Há duas coisas, dentre várias, que as escolas e faculdades não ensinam. A primeira é, como não poderia deixar de ser, aulas sobre educação financeira. O que mais vemos por aí são pessoas com atuação até brilhante em suas respectivas áreas profissionais – médicos, advogados, engenheiros etc. – mas que são péssimos ao lidar com o próprio dinheiro, gastando em demasia com bobagens e passivos, e terceirizando para o muy amigo gerente do banco a administração de seus (quando existentes) ativos. Nos Estados Unidos, existe até livro sobre essa interessante área das finanças comportamentais: Why Smart People Make Big Money Mistakes And How To Correct Them: Lessons From The New Science Of Behavioral Economics.
A segunda coisa é a absoluta inexistência de aulas práticas sobre negociação. Fazemos negócios todos os dias: negociamos não só o preço dos produtos quando vamos às lojas, mas também negociamos coisas mais simples e prosaicas, como em qual restaurante vamos sair com a família, onde passearemos no próximo final de semana etc. Por não adquirirmos a habilidade necessária para realizar bons negócios, acabamos pagando mais caro pelos bens e serviços que consumimos.
O caso mostrado nesse post representa mais uma daquelas táticas frugais de que tanto gostamos, e que consiste basicamente em extrair a máxima virtude das coisas que já possuímos. Você não precisa de um plano mais caro de Internet 3G. O que talvez você precise é diminuir o preço que lhe estão cobrando, que pode ser – e na maioria das vezes é – muito caro pelo pouco serviço que lhe é oferecido.
Habemus competition
Um pressuposto básico para iniciar qualquer rodada de negociações de preços é averiguar a existência de competidores no mercado em questão. No caso da telefonia 3G, em que pese a precária qualidade dos serviços oferecidos por todas as operadoras, o fato é que existe, sim, um departamento de relacionamento com clientes, em cada operadora, responsável pela retenção dos bons clientes – e por “bons clientes” aqui entenda-se “bons pagadores”, ou seja, aqueles que pagam as faturas corretamente e em dia, e que cumprem todos os prazos de contratos de fidelização porventura existentes.
No meu caso, como eu já era cliente antigo (desde 2006) da referida empresa de telefonia, e tendo em vista as propostas tentadoras (tanto em termos de preços, quanto em termos de qualidade) oferecidas pelas concorrentes, eu resolvi sair da minha zona de conforto, e tentar uma negociação por um preço mais justo. Liguei para o 0800, falei que queria renegociar o preço da mensalidade, e de cara me foi oferecido um desconto de R$ 20 pela fidelização até então mantida, desconto esse que ficou condicionado à manutenção do contrato por mais um ano (é, não existe almoço grátis). Aceitei de boa. Isso foi em 2010. O plano, que até então custava R$ 120, cai para R$ 100. Um belo desconto.
No ano seguinte, quando estava para expirar a fidelização de um ano, liguei de novo para negociar um novo valor, tendo em vista que as operadoras concorrentes estavam oferecendo planos mais baratos. Após alguns minutos de negociação no 0800, consegui mais R$ 10 de desconto, além dos R$ 20 que havia conseguido no ano anterior, totalizando R$ 30 no total! A mensalidade, que era de R$ 120, no preço de tabela, caiu para cerca de R$ 90. Tal desconto, mais uma vez, ficou condicionado à minha permanência no plano por mais 1 ano.
Indo até o limite das negociações
No ano seguinte, 2012, vendo que o valor da Internet estava cada vez mais caro, e tendo em vista que a concorrência estava com preços mais convidativos (a concorrência sempre está! :-)), quando estava para expirar o prazo de fidelização, resolvi não apenas tentar manter o desconto até então oferecido, mas tentar negociar um valor ainda mais baixo, mantendo a mesma franquia de dados, ou seja, sem diminuir a qualidade do serviço. Para isso, os argumentos teriam que ser mais fortes, então, resolvi ir até lojas das operadoras concorrentes, para coletar dados e preços que pudessem subsidiar minha decisão. O engraçado é que todas as operadoras concorrentes, ao saber que eu pretendia migrar de um plano pós-pago da concorrente, para o delas, sempre me faziam ofertas melhores do que aquelas oficialmente anunciadas na Internet ou mesmo nos balcões. Ou seja, acabavam me oferecendo descontos pelo fato de eu já ser cliente pós-pago (e antigo) de outra empresa. #FicaADica 😀
Munido dessas informações, liguei novamente para a central da operadora, e pedi para ser redirecionado para o departamento de retenção de clientes. Fui prontamente atendido por uma funcionária educada, apresentei meus argumentos, e ela apresentou os dela. No começo, ela até estava relutante em manter o desconto no plano, mas, diante da possibilidade de a referida empresa perder um cliente de mais de meia década de relacionamento, resolveu não só manter o desconto que já era oferecido, como também acrescentar um desconto adicional, de mais R$ 20, somando uma economia mensal de R$ 50! Ou seja, o preço mensal do plano estava caindo de R$ 120 para R$ 70… sem que eu perdesse 1 byte sequer da franquia de dados que eu tinha contratado. \o/
Para melhorar ainda mais a situação, a operadora resolveu, pouco depois, fazer uma redução geral na sua tabela de preços, em todos os planos, fazendo com que o plano ao qual eu estava vinculado caísse de R$ 120 para R$ 100 o preço de tabela (R$ 99,90, para ser mais exato). E, como eu mantive os R$ 50 de desconto, passei a pagar apenas R$ 49,90 por mês, ou seja, consegui reduzir pela metade o valor da assinatura, conforme prova a cópia da fatura abaixo demonstrada:
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Conclusão
E qual é a conclusão disso tudo? É simples: usando bons argumentos, e tendo “cartas na manga” (como o fato de ser um cliente que paga as faturas em dia, que já está há vários anos utilizando os serviços da empresa, que recebeu propostas interessantes de empresas concorrentes etc.), é sempre possível conseguir boas negociações e ganhar alguns reais a mais todo mês. Experimente você mesmo: se tiver um plano pós-pago de celular, de telefone fixo, de TV, ou de Internet, ligue para sua operadora e negocie um desconto pela sua fidelidade ao plano, nem que essa fidelidade seja de 3 meses. Utilizando técnicas adequadas, como aquelas já mencionadas em outro post, sempre é possível conseguir um desconto, nem que seja de R$ 10, R$ 20 ou R$ 30. Todo desconto é bem vindo, pois significa mais dinheiro indo pro seu bolso. Não pense apenas na economia mensal que você estará fazendo: coloque a perspectiva em termos anuais, e verás que conseguirá anualmente fazer sobrar muito mais dinheiro do que você pensava.
Já mostrei, em posts anteriores, outras táticas frugais para conseguir fazer sobrar mais dinheiro todo mês e todo ano, como, por exemplo, naquele caso das negociações das anuidades de 3 cartões de crédito, que me fizeram economizar R$ 928 anuais (na verdade, ano passado a sobra foi ainda maior, pois o valor das anuidades foi aumentado); e ainda naquele outro post em que mostrei como fazer a migração de sua conta para a de serviços essenciais (no meu caso específico, fiz o downgrade de 2 contas, economizando mais de R$ 90 mensais com tarifas bancárias, o que representa uma economia anual de mais de R$ 1.100).
Com essa negociação do plano de Internet 3G, consegui colocar no meu bolso mais R$ 600 anuais (R$ 50 economizados mensalmente x 12 meses = R$ 600). Somando (apenas) essas 3 pequenas-grandes economias (anuidades de cartões de crédito, mensalidade da Internet 3G e tarifas bancárias), já consigo encher minha conta em mais de R$ 2.600 por ano (agora, imagina esse valor multiplicado por 25 anos…), o que já me permite fazer muitas coisas, tanto do lado dos ativos (comprar cerca de 30 cotas do PIBB11, pelo fechamento da cotação de ontem, 19.03.2013, R$ 87,76), quanto pelo lado dos passivos (por exemplo, fazer 5 viagens ida e volta para os EUA, numa dessas promoções malucas de R$ 500 que surgiram recentemente).
Enfim, não tem segredo: para fazer sobrar dinheiro no orçamento doméstico, é preciso saber valorizar aquilo que você já tem, fazer valer suas habilidades de negociação, e evitar desperdícios. É impressionante a quantidade de dinheiro que você conseguirá economizar se adotar a frugalidade como um estilo de vida. Pense nisso!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Ao colocar a fatura, deu para sacar que o seu é Vivo rsrssr…
Rsrsrs…
Muito bom compartilhar esta experiência com a blogosfera!!! Eu também costumo negociar um desconto em troca de mais um ano de retenção, mas ainda não tive esta experiência de descontos progressivos ano a ano… Bom, eu tenho menos tempo de relacionamento com minha operadora… mas vou tentar algo mais agressivo na próxima renovação…
Valeu!
Ir, obrigado! Sim, vale a pena testar a ideia dos descontos progressivos!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Eh meu amigo,
Fiz algo semelhante com a prestadora de TV.
O negócio é negociar, testar o limite deles.
Abraço Gui!
Bom exemplo, Jô!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
É isso mesmo, vamos negociar até o preço do corte de cabelo hehe.
E o plano de telefonia móvel? É possível negociar o valor do plano?
Off: Olá Guilherme, tenho uma sugestão: poderia fazer parte do VR, postagens sobre como aproveitar os impostos pagos ao governo, usufruindo de tudo que o contribuinte tem direito e também sobre economia tributária com impostos.
Abraços.
Hehehehe…vamos sim, até porque o preço do corte de cabelo aumentou fortemente nos últimos anos…
Sobre o plano de telefonia móvel, sim, é possível negociar, usando as mesmas bases descritas no artigo.
Em relação à sugestão de pauta, já está devidamente anotada. Agora, vc se refere à restituição do imposto de renda, ou seriam outros impostos? 🙂
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Gouvea,
Eu acredito que tudo é negociavel. Um bom cliente nenhuma empresa quer perder. Por falar em corte de cabelo para mulher acho mais dificil, mas no meu caso eu tive que tomar uma decisão aqui em SP um corte de cabelo não sai por menos de 30 reais se vc mora na zona sul. Eu conseguir cortar por 20.00 negociando com estabelecimento que eu não queria os serviços adicionais, de lavar o cabelo, usar o shampoo etc. Pra que eu quero isso? Se já estou indo para casa e vou fazer de qualquer forma. Dai, ele redeziu o corte para 20.00. Caro essa lavagem rapido heim R$ 10.00. Quase o valor de um lava-rapido de carro. Conversando com outros colegas, descobrir que muitos não cortam cabelo em salão. Pq? pois o corte é caro e comprar uma maquina de cortar é mais barato. Dai tomei essa decisão de comprar uma maquina para remover esse custo. Mas, isso se aplica somente para quem corta o cabelo baixo e não precisa de detalhes. Para quem gosta de somente cortar na tesoura, dai tem que arcar com esse custo rs.
Fazendo um investimento de uma maquina boa que custa em media uns R$ 130.00 é quase a metade que gastaria 20 * 12 no ano cortando no salão.
Olá Camilo, bem interessante o seu case do corte de cabelo!
É interessante observar que sempre conseguimos economizar até naquelas despesas sobre as quais já achávamos que tínhamos chegado no “piso”.
Abç!
Pois é, se eu considerar 30 *12 vai dar 360,00 anual somente com corte de cabelo, sendo que o valor pode ser menor, mas sabemos que a cobrança acima de 30,00 é mais que 100% de lucro. O corte em casa se aplica no meu caso, pq nao tenho detalhe e nenhum trabalho espeficio para fazer com o cabelo que seja necessario o trabalho de um profissional. Já as mulheres ou alguns homens terão que chorar no preco mesmo rs. Pq aqui em SP é caro demais.
Voltando a atualizar os comentários….
Sem dúvida, Camilo, o valor do corte de cabelo varia em função das necessidades específicas de cada pessoa. Tem que ser analisado caso a caso.
Abç
Ainda é da cultura do brasileiro ter vergonha de pedir descontos, então muitos não tem a oportunidade de ver seu dinheiro render mais no final do mês.
Gostei da sua negociação, você é expert no assunto!
Abraços e sucesso,
Realmente, Rosana, não é da cultura do brasileiro saber negociar descontos!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Também seria a parte de IRPF, mas também os outros impostos federais, os impostos estaduais e municipais acredito que ocorre uma grande variação em relação ao estado e município, então seria com foco na área federal.
E também com relação a utilização de serviços, facilidades e tudo mais que governo oferece em contra-prestação aos impostos pagos.
Vc colocou um post em que pode-se utilizar o site Clipping do Ministério do Planejamento para a leitura de noticias de jornais de grande circulação, então seria um exemplo de facilidade oferecida pelo governo.
Oi Gouvea, sem dúvida, temos algumas boas opções para conseguir os descontos via abatimento de impostos.
Além da clássica restituição do IR, ainda temos, no âmbito estadual, a nota fiscal paulista, que permite restituir parte do ICMS; e, no âmbito municipal, algumas prefeituras implantaram programas que permitem o abatimento de parte do IPTU – em Curitiba existe a Boa Nota Fiscal: http://isscuritiba.curitiba.pr.gov.br/portalnfse/
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Excelente negociação meu amigo!
Parabéns!
Tenho o mesmo plano da mesma empresa e pago praticamente 2x mais que você. Preciso me mexer aqui. 🙂
Forte Abraço!
Obrigado, amigo!
E vale a pena negociar um preço menor, experimente!!!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Consegui 25 reais de desconto na operadora de celular e 50 reais na da tv, internet e telefone. Vlw demais a sua dica! 😉
Parabéns, Elizandra! Como diz o narrador do Sportv, Sérgio Maurício, essa negociação foi “no capricho”!!!!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Guilherme,
parabéns pela capacidade de negociação!
Uma situação em que imagino ser talvez aquela em que seja mas útil a negociação, é a cobrança de seguro-fiança por parte de imobiliárias.
Apesar de sermos avisados de que a cobrança é anual, será que faz sentido a imobiliária cobrar, a partir do segundo ano de contrato, o seguro de uma inquilina que pagou todos os 12 aluguéis anteriores antes do vencimento, bem como as taxas de condomínio, IPTU, etc. também rigorosamente em dia, que zela pela conservação do imóvel e que ainda por cima é servidora pública estável? Imagino que não, mas sinceramente gostaria de saber como o mercado tem se comportado nessas situações. Passo por uma situação parecida, e sinceramente penso em ameaçar deixar o imóvel caso a cobrança de seguro-fiança venha a ser feita novamente.
Monique, obrigado!
Quanto ao seguro-fiança, concordo totalmente com seus argumentos, não há motivo idôneo que justifique a cobrança de tal seguro na renovação do aluguel a partir do segundo ano, considerando todos os requisitos citados por você. Não faz sentido algum, e alternativamente a melhor opção seria conseguir um fiador, que evitaria todos esses incômodos.
Abç!
Dicas muito boas!
Acabei de conseguir um ótimo desconto junto a minha operadora usado as dicas aqui ensinadas. 🙂
Veja bem, a operadora nunca tem prejuízo. Então, na verdade, os 50 reais dão LUCRO. Sendo assim, será que a operadora estaria com um lucro de R$ 70 reais mensais, ou seja, mais de 100% de margem de lucro??? Vale a pena negociar sempre!