No artigo Overdose de Bolsa, o leitor Flávio nos chamou para um ponto interessantíssimo dessa crise de 2011: o comportamento da renda fixa brasileira não é o mesmo daquele verificado em 2008. Em seu comentário, alertou para o seguinte fato:
“Não vamos falar de Bolsa, vamos falar de renda fixa. Pela primeira vez na história desse país (em 2008 os juros futuros caíram mas depois de subir fortemente no auge da crise), as taxas de juros futuras caíram de forma imediata como resposta a uma crise mundial, ou seja, a renda fixa de curto e longo prazo não é mais afetada quando temos uma turbulência, até porque, a crise é da dívida soberana dos países desenvolvidos e não do Brasil, e nós temos a maior taxa nominal de juros do mundo. Se a crise evoluir, não podemos ter que aumentar mais as taxas de juros para debelarmos uma inflação, pelo contrário, a autoridade monetária deve reduzir as taxas daqui para frente. Já podemos ver o efeito da crise nas taxas de juros dos títulos do Tesouro Direto. As taxas caíram fortemente e consequentemente o preço subiu. Portanto, quem está posicionado em renda fixa prefixada e indexada a inflação (LTN,NTN-F,NTN-B e debêntures BNDES) foi beneficiado. Dessa forma, a renda fixa serviu para amortecer a perda momentânea das aplicações em renda variável” (destaque por minha conta).
Em seguida, complementou:
“Retificando parcialmente o meu comentário. Os títulos que mais se beneficiaram foram os prefixados. As NTN-B de longo prazo ainda não cairam, pelo contrário, os títulos com vencimento após 15/08/2020, incluindo as NTN-B principais 2024 e 2035 continuam subindo em um movimento inverso a dos juros futuros”.
Para quem acompanha de perto os movimentos dos títulos do Tesouro Direto, essa é uma assertiva mais do que verdadeira. Em outubro de 2008, eu testemunhei NTN-Bs com prazo até 2017 pagando mais de 10% a.a. + inflação; prefixados de curto prazo (2009) pagando 15,60% a.a. e o “créme de lá créme”, prefixados de longo prazo (2017) pagando inacreditáveis 18,80% a.a.!!!!
Esse ano está tudo invertido: o que se vê é um cenário macroeconômico em que as apostas são todas no sentido de redução das taxas de juros futuras. O que isso significa? Que o mercado está acreditando que a crise contaminará a economia brasileira, freando esse absurdo que tem sido a concessão de crédito fácil e consumismo sem limites. Consumo menor > Demanda menor > Inflação menor > Juros menores.
Como disse o Flávio, quem está posicionado em renda fixa foi beneficado. Se você tem renda fixa prefixada em sua carteira, é bastante provável que sua carteira de investimentos dessa modalidade já tenha um ganho, nesse mês que nem chegou à metade, de mais de 0,55% brutos (já descontada a taxa de administração, mas não descontados os impostos e a inflação), e a tendência é que feche o mês acima de 1% brutos, emparelhada com a SELIC média do mês.
O mercado não aposta mais num novo aumento da SELIC até o final do ano, mas ainda se acredita que a economia aquecida retarde ainda um pouco um corte na taxa básica de juros, fato que só deve ocorrer, segundo matéria publicada no jornal Valor sexta-feira da semana passada, somente no segundo semestre do ano que vem.
E o que deve fazer o investidor? Além da clássica lição de fugir da poupança, que deixou de ser investimento segundo o ótimo artigo do Jônatas, uma boa mistura entre pós-fixados atrelados à SELIC (como LFTs) ou CDI (CDBs pós-fixados e fundos referenciados DI com baixa taxa de administração), e pós-fixados atrelados à inflação (NTN-Bs), e prefixados (como LTNs) continua a ser uma alternativa bastante atraente de investimentos. Quem esperava ver taxas de juros futuras subindo como resposta a uma crise mundial, como o que ocorreu em 2008, ficou a ver navios. A menos que a inflação surpreenda e continue sua escalada de alta (o que considero improvável, diante da muito provável contaminação do Brasil pela crise mundial), o momento de investir em prefixados parece já ter passado. Sorte daqueles que garantiram NTN-Bs Principal 2015 a 6,78% a.a + inflação (hoje pagando em torno de 6,33%) e LTN 2015 a 13,05% a.a. (hoje pagando 12,13%), como, aliás, demos a dica nesse artigo Títulos do Tesouro Direto indexados à inflação. Quem garantiu esses títulos muito provavelmente vai ter uma rentabilidade extra em sua carteira, isto é, terá um desempenho superior ao CDI.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Ótima observação Guilherme! (e Flávio)
Estive pensando nela nestes dias…
Normalmente, tenho como padrão alocar mais em pré-fixados (LTNs) e indexados à inflação (NTN-Bs) do que em Indexados à Selic (LFTs).
O motivo: maior prêmio de risco. Ou seja, maior rentabilidade esperada por segurar um título com maior variação de preços (maior risco).
Porém, nesta crise atual temos um spread (diferença) negativo entre LTN (2015 com taxa de 12,13%) e Selic Atual (12,50%).
Logo, quem aproveitou as taxas citadas (LTN 2015 a 13,05% e NTN-B Principal 2015 a 6,78%) realizou boas compras.
Através da alocação de ativos pude aproveitar ambas taxas.
Planejei compra LTN 2015 com taxa de 13% e NTN-BP 2015 com taxa de 6,75%.
Ter um bom planejamento nestes momentos e adotar uma estratégia diversificada, em que você visa tirar proveito das melhores oportunidades em vários ativos, é praticamente garantia de melhores resultados! 🙂
Grande Abraço amigo!
Bem lembrando Guilherme,
Os melhores momentos, aparentemente, já foram.
Eu comprei LTN e estou satisfeito.
Obrigado pela citação mais uma vez do meu blog.
Gui, no blog do amigo Henrique, no último post, surgiu um discussão legal sobre títulos públicos e CDBs. Conversamos que um CDB pagando pouco mais de 96% do CDI pode ser mais compensador que um título público pagando 100%, isto devido as taxas no TD. Cabe um bom post abordando melhor o assunto. Pensei em escrever, mas é sua cara meu amigo. #ficaadica.
Abraço.
Por falar em renda fixa… nunca vi um artigo no VR sobre debêntures não-BNDESPar. A Bovespa tem um site voltado para esses títulos privados de renda fixa:
http://www.bmfbovespa.com.br/rendafixa/FormConsultaPrincipal.asp
Nunca investi em debêntures, mas acho que são uma alternativa interessante para diversificar a parcela da carteira em renda fixa. O risco deles é maior que o dos debêntures da BNDESPar, que fica um pouco acima do risco dos títulos do Tesouro, mas isso deve ser compensado por um prêmio de risco. Que tal escrever algo sobre essa opção de investimento, Guilherme?
Porque uma empresa emite debêntures ?
-Pra investir e crescer.
Quem a empresa acha que ganha mais: ela ou o credor da debênture ?
-Ela, lógico. Se não, ela não investia.
Porque comprar debêntures ?
-Numa falência você tem preferência em relação aos sócios numa liquidação (depois do governo e funcionários)
Compra logo a ação da empresa então! A diferença de risco da ação para a debênture é ínfima. E os dividendos devem ser maiores que os juros.
E se os juros forem melhores que os dividendos ?
-Porque vc emprestaria dinheiro para uma empresa se sabe que ela não vai conseguir um retorno satisfatório com ele ? Pula fora disso !
Mas o mercado de debêntures é enorme ?
-E daí ? Vai pular no buraco se todo mundo estiver fazendo o mesmo ?
Quanta baboseira hein amigo?
Perfeito Guilherme, o título do post já diz tudo. Obrigado pela participação no Blog.
Prezado homônimo Flavio, praticamente não temos emissões de debêntures para pessoas físicas com exceção de BNDES, por isso, infelizmente, não temos o que avaliar.
Amigo Henrique, lanço uma questão sobre o desempenho dos fundos imobiliários para você que avalia como poucos esse ativo. Com o desenrolar da crise, o que poderia acontecer com as cotas do FII. Por uma lado a queda das taxas de juros beneficia em função da comparação com a renda de aluguel, por outro lado, tenho uma preocupação sobre a perspectiva de evolução dos preços dos ativos imobiliários daqui para frente.
“As NTN-B ainda não caíram…” Pois bem, acabaram de despencar. A janela de oportunidade fechou.
Olá amigos, tudo bom ?
vcs acham que ainda vale a pena comprar a NTN-B com vencimentos em 2015, ou seria melhor comprar algo com o vencimento com um prazo maior ?
atenciosamente
LCI. O Banco BVA está pagando de 98 a 102 do CDI para investidores a partir de R$ 1.000,00.
Lembrando que para pessoas físicas não há incidência de IR e conta com FGC até 70 mil.
Achei muito interessante os temas sugeridos/propostos pelo Jônatas e pelo
Flávio.
Já que estamos vivendo uma era de crise de dívidas soberanas, vocês acham que, caso o Brasil se torne uma “Grécia” ou uma “Espanha” daqui a uns 15 anos, correremos o risco não receber o pagamento pelos títulos do Tesouro Direto? Ou será que a capacidade teoricamente ilimitada de “imprimir” mais Reais torna esses títulos blindados? Pergunto isso, porque sempre comprei NTNBs c/ vencimentos longos e, vendo a situação européia, fico cada vez mais preocupado. Valeu!
Tá na hora de comprar uns títulos do tesouro. Estes eu ainda não tenho em carteira.
No final de julho, logo antes da “crise”, fiz uma compra de LTN 15 a 12,97%. Os DIs fecharam quase 100 bp (ou seja, mais de 7%), e hoje estão na faixa do 12,05%. Me dei muito ‘bem’.
Mas aí que vem a grande diferença entre ações e renda fixa – esse 1% me deu um ganho ínfimo, não dá pra ganhar dinheiro (to falando de relevante em uma carteira) com títulos pré sem alavancagem, como existe no mercado futuro de DI. Fiquei feliz de ter sido um bom trade, mas na prática o efeito é mais psicológico com que financeiro.
Cheguei a conclusão que Renda Fixa pré é pra planejamento de carteira, até pq sua renda é conhecida lá na frente. Mas meus entendimentos mudam com o tempo, veremos o que eu pensarei em alguns anos…
Anônimo,
“Porque uma empresa emite debêntures ?
-Pra investir e crescer.
Quem a empresa acha que ganha mais: ela ou o credor da debênture ?
-Ela, lógico. Se não, ela não investia.”
Isso se ela tiver alguma garantia de que o crescimento que ela almeja virá…
“Porque comprar debêntures ?
-Numa falência você tem preferência em relação aos sócios numa liquidação (depois do governo e funcionários)
Compra logo a ação da empresa então! A diferença de risco da ação para a debênture é ínfima. E os dividendos devem ser maiores que os juros.
Isso se a empresa pagar dividendos… lembre que, não tendo lucro num exercício, a empresa não paga proventos. Com juros de dívida a coisa é diferente pois eles não são calculados a partir do lucro, são despesa financeira.
Henrique, isso é que eu chamo de investidor de visão…..hehehe…..parabéns pelas excelentes compras!
Jônatas, valeu pela dica! Esse comparativo realmente é bem interessante!
Flavio, excelente dica sobre as debêntures não-BNDESPar! Já está anotado aqui.
Victor, ainda vale a pena.
Marco, grato pela informação.
Sandro, o risco é mínimo. Tanto é que a Standard & Poor´s cogita de melhorar gradualmente a já ótima classificação de risco da dívida pública brasileira.
Heavy Metal, são boas compras.
Breno, ótimo timing. Realmente os ganhos percentualmente são pequenos, mas já é melhor do que estar posicionado 100% em pós-fixado atrelado ao CDI.
Flavio, boa observação!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
E o TD anda despencando a cada dia em suas taxas…
Estreei no TD comprando NTNB 2045 a 6,02% (se os juros no longo prazo vão realmente cair… é uma boa !)
Realmente, Renato e Flávio, nas NTN-Bs despencaram. Esse mês de agosto vai ser extraordinário para quem tiver prefixados em carteira…
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Ola Renato e Guilherme, eu não entendo mto bem de TD, mas acho que o comentário de vcs estão contraditórios, enquanto o Renato acha uma boa opção as NTNB(pós fixados), o Gilherme acha que as pré-fixados se deram bem.
No final das contas na atual conjuntura, os juros vão cair e vale aplicar nas pré-fixadas ou vão oscilar e é melhor investir na pós-fixadas como a NTNB ??
um forte abraço a todos
estou aprendendo bastante por aqui !
Olá Victor,
Seguinte… se fala muito que no longuíssimo prazo (coisa de 10 anos pra cima), a tendência é que os juros reais (juros – inflação) brasileiros caiam. Os juros brasileiros são os maiores do mundo e, de fato, se pode observar que vem gradativamente caindo (veja as taxas de juros reais pagas há 10, 15 anos atrás, aquilo lá era um sonho rs).
Se o Brasil é realmente o país do futuro e o desenvolvimento engrenar aqui minimamente, os juros no longo prazo devem cair.
Assim, investi na NTNB de 2045 para garantir até 2045 estes juros atuais de 6% + IPCA. E com pagamento de juros semestrais, porque no meu caso particular a preocupação não é tanta com o futuro, mas com o presente.
OK.
Quanto aos títulos 100% pré-fixados, em comparação com o meu caso, se trabalha com uma margem de atuação de tempo menor (o pré-fixado mais longo vence em 2021) e se garante aquela rentabilidade anual contratada. Assim, se a taxa de juros (Selic) cair (o que é uma tendência no curto/médio prazo, pelo que ando lendo, em função da crise) você estará obtendo uma rentabilidade acima do mercado… fazendo o seu título do tesouro direto valer mais no mercado secundário (você pode vendê-lo antes do vencimento) ou mesmo aguardar o vencimento e ir obtendo esta rentabilidade maior conquistada.
A pergunta que eu me faço é… se no longo prazo (quando muitos vão se aposentar), a taxa de juros vai ser pequenina… do que adianta todo o “bolo de noiva” se o “pedaço” (juros) que se poderá tirar do montante será cada vez menor ? Tenho bastante curiosidade para saber como, em países em que a taxa de juros é baixíssima ou até mesmo negativa, funciona a aposentadoria privada…. como faz?! Eles investem no quê se “nada dá nada”… ou o dinheiro da aposentadoria é retirado do próprio montante, sem juros?! Ou este montante é investido em ações, capital privado, etc?!
Falow, Renato C
Victor,
Outro aspecto: na verdade apenas os títulos indexados à Selic são 100% pós-fixados. As NTNBs, ao meu ver, são um meio termo… pois possuem uma taxa pré-fixada definida… acrescida de uma outra pós-fixada (IPCA).
Abraços, Renato C
Victor, o Renato C esclareceu bem a questão. As Notas apresentam um componente prefixado e outro prefixado.
Renato, uma das coisas que os norte-americanos teorizam, a respeito das famosas “retiradas de capital” na aposentadoria, é a respeito da taxa segura de retirada, considerando que podem, sem prejudicar o montante principal, tirar em tese 4% por ano do bolo acumulado. Assim, por exemplo, para um capital de 1 milhão de dólares, poderia haver um saque anual de 40 mil dólares, o que daria algo em torno de 3.333 dólares mensais, que não haveria prejuízo do montante principal.
O “problema”, como vc deve já ter intuído, é que o norte-americano típico não investe só num tipo de ativo: tem ações, tem bonds etc. Estou atualmente lendo um livro gringo que, num dos capítulos, aborda essa problemática da retirada na aposentadoria. Vou ver se faço um artigo a respeito no futuro, pois no Brasil essa questão pode vir a ser muito importante, caso a tendência histórica de queda das taxas se confirme.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Notícia (ou especulação) importante, sobre os juros e a crise:
http://oglobo.globo.com/economia/mat/2011/08/19/com-crescimento-baixo-governo-pode-abrir-mao-do-aperto-fiscal-925169998.asp
Legal esse artigo, Renato. Controlar a política fiscal deve ser prioridade para o Brasil. Não dá para crescer de maneira não sustentável, alimentando bolhas de crédito. Apesar de impopular, ajustes fiscais sempre redundarão em benefícios a longo prazo para a economia como um todo.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
A queda da taxa básica de juros está funcionando como um estimulante para outros ativos que dependem do crescimento da economia e que sofrem com a temida concorrência da nossa taxa livre de risco.
Será que estamos indo para mares nunca navegados… em relação a taxa de juros?
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/9/2/queda-de-juros-muda-todo-o-cenario-para-investimentos
Queda de juros muda todo o cenário de investimentos…
Ótimo link, Flávio! O mercado está desnorteado com essa atuação surpresa do BC. Aguardemos as cenas dos próximos capítulos!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Um ano depois, a taxa de juros que estava a 12,50%aa ao final do mês de agosto de 2011, chegou a incríveis 7,50%aa no mês de setembro de 2012. Os juros reais caíram ainda mais. O novo perfil se configurou pressionado pela crise internacional que completa 4 anos em 15/09/2012 com o evento que marcou a crise: o falência do Lehmam Brothers. Inimaginável pensar nesse nível de taxa naquela época…
Corrigindo: a falência do Lehmam Brothers.
Muito interessante sua observação, Flávio. Os fatos mudaram bastante o perfil da renda fixa nos últimos 4 anos…
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!