Ok, então você, leitor(a) assíduo desse blog, já domina os conceitos básicos das finanças pessoais (ou então está começando agora a tomar gosto pela coisa). Sabe que ter uma boa reserva em renda fixa (colchão de segurança) é fundamental para não recorrer a juros de empréstimo pessoal, cheque especial ou rotativo do cartão de crédito. Já investe em renda fixa por meio do Tesouro Direto, e em ações por meio de fundos de índices [ETFs]. Faz, inclusive, um controle rígido das despesas no orçamento doméstico. Sabe, igualmente, quanto vale sua força de trabalho.
Mas então, por quê continuar lendo um blog – ou diversos blogs – de finanças pessoais? Quais os motivos que te fazem continuar a consumir literatura dedicada aos investimentos? Certamente você continua a ler tais conteúdos não apenas para aprender mais algum “macete matemático” novo. Afinal, a maioria dos conceitos matemáticos ligados às finanças pessoais você já domina e está “careca de saber”: que se deve economizar no mínimo 10% (dez por cento) do salário líquido, que um plano de previdência privada (PGBL) permite abater 12% da renda bruta na declaração de ajuste anual do imposto de renda no ano seguinte, que ganhos de capital na Bolsa de Valores são tributados à alíquota de 15% sobre o lucro líquido, que a poupança rende aproximadamente 6% ao ano, que um CDB que pague ao menos 97% do CDI é mais vantajoso que uma LFT, que o limite do FGC para o CDB é de R$ 70 mil etc. etc. etc.
Todas – ou a maioria – dessas informações matemáticas você já sabe, ou pelo menos tem alguma noção a respeito. É claro que aprender matemática nunca é demais, mas não é necessário ter completo domínio da matemática para viver em paz com seu dinheiro. Aliás, você não precisa nem mesmo gostar de matemática: a matemática é apenas uma ferramenta, um instrumento, que pode te ajudar a controlar melhor suas finanças. Para viver em paz com seu dinheiro, o que você precisa na verdade é refletir sobre os valores que moldam seu comportamento, a fim de verificar se esses valores são compatíveis e coerentes com seus meios de vida. Aí, sim, feita a devida valoração, entra a matemática como ferramenta utilizada para dar harmonia entre seu uso do dinheiro e seu uso da vida.
Isso ocorre porque praticamente todo aspecto de nossas vidas tangencia, de alguma forma, o lado econômico. Somos motivados a buscar um trabalho, dentre um dos principais motivos, pela remuneração que ele proporciona. Ou será que alguém iria prestar concurso público se o cargo pretendido oferecesse uma remuneração mais baixa? Para realizar um casamento, gastos são inevitavelmente realizados. Quando compramos livros, eletrodomésticos, eletrônicos, fazemos incessantes pesquisas de preços. Até nas coisas mais prosaicas da vida o critério de escolha tende a levar em conta o fator econômico: quando vamos a um restaurante, é inevitável olhar para o lado direito do menu – e normalmente tomamos a decisão de escolher os pratos em função do preço (mais barato, ou médio). Ao fazermos uma doação, logicamente consideramos um valor que esteja dentro de nossa capacidade de liberalidade. Por óbvio que também nos investimentos nossas escolhas das aplicações financeiras levam em conta o poder de disponibilidade que temos em relação ao capital a ser utilizado.
Enfim, ao realizarmos quaisquer atos, seja de investimentos, seja de consumo, seja ainda de doação, nós os fazemos sempre em função de determinadas finalidades. Nossas escolhas nada mais refletem que os valores que mais prezamos, ainda que de modo inconsciente. Escolhemos o trabalho “X” por quê? Por quê é o que vai nos proporcionar mais tempo livre para a família? Por quê é que vai nos vai permitir ter uma posição mais valorizada dentro do mercado de trabalho, considerando nossas aptidões pessoais? Escolhemos investir R$ 300 mensais no Tesouro Direto. Sim, mas por quê? Para comprar um automóvel daqui a 8 anos? Para viabilizar uma viagem para a Europa daqui a 2? Decidimos doar R$ 15 para uma entidade religiosa por quê? Por quê cumprimos mandamentos de nossa espiritualidade? Por quê isso nos faz sentir melhor?
Veja que, para todo ato envolvendo dinheiro, há decisões por trás de tais comportamentos, e somente há decisões que são anteriormente tomadas porque, antes das decisões, ou melhor, na raiz delas, estão valores que norteiam nossas vidas. Logo, os números servem como um referencial – necessário, sem dúvida – mas eles são – usando uma palavra difícil – axiologicamente neutros, isto é, são símbolos que não carregam, em si mesmo considerados, nenhum juízo de valor positivo ou negativo. Números não são, em si, bons ou ruins, positivos ou negativos. Mas os valores que permeiam esses números, sim, os valores são positivos ou negativos, tendo em vista nossa concepção de mundo. Em outras palavras: os números só adquirem significado a partir do momento em que são contextualizados, e quem dá essa contextualização é única e exclusivamente você, em razão dos valores (culturais, éticos, religiosos etc.) que regem sua vida.
Como dizem Loehr e Scwartz, no livro Envolvimento total: gerenciando energia e não o tempo:
“Um valor, em última análise, é apenas um roteiro para a ação. Os valores que não conseguimos refletir em nosso comportamento são, em última análise, vazios. Para ter sentido, um valor precisa influenciar as escolhas que fazemos em nossa vida diária. Professar um conjunto de crenças e viver sob a égide de outras não é apenas hipocrisia, mas também evidência de desajuste. Quanto mais nos comprometemos e somos guiados por nossos valores, mais poderosos eles se tornam como fontes de energia” (p. 175-176).
Daí a importância de estar conectado ao mundo das finanças pessoais: esse mundo lhe permite fazer a ponte entre esses “números frios, neutros e indiferentes” (que são os números do dinheiro), com a sua vida, necessariamente viva, dinâmica, colorida e carregada, plena e densa, de sentido. Equilíbrio financeiro não se resume a uma fórmula matemática simplista de “ganhar mais do que se gasta” ou “gastar menos do que se ganha”, mas sim ter consciência de que o dinheiro nada mais é do que uma ferramenta para melhorar a sua qualidade de vida, e que você deve construir, para atingir tal objetivo, além de um patrimônio de ativos tangíveis, também um patrimônio de ativos intangíveis, a fim de que você possa viver uma vida que espelhe seus verdadeiros valores, e não uma vida incoerente, onde você viva em função de objetos que espelhariam os valores que você gostaria de viver.
E o equilíbrio financeiro tem tudo a ver com uma palavra de inegável importância, mas relegada ao esquecimento nessa sociedade que só pensa em consumir mais e mais: suficiência. Auto-limitar nossa vontade é um desafios que nós enfrentamos diariamente, ainda que de modo inconsciente, pois praticamente tudo o que está à nossa vida nos impele a viver uma vida de busca de prazeres imediatos, para compensar frustrações, estresses e problemas no plano psicológico e espiritual, prazeres esses que, evidemente, não tornarão nossa vida melhor, uma vez que produzem efeitos apenas artificiais (e ainda nos fazem perder dinheiro, justamente porque não prestamos atenção… aos nossos valores! Porque se refletíssimos um pouquinho mais não cairíamos na tentação do descontrole financeiro).
Em resumo, a minha dica é: continue aprendendo mais sobre finanças. No espaço cibernético, há blogs que produzem conteúdo de primeira linha que nos propõe a refletir continuamente sobre os motivos que nos fazem a ter uma relação saudável com o dinheiro, como esse post do Viver de Renda. São reflexões sadias, fruto de nossa evolução na matéria, que nos impele a tomar decisões cada vez melhores e cada vez mais seletivas. Você verá que, ao aprender a lidar melhor com as finanças, não é só essa parte de sua vida que vai ficar melhor: sua vida no todo é que vai melhorar, inclusive em aspectos relacionados à saúde, ao significado do trabalho, ao melhor uso do tempo, a formas mais eficientes de consumir e gerar energia, e também – por quê não? – ao significado de sua própria existência. 😀
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Oi Gui, excelente reflexão para começarmos mais um semana.
Penso que os nossos valores, nossa ética e moral devem ser estabelecidos antes das nossas ambições. Depois de traçado o limite de até onde estaremos dispostos a ir, aí sim devemos traçar objetivos.
A vida fica mais fácil assim.
Abraço e boa semana.
WOW, este post de hoje é tipo um resumão do que é o Valores Reais !
Boa Semana !
É por isso que não perco uma postagem do Valores Reais!
Abcs, boa semana!
Show de bola, parabéns, continue assim com os seus ótimos posts!
Dei uma procurada no blog mas não achei alguma estratégia de investimento do tipo “piloto automático” (aplicações fixas todo mês, com mínima análise) baseada em títulos públicos. tem aquele ótimo artigo demonstrando uma estratégia de 50% Selic e 50% Ibov, mas sou do tipo mais conservador e gostaria de ler alguma estratégia baseada somente no rol de títulos do tesouro direto. é viável e interessante uma postagem assim? obrigado
gutierrez
Parabéns pela reflexão!
Um forte abraço
CDB é coberto pelo FGC? Tem certeza?
Jônatas, obrigado, a sequencia é bem essa mesmo!
Renato C, F.I., Marlon, Victor, thanks!
Anônimo, é viável sim! Adicionalmente, sugiro a leitura de excelente artigo do Blog do Investidor, que praticamente cobre o assunto sobre o qual você quer ler: http://www.blogdoinvestidor.com.br/investimentos/estrategia-de-investimento-mensal-com-titulos-publicos-pre-fixados/
Pobretão, sim, é coberto, até o limite de R$ 70k.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Mais um post com qualidade nota 10! Parabéns Guilherme!
Vale muito a pena acompanhar o Valores Reais.
Muito obrigado.
Um final de semana abençoado para todos.
Obrigado, Luciano!