Entra ano, sai ano, e a mídia continua com a mania de publicar, periodicamente, os famigerados “rankings dos melhores fundos de investimento para você aplicar seu dinheiro”. Eu mesmo, antes do processo de educação financeira, confesso que era um fã (aaaarghhhhhh!!!!) desses rankings: comprava as edições das revistas especializadas, que continham os históricos de desempenho dos “melhores fundos de ações”, “melhores fundos de previdência”, “melhores fundos de renda fixa”, e assim por diante.
Felizmente, veio a educação financeira e fui, gradativamente, me livrando desse péssimo vício, que já chegou a nortear meus investimentos. Hoje, fico longe, bem longe, desse tipo de ranking, e espero que você, caro leitor, também não fundamente suas decisões de investimentos com base na quantidade de estrelinhas amarelas que revistas do gênero ficam atribuindo a tais rankings.
Rankings de fundos de investimentos são um péssimo guia para escolha de fundos. E isso porque eles se baseiam, quase sempre, na rentabilidade histórica. Pior, na rentabilidade histórica de curto prazo, dos últimos 12, 24 ou 36 meses. E muitos investidores acabam selecionando fundos com base nesses rankings. Eles presumem que resultados passados têm valor preditivo. Mas não têm. O que acontecerá no futuro é independente do que ocorreu no passado.
Pior: os fundos que tiveram desempenho acima da média no passado tendem, por conta do fenômeno RTM (reversion to the mean, ou regressão à média, já comentado por ocasião da resenha do livro Common Sense on Mutual Funds, de John C. Bogle), a terem um desempenho, nos anos seguintes, abaixo da média.
Se está cientificamente comprovado que isso ocorre, por quê a mídia, os jornais e os veículos publicitários dão tanta atenção aos fundos vencedores dos últimos 12 meses? Porque isso dá dinheiro para as empresas e as pessoas que estão por trás desses fundos! Ter 5 estrelas num “ranking dos melhores fundos de investimento” é motivo de orgulho para o gestor do fundo, que não medirá esforços em estampar, na capa de seu site ou na chamada publicitária, as 5 estrelinhas conferidas por uma revista qualquer. Caia fora disso o quanto antes possível!
Estudos conduzidos por respeitadas autoridades da comunidade acadêmico-financeira dos EUA comprovam que não existe persistência de performance nos fundos de investimentos. O fôlego dos fundos mútuos, que se deram bem durante o último ano, só tende a durar por pouco mais de um ano (quatro quadrimestres). Depois, a “casa cai” e eles retornam à média, com retornos, obviamente, abaixo da média.
De acordo com uma pesquisa publicada no ano passado, em 2010, por pesquisadores da Morningstar, as classificações baseadas em estrelas teriam pelo menos uma utilidade residual, que seria a de predizer a probabilidade de um fundo sobreviver. Isto é, fundos com mais estrelas têm mais chance de sobreviver no longo prazo, e fundos com menos estrelas teriam menos chance, e fechariam, assim, suas portas.
Ok, tudo bem. Mas quem precisa de estrelas para analisar se um fundo tem chances ou não de sobreviver? Basta pegar a tabela de rentabilidade dos fundos na Internet ou publicadas em jornais, verificar os retornos obtidos e as taxas de administração, e logo descartar de cara aqueles cujos resultados foram muito abaixo da média, e outros que apresentam também altas taxas de administração.
Infelizmente, o mercado financeiro brasileiro ainda não é maduro o suficiente para que tenhamos informações mais claras a respeito da pouca utilidade dos retornos passados publicadas nesses rankings. O que tem de bobagem sendo falada por aí é muito grande, e cabe a nós revelar ao leitor interessado, ao público leigo e ávido por informações de qualidade, aquilo que de fato irá lhe proporcionar elementos para a tomada de decisões mais conscientes e esclarecidas.
Dizer que um fundo de ações “x” ganhou nos últimos 3 anos do Ibovespa, por uma margem que compensa a taxa de administração de 3,5%, é uma informação perigosa e que requer interpretação cuidadosa, pois o ganho pode se dar muito mais em função da sorte, do que propriamente da habilidade do gestor. Ademais, nós só sabemos quais fundos de ações irão ter desempenho superior à média depois que eles performaram. Saber de modo antecipado seria o ideal, mas não temos bola de cristal. E, mesmo sabendo quais fundos venceram o mercado, olhando em retrospectiva, nós não sabemos se isso se deveu ao fator “sorte”, ou ao fator “habilidade”.
Rankings dos melhores fundos de investimentos pode ter alguma utilidade para você ter um sentimento de orgulho, caso seu fundo tenha tido desempenho excelente, ou raiva, caso seu fundo tenha performado mal. Mas, em hipótese alguma, eles devem lastrear decisões de investimentos. À medida que um fundo de ações vai se tornando conhecido, por conta de seu desempenho passado (que não é garantia de desempenho futuro), e sobre o qual não sabemos se derivou do fator sorte ou do fator habilidade, mais e mais pessoas vão aportando dinheiro nesse fundo, tornando o patrimônio do fundo tão gigantesco que começa a ficar insustentável manter as mesmas estratégias operacionais de antes, quando o fundo era pequeno e possuía agilidade para operar no mercado.
O resultado é o desvio de finalidades do gestor, que não poderá mais se manter fiel aos objetivos originais, devido ao gigantismo do fundo, incremento nos custos operacionais, e, claro, a volta do desempenho do fundo de investimentos ao planeta Terra (“reversion to the mean” = a lei da gravidade nos mercados financeiros). Aí, os investidores acabam se decepcionando com esse fundo e… adivinha? Transferem seu dinheiro para o outro fundo que teve o melhor desempenho nos últimos 12 meses, incorrendo em prejuízos ou pagando imposto de renda (caso haja ainda algum lucro residual), e, assim, vão corroendo seu patrimônio, ano após ano… 😛
Não perca seu tempo tentando achar talento onde ele não existe. Como eu já disse em outra oportunidade, o ótimo é inimigo do bom. Para o investidor de hoje que pensa no futuro, passive investing é a solução mais eficiente de investir seu dinheiro. 😀
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Mais um bom post, parabéns, mas gostaria de pontuar ligeiras discordâncias.
Vc afirma que os resultados passados dos fundos não tem valor preditivo. Não acho que é exatamente isso. Se vc considerar que a excelente ou péssima performance de fundo se deu pelo acaso (e há uma vários bons estudos que atestam isso), esse raciocínio está correto. Contudo, dentro de uma variada gama de fundos de investimentos, é razoável pensar que algum dos gestores desses inúmeros fundos tenham talentos especiais que possam fazer com que o fundo gerido bata o benchmarking muitas vezes. Nesse caso, se vc tiver a perspicácia ou sorte de escolher esse fundo específico, vai se dar bem. E no caso, os resultados passados são um boa medida dos resultados futuros.
Os resultados não são diferentes de um jogo de moedas. Suponha que o jogador ganhe quando a moeda cai na cara. Qual moeda escolher? Uma moeda comum ou uma moeda viciada que cai 80% das vezes na cara? A resposta só é simples se vc souber antecipadamente qual moeda é a viciada. Analogamente, no caso dos fundos, cabe ao investidor escolher o fundo que cai 80% das vezes na cara.
Eu li sua ótima resenha sobre o Warren Buffet e vi que ele na grande maioria das vezes bateu o benchmarking. Pois então, esse olhar para o passado nos traz uma boa segurança de que WB continuará performando com sucesso no futuro, por ter habilidades especiais.
Ocorre que as revistas especializadas normalmente informam a performance dos fundos num horizonte de tempo muito curto e, nesse caso, essa informação não nos diz absolutamente nada. Mesmo em um prazo longo, devemos ter muito cuidado. O fato de um fundo específico ter batido o benchmarking durante 10 anos consecutivo não diz muita coisa se existiam, por exemplo, 1000 fundos operando. A chance de isso ter acontecido por puro acaso é altíssima.
É isso. Espero ter colaborado.
Abraços
Eduardo
Concordo totalmente com você.
Para o investidor de VAREJO, o melhor é ficar longe de fundos. Mas para o investidor mais sofisticados, fundos são uma boa opção.
Concordo que rankings também não vale muita coisa.
Mas discordo em vários aspectos do seu post, por alguns motivos. Os bons gestores fecham os fundos para aplicação antes que isso aconteca.
Além disso, o investidor deve procurar saber se o gestor tem seu próprio dinheiro no fundo. Se sim, é muito pouco provável que ele atue de maneira a reduzir sua propria riqueza.
No mais, o mercado brasileiro NÃO é o americano. O nosso índice, IBOV, IBRX o que seja, é ridiculo. Enquanto S&P 500 possui as 500 maiores empresas americanas (veja bem, 500), o IBOV deve ser 1/4 concentrado em PETR e VALE, e pra piorar ambas no mercado de commodities – é mais fácil bater o IBOV do que bater o S&P (cosnequentemente é mais fácil bater o ETF de IBOV)
É OBVIO que rentabilidade no passado não é indicador de rentabilidade no futuro -> principalmente no mercado de ações. Mas um gestor que ano após ano bate o índice, mostra o seu valor. Existem gestoras, como a ARX, que estão a 10 anos consistentemente ganhando do mercado. Isso não é sorte, é análise.
O investidor deve conhecer bem todos os fundos em que investe.
O texto esta um pouco confuso, não concordo que não existam bons fundos de investimentos, apenas temos que tomar cuidado ao seleciona-los, pois um bom desempenho em um ano não significa que em todos os anos seguintes o desempenho também será satisfatório. Outra inconsistência no texto diz respeito à rentabilidade de um fundo, pois, para o mesmo ser considerado bom não precisa bater sua referência. Temos ótimos fundos DI que obviamente não terão uma rentabilidade superior ao CDI, mas podem ser boa alternativa para acumulação e ganho real de valor.
Sobre o Ranking de Revistas temos que tomar muito cuidado mesmo, existe forte interesse comercial nessas publicações.
Sobre a maturidade do mercado brasileiro concordo em partes, pois temos ótimos fundos com mais de 10 anos de excelente rentabilidade como o BANIF FI REFERENCIADO DI – CSHG VERDE FI COTAS DE FI MULTIMERCADO – DYNAMO COUGAR FIA – TEMPO CAPITAL FIC FI ACOES e OPPORTUNITY LOGICA II FIC FIA.
OBS1: Desculpe por divulgar o nome dos fundos acima, não tenho nenhum interesse comercial nisso apenas gostaria de apresentar dados para confirmar minha opinião.
OBS2: Recomendo a ótima analise dos principais fundos multimercados do Brasil no site do Henrique Carvalho (http://hcinvestimentos.com/2010/07/26/os-melhores-fundos-de-investimentos-parte-i/), pois foi feita uma análise imparcial com diversas variáveis.
se, antes da escolha do fundo a investir, vc não levar em consideração o historico desse fundo, vai levar em consideração o que então?
Anônimo, leve em consideração critérios como:
– custos operacionais (taxa de administração, taxa de performance, taxa de saída, taxa de carretamento etc.);
– existência ou não de prazo de carência;
– cota de resgate;
– composição de carteira;
– prospecto e regulamento, a fim de verificar a transparência das informações e possível uso de derivativos;
Dentre outros critérios…
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
@ValoresReais: excelente post! Rankings jamais serão perfeitos pois existe sempre o trade-off entre aumentar a quantidade de variáveis para aumentar sua significância, e baixar a quantidade de variáveis para aumentar seu entendimento. Sendo curto e grosso e dando um exemplo pro nosso caso financeiro: colocar variáveis de risco para classificar fundos é ruim ou bom? Well, depende….
Sem dúvida aumentaríamos a siginificância do ranking mais com certeza baixaríamos sua abrangência de atuação (entendimento) – ou alguem já viu um investidor comum escolher um investimento pela Sharpe Ratio. E olha que estou falando em Sharpe Ratio, hein? Teoricamente bem simples e desenvolvido há quantos anos?!?! Uns 50, 60 anos?!?!
A questão é: rankings de fundos que mostram somente a rentabilidade são ruins? Na teoria sim, na prática não. Mas eles só mostram um lado da moeda?!?! Sim, mas já é um lado da moeda em oposição a lado algum da moeda…
@Eduardo Veiga: Com relação a sorte, ela existe sim. Assim como existem gestores melhores e piores. Assim como existem gestores que se esforçam mais e outros menos. Assim como existem gestores mais inteligentes que outros (são trabalhadores como quaisquer outros). Se compararmos maçãs com maçãs (comparar gestores que atuam dentro de uma mesma classificação de tipo de fundos), poderemos ter alguma idéia de quem é melhor que quem. É ideal? Não, está longe de ser ideal. Mas já é alguma coisa já que os gestores comparados por tipo de fundo tem que jogar relativamente sob as mesmas regras.
@Breno: Vou ter que discordar de você, Breno. Na minha modesta opinião, qualquer investidor que quer continuar com suas atividades de trabalho normais, faz uma boa opção por fundos de investimento. Vai ter alguem preparado e cuidando do seu dinheiro 24/7; e claro, esse gestor cobra por isso. 99,9% das pessoas não respira investimentos 24hs por dia, e pra essas alguem que o faça pode ser sim uma boa opção.
@TBB: Vou também ter que discordar de você em um ponto, TBB. Fundos são sim feitos para bater seu benchmark. Do contrário, se colocaria em um investimento passivo que reflita o benchmark e não se teria mais preocupações. O que ocorre muitas vezes é que os benchmarks não são bem alinhados (quantos fundos de ações vocês conhecem com benchmark e taxa de performance vinculada no CDI? Eu conheço vários).
@Todos: Convido vocês a dar uma passadinha no site http://www.bankemist.com. Fazemos sim rankings e eles ainda estão bem aquém do que desejamos (colocamos ele no ar semana passada). Podem criticar, elogiar, detonar. Tudo é válido. Queremos ir evoluindo com a contribuição de todos e ajudar de alguma forma as pessoas a tomar melhores decisões financeiras. Obrigado pela paciência e mais uma vez a todos: excelente discussão!! É só assim que se evolui. Forte abraço, Felipe: felipe@bankemist.com
Grande Guilherme, tudo bem meu amigo?
Como sempre, ótimo post.
Para investir em fundos compre ETFs. Esta é minha opinião. Os ETFs possuem baixo custo e boa diversificação. Raramente um fundo conseguirá ganhar do IBOV por mais de dois ou três anos seguidos. É menos arriscado compra um ETF que espelhe o índice.
As vezes acho que as pessoas complicam demais ao investir. É possível fazer tudo de forma simples e descomplicada.
Eu gosto de analisar empresas e escolher papeis, mas para quem não deseja ter o trabalho, escolha um ETF e seja feliz, um fundo raramente ganhará de um índice no longo prazo.
Abraço.
@Felipe: Fique a vontade para discordar, com isso aprendemos mais e podemos rever opiniões equivocadas. Como seria chato se todos pensassem iguais. Mesmo assim mantenho minha opinião, nem todos os fundos precisam bater seu benchmark para serem considerados bons. Já os fundos ativos sim, um fundo de Renda Fixa deve render no longo prazo mais que o CDI, pois sua carteira é composta por diversos títulos de renda fixa como debentures, títulos do tesouro nacional e CDBs. Outro exemplo são os fundos de ações ativo que a meu ver tem que render mais do que o IBOVESPA. Se vão conseguir isso no longo prazo é outra conversa. Sobre definições erradas de benchmark concordo com você. Alias uma questão, os fundos multimercados devem ter como referência somente o CDI? Assunto para muita discussão.
PS: Parabéns pelo site, claro e objetivo.
Comentários muito bons!
Eduardo, o problema de escolher um fundo “viciado que tenha dado 80% cara” é que a probabilidade de, nos próximos anos, ele dar “coroa” é enorme. Trata-se do efeito da regressão à média. Nem os fundos de índices escapam dessa lei da gravidade do mercado financeiro.
Breno, não dá para saber se um fundo que nos últimos 10 anos tenha batido o referencial irá performar de modo excelente *também* nos próximos 10 anos. Se ele cair pra regressão à média, que é o que acontece com 100% dos gestores, isso prova que o desempenho extraordinário se deu muito mais em função da sorte do que do talento.
TBB, fundos que não batem seu referencial fazem seus cotistas perderem dinheiro, porque esses poderiam, ao invés de investir no fundo, investir num fundo passivo de índice, gastando menos dinheiro com custos de transação e perdendo menos dinheiro do que se estivessem investindo no índice.
Felipe, ótimos comentários! Aliás, recomendo a todos visitarem o site http://www.bankemist.com Trata-se de um trabalho honesto e que vem sendo gradualmente implementado com melhorias, visando oferecer ferramentas de acompanhamento e monitoramento dos serviços financeiros disponíveis no mercado!
Jônatas, faço minhas suas palavras.
Pergunta1:
– Se você pudesse, investiria seu dinheiro no fundo do Warren Buffet ou do George Soros ou você ficaria em passive investing?
– Se a resposta foi “sim, investiria” – por que?
– Se a resposta foi “sim, investiria” – você admite a possibilidade de existirem outras pessoas que não esses dois capazes de obter um retorno acima do mercado? Inclusive no Brasil, onde temos vários exemplos (quer você acredite ou não)?
Breno não concordo com a visão de Guilherme sobre os investimentos nos ETFs pois acho possível sim ter uma gestão ativa com um retorno absoluto no longo prazo, mas já cheguei a ler em algum livro que o próprio Buffett falou que era melhor para o investidor investir o seu suado dinheiro em um fundo passivo, pois era muito difícil conseguir superá-los no longo prazo! E George Soros precisa nem dizer que o próprio encerrou o seu fundo, e agora só faz administar a própria fortuna com algumas especulações como a do euro atualmente com a crise na Europa!
PS – Estou falando do desempenho atual, isso serve também para alguns excelentes gestores brasileiros como o Paulo Bodin da Tempo Capital que mantem o seu fundo principal fechado, de Luis Sthulberger do multimercado Verde, de Armínio Fraga, o pessoal da Dynamo, Investidor Profissional, Polo Capital entre outros.
Prezado Guilherme,
Acompanho seu excelente blog há algum tempo, mas ainda não havia postado. Agora o faço pela primeira vez, em vista desse texto realmente instigante.
Assim como você, tambem colecionei mais de dez anos de um guia de fundos de famosa publicação, com seus rankings, apenas para comprovar na prática os estudos que você mencionou: os fundos que “bombaram” em 1996 (quando comprei a 1ª edição) e 1997, desapareceram nos anos 2000, ou se mantiveram em posições normais ou pífias, em relação ao ibovespa. Gestores premiados sumiram sem deixar traço ao longo das sucessivas edições. Novos apareceram e ainda estão por cima, mas durarão os próximos dez ou quinze anos? Duvido.
Lembremo-nos que o fundo premiado que deu performance superior nos últimos cinco anos, que viemos acompanhando para investir, pode também perder o gestor excelente para concorrência exatamente quando fizermos nosso primeiro aporte.
O próprio Warren Buffet pode morrer – ele já está velho – ou se aposentar. Quem investir agora na Berkshire Hathaway terá de contar pelos próximos vinte anos com sucessores, e o que irá acontecer? Aposto que acontecerá o velho “retorno às médias”.
No mais, parabenizo-o pelo excelente blog, ah se eu tivessse tido acesso a esse tipo de informação desde 1996! Não teria perdido um bom dinheiro com um monte de decisões erradas.
Abraços,
Darlan
Guilherme nem sempre. Um fundo DI que pague 94 a 95 do CDI ao mês permitirá que o cotista, com aportes regulares, aumente seu patrimônio ao longo do tempo. Com esse percentual o cotista terá um ganho superior a Poupança (De acordo com as regras de rendimento atual) e superior também a inflação (IPCA).
Em muitos casos o custo para você investir em um fundo é menor do que a compra de Títulos do Governo.
Isso sem falar no CDB com 100 CDI que ao meu ver é muito mais vantajoso que a LFT.
Prezados colegas leitores,
Creio que o Guilherme não está negando que no mercado existam outros futuros Warren Buffets e Peter Lynchs. É óbvio que eles existem. A questão não é essa. Olhando retrospectivamente, é claro que teremos 100% de certeza que Buffet, Lynch e Soros são os “caras”.
Mas quem começou a investir com Buffet em 1960 fez apenas uma aposta. Ele não teria como ter certeza se aquele novel gestor seria um dos expoentes máximos – senão o máximo – da arte de investir. E acertou na sua aposta.
Entretanto, foram pouquíssimos. História não contada foram os milhões que viram seus “Buffets” micarem. História esquecida são outros que viram seus “Buffets” virarem “Madoffs”.
Analisando prospectivamente, não temos como ter certeza quem quem serão os Buffets, Lynchs e Soros de amanhã. O investidor prudente poderá até apostar em um grande nome do momento. Mas não colocará lá todo o seu patrimônio. A maior parte deste deverá estar protegida no passive investing. Se tiver azar na escolha, não perderá tanto.
Todos nós temos absoluta certeza da nossa capacidade de identificar e escolher sempre o melhor gestor ativo. Mas será que somos tão bons mesmo? Muitos estavam muito confiantes no seu taco ao escolher gestores que fracassaram após um período iluminado.
Lembremo-nos, portanto, que todos os que escolheram o cara errado tinham certeza e fé absolutas nele, quando iniciaram seus investimentos.
Breno, investir dinheiro *após* saber o desempenho *passado* de um fundo é uma coisa. Investir dinheiro *antes* de saber o desempenho *futuro* de um fundo é outra coisa, completamente diferente. O investidor que quer ganhar dinheiro faz qual escolha? Olha para o retrovisor (primeira opção) ou para bola de cristal (segunda opção)? Será que esses são métodos confiáveis de ter rentabilidade adequada no mercado? Eu penso que não.
Pelo RTM, prefiro ficar com os fundos de índice. Sobre fundos de gestão ativa, considere que + 90% dos fundos de gestão ativa não batem o respectivo índice – e isso já computado o viés de sobrevivência. Ou seja: há 9 chances em 10 de o investidor perder dinheiro. Tem mais: os 10% que sobram, que supostamente superaram o índice nos últimos 10 anos são os que têm menos probabilidade de vencerem esse mesmo índice nos próximos 10 anos. E a margem de ganho sobre o índice é pífia: de 0,5% a 1%. Trocando em miúdos: o (pequeno) benefício não vale o (enorme) risco.
Diogo, eu não estou dizendo ser impossível bater o índice com fundos de gestão ativa. No mercado há gente que performa acima do índice, há gente que fica abaixo. A média se reflete no índice. Entretanto, o que proponho é uma utilização mais racional do tempo nos investimentos em função do ônus representado pelos custos indissociáveis de se montar um plano de gestão ativa. O que proponho são apenas modelos de investimentos, modelos de estratégias, que, evidentemente, podem não se ajustar às aptidões do investidor. Para uma minoria, talvez seja instigante tentar vencer o índice. Mas, para a maioria, principalmente do público que vem até a esse blog, o investimento que melhor apresenta a relação custo/benefício é o passive investing.
Você falou em alguns gestores de destaque no cenário nacional. Mas quantos gestores não existem nesse mesmo Brasil que não ganharam acima do índice? Os perdedores formam a esmagadora maioria. E o problema na seleção dos “melhores” fundos é que só sabemos dos vencedores *após* sabermos do seu desempenhho, e não *antes*.
TBB, de fato um investimento regular num fundo DI que pague esse percentual do CDI tem probabilidade de, no longo prazo, apresentar rendimentos bons, mas ele também não é isento de riscos. A probabilidade de ganhar da poupança existe enquanto tivermos uma SELIC acima da remuneração da caderneta. Mas, e quando a SELIC empatar ou chegar próximo da poupança? Aí o investidor perderá dinheiro em relação à poupança. Ademais, pode ocorrer de termos inflação de 8% e SELIC a 7%. Nesse cenário, o investimento terá sido pior do que a inflação. Lembremo-nos que essa *é* a realidade atual nos EUA: juro negativo.
Se é verdade que o custo de investir em fundos é menor do que a compra de Tesouro Direto em algumas situações, não é menos verdade que esse custo também pode ser maior em algumas outras tantas situações. Aliás, na maioria das situações.
Sobre o CDB a 100% do CDI, nem sempre. Quem investiu em CDB de um banco (Santos, p.ex.) que teve sua liquidação extrajudicial decretada, em valores acima de R$ 70k, provavelmente perdeu dinheiro, em relação a alguém que investiu esses mesmos R$ 70k numa LFT 5 anos atrás…
Darlan, bem-vindo e excelentes seus comentários! Você disse exatamente o que eu pretendia escrever por aqui. Concordo com você: olhar em retrospectiva é a coisa mais fácil do mundo. Aposto que lá por volta do ano 2020/2021, a Você S.A., a Exame, o Valor etc., irão lançar um ranking com os melhores fundos de investimento da última década. Qual será a utilidade desse ranking para fins de investimentos e novos aportes *a partir* de 2020/2021? Nenhuma. Encerro com sua frase, que ficou ótima: “Todos nós temos absoluta certeza da nossa capacidade de identificar e escolher sempre o melhor gestor ativo. Mas será que somos tão bons mesmo? Muitos estavam muito confiantes no seu taco ao escolher gestores que fracassaram após um período iluminado”.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Gostaria de deixar um exemplo prático que eu mesmo observei.
Não sei se devo citar o nome, então não citarei.
Não tenho as datas exatas, mas teve um fundo que após o fundo do poço de 2008, passou a atingir rendimentos expressivos, acima de 100% “nos últimos 12 meses”, e isso foi se mantendo por algum tempo. Fiquei tentado a colocar meu dinheiro lá. Até ganharam 5 estrelas na tal publicação.
Hoje, ou seja apenas 3 anos depois, basta entrar no site deles e ver que a rentabilidade dos últimos 12 meses passou a ser em torno de -18%, e que normalmente estão perdendo do Ibovespa, no máximo empatando ou ganhando por muito pouco.
…pior foi a última você S/A apresentando uns números de “rentabilidade” de planos de previdência, não sei como chegaram aqueles nºs absurdos, apresentando como sendo a melhor do mundo, melhor que CDB, sério, me deu pena de quem lê..
Guilherme,
“Eduardo, o problema de escolher um fundo “viciado que tenha dado 80% cara” é que a probabilidade de, nos próximos anos, ele dar “coroa” é enorme. Trata-se do efeito da regressão à média. Nem os fundos de índices escapam dessa lei da gravidade do mercado financeiro.”
Sobre essa visão, tenho a dizer que a falácia do jogador é uma ilusão poderosa. O autor Leonard Mlodinow afirma na p. 110/111 do livro O Andar do Bêbado: (…) “A ideia de que a chance de ocorrência de um evento com probabilidade fixa aumenta ou diminiu dependendo de ocorrências recentes é chamado falácia do jogador. Por exemplo, se Kerrich tirasse, digamos, 44 caras nas primeiras 100 jogadas, a moeda não passaria a favorecer as coroas para fazer a diferença! Isso não acontece. Uma boa sequência não traz azar, e uma sequência ruim, infelizmente, não significa que a sorte vai melhorar. Ainda assim, a falácia do jogador afeta mais pessoas do que poderíamos imaginar, ainda que num nível inconsciente. As pessoas esperam que o azar seja seguido pela sorte, ou se preocupam pensando que coisas boas serão seguidas por coisas ruims.”
Guilherme, se o seu raciocínio estivesse correto, numa simplificação, bastava escolher os fundos de pior performance no passado e investir, pois a sequência de azar desses fundos seria favorecidas por sequência de sorte, para regredirem à média.
Infelizmente, a realidade não é tão simples assim. Esse mesmo livro mostra nas páginas 210/11/12 um gráfico com o ranking dos melhores fundos de 1991 a 1995. Em seguida, outro gráfico com o desempenho desses mesmos fundos no período de 1996 a 2000. Se a regressão a média ocorresse, o segundo gráfico seria o inverso do primeiro. Mas isso não acontece, a ordem do passado se dissolve quando extrapolada para o futuro, e o gráfico adquire um aspecto aleatório.
É um tema muito polêmico mesmo.
Rafael, interessante exemplo! E o que dizer então dos fundos GWI!? Quem assistia a Bloomberg Brasil e via os comerciais deles se via tentado a aplicar…mas quanta decepção! Por isso eu só invisto em fundo de índice passivo. Tranquilidade não tem preço.
Anderson, realmente, é preciso fazer a leitura desses rankings com as lentes da educação financeira!
Eduardo, na verdade, os fundos de pior performance no passado são imprevisíveis quanto à sua rentabilidade futura, assim como os fundos de melhor performance. O futuro é aleatório. Interessante a citação do livro!
TBB, bota polêmico nesse tema!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Excelente texto mais uma vez. Amigo Guilherme, você conhece o novo bankemist? (http://www.bankemist.com/fund/fundTableDisplay)
Um site que compara os fundos de diversas instituições financeiras. Porém o prazo máximo de comparação é de 3 anos. Além de comparar outros produtos e serviços. Me parece bacana. Fica a dica.
Uma luz no fim do túnel..rsrs.
Abração!
@everton_ric
Everton, conheço sim, e trata-se de uma excelente dica de site, que está se aperfeiçoando cada vez mais!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Como devo investir em um fundo entao ?
Pela bola de cristal ??? hehehe……………..
Sérgio, eis aqui alguns critérios que podem ser úteis:
– Avaliação da taxa de administração do fundo, quanto maior, pior;
– Análise da composição do fundo, se tem títulos públicos, títulos privados, prazos de duração etc.;
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!