patinava na casa dos 3% a.a.). Porém, é como eu disse no início desse artigo, o ciclo de alta na taxa SELIC está apenas no começo, e é bem possível (para não dizer provável) que essa porção “fixa” dos juros brutos fique ainda mais atraente no decorrer do ano – meu palpite inclusive é que ela ultrapasse os 5% em algum momento nesse ano de 2013.
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Por cautela, eu prefiro não arriscar, sendo mais conservador nesse momento de incertezas, e apostando mais nos títulos pós-fixados ao CDI/SELIC, como os CDBs pós-fixados, Letras de Crédito Imobiliário, Letras de Crédito do Agronegócio, e as próprias LFTs do Tesouro Direto.
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A escolha do investimento mais adequado para você dependerá de uma multiplicidade de fatores, tais como prazo do investimento, tolerância à iliquidez (no caso das letras financeiras), taxas do CDI que conseguirá obter junto ao seu banco, e assim por diante.
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Apesar de as letras financeiras terem um ganho líquido de rentabilidade um pouco superior aos investimentos tributados (CDBs e debêntures, por exemplo), devido à isenção do imposto de renda, eu particularmente prefiro os CDBs pós-fixados e as LFTs, em função da liquidez diária e, portanto, inexistência de carência, que esses últimos investimentos oferecem. Mas isso funciona para o meu perfil, que pode ser diferente do seu.
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O leitor David tinha pedido informações sobre as debêntures incentivadas de infra-estrutura da Ecovia, que têm como grande atrativo a isenção de imposto de renda sobre os ganhos de capital – já fizemos um post sobre tais modalidades (novas) de debêntures há algum tempo – Debêntures incentivadas (com isenção de IR) chegam ao mercado – o caso das debêntures da Autoban.
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Embora a captação já tenha sido encerrada, é importante tecer algumas observações sobre elas. De acordo com informações noticiadas na imprensa, elas tiveram grande procura, o que resultou em sobretaxas (prêmio de risco) baixas:
.“As debêntures foram emitidas em duas séries. Na primeira, com prazo de sete anos, o prêmio em relação ao título público atrelado à inflação (NTN-B) com vencimento em 2020, que era de 0,50%, caiu para zero. A taxa final deve ficar por volta de 3,8% ao ano mais correção pelo IPCA. Na segunda série, que vence em 11 anos, o prêmio sobre a NTN-B de prazo equivalente caiu de 1,15% para 0,20% ao ano. Para o investidor, a remuneração deve ser de 4,2% ao ano mais inflação”.
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As debêntures incentivadas de infra-estrutura, são uma nova opção no cardápio do investidor, cujos atrativos residem justamente na isenção de imposto de renda sobre ganhos de capital, sobretaxas em relação aos seus similares no Tesouro Direto (prêmio de risco), e inexistência de taxas de administração. Porém, o investidor deve tomar cuidado ao realizar seus aportes financeiros nessa nova modalidade de investimentos, alocando apenas parcela de seu capital nesse tipo de investimento, pois existem riscos associados a essas debêntures, tais como o risco de crédito, de a empresa não honrar o pagamento dos juros nas datas de vencimento, e o risco de não conseguir vendê-las no mercado antes do prazo de vencimento, caso queira liquidar a operação antecipadamente, em função da ainda baixa liquidez no mercado secundário.
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Conclusão
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Em suma, para tirar o máximo proveito de seus investimentos, talvez você precise repensar o modo como está alocando seus recursos financeiros, principalmente se você tiver títulos do Tesouro Direto, indexados à inflação, de prazo mais longo, e comprados logo no início desse ano. Não se deixe levar pelas pressões de mercado e, como diz o mestre John Bogle, mantenha-se firme, e carregue os papéis até a data de vencimento.
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Além disso, também é necessário vigilância redobrada sobre seus padrões de consumo, pois o grande vilão da economia – a tal da inflação – anda corroendo não só as aplicações financeiras, mas também, por óbvio, o poder de compra de milhares de famílias brasileiras. Já que o governo não está fazendo a parte dele, deixando a inflação correr solta, então que pelo menos você faça a sua parte, evitando, tanto quanto possível, usar o crédito bancário (que vai se tornar ainda mais caro daqui por diante), e consumindo com moderação, frugalidade e equilíbrio.
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Bons investimentos!
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Muito bom artigo. Acredito que este ciclo de aperto monetário do BC será curto, talvez com mais duas reuniões do Copom com pequenas elevações na taxa Selic. Com relação ao Tesouro Direto acho muito importante o investidor fugir dos títulos de longo prazo, ou evitar aplicar nestes títulos no momento. Mesmo com a desvalorização do início do ano, as taxas das NTNBs e LTNs não estão tão atrativas (com exceção da LTN 2016, devido ao vencimento), levando em consideração que deveremos passar por um ciclo de inflação mundial a partir de 2015/2016 (reflexo do afrouxamento monetário e operações de Open Market agressivas dos principais BCs mundiais e retomada do crescimento econômico mundial). Com esta retomada da inflação global, é de se esperar uma mudança na política dos principais banqueiros centrais, passando a subir as taxas de juros que hoje estão próximas de zero. O Brasil dificilmente ficaria de fora e entraria junto com os demais BCs no ciclo de aperto monetário mais longo e persistente. Desta forma, títulos com vencimentos posterior a 2016, comprados hoje, sofrerão alto risco de desvalorização nos próximos 3 ou 4 anos, já que as taxas ficariam defasadas.
Abcs,
PS: obrigado pela citação!
Excelentes observações, F.I.!
Como você bem frisou, o momento é de extrema cautela para os investidores do Tesouro Direto, especialmente para aqueles posicionados em títulos de prazo mais longo, ainda mais com essas perspectivas de inflação mundial a partir dos próximos anos.
Abç!
Gui, sigo a linha de raciocínio do FI: o momento é de cautela.
O momento é de compra de ações/ETFs, os preços estão bem atrativos para o investir de longo prazo. Só tenho comprado ETFs e nada em RF.
Abraço!
Oi Jô, ótima estratégia! Abç!
Oi, Guilherme
Fiquei em dúvida sobre o rendimento da LFT. No site di TD diz: “A LFT possui fluxo de pagamento simples, ou seja, o investidor faz a aplicação e recebe o valor de face (valor investido somado à rentabilidade) na data de vencimento do título.”
O que isso significa?
1) Que no vencimento receberei os juros vigentes da Selic apenas nessa data? Por exemplo, se a Selic estiver em 7,00%, será esse o valor da rentabilidade total?
Ou
2) Serão computados os juros vigentes durante todo o tempo, considerando toda a sua variação, com todas as subidas e quedas da Selic ao longo dos anos?
Se for a segunda opção, acho que não compensa muito, não é?
Abraços!
Oi, Rosana.
A pergunta foi para o Guilherme, mas deixe-me tentar ajudar.
O valor de face da LFT é atualizado diariamente pela taxa SELIC vigente no dia, de forma proporcional ao percentual equivalente a 1 dia.
Ou seja, o valor da LFT incorpora diariamente a taxa SELIC vigente no dia (proporcional a 1 dia, claro); assim se a SELIC sobe o valor de correção sobe, e vice-versa. Isso significa que no vencimento, ou no resgate, você recebe o título corrigido pela variação diária da SELIC no período.
Pela sua pergunta, seria a opção 2. E realmente, num cenário de queda da taxa SELIC, a rentabilidade iria caindo junto com a queda da taxa, assim como acontece com os fundos DI e CDBs. Porém, veja por outro lado: num cenário de alta da taxa SELIC, pode ser arriscado apostar num título pré-fixado (que seria a alternativa ao pós-fixado), pois o aumento da SELIC pode ser maior do que a expectativa embutida na taxa pré-fixada.
Por isso que se diz que a LFT é o título mais seguro do Tesouro Direto, porque ele vai sempre acompanhar as variações da SELIC diariamente. A LTN, por exemplo, por ser pré-fixada, é mais arriscada por poder resultar em perdas se a SELIC aumentar muito forte ou muito rapidamente.
E como menor risco = menor retorno e maior risco = maior retorno, a LFT tem menor rentabilidade e a LTN tem maior rentabilidade.
É complicado, eu sei… mas no fundo é bem simples 🙂
[]s
Henrique
Oi, Henrique
Agradeço muito por sua resposta, ficou bem didática, agora entendi direitinho!
Só mais uma dúvida: o que é esse ” fluxo de pagamento simples”?
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No início eu investia mais em LTN pois a inflação parecia estar mais controlada e o país caminhando bem. Além disso a taxa Selic estava caindo. Isso foi em 2008. Mas com tudo o que tem acontecido, inflação começando a ficar descontrolada, juros subindo, eu acho que a melhor opção é dobradinha LFT/NTNB, embora eu continue investindo em em LTN periodicamente, mas bem menos do que antes.
O que você acha da NTNB principal, considera ser um bom negócio?
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Abraços!
Excelente a resposta do Henrique!
Sobre as NTN-Bs, embora as taxas de juros delas tenham melhorado nos últimos meses, agora ainda não seria uma boa opção de compra, pois há perspectiva de os juros continuarem subindo por mais algumas reuniões do COPOM, como bem alertou o amigo F.I.
Abç!
Olá, Rosana e Guilherme.
Rosana, fluxo de pagamento simples significa que o título paga tudo (o valor do principal acrescido do rendimento) só na data do vencimento, sem qualquer pagamento durante o tempo de maturação do título (não confundir com a possibilidade de recompra semanal feita pelo Tesouro Direto, que é possível para qualquer tipo de título). Esse é o caso das LFTs, NTNs e NTNBs-Principal.
Já uma NTNF, por exemplo, o fluxo de pagamento é semestral, o que significa que a cada 6 meses o investidor recebe uma parte do juros (é o famoso cupom de juros), e no vencimento recebe o valor de face mais o último cupom de juros.
Com relação a escolha do título, tenho uma “colinha” que guardo sempre comigo (que copiei do fórum IA, neste link: http://forum.investidoragressivo.com/viewtopic.php?t=138&postdays=0&postorder=asc&start=1606) e que classifica os títulos de acordo com o que é mais interessante em dado momento.
A) Cenário Róseo (Juros abaixo do esperado, inflação abaixo do esperado):
1 – LTN
2 – NTN-B
3 – LFT
B) Cenário BC frouxo (juros abaixo do esperado, inflação acima do esperado):
1 – NTN-B
2 – LTN
3 – LFT
C) Cenário BC paranóico (juros acima do esperado, inflação abaixo do esperado):
1 – LFT
2 – LTN
3 – NTN-B
D) Cenário BC impotente (juros acima do esperado, inflação acima do esperado):
D1) Se mais pra paranóico (juro real acima do esperado):
1 – LFT
2 – NTN-B
3 – LTN
D2) Se mais pra frouxo (juro real abaixo do esperado):
1 – NTN-B
2 – LFT
3 – LTN
Apesar de, pelas opções acima, estarmos atualmente no cenário B, como o Guilherme e o FI comentaram, seria interessante aguardar o fim do atual ciclo de alta da SELIC para entendermos se o cenário mudou ou se continua o mesmo.
[]s
Henrique
Guilherme,
Agradeço por sua resposta, vamos esperar a próxima reunião do Copom e ver o que vai dar.
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Henrique,
Agradeço pela explicação sobre os juros simples e também a tabela, gostei muito! Ela vai me ajudar bastante na decisão de compra de títulos do TD.
Abraços e sucesso!
Concordo com a Rosana, achei ótima a explicação do Henrique, bem como a tabela respectiva!